COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

por Vívian Marler / Assessora de Comunicação do Regional Norte 2 da CNBB

O Regional Norte 2, em Belém (PA), recebeu nos últimos dois dias (25 e 26), o primeiro dos cinco encontros regionais preparatório para a COP30, o ‘PRE-COP NORTE’ do Projeto ‘Igreja Rumo à COP 30’, realizado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, que através de formações voltadas para lideranças da Igreja, promoveu um entendimento mais profundo sobre as mudanças climáticas e suas consequências. Participaram mais de 50 representantes dos Regionais Norte 1 (AM/RR), Norte 2 (PA/AP), Norte 3 (TO), Noroeste (AC/RO), Nordeste 5 (MA) e Oeste 2 (MT).

No primeiro painel ‘A Igreja e seu papel histórico de profetismo diante da crise socioambiental’, Dom Erwin Kräutler, bispo Emérito da Prelazia do Xingu (PA). “Estamos aqui reunidos para nos preparar para a COP 30, que é tão importante para nós como Igreja, porque nós acreditamos que Deus nos colocou neste lado, porque lá para nós é a Amazônia e temos uma grande responsabilidade na Amazônia e das futuras gerações. A nossa Igreja tem algo para dizer e temos que nos abrir exatamente para essa nova visão. Na visão bíblica, Amazônia não é para o lucro. A Amazônia é para viver e para sobreviver. De modo especial, conheçamos os povos originários e vivam na nossa Igreja, que é a Amazônia. A área aqui também é a sua visão da vida. E neste século os homens vivem também pensando na sobrevivência dos seus filhos, de seus netos. Que Deus nos ajude”, clamou o bispo emérito do Xingu.

O professor Mário Tito comandou o segundo painel com o tema ‘Conferências do Clima em tempos de crise: contexto geral e temas centrais’, onde falou sobre as conferências ambientais até chegar na COP fazendo reflexões sobre os principais pontos, desde o que é a governança global, que é a questão ambiental, o que atravessa as fronteiras dos países até reunir todos aqueles que estão de alguma forma envolvidos no problema, para tomar decisões que sejam ajustadas a interesses. Relembrando as Conferências ambientais desde 72 e Estocolmo, passando pela ECO 92 no Rio de Janeiro, dentre outras, falou, ainda, sobre o Desenvolvimento Sustentável, que foi a grande ideia dessas conferências, assim como a necessidade de os países serem mais assertivos.

“Há a necessidade de os países serem mais assertivos, mais claros na tomada de decisões deles, ou seja, comprometimentos com metas bem concretas e bem definidas. Porque é nessa perspectiva que surgem as COP. Na verdade, a conferência das partes daqueles que assinam um tratado, é um documento entre os Estados nacionais para tomada de decisões. Então, são esses membros, os Estados Partes. Eles realizam a COP anualmente, e nós estamos na COP 30 esse ano”, explicou Mário Tito.

Durante a tarde de ontem foi trabalhado junto com os presentes os ‘Eixos Temáticos da Conferência do Clima’ que foram debatidos por eixo temático como desmatamento zero, convergência entre clima e biodiversidade, transição ecológica e energética para uma economia de baixo carbono e financiamento.

Representantes do Regional Norte 1 (Amazonas e Roraima) no Pré-COP Norte

A professora Ima Vieira, pesquisadora do Museu Emilio Goeldi, revelou uma transformação profunda e preocupante do maior bioma tropical do planeta durante o terceiro painel ‘Crise climática e eventos extremos no bioma amazônico e área litorânea da macrorregião Norte’, e fez uma panorâmica sobre a crise ambiental que a Amazônia enfrenta há mais de três décadas após a Cúpula da Terra no Rio de Janeiro em 1992.

“As mudanças climáticas têm provocado alterações dramáticas na região com o aumento de temperatura que amplificam significativamente o risco de incêndios e provocam impactos devastadores na região. Os eventos de secas críticas têm sido particularmente impactantes e vivida pela Amazônia em 2005, 2010, 2015-16 e mais recentemente em 2023-24, especialmente durante os anos de El Niño. As consequências são profundas, os rios com níveis drasticamente reduzidos, mortandade em massa de peixes, isolamento de comunidades ribeirinhas e interrupção da navegação fluvial.

As transformações ultrapassam os limites ambientais, atingindo dimensões sociais e econômicas. A região tem experimentado um aumento da ilegalidade, elevação no número de assassinatos rurais e mudanças significativas nas práticas de agricultura familiar. A produtividade agrícola está em declínio, com previsões cada vez mais pessimistas para o futuro. Lembrando, ainda, que a Amazônia perdeu 12% de sua superfície hídrica, com 20% das 11.216 microbacias apresentando impactos de alto a extremo”, alertou a pesquisadora que aponta ações urgentes para que ações sejam tomadas.

“A Igreja tem papel importante e o Papa Francisco prega que as soluções passam pela Ecologia Integral. O tempo para agir está se esgotando. A Amazônia não é apenas um problema regional, mas uma questão global que demanda atenção, compromisso e ação imediata de toda a comunidade internacional. A COP30, surge como uma oportunidade para discutir e implementar estratégias de fortalecimento das comunidades locais para enfrentamento da crise climática”, inteirou Ima.

Divididos por grupos os participantes, ao final do dia, debateram sobre o ‘Documento de Base e Subsídio para a Incidência Política da Igreja na COP 30 – Um chamado à conversão ecológica, formação e resistência às falsas soluções climáticas’ que exige, de todos, uma postura profética, que denuncie falsas soluções climáticas e anuncie a esperança de uma nova sociedade, baseada na justiça, na fraternidade universal com todas as criaturas e no cuidado com a Casa Comum, refletindo a esperança de que a COP 30 seja um marco de resistência e transformação, guiada pela força das comunidades e pela visão de uma igreja em saída, comprometida com a justiça socioambiental e a dignidade de todos os seres.

Francisco Meireles, presidente do Conselho Nacional do Laicato no Brasil no Regional Norte 1 – CNLB N1 e membro do Conselho do Regional Norte 1 no Amazonas e Roraima, acredita ser importante a participação de todos os meios e agentes sociais dentro da Igreja para refletir sobre a PRÉ-COP “a importância da PRÉ-COP para o Norte é ter a participação de todos os meios e agentes sociais envolvidos dentro da nossa Igreja Católica, para que possamos refletir e trazer realmente as pautas que são de suma importância para essa mudança climática que está acontecendo nos últimos anos principalmente aqui no Brasil, na Amazônia. Que seja realmente frutuosa e que leve as nossas bases, as nossas comunidades, paróquias e áreas missionárias, a reflexão de um processo de mudança de atitude, de hábito de cada pessoa”.

A Igreja do Norte do Brasil, reunida em Belém, coloca-se como porta-voz para ajudar os chefes de Estado a conhecerem a realidade da região, como coloca Dom Francisco Lima Soares, bispo da Diocese de Carolina no Maranhão “a importância da PRÉ-COP Norte para todas as populações, de modo especial as ribeirinhas, é porque o grande acontecimento da COP 30 vem pelos seus chefes de Estados. Eles que tomam as decisões. Mas a Igreja se reúne para propor e para lembrar que existem dificuldades nos povos ribeirinhos e nos povos da floresta, nas cidades, nas periferias das cidades e mostra que as mudanças climáticas estão corroborando para isso. Então, é importante que a Igreja tenha uma palavra no momento da COP 30. Por isso o Norte, se reunindo aqui em Belém, começa a fazer esse olhar que às vezes os chefes de Estados não veem que existe”.

Indígena, pescador, quilombola e agricultor estiveram reunidos em uma Mesa Redonda que debateu sobre as experiências nos territórios e maretórios, que deu voz a Eduardo Soares, Secretário da Articulação Rede Eclesial Pan-Amazônica  – REPAM para a COP 30, sobre a ‘Cúpula dos Povos’, que falou sobre a mobilização dos povos pela terra e pelo clima da articulação da reforma “a realização da COP 30 vem fazendo tanto nos territórios humanitários como na articulação com os movimentos populares, um fortalecimento do debate sobre a justiça climática, sobre as questões socioambientais, e a REPAM tem realizado  atividades feitas pela articulação ou apoiadas nos territórios, como as perspectivas em relação às convergências que a gente tem feito junto com os territórios humanitários, mas também com os movimentos no sentido de fortalecer a essa articulação com a COP 30”, contou Eduardo Soares.

O encontro finalizou com uma Celebração Eucarística onde foi entregue um “Guia para multiplicação” e envio dos multiplicadores, sob a presidência de Dom Joaquim Hudson de Souza Ribeiro, bispo auxiliar da Arquidiocese de Manaus, pertencente ao Regional Norte 1.

“O PRÉ-COP NORTE foi muito rico em suas colocações, alertas e sugestões para a COP 30, formamos multiplicadores que irão replicar o conhecimento adquirido ao longo desses dois dias, que na verdade foi mais um reforço para toda a nossa luta, como Igreja. Que possa ecoar junto aos chefes de Estado da COP 30, e aos que indiretamente estão envolvidos nesta problemática, assim iremos ampliar a preocupaçãp da Igreja, junto as comunidades, na defesa da Casa Comum e incentivando ações concretas pela justiça climática e a ecologia integral”, fechou o evento Dom Paulo Andreolli, bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém e articulador da Igreja Rumo a COP 30.

O Pré-COP Norte, foi o primeiro dos cinco encontros regionais preparatórios para a COP30. A próxima reunião Pré-COP Nordeste acontecerá nos dias 11 e 12 de julho em Juazeiro (BA), seguido da Pré-COP Sul de 18 a 20 de julho, em Governador Celso Ramos (SC), Pré-COP Leste de 25 a 27 de julho, em Belo Horizonte (MG), finalizando com a Pré-COP Centro-Oeste no dia 6 de agosto em Bonito (MS).

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, também chamada de COP30, acontecerá na capital paraense no período de 10 a 21 de novembro.

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