A ocupação faz parte da Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária, com a realização de diversas ações no Brasil. O ato público teve início na Praça Alencastro e, na sequência, os(as) trabalhadores(as) seguiram em marcha até o Incra.
Por Assessoria de Comunicação
Imagens: CPT Mato Grosso
Cerca de 500 trabalhadores(as) rurais, acampados(as) e assentados(as) de todas as regiões de Mato Grosso ocuparam, na manhã desta quarta-feira (9), a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Cuiabá (MT) para denunciar a paralisação e a falta de prioridade em atender as demandas das famílias camponesas do estado.
Com o lema “Ocupar para o Brasil Alimentar”, a Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária, em Mato Grosso, é organizada pela Comissão Pastoral da Terra Regional Mato Grosso (CPT-MT) e pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Para tratar da pauta de reivindicação, os(as) acampados no Incra exigem uma audiência com Paulo Teixeira, titular do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA).
O Programa Terra da Gente, lançado em 2024 pelo Governo Federal para ampliar e dar agilidade à Reforma Agrária no país, coloca o Mato Grosso em 25º no ranking de estados com famílias para serem assentadas. De acordo com o cadastro do Incra (2023-2024) - veja abaixo -, são apenas 877 famílias que podem ser contempladas com o programa.
No entanto, dados do próprio Governo Federal, como o Cadastro Único (CadÚnico), mostram que há 5.137 famílias acampadas no estado, ou seja, cerca de 11.340 pessoas. Apenas as famílias acompanhadas pela CPT e MST no estado superam o número do Incra: são cerca de 1.020, sem contar aquelas assistidas por outros movimentos e organizações populares.
Para a CPT e o MST, esses dados mostram que o estado de Mato Grosso não é prioridade na política de Reforma Agrária do Governo Federal até o final do atual mandato. Apesar disso, ambas organizações afirmam que a população acampada tem lutado para garantir os seus direitos. O pedido de reunião com o ministro do MDA tem como objetivo cobrar a efetivação da política agrária no estado, assim como a destinação de orçamento e recursos para o Incra cumprir o seu papel junto aos trabalhadores(as).
A falta de compromisso com as famílias camponesas acampadas no estado de Mato Grosso não se limita ao Incra, e se estende ao Instituto de Terras de Mato Grosso (Intermat). Em um exemplo mais recente, o deputado estadual Valdir Barranco (PT) apresentou um requerimento à Assembleia Legislativa no qual solicita a abertura de procedimento administrativo por ato de improbidade contra o presidente do órgão, Francisco Serafim de Barros, por não fornecer informações sobre o processo de regularização e venda da Fazenda Rafer, no município de Santa Carmem. O órgão estadual também tem priorizado o processo de titularização de áreas, que acaba por atender latifundiários que grilam terras em detrimento da criação de novos assentamentos.
Além disso, a política de Tolerância Zero adotada pelo governo de Mato Grosso, aliada à atuação ostensiva e truculenta da Patrulha Rural, tem resultado em graves violações de direitos de trabalhadores(as) do campo, especialmente daqueles(as) que lutam pelo acesso à terra.
Essas ações estatais têm sido marcadas por detenções arbitrárias, uso desproporcional da força, destruição de moradias, bloqueio de acesso a alimentos e pertences, dentre outras violações de direitos humanos, configurando um cenário de criminalização da luta pela Reforma Agrária. Enquanto trabalhadores(as) rurais que ocupam terras públicas ou improdutivas são tratados como "invasores" e são alvos de repressão, grandes latifundiários — inclusive aqueles que grilaram terras públicas — são legitimados como "produtores", evidenciando a seletividade e a parcialidade na aplicação das políticas fundiárias e de segurança pública.
Essa assimetria revela não apenas uma distorção do papel do Estado, mas uma afronta direta ao princípio da dignidade humana, aos direitos sociais e à função social da terra previstos na Constituição Federal de 1988.
Os(as) 500 trabalhadores(as) acampados(as) no Incra reivindicam, entre outras demandas, que as terras públicas griladas sejam destinadas imediatamente para assentamentos, além da garantia de recursos para desapropriação e aquisição de terras; que as famílias tenham acesso à terra e condições para permanecer nela, com crédito, fomento, moradia e infraestrutura. As famílias cobram ainda a reestruturação do Incra, o cadastro dos acampamentos que ainda não foram feitos, e a garantia do orçamento para o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera); e investimentos para fortalecer a produção nos assentamentos de alimentos saudáveis, garantindo a geração de trabalho e renda.
A Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária, conhecida como “Abril Vermelho”, iniciou no ano seguinte ao Massacre de Eldorado do Carajás no ano de 1996 no Pará, quando 21 trabalhadores(as) foram assinados e 69 ficaram mutilados por agentes públicos do estado. Desde então, a data tornou-se um marco nacional e internacional da luta camponesa pela Reforma Agrária.
Serviço: Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária. Ocupação da sede do Incra Cuiabá (MT)
Mais informações: Luana Bianchin (CPT) 66 9938-2391 | Valdeir Souza (MST) 66 992165608 | Elvis Marques (assessoria de comunicação): 62 99113-8277
Lideranças do Amazonas se reúnem com representantes dos poderes Executivo e Judiciário, das esferas federal e estadual, nos dias 10 e 11 de abril para tratar da regularização de seus territórios
Imagens de acervo do Fórum Diálogo Amazonas
Debater sobre os desafios e buscar soluções para garantir a regularização fundiária de territórios de povos e comunidades tradicionais no estado do Amazonas é a proposta da Nona Plenária do Fórum Diálogo Amazonas (FDA). O evento vai reunir representantes de órgãos públicos, organizações da sociedade civil, líderes de povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares a partir desta quinta-feira, dia 10 de abril, até sexta-feira, dia 11, das 8h30 às 18h, no Centro de Formação Maromba, localizado na Rua da Maromba, nº 116, bairro Chapada - Zona Centro-Sul de Manaus.
Eduardo Sanches, procurador do Ministério Público Federal (MPF), destaca o papel do evento como um importante espaço de diálogo e participação social para a garantia de direitos sobre os territórios.
“Nós sabemos que a regularização fundiária, em especial de povos e comunidades tradicionais, traz um aumento da segurança no campo, um aumento da proteção ambiental. Enfim, vários resultados que vão além da própria proteção de dignidade desses povos. [...]. A importância da plenária é esse momento em que os órgãos públicos, as entidades vinculadas à regularização fundiária ouvem as demandas e conseguem, assim, planejar as suas atividades para atender essas maiores necessidades que são trazidas pela população”, explica.
As principais pautas do evento incluem: emissão de CDRUs coletivas para áreas de uso comum; consolidação da política dos Territórios de Uso Comum (TUCs); titulação de territórios quilombolas no Amazonas; regularização fundiária de áreas de várzea e de projetos de assentamento; e o fortalecimento da governança do FDA.
No último Encontro dos Territórios de Uso Comum (TUCs) do Amazonas, realizado em dezembro, representantes dos povos e comunidades mapearam as principais áreas que necessitam de regularização fundiária
A Comissão Pastoral da Terra (CPT), também promotora da Plenária, reforça o compromisso com a articulação coletiva e a efetividade dos encaminhamentos. Para Luiz Xavier Martins, da CPT, esta edição traz um diferencial importante: a proposta de criação de uma Secretaria Executiva do Fórum Diálogo Amazonas, que até então não havia sido debatida em edições anteriores.
“Está sendo pensado muitas estratégias complementares com relação às outras edições. Nessa edição agora vai ser debatida a criação de uma Secretaria Executiva do Diálogo, algo que nunca tinha sido pensado ainda nas outras edições. Uma Secretaria Executiva onde as organizações do próprio movimento social possam dar suas sugestões e possam gerir e coordenar essa secretaria frente aos órgãos competentes, como o Ministério Público Federal”, explicou Luiz.
No último Encontro dos Territórios de Uso Comum (TUCs) do Amazonas, realizado em dezembro, representantes dos povos e comunidades mapearam as principais áreas que necessitam de regularização fundiária. Confira a divulgação neste link.
Nesta edição, a plenária acontecerá em dois dias e terá cinco mesas de debate técnico e político sobre regularização fundiária em Unidades de Conservação (UCs) estaduais e federais, Florestas Públicas Não Destinadas (FPND), Projetos de Assentamento, Territórios Quilombolas e o papel do Poder Judiciário na garantia dos direitos territoriais dos povos e comunidades tradicionais, especialmente no acompanhamento das demandas apresentadas.
O coordenador executivo da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas no Amazonas (Conaq-AM), Sebastião Douglas, reafirma a importância da pluralidade para o avanço da pauta.
“Para nós, estar dentro do Diálogo Amazonas em si é muito importante. Lá [na plenária] vamos estar junto nas mesmas discussões com o MPF, o INCRA [Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária], que trata um pouco mais das questões quilombolas, o ICMBio [Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade], porque há área de conservação sobreposta aos territórios quilombolas, como o Parque Nacional do Tambor. [...]. É uma grande satisfação estar presente nesta mesa de discussão para que possamos avançar nessa política relacionada à questão fundiária no Amazonas, porque tanto nós [quilombolas], quanto as comunidades tradicionais, almejamos isso”, destaca.
Já o secretário-geral do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Dione Torquato, aponta que a ampliação de debates é uma peça-chave para assegurar o direito socioambiental dos territórios, bem como mitigar problemas socioambientais na região.
“Pensando hoje, na ampliação do Fórum, nós olhamos para essa questão da destinação das florestas públicas não destinadas, sobretudo às florestas públicas federais e estaduais. Acredito que a iniciativa do Território de Uso Coletivo, o TUC do Manicoré, assim como outros territórios de uso coletivo do Amazonas, é inspirada no FDA e tem, como garantia inicial, o reconhecimento territorial dos povos e comunidades tradicionais. Eu considero que essa é uma das principais estratégias, inclusive, de enfrentamento à grilagem, ao desmatamento, à mineração. Mas é, sobretudo, uma estratégia de garantir o direito socioterritorial dos povos e comunidades tradicionais, que hoje vivem debaixo das camadas de floresta e que são muito impactados pela ausência do estado e pela insegurança fundiária”, afirma.
Criado em 2012, o Fórum Diálogo Amazonas (FDA) é um espaço de articulação entre instituições públicas e organizações representativas de comunidades tradicionais. Coordenado pelo Ministério Público Federal (MPF), o FDA viabilizou conquistas importantes, como a regularização de mais de 12 milhões de hectares de terras públicas, a emissão de 1.688 Termos de Autorização de Uso Sustentável (TAUS) e a criação da TUC Rio Manicoré.
A “IX Plenária do Fórum Diálogo Amazonas” é promovida por um conjunto de instituições, entre elas o MPF, Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas no Amazonas (Conaq-AM), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM) e a Procuradoria-Geral do Estado do Amazonas (PGE-AM).
Por CPT Ceará
Entre os dias 1º e 3 de abril de 2025, a Casa de Formação das Irmãs Cordiamarianas, em Caucaia (CE), recebeu a Capacitação sobre Justiça Restaurativa, reunindo agentes pastorais de diversas organizações para aprofundar conhecimentos e práticas voltadas à resolução de conflitos e fortalecimento da cultura da paz.
A formação l foi realizado pela Cáritas Regional do Ceará. Que contou com a participação dos agentes Cáritas das dioceses e do secretariado regional, e diversos representantes das pastorais sociais irmãs, dentre elas, Comissão Pastoral da Terra (CPT Ceará), Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), Pastoral Carcerária e Pastoral do Menor, reafirmando o compromisso dessas pastorais com a promoção da justiça social e a defesa dos direitos humanos.
Durante os três dias de formação, os participantes discutiram os princípios da Justiça Restaurativa e suas aplicações nas realidades em que atuam, especialmente no contexto da CPT, e as lutas por direitos dos trabalhadores do campo, pelo direito à terra, a águas e floresta. Foram abordadas metodologias para facilitar diálogos restaurativos, mediação de conflitos e construção de espaços de escuta e reconciliação.
Representando a CPT Ceará, o coordenador Chiquinho contribuiu com reflexões sobre os desafios enfrentados no campo e a importância da Justiça Restaurativa na superação das violências estruturais. O encontro também possibilitou a troca de experiências entre as pastorais e a construção de estratégias conjuntas para fortalecer suas atuações nos territórios.
Como encaminhamento, os participantes planejam multiplicar os conhecimentos adquiridos em suas comunidades e fomentar iniciativas que integrem a Justiça Restaurativa às práticas pastorais, promovendo um olhar mais humanizado e transformador para os conflitos sociais.
Essa capacitação foi uma realização da Cáritas regional do Ceará, financiada pelo Fundo Nacional de Solidariedade (FNS), com apoio da MISEREOR. Sigamos construindo a fraternidade e a amizade social.
Por Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP Nacional)
O Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP) lançou nessa terça-feira, 1º de abril, o Relatório dos Conflitos Socioambientais e Violações de Direitos Humanos em Comunidades Tradicionais Pesqueiras no Brasil. A terceira edição da publicação do CPP registra dados de conflitos vivenciados por cerca de 450 comunidades pesqueiras em 16 estados do Brasil. O Maranhão lidera no número de conflitos relatados, seguido dos estados da Bahia e do Pará.
O lançamento, que aconteceu na sede do Regional Norte 2 da CNBB, em Belém (PA), contou com a participação de Dom José Altevir, bispo de Tefé (AM) e Presidente do CPP, representantes de comunidades pesqueiras vítimas dos conflitos além de pesquisadores da área. O principal objetivo do Relatório é dar visibilidade às ameaças que impactam e colocam em risco o modo de vida dos pescadores e pescadoras artesanais.
Os dados presentes no Relatório foram levantados entre os anos de 2022 e 2024. Como novidade nessa edição, a publicação também faz levantamento da percepção dos impactos das mudanças climáticas entre os pescadores e pescadoras artesanais, que foram algumas das principais vítimas dos desastres extremos causados pelo clima, nos últimos anos.
>> Acesse o arquivo do Relatório aqui.
Os dados revelam um cenário alarmante: a pesca artesanal está sendo profundamente impactada por forças externas que ameaçam sua existência. A especulação imobiliária lidera os conflitos, afetando 71,4% dos casos, enquanto 77,6% das comunidades relatam queda na quantidade de pescado, comprometendo sua subsistência. Além disso, 97,3% já sentem os efeitos das mudanças climáticas e 79,6% denunciam a ruptura de seus laços comunitários. Empresas privadas, agentes econômicos e o próprio poder público são apontados como os principais responsáveis por essas violações.
“O Relatório 2024 - Conflitos Socioambientais e Violação de Direitos Humanos em Comunidades Tradicionais Pesqueiras no Brasilé fruto da mobilização e organização de diversos sujeitos históricos que se colocam em luta e resistência para defender seus territórios da violência do Estado e do capital. Os dados apresentados revelam o nível de violência a que as comunidades pesqueiras estão sendo submetidas para atender demandas econômicas pautadas pela mercantilização e financeirização dos bens comuns presentes e preservados nos territórios da pesca artesanal”, defende o Secretário-executivo do CPP Nacional, Francisco Nonato.
Ameaças como o processo de privatização das praias com a PEC 03/2022 e de avanço de empreendimentos nos rios e mares como a recente proposta de exploração de petróleo na foz do Amazonas e de implantação de usinas eólicas no Mar (offshore), são alguns dos exemplos da intensificação dos conflitos que ameaçam a prática da pesca artesanal, além da permanência dos pescadores artesanais nos seus territórios.
“O relatório também se apresenta e se desenha como outro território da produção do possível, do justo e do necessário, no sentido de afirmar o lugar histórico da pesca artesanal e dos povos das águas na sua simbiose entre sociedade e natureza. O lugar-mundo das pescadoras e pescadores artesanais no Brasil é produzido e construído por saberes ancestrais, modos de vida, cultura e trabalho, base para pensar e sentir o bem viver”, aponta Nonato.
Os dados presentes no Relatório foram levantados entre os anos de 2022 e 2024 e contabilizam conflitos socioambientais novos (48 novos conflitos), que iniciaram a partir de junho de 2020 (momento de fechamento da coleta de dados do Relatório de 2021), mas também atualizam informações de conflitos antigos (37), que eram conhecidos desde o ano de 2015. A escolha por analisar conflitos com mais tempo, tem o objetivo de compreender o desenvolvimento desses conflitos e os elementos novos que mudaram a dinâmica de violências contra as comunidades pesqueiras. Informações sobre os tipos de conflitos sociais e ambientais que ameaçam os pescadores artesanais, agentes causadores e os impactos desses conflitos nas vidas das comunidades pesqueiras são alguns dos dados levantados pela publicação.
Como novidade nessa edição, a publicação também faz levantamento da percepção dos impactos das mudanças climáticas entre os pescadores e pescadoras artesanais, que foram algumas das principais vítimas dos desastres extremos causados pelo clima, nos últimos anos. Enchentes no Rio Grande do Sul entre os anos de 2023 e 2024 e as secas que aconteceram na Amazônia, também nesse período, causaram impactos que levaram à morte de espécies de peixes, impactos na saúde, devido à falta de acesso a água limpa, além dos impactos socioeconômicos. A seca e as enchentes são os casos mais emblemáticos, mas não são os únicos. Entre os dados levantados, aparecem a percepção do aumento da temperatura e de diminuição das espécies como algumas das consequências das mudanças climáticas. A expectativa é que os dados ajudem nos debates que ocorrerão na COP 30, em novembro, na cidade de Belém (PA), o que motivou também a escolha da capital paraense para o lançamento da publicação.
O Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP) é uma pastoral social ligada a Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Social Transformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O CPP tem desempenhado desde 1968, ano da sua fundação, um serviço comprometido junto aos pescadores e pescadoras artesanais na luta por direitos e na construção de uma sociedade justa e solidária.
No ano de 2016, o CPP lançou a primeira edição do Relatório de Conflitos Socioambientais e Violações de Direitos Humanos em Comunidades Tradicionais Pesqueiras no Brasil e no ano de 2021 foi lançada a segunda edição com dados coletados de 2018 a 2020. Desde então a publicação tem se consolidado como uma pesquisa de referência na área para pesquisadores que se interessam pelo tema, além de ser uma importante ferramenta para pautar políticas públicas para os trabalhadores e trabalhadoras da pesca artesanal.
Não levante peso muito grande para você, e não conviva com alguém mais forte ou mais rico que você. Pode, por acaso, a panela de barro se juntar com a panela de ferro? Haverá um choque, e a primeira se quebrará (Eclesiástico 13,2).
Nos dias 29 e 30 de março de 2025, em Salvador / BA, nos reunimos entre pastorais sociais, movimentos, representações de comunidades de diversas regiões da e representantes da Comissão Especial para Ecologia Integral e Mineração (CNBB), articulados no Núcleo Igreja e Mineração do Regional Nordeste 3 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), para o Encontro de Atingidos/as pela Mineração na Bahia e em Sergipe. Ao longo do encontro foram relatados vários casos de destruição socioambiental e de violência e violação de direitos que as populações têm sofrido nos territórios, causadas pela atividade minerária de grandes empresas apoiadas pelo Estado, mas também foram compartilhadas diversas formas de organização e resistência que têm sido mobilizadas, o que possibilitou uma reflexão afiada a respeito dos desafios para continuar o enfrentamento ao atual modelo de mineração que vem destruindo a dignidade e a vida em nossos territórios ao longo das últimas décadas. Esse modelo é racista e colonial, uma vez que seu alvo tem sido territórios habitados por populações majoritariamente não-brancas, transformados em zonas de sacrifício para o bem-estar de outras regiões do país e do planeta.
A partilha sobre os principais problemas socioambientais presentes nos territórios e nas comunidades em conflito com a mineração e sua logística (minas, ferrovias, portos, barragens de rejeito etc.) ofereceu um quadro alarmante das violações sofridas, como a contaminação das fontes de água, do ar e do solo, grilagem de terras, aterramento de nascentes, desmatamento de áreas nativas, rachamento de casas, adoecimentos, coerção e assédio às famílias para pesquisa mineral, divisão das famílias e comunidades, dentre outras formas de violência comumente praticadas pelo modelo mineral no Brasil.
O extrativismo predatório tem se expandido sem que os órgãos governamentais responsáveis pelo licenciamento e fiscalização estabeleçam autênticas consultas prévias, livres e informadas, conforme a Convenção 169 da OIT,da qual o Brasil é signatário, e, não raramente, contando com a violência policial contra as legítimas manifestações populares, que visam ampliar o debate público e explicitar as violações de direitos humanos. Sob esse conluio empresário- governamental, tem sido estimulada a apropriação das riquezas minerais para exportação em estado bruto, sem beneficiamentos, mas também sem a construção de cadeias produtivas que beneficiem a população e respeitem as dinâmicas locais e o cuidado com a natureza, garantindo lucros exorbitantes às empresas e a seus acionistas, não raramente envolvendo o capital financeiro internacional.
Esse modelo, implementado e em plena expansão na Bahia e em Sergipe, com amplo estímulo e apoio do Estado, apoiado no falacioso discurso do desenvolvimento e da geração de empregos, tem provocado o aumento de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes nas regiões em que mineradoras são instaladas, bem como o empobrecimento, a marginalização e o adoecimento (com altas taxas de incidência de cânceres, problemas respiratórios e transtornos psíquicos) principalmente dos povos e comunidades tradicionais que, como é bem sabido, historicamente vivem em íntima relação com seus territórios, combinando a produção de alimentos orgânicos e a preservação da biodiversidade.
Frente a todos estes conflitos, temos construído estratégias de enfrentamento e defesa dos nossos territórios através da organização comunitária, das espiritualidades, vínculos ancestrais e planos de vida das comunidades, de ações coletivas junto aos movimentos e organizações sociais, manifestações, denúncias aos órgãos públicos e responsáveis, construção das cartografias sociais, protocolos de consulta e outras estratégias jurídicas, variadas formas de incidência política, fortalecimento das iniciativas e potencialidades locais, da organização das mulheres e juventude e tantas outras formas cotidianas de luta popular.
Apesar disso, o Estado, mediado principalmente (mas não apenas) por seus órgãos de licenciamento ambiental, nega a existência dessas violações e, por conseguinte, não tem dado consequência às dezenas de denúncias feitas pelas comunidades atingidas. A combinação aterradora entre essas formas de negação e de negligência só é possível porque, como dito anteriormente, os processos de licenciamento ambiental invisibilizam as destruições socioambientais que deveriam ser previstas. Por tudo isso, é imperativo evidenciar que a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA- BA) e a Administração Estadual do Meio Ambiente (ADEMA-SE) têm funcionado como balcões de negócio da mineração, quando não como agentes publicitários por meio de falaciosas audiências públicas, ao que manifestamos o nosso mais profundo repúdio.
Considerando esse contexto, todas as lideranças comunitárias, pastorais sociais e movimentos populares presentes no Encontro de Atingidos/as pela Mineração na Bahia e em Sergipe se comprometem a:
São estas libertações dos atuais cativeiros, realizações do Bem Viver e da comunhão de tudo o que é vivo e merece viver, na direção da Terra Sem Males.
Salvador, Bahia, 30 de março de 2025.
Encontro de Atingidos/as pela Mineração Núcleo Igreja e Mineração - Bahia e Sergipe
Texto: CPT Ceará
Imagens: Neide Martins - CPT Itapipoca
No dia 29 de março de 2025, a CPT de Itapipoca realizou, no Assentamento Lagoa do Mineiro, na Paróquia de Almofala, Diocese de Itapipoca, em Itarema (CE), a XXIII Caminhada e Romaria das Águas. O evento contou com a participação de aproximadamente 500 pessoas, incluindo estudantes, professores, lideranças comunitárias e religiosas, além de agentes da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e parceiros da CPT Ceará.
A Caminhada e Romaria das Águas é um momento de fé, reflexão e compromisso com a defesa da vida, da terra, água, floresta e direitos. A atividade reforça a luta das comunidades pelo acesso à água e pela preservação ambiental. Durante o percurso, os participantes reafirmarão a importância da água como bem comum e direito fundamental.
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A programação seguiu de momentos de oração, depoimentos das comunidades, reflexões sobre a realidade hídrica da região e apresentações culturais, bem como teve o objetivo de fortalecer o diálogo e a resistência diante dos desafios socioambientais enfrentados pelas comunidades locais.
A CPT Ceará e as lideranças envolvidas reafirmam seu compromisso com a justiça socioambiental e convidam todas as pessoas interessadas a participarem dessa caminhada de fé e engajamento em prol da vida e da natureza.
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Massacres no campo
#TelesPiresResiste | O capital francês está diretamente ligado ao desrespeito ao meio ambiente e à vida dos povos na Amazônia. A Bacia do Rio Teles Pires agoniza por conta da construção e do funcionamento de uma série de Hidrelétricas que passam por cima de leis ambientais brasileiras e dos direitos e da dignidade das comunidades locais.