Por Equipe Mata Sul de Pernambuco
A imagem mostra o agricultor Geovane da Silva Santos, presidente da associação de moradores/as da comunidade do Engenho Roncadorzinho, em Barreiros-PE, ajoelhado e clamando por justiça e vida digna no campo. Esse foi um dos momentos mais fortes ocorridos durante o lançamento estadual do Caderno Conflitos no Campo Brasil 2022, realizado em 24 de julho, no auditório do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, Incra, no Recife. Naquele momento, agricultores e agricultoras de diversas comunidades que enfrentam conflitos agrários no estado fizeram vários relatos que denunciam o cenário de violações de direitos, violência e ausência do estado para combater o martírio e a expulsão no campo. E diante de uma plenária lotada, o agricultor Geovane se ajoelhou para pedir justiça, terra, moradia e o fim da violência no campo.
O gesto simbólico representa bem a indignação e a tristeza de Seu Geovane, dos mais de 200 camponeses e camponesas que ocuparam o auditório do Incra naquele dia e de tantas outras famílias espalhadas pelo estado de Pernambuco e pelo Brasil. São quase um milhão de pessoas no país e mais de 31 mil pessoas em Pernambuco que comungam da mesma realidade e do mesmo sonho de justiça, dignidade e terra para quem nela vive e trabalha.
Seu Geovane é pai de Jonathas Oliveira, menino de nove anos cruelmente assassinado há exatos um ano e seis meses, no dia 10 de fevereiro de 2022. As mobilizações e protestos contra o assassinato do garoto levaram o Governo de Pernambuco, ainda em 2022, a reconhecer a gravidade dos conflitos agrários que afligem comunidades posseiras situadas na Zona da Mata e a decretar a desapropriação das terras do Engenho onde vivem as mais de setenta famílias que formam a comunidade de Roncadorzinho.
O alívio diante da dor e da violência não durou muito. O juízo do processo de falência da Usina Santo André passou por cima do Decreto do Poder Executivo e sentenciou pela impossibilidade de desapropriação do imóvel pelo Poder Público, fazendo com que a dor e a angustia voltassem à comunidade. Para piorar o quadro, famílias da comunidade tiveram suas casas destruídas parcialmente com as fortes chuvas que atingiram o estado de Pernambuco durante os meses de junho e julho. Cerca de 99% das casas da comunidade são feitas de taipa. Três delas já foram condenadas pela Defesa Civil do Município de Barreiros. Uma dessas famílias, com nove crianças, está provisoriamente na escola da comunidade.
O agricultor Geovane, diante do sofrimento do assassinato do filho, da possibilidade de despejo enfrentada por sua comunidade, das casas de taipa vulneráveis, não suportou a dor e se ajoelhou para rogar aos poderes que olhem para quem luta pela terra. Foi o grito de sofrimento dos nascidos e criados nesse torrão de terra e que rogam a Deus por ajuda. Todos e todas que estavam naquele auditório no dia 24 de julho puderam ouvir e sentir a dor de quem clama e de quem faz de sua revolta a luta por justiça, terra e moradia.
A pergunta não cala: por que as elites querem o pouco que os pequenos têm para sobreviver? Que justiça será feita? Será que o Reino de Deus começará para essas famílias da comunidade de Roncadorzinho? Essas perguntas provocam ainda mais dor porque quem tem o poder de dar respostas se cala diante desses clamores. Ajoelhar foi o único gesto possível, não de fraqueza, mas de fé, que o agricultor Geovane da Silva encontrou para chamar atenção das autoridades que poderiam contribuir para uma vida digna no campo. “Quem tem ouvidos, ouça” (Mt 11,15).
Documento foi elaborado a partir do II Seminário Laudato Si’ e da 6ª Semana Social Brasileira
Fotografia: Derlane / Diocese de Roraima
Por Carlos Henrique Silva (Comunicação CPT Nacional),
com informações de Libia Lopes (Ascom da Diocese de Roraima) e CPT Roraima
Com o tema “Mutirão pela Vida: Por Terra, Teto e Trabalho”, diversas organizações parceiras da Diocese de Roraima, incluindo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), elaboraram e assinaram uma Carta Compromisso, demonstrando seu apoio em traçar metas de defesa e promoção da Vida em todas as suas formas, abraçando causas cruciais junto aos povos do campo, das águas e da floresta, valorizando o protagonismo dos povos indígenas, camponeses, florestais e dos recursos hídricos. A rejeição ao agronegócio, ao desmatamento, mineração e hidrelétricas, com suas graves implicações ambientais, também figura como uma prioridade.
O documento está ligado ao II Seminário “Laudato Si’ Louvado Seja: Cuidando da Casa Comum”, promovido no mês de julho pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) na Universidade Federal de Roraima (UFRR), em consonância com a 6ª Semana Social Brasileira. Durante o seminário, três grupos de trabalho foram formados para se elaborarem propostas com base nos temas Terra, Teto e Águas e Florestas.
No âmbito da Terra, as propostas abrangem desde o resgate da autonomia indígena sobre os territórios até a construção de um estado livre de agrotóxicos, além da importância do plantio de árvores e a produção de alimentos saudáveis. No que diz respeito ao Teto, a busca é por políticas públicas habitacionais justas e sintonizadas com os demais direitos. Já nas discussões sobre Águas e Florestas, o desafio é trabalhar nas comunidades o olhar de defesa dos rios, fauna e flora, entendendo as comunidades como guardiãs desses tesouros naturais, preservando-os para as futuras gerações.
O documento aponta o estado de Roraima como inserido na realidade política e econômica do país, com diversas violações de direitos. Grandes projetos ligados ao agronegócio (como a expansão de plantação do dendê para produção de biodiesel), além da exploração ilegal de madeira e mineração, do narcotráfico e do crime organizado, ameaçam a vida dos defensores e das defensoras dos direitos humanos e da natureza na região, neste estado com uma realidade transfronteiriça.
Empreendimentos como a mineração e a construção da Usina Hidroelétrica do Bem Querer também foram apontados como bastante perigosos para a vida amazônica, e por isso a carta reivindica a imediata paralisação do licenciamento da usina, até que outras alternativas energéticas possam ser levantadas.
O documento instiga as comunidades das igrejas a enfrentarem os desafios socioambientais, reforçando a formação de base sob a perspectiva de fé e política, no engajamento cívico e na participação ativa nos conselhos de direitos, audiências públicas, reuniões das Câmaras Municipais e Assembleia Legislativa Estadual, bem como o envolvimento na política partidária. O protagonismo das juventudes nas lutas populares e na vida eclesial também foi destacado.
A Carta Compromisso também assume a importante tarefa de combater a violência contra grupos vulneráveis, como mulheres, jovens, crianças, pessoas idosas, indígenas, migrantes, ambientalistas, LGBTQIAPN+, comunidades periféricas, população em situação de rua e pessoas negras.
“Tenho a fé, esperança de que esse seminário fortaleceu, fortalece e fortalecerá a formação de base, a organização e a luta por vida aos povos, territórios sagrados banhados pelas águas sagradas do rio Branco, edificando e efetivando o compromisso da evangelização na dimensão orante, comunitária, participativa, samaritana, profética e sinodal, numa missão em rede por Vida e garantia de direitos em Roraima”, afirmou Dorismeire Almeida de Vasconcelos, animadora Laudato’Si e articuladora territorial da REPAM.
Acesse e baixe a Carta Compromisso.
Encontro reuniu agentes da CPT para construção e planejamento de ações estratégicas para erradicação do trabalho análogo à escravidão e fortalecimento da campanha “De Olho Aberto Para Não Virar Escravo!”
Por Heloisa Sousa | CPT Nacional
Fotos: Heloisa Sousa
Do dia 9 ao dia 11 de agosto, agentes da Comissão Pastoral da Terra (CPT) dos regionais Tocantins, Piauí, Amazonas, Minas Gerais, Pará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia e Ceará, reuniram-se, em Araguaína (TO), para o encontro de formação da Campanha “De Olho Aberto Para Não Virar Escravo!”. Também estiveram presentes, da Secretaria Nacional, o coordenador Ronilson Costa e Flávio Marcos, do Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno (Cedoc), além de Frei Klenner da Silva, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi/MS). Visando o fortalecimento da capacidade de trabalhadoras e trabalhadores, comunidades, territórios e sociedade, na superação das causas estruturais do trabalho escravo, a campanha permanente completa 26 anos em 2023.
Por meio de uma oficina ministrada por Carolina Motoki, assessora da campanha, e Evandro Rodrigues, agente da regional Tocantins, o encontro foi marcado pela troca de experiências sobre a atuação dos regionais no combate ao trabalho escravo e das articulações junto a entidades parceiras, apresentando as atividades realizadas este ano e planejamento das próximas ações.
O histórico e atuação da Comissão Pastoral da Terra no trabalho de denúncia, acolhimento das vítimas e cobrança de fiscalização perpassou os dias de formação. Há mais de 30 anos, a instituição, junto a organizações parceiras, promove redes comunitárias de vigilância, realiza processos preventivos, incentiva e acolhe denúncias de trabalho escravo. O Cedoc, Centro de Documentação da CPT, que colhe dados de violência no campo desde 1985, realiza ainda um trabalho de registro das notificações de resgate de trabalhadores escravizados no País, visibilizando os dados.
Os três dias de formação contaram com dinâmicas e momentos de reflexão coletiva sobre o assunto, bem como sobre o perfil de homens e mulheres vítimas de trabalho análogo a escravidão no campo brasileiro, mas também nas cidades, que vêm ganhando evidência nos últimos anos. “A invisibilidade do trabalho escravo feminino ainda é muito forte. Mas, desde o caso da Madalena [Gordiano], que apareceu na mídia, começaram a aparecer mais casos de trabalho escravo doméstico, que é majoritariamente composto por mulheres”, destaca Carol Motoki.
Acolhimento às vítimas
No segundo dia, houve aprofundamento e construção participativa das orientações para os processos do fluxo de atendimento às vítimas resgatadas, como acolhimento e encaminhamento para políticas públicas, destacando as particularidades de cada regional. Foram apresentadas as etapas de condução das denúncias, destacando a importância das operações colegiadas entre os vários órgãos de fiscalização, resgate e pagamento dos direitos das vítimas escravizadas.
“Quando há a denúncia, é importante saber se as informações descritas pelo trabalhador coincidem com o que é considerado trabalho escravo. O formulário e a entrevista são importantes nisso. Na época em que foi criado, houve uma conversa da CPT junto ao Grupo Móvel para construir isso, por isso, as denúncias feitas pela CPT são tidas como muito confiáveis” explica Xavier Plassat, agente da CPT Araguaia (TO) e coordenador da Campanha Nacional da CPT de Combate ao Trabalho Escravo.
Evandro Rodrigues orientou os agentes sobre o preenchimento dos formulários, tanto o disponibilizado pela CPT, como o do Sistema Ipê, que são ferramentas fundamentais para que haja a denúncia e fiscalização das propriedades suspeitas praticar trabalho análogo à escravidão.
Um dos objetivos da campanha é pensar e construir estratégias para que o ciclo da escravização de trabalhadores seja quebrado. Assim, a articulação de ações de conscientização e desnaturalização da exploração dos trabalhadores, de resistência dos territórios camponeses e tradicionais, de cobrança da efetividade das políticas públicas e do fortalecimento da campanha, dentro e fora da CPT, foram discutidos no último dia de formação, para a prevenção e erradicação do trabalho escravo.
Com os pés imersos nas águas do Rio Lontra, foi realizada a mística de encerramento da formação. O momento foi de celebração da trajetória de luta e de agradecimento pelo esperançar coletivo por um futuro mais digno e justo às trabalhadoras e trabalhadores no Brasil.
Por Carlos Henrique Silva | Comunicação CPT Nacional
*Com informações do Cimi e CPT-MA
Legenda: Dona Maria Antônia (ao microfone), junto com a comunidade do Quilombo Bica, anfitriã e uma das articuladoras da Teia.
Foto: Cláudia Pereira / Articulação das Pastorais do Campo
"Com corpos e territórios livres, tecemos o bem viver": com este tema, os povos e comunidades tradicionais do Maranhão realizaram o seu 14o Encontrão da Teia, entre os dias 20 e 25 de julho no Quilombo Bica / Território Aldeia Velha, município de Pirapemas. Cerca de 900 pessoas estiveram presentes, de crianças a idosas, vindas de todo o Estado.
Pela primeira vez na história das Teias, os 14 povos indígenas do Maranhão estiveram presentes e representados: Akroá Gamella, Awá Guajá, Anapuru Muypurá, Tremembé de Engenho e da Raposa, Guajajara, Krenyê, Memortumré-Canela, Apanjêkrá-Canela, Kari’u Kariri, Ka’apor, Gavião, Krepym, Krikati e Tupinambá, bem como as comunidades quilombolas, quebradeiras de coco babaçu, sertanejos, camponeses, pescadores e pescadoras.
Legenda: Pela primeira vez na história das Teias, os 14 povos indígenas do Maranhão estiveram presentes e representados - Foto: Cláudia Pereira / Articulação das Pastorais do Campo
Organizações sociais e pastorais também apoiam o tecimento e marcaram presença durante as rodas de discussão, como a Comissão Pastoral da Terra - Regional Maranhão (CPT-MA); Conselho Indigenista Missionário (Cimi); Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP); Movimento Quilombola do Maranhão (Moquibom), Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), Núcleo de Estudos e Pesquisa em Questões Agrárias (Nera) da Universidade Federal do Maranhão; Justiça nos Trilhos (JnT) e os coletivos Crespas e Cacheadas, Reocupa, Rama e Emaranhadas.
"Eu só tenho a agradecer pela nossa comunidade receber a Teia desse ano. Essa vinda tem um significado muito importante, porque nos fortalece mais e nos dá a certeza de que não estamos sós, pra continuarmos lutando pelo território livre. Aqui o sofrimento é grande, mas quando participamos desses encontros, vamos entendendo nossos direitos e não nos submetemos mais à opressão de grileiros e fazendeiros", afirmou dona Maria Antônia, moradora do Quilombo Bica e uma das articuladoras da Teia.
O território Aldeia Velha é um lugar de acolhida, mas também de resistência diante dos conflitos, ocasionados pelo assédio constante do agronegócio, avançando diariamente nas propriedades e limitando as populações a terem acesso à terra e à água. Dos 7.600 hectares de área, apenas 248 são livres de fato e de direito, a partir de uma compra e doação da Diocese de Coroatá, através do então bispo Dom Reinaldo Pünder, falecido em 2011. Os demais continuam em disputa pelo reconhecimento legal, enquanto as comunidades sofrem com a invasão de fazendeiros e empresas, vendo reduzidas suas áreas de plantio e criação de animais.
Legenda: Dom Sebastião Bandeira Coêlho, bispo diocesano de Coroatá (MA), também esteve presente no encontro
Foto: Cláudia Pereira / Articulação das Pastorais do Campo
No espaço do encontro, um dos locais sagrados era a bica, um olho d’água protegido e morada das encantarias, que abastece a comunidade. Sempre preservada da aglomeração das pessoas, ela foi providencial durante todos os dias, seja para o beber, o preparo dos alimentos e o banho. Outro chão sagrado era a tenda principal, destinada às místicas de abertura, aos rituais dos povos e à chamada "fila do povo", momento de microfone aberto para as comunidades relatarem as situações de conflito em suas localidades, os anseios e também as vitórias.
"Os momentos de mística servem para fortalecer uma espiritualidade que nos une, uma oportunidade de nos conectarmos com a terra, com as águas, com essa natureza da qual fomos desconectados ao longo do tempo", afirma Lenora Rodrigues, da coordenação da CPT/MA. Ao redor da tenda, as pessoas ficaram acampadas em uma estrutura coberta, onde foi possível a convivência, cooperação e adaptação à realidade local. Uma programação que, mesmo construída, é fluida de acordo com a dinâmica do momento.
Legenda: Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) - Foto: Cláudia Pereira / Articulação das Pastorais do Campo
Dentre as denúncias, foi destacada a morosidade do Estado em não regularizar territórios herdados há séculos, desde a chegada dos ancestrais, uma garantia e um enfrentamento que têm de partir do poder público. A todo momento, a cobrança era sempre destinada a instituições em âmbito federal como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), e estadual, caso do Instituto de Colonização e Terras do Maranhão (Iterma) e Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA), que até agora continuam de forma omissa diante dos crimes, isto quando não agem em favor do latifúndio e contra as comunidades.
Legenda: Povo Gavião, Terra Indígena Governador, município de Amarante (MA) - Foto: Cláudia Pereira / Articulação das Pastorais do Campo
Um dos esteios da teia, a Soberania Alimentar foi motivo de discussão e prática das comunidades, que levaram parte do que produziram para todas as refeições, além de compartilharem sementes crioulas para o momento de troca. "Eu não trouxe semente, porque eu não tenho onde plantar na nossa comunidade, mas não podemos perder a esperança, porque a semente é que nem nós, e a gente só tem um território livre quando temos o que comer e onde plantar e tirar esse alimento. Quando a aranha faz a teia, o mais importante é que ela prepara o lugar onde pegar o alimento dela", afirmou o líder indígena Durval Tremembé, da Raposa.
Legenda: Líder indígena Durval Tremembé, da Raposa - Foto: Cláudia Pereira / Articulação das Pastorais do Campo
Outro momento forte de partilha aconteceu durante o terceiro dia da Teia, com a discussão sobre a libertação dos corpos, em depoimentos de mulheres vítimas de violência e que tiveram amigas e familiares vítimas de feminicídio, pessoas resgatadas de trabalho escravo, vítimas de racismo e LGBTQIAPN+fobia. O desafio de se afirmarem dentro de suas comunidades e no ambiente de universidade levou a várias reflexões sobre o pertencimento e a necessidade de serem acolhidas e respeitadas em suas individualidades, um processo de desconstrução de uma cultura baseada num padrão de homem branco que excluiu ao longo dos séculos a convivência entre a diversidade humana.
Ao final do encontro, a compreensão entre os povos venceu e levou a Teia para o seu 15º Encontrão no território Campestre, em Timbiras (MA), o primeiro em um contexto camponês. E assim, a Teia é sinônimo de resistência, de retomada das raízes, do contato com a natureza e da identificação da pessoa e de sua comunidade como parte integrante dela, por quem é fundamental lutar de forma conjunta pela preservação dos costumes, da espiritualidade, da soberania alimentar e da liberdade dos corpos e territórios.
Leia e baixe a CARTA DO 14º ENCONTRÃO DA TEIA DE POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS DO MARANHÃO
Por Júlia Barbosa CPT Nacional | Com informações da Direção Política do Acampamento Dom Tomás Balduino
Na última sexta-feira (11), o Acampamento Dom Tomás Balduíno, localizado em Formosa, Goiás, recebeu a visita técnica da Comissão de Soluções Fundiárias do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás. Na ocasião, membros da Comissão ouviram os relatos de lideranças sobre a origem e trajetória de luta das famílias acampadas.
A visita técnica contou com a presença de autoridades dos poderes público e judiciário. Estiveram presentes: Dr. Romero do Carmo Cordeiro (juiz presidente da Comissão); Desembargador Anderson Máximo; Dra. Fabiana (Conselho Nacional de Justiça - CNJ); Dr. Tairo Esperança e Dr. Gustavo (Defensoria Pública do Estado de Goiás - DPE/GO), Dr. Ângela (ouvidora geral da DPE/GO); Dr Márcio Toledo (Ministério Público do Estado de Goiás); Dra Andreia Beatriz (Ministério Público do Estado de Goiás); Comarca de Formosa/GO; Dra. Maíra Coracy (ouvidora agrária do INCRA Nacional); Dra. Maria Cláudia Dadico (ouvidora nacional do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar - MDA); Cláudia Farinha (superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA/DF); Claudia Nunes (Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduíno); e Saulo Reis (Comissão Pastoral da Terra Goiás).
Com as falas das autoridades, bem como pelas reportagens e conteúdos veiculados no dia seguinte à atividade, 12 de agosto, a avaliação da Direção Política da regional Dom Tomás Balduíno é que a visita técnica foi positiva para as famílias do Acampamento, em relação ao processo de reintegração de posse da área. A direção aguarda, ainda, o relatório do Dr. Romero do Carmo Cordeiro, para assim divulgar mais informações sobre o processo.
Ao final da visita, as famílias organizaram uma mesa de produção com alimentos cultivados no Acampamento Dom Tomás, que foram doados às pessoas presentes na atividade, incluindo os funcionários dos órgãos representados.
Moradores da comunidade Brasil Verde ainda lutam pela direito à terra onde vivem
Por Heloisa Sousa e Sirlei Carneiro da Silva (CPT Tucuruí)
Fotos: Comunidade Brasil Verde e CPT Tucuruí
Lote Rancho Emanoel 'Deus Conosco', de Valquer e Lora dos Carroceiros Produção de farinha, na propriedade de seu Francisco Alves
Localizada em ilhas no lago da Usina Hidrelétrica de Tucuruí (UHT), no Pará, a Comunidade Brasil Verde se originou a partir da pesca, em 2006. O movimento se deu quando pescadores dos municípios de Tucuruí e Breu Branco, ao perceber que a região era estratégica para a atividade pesqueira, passaram a se deslocar para a região do lago da UHT, formado pelas águas do rio Tocantins. Ali, montavam seus barracos provisórios e ficavam até a piracema, época em que ocorre a reprodução dos peixes, quando então retornavam para a cidade até o período de reabertura da pesca, de abril a setembro.
Posteriormente, no ano de 2008, com a necessidade de permanência no local, um grupo de 63 famílias iniciaram a construção das primeiras moradias fixas na região, ocupando a área pública conhecida como Fazenda Bom Jesus II e passando a lutar pela conquista da terra. O espaço, que antes era frequentado apenas no período de pesca, se tornou lar de dezenas de famílias ribeirinhas que tiram seu sustento da pesca e do cultivo de milho, mandioca, feijão, abóbora, pepino, arroz, banana, hortaliças e diversas plantas frutíferas. A produção excedente é levada de rabeta até o polo pesqueiro de Tucuruí, onde é comercializada.
Maria de Nazaré, agricultora da comunidade Brasil Verde, cultiva uma variedade de legumes e frutas e percebeu o aumento da produção deste ano. “Meu trabalho na comunidade está evoluindo, graças a Deus. Todos os anos nós fazemos a roça, mas esse ano tivemos mais produção. Meu arroz está lindo, já está começando a jogar cachos e, fora a plantação de legumes, tem a plantação de cacau, açaí, pimenta, banana, cupuaçu”, conta. O trabalho de Maria é apenas um exemplo de produção agroecológica na comunidade, que alimenta não apenas cada uma das 63 famílias, mas também as comunidades de Tucuruí e Breu Branco através da comercialização nas feiras.
Direito à terra
Os ribeirinhos, que se organizam por meio da Associação de Pequenos Agricultores e Pescadores e realizam mutirões nos serviços da roça, encontraram no poder da união uma maneira de resistir e enfrentar as violências que vêm sofrendo na luta pelo direito à terra. Isso porque, desde sua ocupação, fazendeiros interessados na área atuam de forma violenta contra as famílias, realizando tentativas de expulsão, ameaças, queima de canoas, desmatamento para implantação de pastagem e criação de gado.
É também desde a ocupação, que os moradores da comunidade reivindicam que a área se torne um projeto de assentamento onde possam viver e manter suas atividades de pesca e agricultura. Em 2010, uma decisão da Vara Agrária de Marabá favorável às famílias, determinou que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) tomasse posse da área para criação do assentamento. No entanto, o pretenso proprietário, Paulo Scandian, recorreu em 2ª instância, conseguindo a derrubada da sentença.
“Nós ganhamos as audiências e tivemos o direito de plantar e tirar o nosso sustento daqui. Plantamos arroz, milho, macaxeira, abóbora, para subsistência e para complementar nossa pesca, não só eu como muitas famílias. O fazendeiro se diz dono daqui, mas a gente sabe que é uma terra livre, é área do governo”, explica Francisco Alves de Souza, morador de Brasil Verde. No ano de 2020, o pretenso proprietário repassou as terras para o fazendeiro Maurício Assunção Resende, que não cessou com as perseguições e ameaças, apontam as famílias.
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Reunião com a comunidade, em julho, sobre a luta e permanência na terra e organização produtiva Plantio de arroz no lote de seu Francisco Alves
A comunidade denuncia ainda a movimentação de balsas e caminhões transportando madeira e máquinas utilizadas para o desmatamento, oferecendo risco às florestas, ao rio, às nascentes e à vida das famílias. A equipe da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Tucuruí, acompanha as denúncias da comunidade, lutando junto a ela pela permanência na terra e também pelo crescimento da agricultura familiar agroecológica na região.
As famílias seguem aguardando decisão judicial para garantir seu direito à terra, que vem sendo reivindicado desde 2008, além do fim da violência e da exploração do agronegócio na região e do acesso a políticas públicas como saúde, educação e eletrificação rural, que possibilitem que as moradoras e moradores da comunidade vivam de maneira digna e plena.
*Este relato faz parte da série de experiências da campanha 'Fraternidade Sem Fome, pão na mesa e justiça social'
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