Com informações do Conselho Indigenista Missionário (Cimi)
Fotos: Associação Pariri e Frank Akay Munduruku
A rodovia Transamazônica amanheceu bloqueada, nesta terça-feira (25), pelo povo Munduruku, em Itaituba, na região do rio Tapajós, no sudoeste do Pará. Os indígenas manifestam-se contra a lei 14.701, conhecida como “lei do Marco Temporal”, e a Câmara de Conciliação criada pelo ministro Gilmar Mendes sobre o tema no STF.
Os povos indígenas, representados pela Articulação dos povos indígenas do Brasil (Apib), retiraram-se da mesa de conciliação, que caracterizaram como uma “negociação forçada” de seus direitos. Apesar da saída da Apib ainda no ano passado, a mesa seguiu, mesmo sem a participação dos principais afetados pela lei – que não foi sequer suspensa pelo ministro, apesar dos pedidos feitos à Suprema Corte.
A mesa foi suspensa por um mês após pedido do governo federal, em março, mas retoma suas atividades a partir de amanhã (26). Na última reunião, como resultado da mesa, o ministro Gilmar Mendes apresentou um anteprojeto de lei que mantém em curso uma série de ataques aos direitos indígenas.
Em faixas, os Munduruku reivindicam que o ministro “respeite a nossa Constituição” e que revogue a lei 14.701, “lei da morte”. Em outra faixa, eles afirmam: “a mesa de conciliação é morte para os povos indígenas”.
O ato começou durante a madrugada, na altura do km 25 da rodovia Transamazônica (BR-230), ponto em que ela se sobrepõe à BR-163. A via é uma das principais rotas de escoamento da produção do agronegócio da região centro-oeste do país.
"A Lei 14.701 é uma tese que pode fragilizar os direitos dos povos indígenas, permitindo a invasão de seus territórios e a exploração de recursos naturais. O povo Munduruku tem uma longa história de luta pela proteção de seus territórios e direitos. Esse bloqueio é mais uma ação de resistência contra as políticas que ameaçam sua existência. O bloqueio da BR-163 é um grito coletivo pela vida, pela floresta e pela dignidade dos povos originários. É um chamado à sociedade para se unir em defesa dos direitos dos povos indígenas", afirma o Coletivo Indígena Kirimbawa Itá.
O Ministério Público Federal (MPF) informou que enviou um pedido ao Supremo Tribunal Federal (STF), em 2024, para que sejam declarados inconstitucionais diversos trechos da Lei 14.701/2023.
Entre os trechos da lei que o MPF pede que sejam declarados inconstitucionais estão os que flexibilizaram o uso das terras indígenas, ampliando a possibilidade de exploração econômica dos territórios por não indígenas e negando a necessidade de consulta prévia a essas populações.
Marcando o Dia Mundial da Água, a Articulação das CPTs do Cerrado faz o lançamento vídeo-final do Encontro de Comunidades e Povos do Cerrado "Das re-existências brota a vida", expressando a resistência e a organização dos povos cerradeiros em defesa da terra, das águas e de seus territórios, pela preservação de seus modos de vida e pelo cuidado com a natureza, frente à ganância e destruição do agronegócio e de grandes empreendimentos.
Com o tema “Das re-existências brota a vida”, a Articulação das CPTs do Cerrado promoveu o Encontro de Comunidades e Povos do Cerrado, realizado entre os dias 28 a 30 de outubro de 2024, no Território Tradicional Melancias, no Piauí. O Encontro reuniu diversas identidades camponesas a fim de promover o diálogo, o fortalecimento e a troca de saberes entre comunidades, povos tradicionais e movimentos sociais que lutam pela preservação do Cerrado, berço das águas e fonte de vida.
O Encontro contou com plenárias, rodas de conversa e oficinas formativas com temáticas voltadas para o fortalecimento das resistências, além de uma feira camponesa para troca de sementes. Durante todo o evento, a cultura, a mística e a ancestralidade dos povos reafirmaram seus modos de vida, promovendo reflexões profundas sobre as re-existências que continuam a brotar frente à violência.
A água continua sendo tratada como mercadoria e alvo de disputas, com conflitos violentos que impactam povos e comunidades, devido à privatização do seu acesso, à contaminação pela mineração e pelos agrotóxicos, pelo desvio e drenagem de leitos e extração de água do subsolo para irrigação da monocultura e diversos outros ataques a natureza e ao direito dos povos em usufruir e cuidar deste que é o nosso bem mais precioso para a vida. O vídeo mostra a mobilização dos povos e comunidades cerradeiras em defesa da água e para permanência em seus territórios.
O Vídeo-final do Encontro de Comunidades e Povos do Cerrado “Das re-existências brota a vida” está disponível no Youtube da CPT (@cptnacional)
Foto: Terra de Direitos / Divulgação
Por Lanna Paula Ramos (Comunicação Terra de Direitos)
Parecer técnico critica avaliação de impactos socioambientais e a governança territorial do projeto que visa ligar Centro-Oeste à Amazônia
O projeto da ferrovia EF – 170, conhecida como Ferrogrão, ganhou mais um capítulo. Especialistas lançaram nesta quinta-feira (20), na Universidade Federal do Oeste do Pará, em Santarém, estudo técnico independente que aponta as inconsistências e os altos riscos de impactos socioambientais da construção da linha férrea que prevê criar um corredor logístico para escoamento da produção graneleira de Sinop (MT) até os portos em Miritituba (PA). Coordenado pelo Grupo de Trabalho Infraestrutura e Justiça Socioambiental (GT Infra), o parecer técnico contou com diversos especialistas, entre eles as assessoras jurídicas da Terra de Direitos, Suzany Brasil e Bruna Balbi, e José Raimundo Santana, advogado Popular da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
A análise teve como base a atualização do Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA) da Ferrogrão realizado pela Estação da Luz Participações (EDLP) e pela consultoria Tetra, no âmbito do Programa de Parcerias Público-Privadas de Investimentos (PPI) e concluído em 2024. No parecer técnico independente os especialistas avaliaram se o novo EVTEA considerou adequadamente os riscos socioambientais, levando em conta as fragilidades da governança territorial nos estados de Mato Grosso e Pará, áreas diretamente impactadas pelo empreendimento.
No evento de lançamento, os especialistas apresentaram as principais lacunas e falhas encontradas no EVETEA. Suzany Brasil, da Terra de Direitos, analisou como como os estudos desconsideram o aumento dos crimes ambientais e impactos já sofridos pelos povos indígenas e comunidades tradicionais que vivem na área de influência do projeto.
“O estudo ignora a existência de crimes ambientais e ameaças contra os defensores ambientais – povos indígenas, ribeirinhos e comunidades tradicionais. O estudo não atualiza de fato e não traz os impactos socioambientais que a Ferrogrão vai trazer para esses povos e para esse território. Então, nesse item a gente percebe mais uma vez o silêncio do estudo e necessidade de adequações e complementações urgentes”, pontuou.
De acordo com o parecer técnico, dados da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (SEMAS-PA), de 2014, ano de início do estudo de viabilidade técnica, até 2022, apontam que o órgão emitiu 6.972 multas por crime ambiental em um raio de 50 km ao redor do traçado da ferrovia, contra 2.389 no período anterior, de 2005 a 2013. Isso demonstra como, mesmo ainda em fase de planejamento, o projeto já exerce uma pressão sobre o território.
Outro ponto crítico considerado pelos especialistas foi a utilização do Termo de Referência de 2014 para guiar os novos estudos. Para eles, a atualização não levou em conta as condições atuais de governança no território da obra e nem os impactos cumulativos do projeto.
“Ao utilizar um Termo de Referência defasado para realização dos estudos, o EVETEA ignora, no mínimo, dez anos de mudanças territoriais e socioambientais na área de influência do projeto da Ferrogrão. Para citar um exemplo, nesse período a região do Tapajós, especialmente Santarém e Miritituba, passaram por um avanço da monocultura da soja e um aumento no número de terminais portuários, com fortes impactos sobre a governança territorial e direitos territoriais de povos e comunidades tradicionais da região”, enfatiza Bruna Balbi, da Terra de Direitos.
Em seu projeto, o trajeto da ferrovia (em linha amarela) pretende cortar terras indígenas e unidades de conservação. Fonte: Instituto Socioambiental
A Ferrogrão faz parte do Corredor Logístico Tapajós-Xingu, que inclui a BR-163, a hidrovia e portos instalados no Rio Tapajós. Desde 2013, ano em que foi instituída a Lei de Portos, o número de portos para escoamento da produção do agronegócio pelo Rio Tapajós dobrou – um aumento de 105%. Esse é um dado apontado pelo estudo “Portos e Licenciamento Ambiental no Tapajós”, elaborado pela Terra de Direitos.
Dos 41 portos identificados no estudo, somente 5 possuem a documentação completa do licenciamento ambiental, o que significa que os impactos ambientais, sociais e ao clima da região estão sendo subdimensionados. E sem considerar esse contexto de avanço dos portos e da monocultura na região do Tapajós, os estudos da Ferrogrão exacerbam a falha nas avaliações de impactos negativos ao território.
O parecer aponta que a ferrovia, junto as estruturas já existentes, pode gerar impactos cumulativos na região, como o aumento do desmatamento e a intensificação de conflitos fundiários. De acordo com os especialistas, a governança territorial fragilizada – caracterizada por uma gestão pública inadequada e conflitos sobre o uso da terra – é um fator crucial que não foi devidamente abordado no estudo.
O parecer traz ainda uma série de recomendações que buscam subsidiar a continuidade do debate sobre a viabilidade econômica e socioambiental da Ferrogrão, sugerindo alternativas que possam mitigar os danos à região. A análise visa proporcionar uma reflexão mais profunda sobre as dinâmicas socioambientais da Amazônia, que precisam ser consideradas de forma mais rigorosa antes da implementação de grandes projetos na Amazônia.
Acompanhe o que já publicamos sobre este caso:
27.06.2024 - Representantes de povos indígenas e comunidades tradicionais emitem Carta Aberta em protesto contra a Ferrogrão
31.07.2024 - Por que a sociedade civil está rompendo com o GT Ferrogrão?
24.10.2024 - Conselho Nacional de Direitos Humanos recomenda ao Governo suspensão do projeto Ferrogrão
08.11.2024 - Estratégias de destruição: Ferrogrão e outras ferrovias
Por Manuel do Carmo (CPT Regional Amazonas /
Pastoral da Terra da Arquidiocese de Manaus)
A comunidade está em processo de levantamento, relatório e catalogação dos moradores e suas devidas posses - Foto: Acervo CPT Amazonas
Agentes da CPT Regional Amazonas e Pastoral da Terra da Arquidiocese de Manaus estiveram presentes na comunidade Terra Santa, no município de Presidente Figueiredo (AM). Após anos na luta pela regularização das terras, a comunidade atualmente vivencia o levantamento, relatório e catalogação dos moradores e suas devidas posses. O encontro aconteceu no último dia 05 de março.
Com apoio da assessoria jurídica da CPT, as lideranças da comunidade irão peticionar oficialmente junto aos órgãos estaduais, federais de regularização fundiária – DPE, DPU, MPE e MPF, de acordo com a destinação da terra (estadual, federal ou particular).
As terras, originalmente dos povos indígenas Waimiri-Atroari, foram griladas por empresários de fora do Amazonas, com documentos falsos e inválidos. As suspeitas pairam em torno de que não houve destinação dessas terras para terceiros pelos órgãos federais, como a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), mas decorrem de arranjos oficiosos e corruptos pelo governo federal da ditadura militar e governadores estaduais dessa época.
Em 2017, diante da decisão liminar concedida pelo juiz autorizando o despejo de cerca de 30 famílias da comunidade Terra Santa, mesmo estabelecidas no lugar há mais de 10 anos na ocasião, a comunidade não teve seu direito de defesa respeitado, além do indigenista e agente da CPT Egydio Schwade ter sido retirado à força pelo magistrado, durante uma audiência, o que na época gerou uma Nota de Solidariedade de diversos movimentos e organizações de defesa de direitos.
Em audiência com o ministro Paulo Teixeira do MDA, coordenação nacional da CPT entrega documento que alerta sobre aumento da violência e lentidão na regularização de terras para os povos do Campo, das Águas e das Florestas
Texto e imagens: Cláudia Pereira | APC
Com aumento da violência na disputa por terras e recursos naturais, a coordenação da Comissão Pastoral da Terra (CPT), entregou ao ministro Paulo Teixeira do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), documento com informações atualizadas sobre os conflitos no campo em audiência com a presença do atual presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), César Audrighi. As informações revelam um cenário preocupante com mais de 2.200 conflitos registrados entre 2014 e 2023, evidenciando a persistência e o agravamento da violência no campo.
A audiência, que aconteceu na sede da Esplanada dos Ministérios, Brasília (12) contou com a presença de integrantes da coordenação Nacional da CPT, Campanha Contra Violência no Campo e o dom José Ionilton Oliveira, presidente da CPT e bispo da Prelazia do Marajó (PA). Além de entregar o documento, questionou o ministro e representantes do INCRA sobre o agravamento dos conflitos. Mais de 90% dos conflitos registrados pela CPT envolvem a ocupação de terras de comunidades tradicionais com longa história de presença nessas áreas. A lentidão nos processos do INCRA e a falta de ação em casos de comunidades vulneráveis aumentam ainda mais a insegurança. Há também um aumento da violência, com ameaças a lideranças e a participação crescente de forças policiais e do crime organizado que se aliam ao agronegócio, agravando a situação.
A CPT criticou os programas de regularização fundiária do governo federal, como "Prateleira de Terras" e "Terra da Gente", considerando-os insuficientes para conter os conflitos agrários e democratizar o acesso à terra.
“Eu acho muito importante a diminuição das mortes do campo pelo terceiro ano. E acho que o aumento do conflito se dá porque o governo atual é popular”, disse o então ministro Paulo Teixeira.
O ministro Paulo Teixeira minimizou os conflitos, expressando satisfação com a diminuição do número de mortes no campo. Ele atribuiu o aumento dos conflitos à popularidade do governo e contrasta a atual gestão com o governo anterior, que incentivava a violência. O ministro enfatizou o compromisso do governo em fortalecer a presença do Estado no campo, buscando mediar os conflitos e garantir a segurança dos trabalhadores camponeses.
A CPT questionou a falta de reconhecimento dos direitos territoriais quilombolas e a distribuição desigual de terras em estados como Amapá, Rondônia e Roraima, alertando para o risco de aumento da violência e marginalização dessas populações. A pastoral denunciou ainda a intensificação da violência em áreas de grandes projetos, como AMACRO e MATOPIBA, com apoio político e econômico do Estado.
Em documento entregue ao ministro da pasta, a CPT informa que a última década foi marcada por uma "contrarreforma agrária" e pela ascensão do agronegócio, da mineração e de projetos energéticos como forças dominantes no campo brasileiro. A organização aponta que o processo se agravou após o impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016, intensificando a violência praticada por agentes públicos e privados, cenário que persiste no atual governo.
Paulo Teixeira destacou que os conflitos atuais, embora intensos, são diferentes do passado, pois ocorrem dentro de um quadro legal e institucional, com o objetivo de diminuir a violência. O ministro reconheceu que os conflitos são inerentes à democracia e expressou abertura ao diálogo com os movimentos sociais. Ele propôs três canais de comunicação: a ouvidoria do MDA, para conciliação e mediação de conflitos; o diálogo político com a assessoria especial do ministério; e o contato direto com o próprio ministro, quando necessário. Ele ressaltou, no entanto, a necessidade de otimizar o tempo e a eficiência das reuniões, citando o longo tempo dedicado ao encontro em questão.
“O senhor falava de que os conflitos são consequências de um governo popular. A gente também pensa nisso. Tanto nós como o governo, desejamos que o número de violência diminua, porque a situação nos territórios é extremamente grave”, expressou dom Ionilton que foi interrompido pelo Ministro que reafirmava a sua satisfação com os dados do relatório.
O caso do assentamento Cinco Estrelas no estado do Mato Grosso, expôs a fragilidade do sistema de regularização fundiária. O INCRA já havia autorizado o assentamento das famílias, mas uma decisão judicial suspendeu a medida. Dom Ionilton questionou a falta de intervenção do Ministério e denunciou o sofrimento dos moradores, que enfrentam calor, fome, sede, perseguições e ameaças.
O bispo relatou que, após contatar o ministro Paulo Teixeira para solicitar ação imediata, não obteve resposta. Ele questionou a razão pela qual a decisão do INCRA e do governo não está sendo cumprida, devido à atuação da desembargadora em favor dos grileiros, em detrimento dos camponeses já assentados. Além disso, Dom Ionilton enviou um ofício ao ministro, detalhando a situação do assentamento. O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) respondeu, informando que a questão foi encaminhada ao INCRA para despacho. No entanto, a procuradora da Justiça aguarda esse despacho para dar prosseguimento ao caso.
Durante um conflito, integrantes do assentamento, agentes da pastoral e uma defensora pública foram presos durante o conflito. No entanto, há um apelo para que o ministro Paulo Teixeira entre em contato direto com a desembargadora, a fim de expor a gravidade da situação. As famílias do assentamento manifestam um sentimento de abandono por parte do governo e temem que as terras sejam devolvidas aos grileiros. Cláudia Dadico, do Departamento de Mediação e Conciliação de Conflitos Agrários, confirmou a gravidade do conflito no assentamento Cinco Estrelas, relatado por Dom Ionilton. Diante da brutalidade da ação policial, a Comissão Nacional de Enfrentamento à Violência no Campo e o Conselho Nacional de Direitos Humanos apresentaram uma representação por abuso de autoridade contra os policiais envolvidos na operação. A representação foi elaborada em conjunto com os agentes pastorais da Comissão Pastoral da Terra (CPT) do Mato Grosso.
Quanto ao andamento do processo, Dadico informou que está agendado uma audiência que requer a participação do ministro com a desembargadora nesta terça-feira (18/03). A reunião tem como objetivo dar prosseguimento ao despacho do processo, que se encontra paralisado.
Durante a audiência, o INCRA apresentou dados sobre os programas de reforma agrária, destacando o número de famílias assentadas e regularizadas, os recursos investidos e as metas para os próximos anos. A apresentação dos dados levou o maior tempo da audiência. A Comissão de Enfrentamento à Violência no Campo, por sua vez, expôs o cenário dos conflitos agrários, com destaque para o número de conflitos acompanhados, lideranças ameaçadas e casos de reintegração de posse.
Os dados revelaram a persistência da violência no campo, apesar da diminuição no número de assassinatos de defensores de direitos humanos. A situação na Amazônia e em regiões como MATOPIBA e o sul do Amazonas foi apontada como especialmente crítica.
O INCRA Apresentou números da Reforma Agrária detalhando os programas em andamento, destacando que atualmente existe:
A Comissão Nacional de Enfrentamento à Violência no Campo apresentou dados preocupantes sobre os conflitos agrários e alerta para os conflitos e ameaças: São monitorados 517 conflitos agrários que afetam 94 mil famílias, com 69 lideranças sob ameaça. Atualmente são monitorados 125 casos de reintegrações de posse com maior incidência nos estados do Maranhão, Pará, Bahia e Alagoas. Destes casos, 33 são acompanhados pela União Europeia.
A CPT criticou a "reforma agrária de mercado", que prioriza a lógica do mercado em detrimento dos direitos das comunidades tradicionais. A organização defendeu a priorização da regularização de áreas extensas, a consideração de casos emblemáticos de comunidades tradicionais e a adoção de medidas para promover o bem-estar das comunidades camponesas, incentivando a agricultura sustentável e livre de agrotóxicos.
A audiência evidenciou a necessidade de um diálogo mais frequente e efetivo entre o governo e os movimentos sociais, bem como a urgência de ações conjuntas para garantir os direitos dos povos do campo, das florestas e das águas.
Carlos Lima, da Coordenação Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), destacou a longa espera para a realização da audiência com o ministro Paulo Teixeira e representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Ele enfatizou que a necessidade do encontro foi manifestada publicamente pelo ministro em abril, durante o lançamento do caderno de conflitos da CPT, mas a agenda só foi concretizada após quase um ano de tentativas. Carlos ressaltou o esforço da assessoria do ministro para viabilizar a reunião.
O coordenador da CPT frisou a importância do documento entregue ao Ministro e ao INCRA que analisa criticamente a política de reforma agrária do governo, apontando para a predominância da lógica da "reforma agrária de mercado", apresenta casos emblemáticos de conflitos e solicita um canal de diálogo mais frequente com o governo.
O documento destaca as preocupações sobre os conflitos, como exemplo a situação da Usina Laginha, em Alagoas, onde uma empresa falida busca retomar as atividades e solicitou o corte de energia do acampamento com cerca de três mil famílias. A CPT também mencionou o caso da Usina Frei Caneca, em Pernambuco, onde a empresa colocou o imóvel à disposição do INCRA, mas aguarda a ação do órgão.
A CPT reconhece os esforços do governo na mediação de conflitos, mas defende uma ação mais estratégica do MDA e do INCRA para garantir os direitos dos povos originários, quilombolas, comunidades tradicionais, posseiros e sem-terra. O documento entregue critica a política de "compra de terras" para a reforma agrária, argumentando que ela beneficia grileiros e negligencia a urgência e a complexidade dos conflitos agrários. A CPT considera insuficientes os programas de regularização fundiária do governo, como o "Terra da Gente", e defende uma postura mais efetiva do Executivo para conter as pretensões do agronegócio.
A CPT ressalta a necessidade de um tratamento diferenciado para as especificidades regionais, especialmente na Amazônia, em razão de sua história de ocupação e da presença de povos e comunidades tradicionais.
O ministro Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário, destacou a importância da reforma agrária e a necessidade de diálogo com diversos setores, incluindo deputados e movimentos sociais. Ele enfatizou o compromisso do governo em combater a violência no campo e revelou que sofre pressão de grileiros para desistir de ações de reintegração de posse.
"Nós recolocamos a reforma agrária de novo na agenda nacional", afirmou Teixeira, citando a desapropriação de uma fazenda em Minas Gerais como exemplo do compromisso do governo. Ele relatou que o governo busca soluções para conflitos agrários em diversas instâncias, incluindo o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) e o Supremo Tribunal Federal (STF), onde obteve uma decisão favorável à reintegração de posse.
Teixeira reconheceu a influência dos grileiros no Judiciário, mas garantiu que o governo está "guerreando" para garantir os direitos dos povos do campo. Ele mencionou pressões para desistir de ações no STJ, mas reafirmou sua determinação em não recuar.
"Olha, vêm aqui os advogados mais bem pagos do Brasil e eu os atendo. Eles vão ganhar uma hora de honorário. Então, eu os entendo, mas não arredo um pé nas ações do Poder Judiciário de reintegração de posse", declarou o ministro.
Cecília Gomes, da Coordenação Nacional da CPT, expressou ao ministro Paulo Teixeira a preocupação com a destinação de terras públicas na Amazônia, especialmente nos estados do Amapá, Rondônia e Roraima. Ela alertou para o repasse de terras sem a devida diferenciação e reconhecimento de áreas importantes, como reservas indígenas, o que pode agravar a violência e os problemas socioambientais na região.
A proposta da CPT para solucionar esses problemas foi rejeitada, gerando apreensão sobre o processo de destinação das terras públicas.
O ministro Paulo Teixeira respondeu que o governo está empenhado em frear o repasse de terras públicas e em garantir os direitos de comunidades tradicionais, como quilombolas e indígenas. Ele se comprometeu a dialogar com o governador do Amapá, um aliado político, para discutir a questão das terras repassadas em 2001 e 2016.
Teixeira destacou que o governo está retomando terras públicas e que o INCRA tem realizado um trabalho excelente nesse sentido. Ele também mencionou a titulação de 30 decretos de quilombos em 2024, demonstrando o compromisso do governo com a regularização fundiária. Cecília Gomes questionou como poderia encaminhar a questão das terras públicas, buscando um canal de diálogo com o governo. Ela mencionou que a CPT já havia realizado uma audiência com a Câmara do MDA de Reconciliação Agrária para tratar do assunto.
A audiência foi encerrada pelo ministro prometendo sua presença no lançamento do anuário de conflitos da CPT a ser realizado no dia 23 de abril em Brasília na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A Comissão Pastoral da Terra (CPT) reafirmou sua crítica aos programas de regularização fundiária do governo federal e considera essas iniciativas insuficientes para conter os conflitos agrários e democratizar o acesso à terra, além de falharem no reconhecimento dos direitos territoriais de povos e comunidades tradicionais.
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