De acordo com sua metodologia, a CPT reconhece como "massacre" os casos nos quais um número igual ou superior a três pessoas são mortas na mesma data e em uma mesma localidade, portanto, numa mesma ocorrência de conflitos pela terra.
Pode também haver massacres em diferentes ocorrências, em datas distintas (mas não distantes), porém em mesmo imóvel rural ou área indígena, desde que referidas a uma única situação de conflito, evidenciando aspectos de inegociabilidade, intolerância continuada e confrontos prolongados, sem perspectiva de resolução por parte do Estado e do judiciário. Tal perspectiva metodológica é adotada, pois tais casos tratam-se de conflitos constantes em uma mesma localidade.
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A permanência dos massacres desde 1985 apresenta também uma recorrente impunidade, que protege os causadores desses crimes. Por isso, a metodologia também considera o contexto de ocupação das áreas em conflito, sua constância, e entende as singularidades de cada região do país e de cada povo atingido.
A CPT registra também massacres decorrentes de conflitos que envolvam sujeitos sociais oprimidos (pequenos contra pequenos) desde que tais conflitos sejam consequência da ação de um terceiro sujeito social, este opressor, como fazendeiros e grileiros, por exemplo. Uma situação assim específica é entendida pela CPT como decorrência da limitação do alcance da reforma agrária no Brasil, que resulta em tais tipos de conflitos entre os próprios oprimidos.
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Diante do exposto acima, a metodologia de trabalho utilizada pela CPT para o registro dos conflitos no campo - o que inclui os massacres - adota como ponto de partida a visão de mundo das classes sociais e dos povos oprimidos do campo. E é principalmente pelas informações originadas destas classes e povos que são caracterizados como massacres os assassinatos e mortes aqui registrados. Isto não quer dizer que não são levados em conta, para efeito de registro, as informações oriundas de instituições estatais ou das classes sociais opressoras. Elas servem para construir um quadro mais amplo dos conflitos. Mas não são elas a base da construção metodológica da CPT, conjugando com os princípios da missão pastoral da instituição, que é a partilha junto aos povos das águas, campo e florestas.
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