Primeiro dia do Encontro de Povos e Comunidades do Cerrado se inicia com o tema “Água” e é finalizado com Troca de Sementes
Na primeira manhã do encontro “Das Re-existências brota a vida”, mais de 200 pessoas de comunidades e povos de todos os estados do bioma Cerrado compartilharam seus processos de resistência diante das ameaças às águas de seus territórios.
Na mística de abertura, Maria Roxa, pajé do povo Akroá Gamela, abençoou todos os participantes do encontro com rezas e encantamentos, juntamente com outros indígenas presentes. Na atividade seguinte, a Grande Roda “Cerrado: Berço das Águas”, a anciã compartilhou relatos sobre a luta de seu povo, juntamente com Isidora Oliveira, do Povoado de Caruaru (Bahia), e Miguelina de Oliveira, da Comunidade São Manoel do Pari (Mato Grosso).
Dona Maria Roxa narrou a destruição promovida por grileiros que tentaram se apropriar de suas terras. “Nosso território foi devastado e tomado. Derrubaram os juçarais, os cocais, aterraram os igarapés. Era tudo na cerca elétrica, não tínhamos mais licença para ir buscar o nosso sustento nos campos”.
Com organização, o povo Akroá Gamela conseguiu retomar o território. “Depois que retomamos o que era nosso por direito, os nossos encantados ficaram alegres. O rio já retornou a ser o que era. Eles devastaram tudo e o que nós estamos fazendo é replantando para tirar o sustento de nossos filhos, netos e bisnetos”, relatou.
Um grito pelas comunidades e pelas águas de todo o Cerrado
Em 2017, uma jovem de Correntina, em um protesto contra a apropriação das águas da região pelo agronegócio, gritou diante da polícia, que reprimia o movimento popular: “Ninguém vai morrer de sede às margens do Rio Arrojado!”
A frase foi ecoada por todos os presentes e se tornou um grito de resistência das comunidades do oeste da Bahia, que vivenciam a progressiva morte de seus rios, riachos e nascentes por conta da construção de estruturas gigantescas de desvio e drenagem de leitos e extração de água do subsolo para irrigação da monocultura.
A história foi compartilhada por Isidora Gonçalves, que apresentou ao encontro o Mapeamento das Águas Mortas do Oeste da Bahia, resultado da cartografia social iniciada junto às comunidades da região em 2018. “São 7 mil quilômetros de águas mortas e 3 mil quilômetros de águas em estado crítico no oeste baiano. Isso mostra o impacto dos pivôs centrais e piscinões implantados pelo agronegócio”, denunciou Isidora, que incentiva todas as comunidades a fazerem o mapeamento de suas águas.
Miguelina de Oliveira, da comunidade São Manoel do Pari, no Mato Grosso, disse: “Eu sinto uma dor no coração de falar do Cerrado e das nossas águas, do jeito que está. No Mato Grosso, para nós que somos camponeses, da agricultura familiar, é muito dolorosa a situação, por causa do agronegócio. A gente tem resistido à seca, à falta de água, e é só por Deus, porque os ‘grandes’ de lá só pensam neles mesmos. O rico, quanto mais tem, mais quer. E não importa que vende a alma para o diabo. Eles vão devastando, desmatando e cavoucando, porque lá também tem ainda a mineração. Os garimpos também estão chegando para dentro das cidades e dos territórios”, narrou Miguelina.
Miguelina destaca ações coletivas que têm contribuído para a recuperação de áreas nas comunidades. “Os conhecimentos populares têm nos alimentado. O reflorestamento das nascentes tem como nosso patriarca o Baltazar, que tem sido um pioneiro e incentivador. As comunidades estão aprendendo isso. Eu tenho um pensamento assim: se o Cerrado acabar, nós também morremos. O Cerrado vive dentro da gente, a gente vive no Cerrado. Ele traz para nós toda a vida, toda a água.”
Isolete Vischinieski, da Articulação das CPTs do Cerrado, fez a síntese da roda, falando sobre a importância das águas do Cerrado para as principais bacias hidrográficas do Brasil, do Uruguai e do Paraguai. “O que nos une no Cerrado são os veios das águas. É o sangue que corre no Cerrado, que nos mantém vivos. Somos povos bonitos, que sustentam este Cerrado em pé. Onde há mata? Onde há comunidade. Nós, que estamos caminhando juntos, somos os verdadeiros guardiões destes territórios. O Cerrado interliga nosso Brasil e tem relação com todos os outros biomas, e por isso ele é tão diverso e importante. Estamos falando que o Cerrado é vida”, disse Isolete.
Isolete fez um apanhado histórico dos grandes projetos de desenvolvimento implantados pelo Estado brasileiro, que, ao longo de nossa história, não trataram este bioma com a devida importância e cuidado, promovendo sua devastação. Primeiramente, a Revolução Verde e o projeto nacional de expansão da agropecuária, que avançou sobre os territórios de Minas, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Depois, o projeto Matopiba, juntamente com os grandes projetos de hidrelétricas e mineração. “Esse território que é vida vai se tornando um território de resistência, de projetos que querem nos matar, e nós dizemos: não – não vamos morrer. Se o Cerrado morrer, nós também morremos”, arrematou Isolete.
A manhã foi finalizada com a Fila do Povo, onde a fala foi aberta a todos os participantes que quiseram relatar a situação das águas de seus territórios, compartilhando conflitos vividos, ações de preservação e cuidado, e experiências de resistência e enfrentamento do agronegócio.
No período da tarde, o grande grupo se dividiu para as oficinas formativas com os seguintes temas: Mulheres e geração de renda; Juventudes e defesa dos territórios; Autocuidado, cuidado coletivo e segurança; Comunicação popular; Incêndios e Protocolo de Segurança. Ao final do dia, as discussões de cada grupo foram partilhadas com todo o coletivo.
À noite, foi realizada a Troca de Sementes e a Feira de Produtos das Comunidades, onde, com alegria e orgulho, mulheres e homens apresentaram os resultados de seus trabalhos junto à terra. Nas comunidades, as sementes crioulas representam a ancestralidade, a resistência na terra e a tradição de partilha, como também defendem a possibilidade de um futuro fraterno, com soberania alimentar e popular. "Nós somos o Cerrado. No dia que o Cerrado acabar, nós também morremos. O Cerrado precisa ficar em pé. Nós precisamos preservar essa troca de sementes e de experiências para preservar o Cerrado", expressou Miguelina.
Fonte: BRASÍLIA (Reuters)/ Foto: Reuters
Representantes de movimentos, comunidades tradicionais e entidades que integram a Articulação Agro é Fogo estarão no Mato Grosso do Sul entre os dias 12 e 13 de novembro de 2024 para denunciar e sensibilizar a sociedade sobre a problemática dos incêndios criminosos que ocorrem no Pantanal.
O bioma foi o que mais sofreu com os incêndios em quatro décadas, atingindo quase 60% do bioma, e a ação humana segue como a principal causa, de acordo com o estudo do MapBiomas.
As ações objetivam chamar a atenção do poder público e da sociedade civil para o agravamento progressivo das queimadas criminosas no Pantanal, a formulação de estratégias coletivas para a prevenção e o enfrentamento ao processo de devastação, bem como, denunciar os impacto que as cicatrizes do fogo deixam nas comunidades tradicionais e nos territórios indígenas.
A agenda de ações contempla a realização do Seminário “Ecoando as vozes do Pantanal na defesa dos territórios de vida e da sociobiodiversidade”, que ocorrerá no dia 12 de novembro (Dia do Pantanal); e de uma Audiência Pública intitulada “O impacto dos incêndios nos modos de vida, saúde, segurança alimentar e renda das comunidades tradicionais pantaneiras”, agendada para o dia 13 de novembro.
As atividades ocorrerão no município de Corumbá (MS) e contará com a participação de representantes de povos originários e comunidades tradicionais do Pantanal, pesquisadoras e pesquisadores, e organizações sociais que compõem a Articulação Agro é Fogo. Nesse período, a Articulação também lançará uma campanha nacional de combate a devastação do Pantanal.
Considerada a área mais alagada do mundo, sua destruição significa impactos à vida dos povos e comunidades tradicionais pantaneiros, a morte da sociobiodiversidade e dos recursos naturais da região. Fatores que se intensificaram com a seca prolongada e as queimadas criminosas, o que acelera as mudanças e desequilíbrio climático na região. De acordo com o Monitor do Fogo, no Pantanal, a área queimada entre janeiro e setembro de 2024 aumentou 2.306% em comparação à média dos cinco anos anteriores. Foram queimados 1,5 milhão de hectares nos primeiros nove meses do ano.
Segundo o Dossiê da Articulação Agro é Fogo, o avanço da agropecuária no Pantanal, junto a ações políticas do Estado e ausência de políticas públicas efetivas de combate e fiscalização dos incêndios, vêm, por anos, acionando o contexto atual. Desde 2020, os incêndios têm atingido áreas no entorno do Rio Paraguai, que antes eram permanentemente alagadas, mas depois de 2019 apresentam períodos de seca que deixam a região suscetível ao fogo como foi registrado nos incêndios recentes.
Em comparação ao mesmo período em 2023, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE Queimadas), houve um aumento, esse ano, de 716% nos focos de calor no Pantanal. Foi o bioma que mais queimou em comparação aos outros. E, considerando que se trata do menor bioma do Brasil, a situação de devastação é acelerada. Corumbá, que é o maior município do bioma, foi onde 72% da área queimada foi afetada duas ou mais vezes, e também foi onde mais se perdeu a superfície de água em 2024, em comparação a 2021.
Conforme nota técnica do Mapbiomas, o Pantanal foi o bioma que mais secou ao longo da série histórica. Em 2023, o bioma apresentou uma superfície de água anual de 381 mil hectares, o que representa uma redução de 61% em relação à média histórica. Comparado a 2018, o ano da última grande cheia do bioma, a superfície de água em 2023 foi 50% menor. O período de seca antecedeu o atual cenário de incêndios em 2024.
Os eventos ocorrerão no Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), campus Corumbá, e terá a presença de povos e comunidades tradicionais pantaneiras, jornalistas e autoridades locais. A atividade é aberta ao público.
A Articulação Agro é Fogo reúne mais de 50 movimentos, organizações e pastorais sociais que atuam há décadas na defesa da Amazônia, Cerrado e Pantanal e seus povos e comunidades. Surgiu como reação aos incêndios florestais e queimadas criminosas que assolaram o Brasil em 2019 e 2020 e, desde então, denuncia que, no caso dos incêndios, o fogo está ligado à cadeia do agronegócio, à grilagem e ao desmatamento. Além disso, traz o anúncio de povos e comunidades tradicionais que resistem em seus territórios e que utilizam o fogo como prevenção dos incêndios e gerador de vida, com cuidado e respeito.
Serviço:
Articulação Agro é Fogo promove incidência política sobre o processo de devastação no Pantanal
Seminário “Ecoando as vozes do pantanal na defesa dos territórios de vida e da sociobiodiversidade”
Data e horário: 12/11, 8h às 17h (MS) | Local: IFMS - Rua Pedro de Medeiros, 941, Bairro Popular Velha – Corumbá/MS
Audiência Pública - O impacto dos incêndios nos modos de vida, saúde, segurança alimentar e renda das comunidades tradicionais pantaneiras.
Data e horário: 13/11, 8h às 12h (MS) | Local: IFMS - Rua Pedro de Medeiros, 941, Bairro Popular Velha – Corumbá/MS
Atendimento Imprensa:
Ludmila Almeida - 62 986005595
Bruno Santiago - 11 99985 0378
Instagram: @agroefogo
Site: https://agroefogo.org.br/
E-mail: agroefogo@gmail.com
O encontro contou com momentos de mística, memória das mulheres que fizeram e fazem parte da história da CPT, partilha de experiências, cuidado coletivo e oficina de Arpillaria
Por Heloisa Sousa | CPT Nacional
Foto: Heloisa Sousa
Entre os dias 21 e 24 de outubro, o Coletivo de Mulheres da Comissão Pastoral da Terra (CPT) reuniu cerca de 37 agentes e coordenadoras da Pastoral em uma atividade no município de Hidrolândia, Goiás. Na noite de chegada, foi realizada uma dinâmica de acolhimento e cuidado coletivo.
No dia 22, as participantes da atividade puderam rememorar a trajetória dos 50 anos da CPT, trazendo a história e olhar das mulheres na luta por terra e território. Pela manhã, agentes de várias regionais que fizeram parte dos primeiros anos dessa caminhada fizeram relatos de suas experiências. Pompéa Bernasconi, agente histórica da CPT, contou sobre a formação da Pastoral e a luta à luz do evangelho contra a repressão na época. Em seguida, Ivaneide Minozzo, falou sobre as lutas no Mato Grosso do Sul, onde ela é agente, nesses primeiros anos de CPT.
"Se o povo soubesse a força que tem, ninguém os dominaria” - Pompéa Bernasconi
Marina Rocha (CPT Bahia), Sônia Martins (CPT Rio de Janeiro) e Antônia Calixto (CPT Maranhão), por meio de vídeo, trouxeram seus depoimentos sobre a atuação, desafios enfrentados pela CPT e também por elas e a presença marcante das mulheres na caminhada, a exemplo de Irmã Dorothy Stang.
“A gente está indo para 50 anos, para o Congresso da CPT, e é impossível pensar os 50 anos da CPT sem revisitar a história das mulheres. Sejam as mulheres agentes da CPT ou as mulheres que estão longe, no processo de ocupar a terra, que resistem e que estão reconstruindo um novo jeito de ser, de saber e de fazer a CPT aqui e no Brasil”, destacou Sônia, que também apresentou sua perspectiva enquanto mulher negra na luta por terra no Rio de Janeiro.
Falou também Isabel Diniz, coordenadora da CPT Paraná, que foi a primeira mulher coordenadora nacional da CPT, no final da década de 90. Nesse período, ocorreu a reestruturação da instituição, das linhas de ação da Pastoral – que inclui o eixo temático das águas – e a realização do I Congresso da CPT, em 2001, que contou com forte presença das trabalhadoras e trabalhadores do campo e das florestas.
“A gente não pode cantar ‘pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer’ e ter medo de realmente fazer isso.” - Maria Mendonça, coordenadora CPT Roraima
Dando continuidade, Amélia Romano, secretária executiva do Centro de Estudos Bíblicos do Mato Grosso do Sul (Cebi MS), trouxe a reflexão sobre a prática da CPT a partir da palavra de Deus e a presença da mulher no evangelho. “Precisamos fazer a leitura da Bíblia com os pés no chão da realidade, porque só assim vamos entender onde as mulheres estão na Bíblia”.
Bordando direitos
Ainda no dia 22, na parte da tarde, Elisa Estronioli, integrante da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), apresentou o contexto histórico em que surge a arte das “Arpilleras”, prática chilena em que mulheres bordavam mensagens de resistência no tecido da juta. A prática, que funciona como ferramenta de organização e denúncia, é hoje muito utilizada pelas mulheres no MAB, que inspiraram as companheiras no encontro a contar suas próprias histórias por meio da arpillaria.
A partir da explicação de Elisa, as participantes se dividiram em grupos para partilhar sobre quem são, de onde vêm, suas trajetórias, desafios e realizações dentro da CPT. O momento, que se dividiu entre os dias 22 e 23, foi de aproximação e inspiração para que os grupos pudessem elaborar seus próprios bordados.
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A oficina também contou com a escrita das cartas que acompanharam os bordados, onde questões como ancestralidade, acolhimento entre as mulheres, assédios, machismo, a construção de espaços seguros dentro dos movimentos e pastorais e a esperança de um futuro mais acolhedor foram levantadas. Além disso, a criação e fortalecimento dos espaços para contar as histórias femininas nas lutas, reafirmando as memórias das mulheres da CPT, foram reivindicados. “É preciso rasgar caminhos e romper as ideias de dominação”, destacou uma das participantes.
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As cartas e artes produzidas durante o encontro serão publicadas nas redes da CPT Nacional. Fique de olho!
Créditos: Bruno Peres/ Agência Brasil
A Defensoria Pública da União (DPU) cumpre um papel institucional fundamental de promoção e defesa de direitos humanos. Para fortalecer tal função, a instituição do Sistema de Defensoras e Defensores Nacional e Regional de Direitos Humanos da DPU foi criado em 2016, com objetivo de estruturar a atuação da instituição em demandas coletivas visando promover a proteção de direitos humanos de grupos vulneráveis e em situação de conflito. Isso porque, a partir da lei complementar nº 132/2009, foram incorporadas funções institucionais à DPU que lhe permitiram uma atuação mais abrangente e democrática, visando a proteção de direitos humanos, conforme o disposto nos incisos I e III do art. 4º:
I – prestar orientação jurídica e exercer a defesa dos necessitados, em todos
os graus;
(…)
III – promover a difusão e a conscientização dos direitos humanos, da
cidadania e do ordenamento jurídico;
Nesse sentido, este Sistema possui ampla articulação com a sociedade civil, tendo esta, inclusive, voz ativa na eleição do (a) Defensor (a) que irá exercer o mandato de DNDH. Nos estados, os Defensores e Defensoras Regionais de Direitos Humanos (DRDHs) são os responsáveis pelo acompanhamento de demandas coletivas de direitos humanos. Atualmente, o ocupante do cargo de Defensor Público Geral (DPG) é responsável direto pela publicação de editais de seleção e nomeação das pessoas que irão exercer a função de DRDH. Entretanto, neste último ano, cargos de DRDH estão vagos em inúmeros estados, em razão da resistência da própria instituição em proceder com o adequado preenchimento da vaga e a devida nomeação.
Diversos ofícios foram enviados por mais de 20 entidades à DPU desde o início do ano, sem que o problema tenha sido resolvido pela instituição, apesar dos diversos esforços da atual Defensora Nacional de Direitos Humanos (DNDH), e a despeito dos graves impactos que a ausência de Defensorias Regionais de Direitos Humanos gera para as populações que eram ou poderiam ser atendidas pela Defensoria Pública da União.
Foi verificado junto à instituição que ao menos 15 estados não possuem DRD Hnomeados(as)1, quais sejam: Paraná, Maranhão, Espírito Santo, Acre, Rio Grande do Norte, Sergipe, Tocantins, Bahia, Pernambuco, Amazonas, Mato Grosso do Sul, Amapá, São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso. Há também os casos em que os estados possuem DRDHs titulares nomeados (as), mas não possuem sequer defensores (as) substitutos (as) nomeados(as), quais sejam: Roraima, Rondônia, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Alagoas, Pará, Paraíba e Goiás.
As Defensorias Regionais de Direitos Humanos são importantes órgãos de apoio locais para promover o acesso à justiça e a efetivação de direitos dos grupos vulnerabilizados. Principalmente porque são estes (as) defensores (as) que estão próximos (as) aos territórios em conflito, nos quais ocorrem graves violações de direitos humanos. Dada a extensão territorial, diversidade cultural e complexidade dos conflitos no Brasil, a existência de defensores e defensoras locais destacados (as) para a atuação em tutela coletiva de direitos humanos é de extrema importância para a garantia de direitos de comunidades vulneráveis.
A ausência de defensores (as) em pastas especializadas em defesa de direitos humanos no âmbito da DPU aumenta a vulnerabilidade de comunidades em situação de conflito e/ou ameaçadas, bem como aquelas que sofrem com uma ampla gama de negação de acesso a direitos. O Brasil é um dos países que mais vitima pessoas que defendem direitos humanos e registrou, em 2023, ao menos, 3,4 milhões possíveis violações de direitos humanos, segundo dados da Anistia Internacional. Além disso, segundo dados da Pesquisa Nacional da Defensoria Pública de 2021, a falta de cobertura territorial da Defensoria Pública da União atinge 71% das comarcas, portanto a atuação das DRDH é ainda mais necessária e urgente.
Diversas normas nacionais e internacionais reforçam o direito das populações de terem a melhor estrutura possível para acesso a direitos, sem retrocessos e, ao contrário, com sua melhoria contínua, sempre no máximo possível da estrutura disponível - como a Constituição Federal, o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos. A própria Corte Interamericana já se posicionou que é dever dos Estados partes organizar sua estrutura de modo a viabilizar efetivamente o livre e pleno exercício dos direitos humanos.
A omissão na nomeação do(a) defensor(a) tem implicações graves, resultando muitas vezes na escalada de violações de direitos humanos contra grupos que já sofrem com omissões do Estado brasileiro e negativas de direitos fundamentais.
Assim, os movimentos sociais e entidades que subscrevem essa nota reforçam a necessidade de autonomia funcional da DNDH, e demandam que a nomeação dos Defensores e Defensoras Regionais de Direitos Humanos nos estados seja tratada de maneira adequada e urgente pela Defensoria Pública Geral da União.
Assinam:
1. Comissão Pastoral da Terra - CPT
2. Terra de Direitos - TDD
3. Conselho Indigenista Missionário - Cimi Regional Sul
4. Articulação dos Povos Indígenas do Brasil - APIB
5. Comissão Guarani Yvyrupa - CGY
6. Observatório dos Direitos e Políticas Indigenistas - Obind/UnB
7. Observatório da Temática Indígena na América Latina - OBIAL-Unila
8. Federação das Comunidades Quilombolas do Paraná - FECOQUI/PR
9. Associação Quilombola e Afrodescendente da Restinga
10. Instituto Democracia Popular
11. Rede de Apoio e Incentivo Socioambiental (RAIS)
12. Guilherme Assis de Almeida, ex-presidente da Andhep (Associação Nacional de
Direitos Humanos - Pesquisa e Pós-graduação)
13. Movimento de Mulheres Camponesas - MMC
14. Movimento dos Atingidos por Barragens - MAB
15. Movimento pela Soberania Popular na Mineração - MAM
16. Campanha Nacional Contra a Violência no Campo
17. Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas -
CONAQ
18. Rede Nacional de Advogadas e Advogados Quilombolas - RENAAQ
19. Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares - RENAP
20. Centro Popular de Direitos Humanos - CPDH
21. Movimento dos Trabalhadores Sem Teto do Rio Grande do Sul - MTST RS
22. Central de Movimentos Populares - CMP
23. União Nacional por Moradia Popular - UNMP
24. Centro de Direitos Econômicos e Sociais - CDES
25. Grupo GUARÁ
26. Movimento Nacional de Luta por Moradia de Sergipe - MNLM SE
27. Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos
28. Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico - IBDU
29. Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos Goiás - MTD GO
30. Habitat para a Humanidade - Brasil
31. Instituto de Pesquisa, Direitos e Movimentos Sociais
32. Movimentos de Trabalhadoras e Trabalhadores Sem Teto - MTST
33. Associação dos Geógrafos Brasileiro, seção local de Marechal Cândido Rondon
(AGB/SLMCR)
34. Geolutas - Laboratório e Grupo de Pesquisa de Geografia das Lutas no Campo e na
Cidade
35. Jubileu Sul Brasil
36. Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura - CONTAG
37. Pastoral Operária do Espírito Santo
38. Articulação Nacional de Agroecologia - ANA
39. Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM - Brasil
1 Nos estados do Maranhão e Espírito Santo foram feitas nomeações provisórias, as quais estão sendo objetos de
recurso. Já nos estados do Acre, Rio Grande do Norte, Sergipe e Tocantins, o cargo de DRDH foi extinto por
decisão do DPG. No Amapá, Paraná, Paraíba e Mato Grosso, os editais foram encerrados e, apesar de ter
pessoas interessadas, estas não foram nomeadas pela Defensoria. A 2ª DRDH do Rio de Janeiro e de São Paulo
estão em processo de escolha. Por fim, no Pará, não foi publicado o edital de seleção.
Por CPT Nordeste 2
Foto: Encontro de Mulheres Camponesas no Alto Sertão da Paraíba. Créditos: Equipe CPT Cajazeiras (PB).
Nos dias 29 e 30 de outubro, o Encontro de Mulheres Camponesas no Alto Sertão da Paraíba reuniu 41 participantes de diversas comunidades de assentamentos, no município de Cajazeiras. Com o tema "Feminismo e Agroecologia", o evento teve o objetivo de promover discussões sobre auto-organização feminina, combate à violência contra mulheres e valorização da produção agroecológica.
Valbejane Garcia, assentada da Reforma Agrária na comunidade Jatobá, em Sousa (PB), destacou a importância de esclarecer o feminismo para as mulheres do campo: "A importância desse encontro foi trazer informações, porque para muitas de nós, tínhamos medo até da palavra feminismo, e aqui ficou esclarecido que quando enfrentamos diversas situações adversas às mulheres, isso é questão feminista, e quando a mulher está preparada para enfrentar as diversidades de violências, isso também é feminismo."
Lúcia, do assentamento Santo Antônio e da associação Sertão Agroecológico, também ressaltou o impacto positivo do encontro: "O encontro juntou mulheres de vários assentamentos, mostrando a importância das mesmas e temas que desenvolveu a curiosidade de todas nós principalmente em relação à proteção de estar juntas para se defender e ter conhecimentos que ainda não tínhamos. Ficamos felizes e muito agradecidas."
Foto: Encontro de Mulheres Camponesas no Alto Sertão da Paraíba. Créditos: Equipe CPT Cajazeiras (PB).
O encontro também contou com a participação de camponesas do Rio Grande do Norte e do núcleo Fátima Cartaxo da Marcha Mundial das Mulheres na cidade de Cajazeiras, que compartilharam suas experiências e conhecimentos com as companheiras de diferentes áreas da região do Alto Sertão paraibano.
A abertura do encontro, realizada na manhã do dia 29, começou com uma mística de boas-vindas e a apresentação das participantes. Em seguida, a primeira roda de conversa abordou o tema "Feminismo e Auto-Organização das Mulheres Camponesas", permitindo às mulheres discutirem suas experiências, refletirem sobre o papel da auto-organização e fortalecerem a luta coletiva.
Durante a tarde, o foco se voltou para a questão da violência contra a mulher. A roda de conversa promoveu um espaço seguro para que as participantes compartilhassem desafios e estratégias para enfrentar situações de violência e promover redes de proteção. Além disso, as camponesas debateram a importância da produção agroecológica e ouviram relatos sobre o cultivo consorciado de algodão, destacando a relevância desse modelo para a sustentabilidade e autonomia financeira das mulheres no campo.
Foto: Encontro de Mulheres Camponesas no Alto Sertão da Paraíba. Créditos: Equipe CPT Cajazeiras (PB).
O encerramento do primeiro dia contou com uma avaliação coletiva das atividades e uma confraternização.
Na manhã do dia 30, o grupo se reuniu na sede da Comissão Pastoral da Terra (CPT) para um café da manhã e, em seguida, participou da feira agroecológica na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). A visita à feira teve o objetivo de reafirmar a importância do consumo e da produção de alimentos livres de agrotóxicos.
O Encontro de Mulheres Camponesas no Alto Sertão da Paraíba fortaleceu o feminismo no campo e incentivou a prática agroecológica, buscando uma sociedade mais justa e igualitária.
“Nossa Primavera começa em Agosto” é uma produção do Coletivo Bodoque (SP) em parceria com o Assentamento 14 de Agosto, e está disponível no canal da CPT Nacional no Youtube
Por CPT Rondônia,
edição Comunicação CPT Nacional
Foto: Documentário "Nossa Primavera Começa em Agosto". Créditos: YouTube - Comissão Pastoral da Terra CPT Nacional.
E assim já ninguém chora mais,
Ninguém tira o pão de ninguém,
E o chão onde pisava o boi é feijão e arroz,
Capim já não convém.
(E assim já ninguém chora mais.)
ZÉ PINTO, 1999.
No dia 14 de agosto de 1992, um grupo de aproximadamente 180 famílias sem-terra, vindas de diversos municípios de Rondônia, ocuparam um latifúndio improdutivo às margens da rodovia BR-364, entre Jaru, Ariquemes, Theobroma e Cacaulândia. Esse foi um momento de grande coragem e ousadia, pois o território estava reservado aos senhores fazendeiros, no coração do latifúndio rondoniense. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) organizou essas famílias para a luta pela terra, em uma ação que levaria 17 anos até a conquista definitiva.
As dificuldades foram muitas: a ausência de um programa efetivo de Reforma Agrária no país, a falta de moradias dignas sob a lona preta, a escassez de alimentos, entre outras. Foi com o apoio e a solidariedade de organizações como a Comissão Pastoral da Terra, as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e diversas alianças e parcerias que foi possível superar o período mais crítico do acampamento.
Foto: Documentário "Nossa Primavera Começa em Agosto". Créditos: YouTube - Comissão Pastoral da Terra CPT Nacional.
Em 1993, o acampamento recebeu a 4ª Romaria da Terra, um evento que entrou para a história e deu visibilidade à luta do MST em Rondônia. A partir daí, as famílias se fortaleceram ainda mais na busca pela terra. Com a conquista do assentamento, puderam ter uma vida digna, oferecer educação aos filhos e cultivar alimentos livres de agrotóxicos, buscando na agroecologia uma resposta ao agronegócio. O assentamento 14 de Agosto representa um marco na luta organizada pelo MST.
Apresentamos aqui uma produção feita a muitas mãos: o documentário Nossa Primavera Começa em Agosto, uma contribuição do Coletivo Bodoque (SP), em parceria com o Assentamento 14 de Agosto. A obra conta ainda com produção e roteiro de Maria Estélia de Araújo, Chica Andrade, Rafael Mellim, Thiago Cervan; montagem e finalização de Danilo Craveiro; e trilha sonora original de Zé Pinto.
A Comissão Pastoral da Terra regional Rondônia, neste período celebrativo pelos seus 40 anos de CNPJ, manifesta a alegria em ter feito parte dessa história. Viva a luta pela terra, viva a resistência camponesa e viva a Utopia que nos leva a lutar. "Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes, consegue mudanças extraordinárias" (provérbio africano).
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Confira as notícias sobre o trabalho da CPT, bem como suas ações em todo país e os documentos públicos divulgados por ela.
Traz notícias sobre o cerrado e as ações da CPT na preservação desse.
Traz informações sobre a Amazônia e as ações da CPT na defesa deste bioma.
Massacres no campo
#TelesPiresResiste | O capital francês está diretamente ligado ao desrespeito ao meio ambiente e à vida dos povos na Amazônia. A Bacia do Rio Teles Pires agoniza por conta da construção e do funcionamento de uma série de Hidrelétricas que passam por cima de leis ambientais brasileiras e dos direitos e da dignidade das comunidades locais.