A 28ª Assembleia Eletiva da Comissão Pastoral da Terra no Mato Grosso foi realizada no Centro de Formação Olga Benário, espaço do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, no município de Várzea Grande/MT, entre os dias 16 e 19 de maio. Nós, que chegamos de todas as regiões do estado, que somos um povo do campo, vindos das comunidades - assentamentos, posseiros, ribeirinhos, tradicionais, acampamentos e pré-assentamentos - e agentes da pastoral, em comunhão com as lutas por Direitos Humanos no Estado de Mato Grosso e no mundo, junto aos povos indígenas, aos lutadores e lutadoras por reforma agrária e às vítimas das enchentes que ocorrem no Rio Grande do Sul, as quais se dão em decorrência do modelo de exploração econômica e ao desmonte das políticas públicas de infraestrutura e socioambientais, anunciamos e denunciamos:
Seguiremos em caminhada, rompendo cercas, forçando caminhos, ensaiando a libertação (Casaldáliga, 1982). A nossa inspiração é a busca pelo Reino de Deus, o grande sonho e projeto de vida de Jesus: “Procurai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e sua justiça, e todo o resto vos será dado em acréscimo” (Mt 6, 33).
Denunciamos as forças contrárias ao Reino anunciado por Jesus: o monocultivo, os madeireiros, os mineradores, os latifundiários, os garimpeiros, as grandes corporações do agronegócio, entre outros. Sujeitos que trazem consigo a destruição de vidas, da natureza, das comunidades, das ancestralidades, dos biomas, da diversidade. Sujeitos que geram pobreza e mortes, pois visam o lucro de poucos acima da vida de muitos e da Mãe Terra.
O agronegócio, o Estado brasileiro e a “lei” do mercado internacional nos ameaçam e tentam nos expulsar de nossos territórios. São inúmeras as tentativas de despejo, os casos de intoxicação por agrotóxico, de exploração por trabalho escravo, de violências contra mulheres, jovens e crianças, de exploração sexual e de conflitos contra os povos do campo, das florestas e das águas.
São séculos de ataques às nossas vidas, que negam o nosso direito de existir. No entanto, é o cuidado com a terra, com a água, com as sementes crioulas e com a nossa casa comum que possibilita o banquete e a mesa do povo farta de comida boa. São esses os ensaios da grande festa do Reino e da Vida. Apesar de tanta morte, ocupamos, resistimos, existimos e partilhamos. A miséria e a dor humana são convertidas em plena alegria.
Como o povo que sai do Egito, do reino de Aruanda, que busca a terra sem males. Como o povo de Palmares, Canudos, Caldeirão, Cabanos, da Encruzilhada Natalino, Massacre de Colniza (em memória), Posseiros do Araguaia, Quilombo Quariterê, entre outras histórias de lutas populares, resistimos e lutamos. Nos encontramos com a CPT nestes cinquenta anos de presença, resistência e profecia, porque a Terra a Deus pertence! (cf. Lv 25).
Mato Grosso, 19 de maio de 2024.