COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Por Carlos Henrique Silva (Comunicação CPT Nacional),
com informações da CPT Regional Maranhão e da Rede de Agroecologia do Maranhão (RAMA)

Imagem: Registro da comunidade

Moradores do território Campestre, município de Timbiras (MA), denunciam que hoje (22 de maio), desde as 7h da manhã, na comunidade Manoel dos Santos, perceberam a movimentação de um drone sobrevoando a área da comunidade, jogando veneno de forma criminosa. Segundo informações, o drone está vindo da Fazenda Conceição, que fica ao lado da comunidade. O veneno, além de cair nas roças das famílias, atingiu várias pessoas da comunidade, inclusive, crianças que estavam indo para a escola. Na semana passada, nesta mesma localidade, um avião pulverizou veneno na plantação de arroz. A comunidade está em pânico e pede que medidas sejam tomadas o mais rápido possível.

Desde a última quinta-feira (16), recebemos denúncias a partir de moradores do território Campestre, de que um avião estava sobrevoando a região de Canafístula, mais precisamente a comunidade Manoel dos Santos, pulverizando veneno, e que o mesmo estava indo em direção a roça de arroz da comunidade. Seguindo relatos de moradores, alguns dias antes da pulverização, já haviam conversas de que teriam comprado veneno para ser lançado nos próximos dias, mas algumas pessoas acharam que talvez isso não fosse acontecer.

Em vídeos enviados à agente que acompanha o território, é possível ouvir um morador pedindo socorro às autoridades para que cessem com o veneno. O morador ainda relata que o arroz já está maduro, e é justamente no momento em que a comunidade se une em mutirão para corte. Ao final do vídeo, ele pergunta: “Será que a gente aqui não é ser humano? Esse povo jogando veneno em cima da roça da gente”. Segundo informações, um fazendeiro (pecuarista) de origem pernambucana, Danilo Abdala e o gerente da fazenda, identificado como Adriano, estariam comandando o uso de agrotóxico nesta região.

Levantamento

Com este ataque, passam de 90 ocorrências de contaminação por agrotóxicos no estado, somente em 2024, de acordo com levantamento cartográfico da Rede de Agroecologia do Maranhão (RAMA) e da Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Maranhão (FETAEMA), em colaboração com o Laboratório de Extensão, Pesquisa e Ensino de Geografia da Universidade Federal do Maranhão (LEPENG).

O mapa intitulado “Territórios Diretamente Vitimados por Agrotóxicos no Maranhão – janeiro a maio de 2024”, compreende a atualização da primeira versão, lançada em abril, e aponta uma lista de comunidades tradicionais, quilombolas e assentamentos rurais em 21 municípios do Estado sofrendo graves consequências devido à pulverização de agrotóxicos, conforme pode ser observado no mapa abaixo.

Infelizmente, essa prática tem se tornado cada vez mais comum, trazendo consigo uma série de impactos para essas comunidades e para a natureza. O veneno por aviões se espalha com o vento e corrobora na contaminação das águas, envenenamento dos alimentos, perda de produção da agricultura familiar, além de adoecimento, tanto físico quanto psicológico. “Os moradores pedem socorro, diante do grave risco à saúde, principalmente das crianças, e em decorrência das perdas dos plantios que terão! Estamos no tempo do milho, fundamental para alimentação no Maranhão”, afirmam membros da comunidade e dos povoados de Lagoa, Canafístula e Serafim.

A contaminação das águas do Cerrado pelos agrotóxicos, incluindo o estado do Maranhão, também foi fruto de uma pesquisa-ação organizada pela Campanha Nacional em Defesa do Cerrado e a CPT em 2021 e 2022 em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), gerando a publicação "Vivendo em territórios contaminados: Um dossiê sobre agrotóxicos nas águas do Cerrado" (que pode ser baixada gratuitamente), lançada em maio de 2023. Em todas as comunidades pesquisadas, foi detectada a presença do glifosato, substância proibida pela Autoridade Europeia para Segurança dos Alimentos (EFSA).

O uso indiscriminado de agrotóxicos ameaça diretamente a conservação da sociobiodiversidade, afeta a saúde, a segurança alimentar e os modos de vida das comunidades tradicionais, além de causar riscos à vida e à permanência nos territórios. Relatos de moradores(as) de comunidades afetadas apontam que o veneno é despejado em cima de moradias, áreas de roça e até contra pessoas, o que corrobora com o entendimento de que os agrotóxicos estão sendo utilizados como arma química, no intuito de expulsar as comunidades de seus territórios.

Estamos diante de uma verdadeira guerra química contra as comunidades tradicionais. Além de promover a grilagem de terras e o desmatamento de ecossistemas vitais como o Cerrado, a Amazônia maranhense e a Mata dos Cocais, essa guerra busca amedrontar as comunidades, forçando-as a abandonar suas terras para o avanço do agronegócio.

É importante ressaltar que há subnotificações de casos, devido às represálias e ameaças que muitas comunidades vivem em seus territórios. Por outro lado, há a urgência de que se estabeleçam os protocolos que deem conta de produzir dados reais sobre a situação dos agrotóxicos no Maranhão.

Este mapa representa uma fotografia instantânea da situação atual, mas é dinâmico e está sujeito a mudanças, conforme novas denúncias são recebidas. Sua atualização contínua é fundamental para acompanhar a evolução do problema dos agrotóxicos no Maranhão e, orientar ações de intervenção e apoio às comunidades afetadas.

Nossa missão é enfrentar esse desafio de forma coletiva e incansável, protegendo nossas comunidades, preservando nossa biodiversidade e promovendo um modelo agrícola sustentável e justo para todos. Junte-se a nós nessa luta!

Queremos Territórios Livres de Veneno!

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