Por Lígia Apel, da Assessoria de Comunicação do Cimi Regional Norte 1
Edição: Carlos Henrique Silva (CPT Nacional)
Pré-Fospa realizado em Boa Vista (RR). Foto: Adriana Chirone
Como forma de preparar os comitês nacionais e regionais para o Fórum Social Pan-Amazônico (FOSPA), diferentes instituições, organizações, movimentos sociais e comunidades realizam os Pré-Fospas em seus países e localidades, para preparar, articular, socializar e divulgar o Fórum e os temas que cada rincão da Amazônia levará para o grande debate. O 11o FOSPA acontecerá nas cidades bolivianas de Rurrenabaque e San Buenaventura, no departamento de La Paz, nos dias 12 a 15 de junho de 2024.
Este mês, foram realizados dois encontros no último dia 11, em Manaus (AM) e Boa Vista (RR). Em Manaus, o evento aconteceu no auditório do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPA) e trouxe os temas: povos indígenas e territorialidades amazônicas, mulheres, comunicação para a Amazônia e Mãe Terra. Em Roraima, se realizou na Casa das Pastorais Sociais e discutiu sobre povos indígenas e territorialidades amazônicas, Mãe Terra, extrativismo e alternativas, e mulheres.
Contando com 80 organizações e mais de 150 pessoas representantes da sociedade civil (dentre elas indígenas e indigenistas, mulheres, negros, comunicadores, pastorais e a comunidade científica), os participantes dos dois Pré-Fospas traçaram as linhas mestras que estruturam soluções para as necessidades urgentes de proteção da Amazônia.
O Fórum já se consolidou como um espaço de articulação, ação e reflexão relacionado à bacia amazônica que atravessa o Brasil, Peru, Bolívia, Equador, Colômbia, Venezuela, República Cooperativa da Guiana, Suriname e Guiana (Francesa), países que compõem o grande e diverso bioma amazônico. O Fospa “não se reduz a um encontro internacional de poucos dias, mas envolve todo um processo de preparação tanto do país anfitrião como para os demais países participantes”, explica sua coordenação.
Conhecimentos entrelaçados
Dentre os presentes em Manaus, estava o cacique Jonas Gavião, da Terra Indígena Gavião, localizada em Silves (AM) e que está sendo impactada pela empresa Eneva. A empresa chegou e se instalou na região para extração de petróleo e gás natural, sem consulta ao povo e sem considerar as Terras Indígenas que ali estão. Jonas entende que a união das lutas fortalece os povos, porque há compartilhamento de conhecimentos e informações sobre a realidade de cada um.
“Que a gente possa se unir mais e focar um trabalho coletivo em defesa não só do meu território, mas daqueles territórios que estão na mira da exploração, que nem o potássio lá em Autazes, que nem a exploração de minérios lá na região de Maués. Se a gente se espalhar, vai ficar difícil, mas se a gente se unir vamos ter uma boa oportunidade de falar lá fora e buscar apoio para podermos combater essas coisas dentro do nosso território”, reforça o cacique.
Com licenciamento do governo do estado do Amazonas, por meio do Instituto de Proteção Ambiental da Amazônia (Ipaam), a Eneva iniciou no último dia 13, a produção de gás natural no chamado Campo do Azulão, na Bacia do Amazonas.
Essa situação está incluída no tópico “não proliferação de combustíveis fósseis” que discute Transição Energética no Eixo Temático Extrativismo e Alternativas que, entre outros temas, será debatido no XI Fospa. A constatação é de que o Estado brasileiro é conivente com os impactos sociais e ambientais, altamente destrutivos, que esse tipo de matriz energética traz. É o que mostram os licenciamentos liberados para empresas como a Eneva, Potássio do Brasil e o banco canadense Forbes & Manhattan, Belo Sun (Pará), Mineração Taboca/Mamoré, entre outros conglomerados empresariais que se instalam na Amazônia.
Pré-Fospa em Manaus (AM). Foto: Ligia Apel | Cimi Regional Norte 1
Mudanças climáticas
Tão danoso quanto a desenfreada exploração de combustíveis fósseis é o avanço de outros setores econômicos sobre a Amazônia, como a mineração, a agropecuária e o transporte que, com suas formas mercantilistas de ver e entender a natureza, têm colocado o bioma no centro mundial das atenções sobre mudanças climáticas.
“A Panamazônia com suas dimensões continentais e diversidade biológica única, tornou-se o epicentro das discussões sobre emergência climática”, afirma Henrique dos Santos Pereira, diretor do INPA, que trouxe esse debate para o Pré-Fospa, apontando que as mudanças no clima “representam uma ameaça existencial, com impactos devastadores que já são visíveis em todo o mundo”, evidenciou Henrique com a situação de seca extrema vivida na Amazônia – ano passado no Amazonas, e no início de 2024 em Roraima.
“A economia de Francisco e Clara tem a certeza de que não dá para continuar produzindo sem respeito ao meio ambiente, sem respeito à natureza e sem ter o planeta Terra como a nossa casa comum. E quando falamos de Amazônia, esse ecossistema tão fundamental, precisamos de outra economia. De uma economia que leve em conta todas as vidas, não só as nossas, as humanas, mas também as dos animais, das plantas, e de como a gente precisa de tudo isso para ficar vivo”, afirmou Larissa Pires, representante da Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara.