O Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso-FDHT, entidade formada por diversas organizações da sociedade civil, vem a público denunciar as inúmeras situações de violações de Direitos Humanos causadas pela Patrulha Rural de Mato Grosso.
Mato Grosso é um dos estados mais violentos para a população pobre do campo. Só em 2022, foram registrados, pela Comissão Pastoral da Terra-CPT, mais de 165 ocorrências de conflitos no campo, dados que mostram que o predomínio do agronegócio no estado é um dos principais causadores desta violência. Esse destaque reflete a quantidade de terras concentradas nas mãos de grandes latifundiários, grileiros e empresários do agronegócio no estado: cerca de 53 milhões de hectares, ou seja, 95% das terras agricultáveis de MT. Além disso, Mato Grosso é campeão na grilagem de terras pertencentes ao Estado e à União. A concentração, grilagem e violências contra o povo pobre do campo contam com aval e mão do governo do estado de Mato Grosso.
Criada pelo governo do estado, oficialmente, em outubro de 2021, a Patrulha Rural é um dos braços do estado, cujo objetivo tem sido atacar a vida dos trabalhadores/as rurais que lutam pelo acesso à terra, respaldando a implementação da campanha “Invasão Zero”, como se depreende da fala do Secretário de Segurança de MT:
“A determinação do governador Mauro Mendes é de tolerância zero às ocupações ilegais de terras no Estado, de acordo com o secretário de Estado de Segurança Pública (Sesp), coronel César Roveri. "O governador Mauro Mendes já determinou tolerância zero contra o crime de esbulho possessório, que são as invasões de terras, e assim temos feito, agindo de forma rápida e eficaz para impedir esse tipo de crime em nosso Estado", finalizou”. - Leia aqui
As perguntas que não querem calar são: em MT, quem julga o que é ou não crime, agora é o governo do Estado? Com que legitimidade a Polícia Militar, sem ordem judicial, atua contra as famílias rurais sem-terra?
Ainda, conforme dados do próprio governo do estado, o investimento nesta atuação, somente em 2023, foi de cerda de 18 milhões de reais:
“Ao longo de 2023, a Patrulha Rural, que está presente em todos os 15 Comandos Regionais da PMMT, recebeu cerca de R$ 18 milhões em investimentos em viaturas de duas e quatro rodas, fardamentos, armamentos, munições e equipamentos de última geração. No ano passado, os policiais percorreram mais de 623 mil quilômetros por todo território rural mato- grossense, em mais de três mil viaturas disponibilizadas para patrulhamento tático e ostensivo”.
Diversas são as situações de violências e violação de direitos denunciadas a este FDHT, a exemplo, do ocorrido em junho de 2021, o Acampamento Renascer, no município de Nova Guarita, denunciou a abordagem da PM ao acampamento, sem qualquer ordem judicial, a polícia invadiu casas, ameaçou idosos e humilhou as pessoas que lutam pelo direito de acesso à terra. Outros casos ocorreram na região Noroeste, numa área de assentamento, onde a PM expulsou famílias do Acampamento Flor do Cacau, além de relatos de que a polícia, supostamente, vem garantindo a segurança dos fazendeiros do município de Cotriguaçu.
Ainda, em outubro de 2023, na área da Gleba Mestre I, município de Jaciara, quando a Patrulha Rural atentou contra 10 trabalhadores rurais sem-terra, que foram baleados, a queima roupa por balas de borracha, sendo que um deles precisou passar por cirurgia para a retirada da bala. O depoimento dos trabalhadores mostra a crueldade destes agentes públicos, que até o momento não foram responsabilizados por esta ação:
“Há muitos feridos aqui no acampamento. Por favor, os órgãos responsáveis ajudem, porque a situação aqui é muito perigosa”.
“É covardia, é desprezível, é terrível que a polícia que deveria cuidar de nós faça algo assim contra nós”, “Quero saber onde está a lei para os cidadãos brasileiros que trabalham, para os pequenos agricultores familiares”.
Esses e muitos outros relatos que chegam a este Fórum, mostram que a força policial, que tem, nos termos do Artigo 144 da Constituição Federal, o dever de garantir a segurança do indivíduo, respeitando os Direitos Humanos, em Mato Grosso, acaba agindo de forma violenta contra os pobres do campo, perpetuando uma violência, que só será superada quando todas as famílias acampadas acessarem à terra, direito este garantido na Constituição Cidadã.
Por fim, considerando que é dever do Estado assegurar e garantir os direitos fundamentais de todos as pessoas, sem proteger os interesses individuais de uma única classe, é que se faz urgente e necessário a apuração da atuação da Patrulha Rural no Estado de MT, em especial a denúncia ora apresentada, para que, sendo levantadas irregularidades, sejam responsabilizados os agentes públicos que agem em discordância com o determina o ordenamento jurídico e constitucional vigente.
Cuiabá – MT, 23 de maio de 2024.
Inácio Werner - 65 99664-2331
Welligton Douglas - 65 98429-8556
Por Lígia Apel, da Assessoria de Comunicação do Cimi Regional Norte 1
Edição: Carlos Henrique Silva (CPT Nacional)
Pré-Fospa realizado em Boa Vista (RR). Foto: Adriana Chirone
Como forma de preparar os comitês nacionais e regionais para o Fórum Social Pan-Amazônico (FOSPA), diferentes instituições, organizações, movimentos sociais e comunidades realizam os Pré-Fospas em seus países e localidades, para preparar, articular, socializar e divulgar o Fórum e os temas que cada rincão da Amazônia levará para o grande debate. O 11o FOSPA acontecerá nas cidades bolivianas de Rurrenabaque e San Buenaventura, no departamento de La Paz, nos dias 12 a 15 de junho de 2024.
Este mês, foram realizados dois encontros no último dia 11, em Manaus (AM) e Boa Vista (RR). Em Manaus, o evento aconteceu no auditório do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPA) e trouxe os temas: povos indígenas e territorialidades amazônicas, mulheres, comunicação para a Amazônia e Mãe Terra. Em Roraima, se realizou na Casa das Pastorais Sociais e discutiu sobre povos indígenas e territorialidades amazônicas, Mãe Terra, extrativismo e alternativas, e mulheres.
Contando com 80 organizações e mais de 150 pessoas representantes da sociedade civil (dentre elas indígenas e indigenistas, mulheres, negros, comunicadores, pastorais e a comunidade científica), os participantes dos dois Pré-Fospas traçaram as linhas mestras que estruturam soluções para as necessidades urgentes de proteção da Amazônia.
O Fórum já se consolidou como um espaço de articulação, ação e reflexão relacionado à bacia amazônica que atravessa o Brasil, Peru, Bolívia, Equador, Colômbia, Venezuela, República Cooperativa da Guiana, Suriname e Guiana (Francesa), países que compõem o grande e diverso bioma amazônico. O Fospa “não se reduz a um encontro internacional de poucos dias, mas envolve todo um processo de preparação tanto do país anfitrião como para os demais países participantes”, explica sua coordenação.
Dentre os presentes em Manaus, estava o cacique Jonas Gavião, da Terra Indígena Gavião, localizada em Silves (AM) e que está sendo impactada pela empresa Eneva. A empresa chegou e se instalou na região para extração de petróleo e gás natural, sem consulta ao povo e sem considerar as Terras Indígenas que ali estão. Jonas entende que a união das lutas fortalece os povos, porque há compartilhamento de conhecimentos e informações sobre a realidade de cada um.
“Que a gente possa se unir mais e focar um trabalho coletivo em defesa não só do meu território, mas daqueles territórios que estão na mira da exploração, que nem o potássio lá em Autazes, que nem a exploração de minérios lá na região de Maués. Se a gente se espalhar, vai ficar difícil, mas se a gente se unir vamos ter uma boa oportunidade de falar lá fora e buscar apoio para podermos combater essas coisas dentro do nosso território”, reforça o cacique.
Com licenciamento do governo do estado do Amazonas, por meio do Instituto de Proteção Ambiental da Amazônia (Ipaam), a Eneva iniciou no último dia 13, a produção de gás natural no chamado Campo do Azulão, na Bacia do Amazonas.
Essa situação está incluída no tópico “não proliferação de combustíveis fósseis” que discute Transição Energética no Eixo Temático Extrativismo e Alternativas que, entre outros temas, será debatido no XI Fospa. A constatação é de que o Estado brasileiro é conivente com os impactos sociais e ambientais, altamente destrutivos, que esse tipo de matriz energética traz. É o que mostram os licenciamentos liberados para empresas como a Eneva, Potássio do Brasil e o banco canadense Forbes & Manhattan, Belo Sun (Pará), Mineração Taboca/Mamoré, entre outros conglomerados empresariais que se instalam na Amazônia.
Pré-Fospa em Manaus (AM). Foto: Ligia Apel | Cimi Regional Norte 1
Tão danoso quanto a desenfreada exploração de combustíveis fósseis é o avanço de outros setores econômicos sobre a Amazônia, como a mineração, a agropecuária e o transporte que, com suas formas mercantilistas de ver e entender a natureza, têm colocado o bioma no centro mundial das atenções sobre mudanças climáticas.
“A Panamazônia com suas dimensões continentais e diversidade biológica única, tornou-se o epicentro das discussões sobre emergência climática”, afirma Henrique dos Santos Pereira, diretor do INPA, que trouxe esse debate para o Pré-Fospa, apontando que as mudanças no clima “representam uma ameaça existencial, com impactos devastadores que já são visíveis em todo o mundo”, evidenciou Henrique com a situação de seca extrema vivida na Amazônia – ano passado no Amazonas, e no início de 2024 em Roraima.
“A economia de Francisco e Clara tem a certeza de que não dá para continuar produzindo sem respeito ao meio ambiente, sem respeito à natureza e sem ter o planeta Terra como a nossa casa comum. E quando falamos de Amazônia, esse ecossistema tão fundamental, precisamos de outra economia. De uma economia que leve em conta todas as vidas, não só as nossas, as humanas, mas também as dos animais, das plantas, e de como a gente precisa de tudo isso para ficar vivo”, afirmou Larissa Pires, representante da Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara.
A 28ª Assembleia Eletiva da Comissão Pastoral da Terra no Mato Grosso foi realizada no Centro de Formação Olga Benário, espaço do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, no município de Várzea Grande/MT, entre os dias 16 e 19 de maio. Nós, que chegamos de todas as regiões do estado, que somos um povo do campo, vindos das comunidades - assentamentos, posseiros, ribeirinhos, tradicionais, acampamentos e pré-assentamentos - e agentes da pastoral, em comunhão com as lutas por Direitos Humanos no Estado de Mato Grosso e no mundo, junto aos povos indígenas, aos lutadores e lutadoras por reforma agrária e às vítimas das enchentes que ocorrem no Rio Grande do Sul, as quais se dão em decorrência do modelo de exploração econômica e ao desmonte das políticas públicas de infraestrutura e socioambientais, anunciamos e denunciamos:
Seguiremos em caminhada, rompendo cercas, forçando caminhos, ensaiando a libertação (Casaldáliga, 1982). A nossa inspiração é a busca pelo Reino de Deus, o grande sonho e projeto de vida de Jesus: “Procurai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e sua justiça, e todo o resto vos será dado em acréscimo” (Mt 6, 33).
Denunciamos as forças contrárias ao Reino anunciado por Jesus: o monocultivo, os madeireiros, os mineradores, os latifundiários, os garimpeiros, as grandes corporações do agronegócio, entre outros. Sujeitos que trazem consigo a destruição de vidas, da natureza, das comunidades, das ancestralidades, dos biomas, da diversidade. Sujeitos que geram pobreza e mortes, pois visam o lucro de poucos acima da vida de muitos e da Mãe Terra.
O agronegócio, o Estado brasileiro e a “lei” do mercado internacional nos ameaçam e tentam nos expulsar de nossos territórios. São inúmeras as tentativas de despejo, os casos de intoxicação por agrotóxico, de exploração por trabalho escravo, de violências contra mulheres, jovens e crianças, de exploração sexual e de conflitos contra os povos do campo, das florestas e das águas.
São séculos de ataques às nossas vidas, que negam o nosso direito de existir. No entanto, é o cuidado com a terra, com a água, com as sementes crioulas e com a nossa casa comum que possibilita o banquete e a mesa do povo farta de comida boa. São esses os ensaios da grande festa do Reino e da Vida. Apesar de tanta morte, ocupamos, resistimos, existimos e partilhamos. A miséria e a dor humana são convertidas em plena alegria.
Como o povo que sai do Egito, do reino de Aruanda, que busca a terra sem males. Como o povo de Palmares, Canudos, Caldeirão, Cabanos, da Encruzilhada Natalino, Massacre de Colniza (em memória), Posseiros do Araguaia, Quilombo Quariterê, entre outras histórias de lutas populares, resistimos e lutamos. Nos encontramos com a CPT nestes cinquenta anos de presença, resistência e profecia, porque a Terra a Deus pertence! (cf. Lv 25).
Mato Grosso, 19 de maio de 2024.
Por Carlos Henrique Silva (Comunicação CPT Nacional),
com informações da CPT Regional Maranhão e da Rede de Agroecologia do Maranhão (RAMA)
Imagem: Registro da comunidade
Moradores do território Campestre, município de Timbiras (MA), denunciam que hoje (22 de maio), desde as 7h da manhã, na comunidade Manoel dos Santos, perceberam a movimentação de um drone sobrevoando a área da comunidade, jogando veneno de forma criminosa. Segundo informações, o drone está vindo da Fazenda Conceição, que fica ao lado da comunidade. O veneno, além de cair nas roças das famílias, atingiu várias pessoas da comunidade, inclusive, crianças que estavam indo para a escola. Na semana passada, nesta mesma localidade, um avião pulverizou veneno na plantação de arroz. A comunidade está em pânico e pede que medidas sejam tomadas o mais rápido possível.
Desde a última quinta-feira (16), recebemos denúncias a partir de moradores do território Campestre, de que um avião estava sobrevoando a região de Canafístula, mais precisamente a comunidade Manoel dos Santos, pulverizando veneno, e que o mesmo estava indo em direção a roça de arroz da comunidade. Seguindo relatos de moradores, alguns dias antes da pulverização, já haviam conversas de que teriam comprado veneno para ser lançado nos próximos dias, mas algumas pessoas acharam que talvez isso não fosse acontecer.
Em vídeos enviados à agente que acompanha o território, é possível ouvir um morador pedindo socorro às autoridades para que cessem com o veneno. O morador ainda relata que o arroz já está maduro, e é justamente no momento em que a comunidade se une em mutirão para corte. Ao final do vídeo, ele pergunta: “Será que a gente aqui não é ser humano? Esse povo jogando veneno em cima da roça da gente”. Segundo informações, um fazendeiro (pecuarista) de origem pernambucana, Danilo Abdala e o gerente da fazenda, identificado como Adriano, estariam comandando o uso de agrotóxico nesta região.
Com este ataque, passam de 90 ocorrências de contaminação por agrotóxicos no estado, somente em 2024, de acordo com levantamento cartográfico da Rede de Agroecologia do Maranhão (RAMA) e da Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Maranhão (FETAEMA), em colaboração com o Laboratório de Extensão, Pesquisa e Ensino de Geografia da Universidade Federal do Maranhão (LEPENG).
O mapa intitulado “Territórios Diretamente Vitimados por Agrotóxicos no Maranhão – janeiro a maio de 2024”, compreende a atualização da primeira versão, lançada em abril, e aponta uma lista de comunidades tradicionais, quilombolas e assentamentos rurais em 21 municípios do Estado sofrendo graves consequências devido à pulverização de agrotóxicos, conforme pode ser observado no mapa abaixo.
Infelizmente, essa prática tem se tornado cada vez mais comum, trazendo consigo uma série de impactos para essas comunidades e para a natureza. O veneno por aviões se espalha com o vento e corrobora na contaminação das águas, envenenamento dos alimentos, perda de produção da agricultura familiar, além de adoecimento, tanto físico quanto psicológico. “Os moradores pedem socorro, diante do grave risco à saúde, principalmente das crianças, e em decorrência das perdas dos plantios que terão! Estamos no tempo do milho, fundamental para alimentação no Maranhão”, afirmam membros da comunidade e dos povoados de Lagoa, Canafístula e Serafim.
A contaminação das águas do Cerrado pelos agrotóxicos, incluindo o estado do Maranhão, também foi fruto de uma pesquisa-ação organizada pela Campanha Nacional em Defesa do Cerrado e a CPT em 2021 e 2022 em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), gerando a publicação "Vivendo em territórios contaminados: Um dossiê sobre agrotóxicos nas águas do Cerrado" (que pode ser baixada gratuitamente), lançada em maio de 2023. Em todas as comunidades pesquisadas, foi detectada a presença do glifosato, substância proibida pela Autoridade Europeia para Segurança dos Alimentos (EFSA).
O uso indiscriminado de agrotóxicos ameaça diretamente a conservação da sociobiodiversidade, afeta a saúde, a segurança alimentar e os modos de vida das comunidades tradicionais, além de causar riscos à vida e à permanência nos territórios. Relatos de moradores(as) de comunidades afetadas apontam que o veneno é despejado em cima de moradias, áreas de roça e até contra pessoas, o que corrobora com o entendimento de que os agrotóxicos estão sendo utilizados como arma química, no intuito de expulsar as comunidades de seus territórios.
Estamos diante de uma verdadeira guerra química contra as comunidades tradicionais. Além de promover a grilagem de terras e o desmatamento de ecossistemas vitais como o Cerrado, a Amazônia maranhense e a Mata dos Cocais, essa guerra busca amedrontar as comunidades, forçando-as a abandonar suas terras para o avanço do agronegócio.
É importante ressaltar que há subnotificações de casos, devido às represálias e ameaças que muitas comunidades vivem em seus territórios. Por outro lado, há a urgência de que se estabeleçam os protocolos que deem conta de produzir dados reais sobre a situação dos agrotóxicos no Maranhão.
Este mapa representa uma fotografia instantânea da situação atual, mas é dinâmico e está sujeito a mudanças, conforme novas denúncias são recebidas. Sua atualização contínua é fundamental para acompanhar a evolução do problema dos agrotóxicos no Maranhão e, orientar ações de intervenção e apoio às comunidades afetadas.
Nossa missão é enfrentar esse desafio de forma coletiva e incansável, protegendo nossas comunidades, preservando nossa biodiversidade e promovendo um modelo agrícola sustentável e justo para todos. Junte-se a nós nessa luta!
Queremos Territórios Livres de Veneno!
Texto e imagens: Equipe CPT Araguaia-Tocantins
Nos dias 18 e 19 de maio foi realizada em Imperatriz (MA), a 19ª Romaria da Terra e das Águas Padre Josimo, que reuniu romeiros e romeiras de toda parte, especialmente do Maranhão e do Tocantins, atentos ao chamado de Josimo e inspirados na promessa insurgente: “Justiça e Paz hão de reinar!”, o lema da Romaria, que ecoa nossos sonhos mais atuais evocados no tema da nossa caminhada “Terra, teto, trabalho e Pão”.
Na chegada das caravanas, vivenciamos na tarde do primeiro dia, 18 de maio, uma rodada de visitas nas salas temáticas, dialogando com experiências inspiradas pela memória de Josimo: Memorial Pe. Josimo (CEBI/MA), Agroecologia (APA-TO, STR Bico e MST), Luta pela terra e Trabalho Escravo (CPT), Quebradeiras de coco (MIQCB), Juventudes (PJ/MA e PJ/TO), Cuidados e Ciranda, e Quilombolas (várias equipes do Maranhão). Também foram exibidos filmes: “Tem Floresta em Pé, Tem Mulher” (do MIQCB) e “Mada e Bia” (de Dagmar Talga), seguidos por debate com a diretora e as nossas duas heroínas (com ampla trajetória no Bico do Papagaio).
A noite foi de muita animação e arte, com músicas, poesias, depoimentos e teatros, levando até o amanhecer do dia 19 de maio, quando a alvorada chamou a todos para a celebração campal da eucaristia, concelebrada pelos bispos prestes: dom Vilsom (Imperatriz), dom Francisco (Carolina), dom Geovane (Araguaína), dom Philip (Miracema) e o novo bispo de Tocantinópolis (dom Carlos Henrique).
Logo mais iniciou a tradicional e bonita caminhada romeira pelas ruas da cidade, com quatro paradas em locais bem significativos: na ponte sobre as águas contaminadas do Rio Bacuri onde gritamos: “Socorro, o planeta está morrendo: Queremos RES-PI-RAR!”; na Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão – UEMASUL “Juventude, um outro mundo é possível!”; nas margens do Rio Tocantins que conecta Maranhão e Tocantins, ali no porto da Balsa onde Josimo aportou pela última vez, no dia 10 de maio de 1986: “Tudo está interligado! Somos parte da natureza, com ela formando um mesmo todo!”; e finalmente chegamos ao Memorial Padre Josimo, perto da Praça de Fátima, de fronte às escadarias onde Josimo foi alvejado pelas balas assassinas que, a mando do latifúndio, ceifaram sua vida: “Justiça e paz hão de reinar”.
Ali ouvimos o “Testamento espiritual” de Josimo e, já em clima de envio, houve bênção das sementes logo entregues aos romeiros e romeiras. Recebemos copiosa bênção sinodal pelas mãos de um quilombola, de uma quebradeira de coco, dos camponeses e dos bispos presentes, todos paramentados com a estola da Romaria.
Reunidos em nome da vida, erguendo o rosto e lembrando em ladainha o nome dos nossos mártires, testemunhas fiéis tombadas na caminhada em busca da libertação, proclamamos nosso compromisso “Eis nos aqui, Josimo!”. Na Carta final da Romaria, partilhamos a alegria de tantos encontros e reencontros, celebramos vitórias e apontamos desafios enfrentados em nossas lutas. E nos comprometemos: “Amanhã faremos o pão do tamanho da fome do nosso povo. Teremos filhos e filhas. Plantaremos hortas e árvores. Daremos nomes bonitos para nossos meninos e meninas. Chamaremos as árvores de ‘Meu bem!’. Chamaremos a água de ‘Meu amor’! Daremos nomes bonitos às nossas comunidades e chamaremos o mundo de ‘Nossa casa comum!’”
Josimo, presente, presente, presente!
Ato de lançamento acontece no dia 23 de maio, a partir das 8h, na Aldeia Jaguapiru, em Dourados (MS)
Por Comunicação CPT MS
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) no Mato Grosso do Sul realiza o lançamento regional da publicação Conflitos no Campo 2023 no dia 23 de maio, a partir das 8h (horário de MS), durante a tradicional Assembleia Aty Guasu do povo Guarani e Kaiowá, que acontecerá este ano na Aldeia Jaguapiru, em Dourados (MS).
O relatório da CPT aponta que o Mato Grosso do Sul ocupa a 6ª colocação no ranking dos estados que registraram conflitos no campo em 2023, contabilizando 116 ocorrências que afetaram mais de 20 mil famílias.
Os povos indígenas do MS, segundo atesta o documento, são os que mais sofrem com estas violências, sendo impactados com mais de 50 ocorrências de conflitos por terra no estado no último ano. O ano de 2023 registrou ainda dois assassinatos, ambos ocorridos no território Guasuty, em Aral Moreira (MS): a rezadora Sebastiana Gauto, 92, e seu marido, Rufino Velasque, 55, do povo Guarani e Kaiowá.
Para Sergio Pereira, coordenador regional da CPT-MS, lançar o Relatório na Aty Guasu é um sinal concreto de apoio aos povos indígenas Guarani e Kaiowá, que estão no centro das violências que ocorrem no campo no Mato Grosso do Sul. “Há um claro embate entre o agronegócio e as comunidades indígenas que reivindicam seus territórios em nosso estado, e essas disputas culminam em mortes e violências que se agravam a cada ano que passa”, enfatiza o coordenador da Pastoral.
A programação do lançamento contará com mesas de debate e exposição de dados alarmantes e recentes sobre os conflitos no campo no Brasil e no Mato Grosso do Sul. Representantes do povo Guarani e Kaiowá, de comunidades quilombolas e camponesas irão compor o ato de lançamento juntamente com agentes da Comissão Pastoral da Terra, do Conselho Indigenista Missionário e da Campanha Nacional contra a Violência no Campo, que contribuirão com análises de conjuntura do cenário atual.
O evento de lançamento também contará com a presença de entidades e movimentos sociais que atuam na defesa dos direitos dos povos camponeses no MS como o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra (MST), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), além de autoridades políticas e parlamentares, como o mandato da deputada estadual Gleice Jane (PT).
A publicação Conflitos no Campo 2023 pode ser acessada gratuitamente clicando aqui.
Serviço:
Lançamento regional no MS - Relatório Conflitos no Campo 2023
Data e horário: 23/05/2024, a partir das 8h (horário de MS)
Local: Assembleia Aty Guasu – Aldeia Jaguapiru, Dourados/MS
Mais informações: brunoalface.cpt@gmail.com
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Massacres no campo
#TelesPiresResiste | O capital francês está diretamente ligado ao desrespeito ao meio ambiente e à vida dos povos na Amazônia. A Bacia do Rio Teles Pires agoniza por conta da construção e do funcionamento de uma série de Hidrelétricas que passam por cima de leis ambientais brasileiras e dos direitos e da dignidade das comunidades locais.