No dia da segunda audiência de conciliação do STF, pelo menos quatro indígenas Avá-Guarani da Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá foram feridos em novo ataque
Por Cimi
Nesta madrugada (28), fazendeiros fortemente armados atacaram os Avá Guarani do Tekoha Y’Hovy, situados no município de Guaíra, Terra Indígena (TI) Tekoha Guasu Guavirá, no oeste do estado do Paraná.
Durante o ataque, os fazendeiros armados e acompanhados de capangas alvejaram pelo menos quatro pessoas e, segundo informações, duas encontram-se em estado grave. A maioria das pessoas feridas são jovens e mulheres.
Os ataques a tiros começaram por volta das 23h da noite de ontem (27) e se prolongaram por toda a madrugada (28). Como era noite e a visibilidade era baixa, a tática dos fazendeiros foi realizar disparos com espingardas.
Desse modo, o chumbo da munição se espalhava, sempre acertando alguém. Os fazendeiros costumam fazer isso em caçadas de javalis, que em geral também ocorrem nas madrugadas. São táticas de caça utilizadas covardemente para atacar os indígenas, tratados pelos fazendeiros como animais a serem abatidos.
Na tentativa de se protegerem, os jovens indígenas transmitiram ao vivo, pelas redes sociais, o ataque sofrido. Nas imagens, se via e ouvia, entre reflexos de luzes de camionetes, o fogo dos canos das espingardas e, concomitante, os gritos de desespero das pessoas. Cercadas pelos algozes, os Avá-Guarani proferiam apelos por socorro, enquanto o número de feridos aumentava.
A Força Nacional, mais uma vez, foi acionada, porque caberia a ela monitorar e coibir a violência. Não foi o que ocorreu. Os policiais demoraram a chegar no local e, pelos relatos dos indígenas, não cessaram mesmo com sua presença, que parecem estar lá apenas para proteger quem ataca e mata.
Apenas no final da madrugada um motorista da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) chegou ao local para levar os feridos para um hospital da região. Os disparos cessaram ainda durante a madrugada, mas há receio de novos ataques ao longo do dia.
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Sul repudia veementemente os ataques e as violências praticadas, de forma corriqueira, cruel e articulada pelos facínoras do agronegócio. Alguns são plantadores de soja e milho, mas se comportam como criminosos contumazes, sobre os quais as mãos da Justiça e das demais instituições públicas, federais e estaduais, não alcançam.
Eles estão livres e se sentem autorizados a caçar indígenas como se animais fossem. Nada os afeta, nada os impede, nem mesmo os desembargadores e juízes que compõem o comitê de conciliação de conflitos da Justiça Federal, que andaram pelo Paraná buscando o apaziguamento dos ataques, foram respeitados. A resposta foi essa, atacar à noite pessoas indefesas e desarmadas.
No Supremo Tribunal Federal (STF), com enorme desfaçatez, o ministro Gilmar Mendes comanda uma comissão de conciliação para discutir a tese do marco temporal, a mesma que o Supremo rejeitou em setembro de 2023. Os direitos indígenas estão sendo usados e barganhados o tempo todo por quem detém o poder, enquanto isso, avalizam a violência sistemática contra os corpos e almas nos territórios.
O Cimi Regional Sul denuncia estas manobras políticas e jurídicas instaladas contra os povos indígenas no país. Os ataques ocorreram na noite que antecedeu a segunda reunião da Comissão de Conciliação, que ocorre na tarde desta quarta-feira (28) – e que não passa de uma enorme e gritante farsa, montada para enganar os povos indígenas e avalizar a desterritorialização e a relativização dos seus direitos. Pactuar com a farsa é negligenciar ou avalizar a violência contra meninas, mulheres e homens que apenas requerem o cumprimento da Constituição Federal, promovendo a demarcação de suas terras.
Chapecó, SC, 28 de agosto de 2024
Conselho Indigenista Missionário – Cimi Regional Sul
Atividades formativas, incidência política e visitas em comunidades camponesas e territórios indígenas fizeram parte das ações desenvolvidas entre maio e julho no MS
Por Campanha De Olho Aberto para Não Virar Escravo - CPT
Agentes da CPT-MS e missionários do Cimi-MS durante formação sobre Trabalho Escravo no MS (Foto: Campanha De Olho Aberto para Não Virar Escravo - CPT)
A Campanha Nacional de Prevenção e Combate ao Trabalho Escravo da Comissão Pastoral da Terra (CPT) teve uma agenda cheia e diversa de atividades no Mato Grosso do Sul entre os meses de maio e julho de 2024. Formações, ações de incidência política e visitas em territórios camponeses e indígenas fizeram parte da programação de ações.
As atividades integram o Projeto Ampliar, implementado desde maio de 2024 no estado sul mato-grossense pela Campanha da CPT em parceria com a CPT-MS e com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), contando com o apoio da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Na dimensão educativa destacam-se a realização de oficinas coordenadas pela CPT-MS e pela Campanha durante a Assembleia da Retomada Aty Jovem (RAJ-Aty Guasu), a organização política de representação das juventudes dos povos Guarani Ñandeva e Guarani Kaiowá. O evento reuniu mais de duzentos jovens indígenas na Aldeia Taquaperi, situada em Coronel Sapucaia (MS), entre os dias 22 e 27 de julho .
No dia 24 de julho foram desenvolvidas duas oficinas com mais de 170 jovens participantes em cada. A primeira oficina tratou da prevenção ao Trabalho Escravo e abordou temas relacionados à sua conceituação, formas de identificação e de denúncia. Já o segundo momento formativo pautou a agricultura agroecológica, apresentando a prática como uma alternativa que pode contribuir com a geração de renda nos territórios e com a soberania alimentar dos povos.
O jovem Hananias Vera, do povo Guarani Ñandeva e agente da CPT-MS, partilhou que a formação na RAJ expandiu seu olhar para problemas que ele até então não sabia identificar. “Abriu minha visão sobre muitas coisas que eu não tinha ideia que ainda existiam, essa modernização do trabalho escravo. A oficina me ajudou no sentido pessoal e profissionalmente, pois agora posso alertar outras pessoas para esse perigo”, enfatizou.
Oficina sobre Trabalho Escravo durante encontro da Retomada Aty Jovem (RAJ) (Foto: CPT-MS)
Ainda em julho a Campanha Nacional da CPT reuniu cerca de 20 agentes da CPT-MS e missionários do Cimi, além de um representante da OIT, para o primeiro módulo da Formação sobre Prevenção e Combate ao Trabalho Escravo no âmbito do Projeto Ampliar.
A atividade aconteceu entre os dias 29 e 31, na zona rural de Campo Grande (MS), e buscou empoderar o público presente para a identificação de violações trabalhistas que configuram o trabalho escravo, as formas de denúncia, o atendimento ao trabalhador/a, além da compreensão sobre o histórico e as raízes do sistema de escravidão moderna em nosso país.
“Foi muito importante. Consegui compreender como a pedagogia de acompanhamento para tirar as pessoas do trabalho escravo é fundamental para gerar dignidade humana e garantir novos caminhos com os direitos trabalhistas que devem ser garantidos”, destacou Irmã Elsa Mercedes, missionária do Cimi no MS, que participou da Formação.
Formação sobre Trabalho Escravo para CPT-MS e Cimi-MS (Foto: Campanha De Olho Aberto para Não Virar Escravo - CPT)
Incidência política
Na dimensão da incidência política houve passos significativos para o enfrentamento ao trabalho escravo a nível estadual. Isso porque a CPT-MS e o Cimi estão entre as entidades da sociedade civil que foram habilitadas e selecionadas para compor a Comissão Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo (COETRAE/MS).
As COETRAE se configuram como um espaço de participação social fundamental para a construção de políticas públicas e monitoramento das ações de prevenção e combate ao trabalho escravo pelos estados do Brasil. A Campanha da CPT, a nível nacional, faz parte da CONATRAE (Comissão Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo), e diversos regionais da CPT compõem a COETRAE em outros estados do país.
Lista de entidades da Sociedade Civil habilitadas para composição da COETRAE-MS. Fonte: Diário Oficial Eletrônico do MS (24/07/24)
Cabe destacar que essa ação não é novidade na história da CPT e do Cimi no MS, uma vez que as organizações fizeram parte da pioneira Comissão Permanente de Investigação e Fiscalização das Condições de Trabalho nas Carvoarias e Destilarias do Mato Grosso do Sul, criada na década de 1990 e reconhecida como uma experiência exitosa no combate ao trabalho escravo e trabalho infantil nas carvoarias e destilarias existentes no estado.
Presença nos territórios
Parte integral do trabalho da CPT e do Cimi é a presença fraterna e solidária nos territórios camponeses e indígenas. Para o desenvolvimento de ações de prevenção e sensibilização para o combate ao trabalho escravo essa prática se torna fundamental, pois é a partir da convivência comunitária que se compreende a relação das pessoas com o trabalho no campo.
Nos meses de maio e junho agentes e missionários do Cimi e da CPT-MS estiveram presentes na Aldeia Tomazia, do Povo Kadiwéu, em Porto Murtinho (MS), e nas Aldeias Lalima e Mãe Terra, junto aos povos Terena, Kinikinau e outros povos que coexistem na Terra Indígena Cachoeirinha, situada em Miranda (MS). Por parte da CPT-MS foram iniciadas as visitas nos Assentamentos Taquaral e São Gabriel, localizados em Corumbá (MS).
O objetivo das visitas foi o de apresentar os objetivos da ação da Campanha de Prevenção e Combate ao Trabalho Escravo, bem como de articular reuniões e oficinas futuras para formação nas comunidades e realização de diagnóstico sobre a situação laboral nos territórios.
Projeto Ampliar
O projeto Ampliar visa a promoção do trabalho decente na cadeia produtiva da pecuária bovina no Mato Grosso do Sul e no Paraguai e está sendo desenvolvido a partir do trabalho conjunto de diversas organizações da sociedade civil. Além da Campanha da CPT, da CPT-MS e do Cimi, somam-se à iniciativa a ONG Repórter Brasil, a Confederação Nacional dos Trabalhadores Assalariados e Assalariadas Rurais (CONTAR), a Federação Estadual dos Trabalhadores e Trabalhadoras Assalariados e Assalariadas Rurais do MS (FETTAR-MS) e a própria OIT.
Com informações da Fundação Rosa Luxemburgo e CPT Regional Rondônia
Imagens: Equipe CPT Rondônia
Entre os dias 21 e 24 de agosto, cerca de 200 seringueiros, quilombolas, indígenas, ribeirinhos e agricultores se reuniram na Comunidade Pompeu da Resex Rio Ouro Preto, em Guajará-Mirim, para o 5º Encontro da Rede dos Povos e Comunidades Tradicionais de Rondônia. Com o apoio da Comissão Pastoral da Terra Rondônia (CPT/RO), o evento discutiu estratégias para enfrentar as ameaças aos territórios dos povos e comunidades tradicionais, reafirmando a importância da ancestralidade e da união na luta por direitos.
Legenda: O encontro iniciou com mística à sombra das seringueiras
“Este encontro tem por objetivo colocar em rede as comunidades quilombolas, povos indígenas em luta pelo território, as comunidades ribeirinhas, extrativistas e seringueiros, nessa lista de juntar forças na defesa da vida, dos territórios, da ancestralidade, da autonomia, dentre outros, que são os processos pilares desta rede aqui no estado de Rondônia”, afirmou Maria Petronila, da coordenação colegiada da CPT Regional Rondônia.
Confira a carta final do encontro e saiba mais sobre os encaminhamentos definidos pelos participantes.
5º Encontro da Rede dos Povos e Comunidades Tradicionais de Rondônia
Territórios garantidos, vidas protegidas!
Em Rede, caminhando e tecendo o Bem Viver!
Iluminada pela memória e força dos nossos ancestrais, motivada pela resistência e luta dos nossos povos e comunidades, e irmanados e irmanadas de esperanças de que juntos somos mais fortes, a Rede dos Povos e Comunidades Tradicionais de Rondônia realizou, entre os dias 21 e 24 de agosto de 2024, seu 5º encontro na Comunidade Pompeu da Resex Rio Ouro Preto, município de Guajará-Mirim.
Durante esses dias de intensas trocas, reflexões e acolhimento, reunimos mais de 170 participantes de comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas, camponesas e extrativistas. Tivemos a alegria de receber companheiras e companheiros da Bolívia e do sul do Amazonas, que compartilharam conosco suas preocupações diante dos crescentes ataques aos nossos territórios, rios, florestas e povos. Também trouxeram e compartilharam o propósito firme de lutar pelos direitos dos povos e comunidades, assim como da natureza em nossa Querida Amazônia.
Enquanto Rede, nos desafiamos, neste 5º encontro, a reafirmar alguns princípios que devem nortear a nossa caminhada com base nas escutas dos territórios. Entendemos a Rede dos Povos e Comunidades Tradicionais de Rondônia como um espaço de convergência das lutas pelo respeito aos nossos territórios, que habitamos e cuidamos desde nossas ancestralidades. Nos articulamos nas resistências contra o agrohidronegócio, seus venenos, seus grileiros, pistoleiros e políticos. Lutamos pela implementação e reformulação das políticas públicas de educação, saúde, produção e deslocamento a que temos direito. Mas, além disso, a Rede é também o ponto de encontro dos nossos sonhos, da nossa criatividade, da força das nossas juventudes e das nossas espiritualidades e ancestralidade. Nela, tecemos nossas guerras, acolhemos nossas indignações com amor e reafirmamos o compromisso com a nossa resistência.
Dessa forma, definimos que fazem parte da Rede os povos indígenas e comunidades quilombolas, ribeirinhas, extrativistas e demais povos tradicionais do nosso estado que estejam em consonância com nossos princípios e pilares, sendo estes os principais: Identidade dos povos da floresta, Autonomia, Ancestralidade, Bem-Viver. Às organizações e entidades que partilhem destes princípios, estendemos as boas-vindas para que somem forças e construam conosco, nos ajudando a interpretar a realidade e nos defendendo nos territórios e nas esferas políticas e jurídicas.
Denunciamos com preocupação a ausência do governo de Rondônia na Conferência Nacional do Meio Ambiente, onde são discutidas políticas essenciais para mitigar a crise climática e efetivar a proteção do Meio Ambiente. A falta de ações concretas e de planejamento eficaz agrava a situação crítica das comunidades tradicionais e povos das florestas e das águas. Como exemplo, testemunhamos a alarmante seca do Rio Madeira, que levou ao decreto de emergência no território, evidenciando a gravidade da crise climática e a urgente necessidade de intervenção governamental.
Exigimos com urgência a demarcação dos territórios dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, seringueiros e demais comunidades extrativistas cujo direito fundamental tem sido negligenciado. A omissão na demarcação perpetua violências históricas contra os corpos-território na Amazônia e em Rondônia. O apoio político e financeiro do Estado ao agrohidronegócio, que resulta na invasão e expulsão desses povos e comunidades de suas terras, agrava ainda mais a situação. É imperativo garantir o respeito aos territórios já demarcados, com a efetiva proteção integral dos povos e das comunidades que neles vivem.
Por fim, reafirmamos o compromisso inegociável dos povos da floresta e comunidades tradicionais de continuar sendo as sementes teimosas que insistem em germinar e florescer, mesmo nas condições mais adversas. Com a força de nossa ancestralidade, a união de nossas comunidades e a determinação de nossas juventudes, seguimos firmes na construção de um futuro que honre nossas raízes e preserve nossa Amazônia.
Momento de troca de sementes
Experiência de Comunicação Popular com a equipe do projeto Rádio Educação Cidadania da Universidade Federal de Rondônia (REC-UNIR)
Por CPT Regional Roraima
Edição: Comunicação CPT Nacional,
com informações da Assessoria de Comunicação do Cimi
A CPT Regional Roraima realizou, na tarde de 16 de agosto, uma roda de conversa sobre conflitos agrários e fundiários, ouvindo os pequenos agricultores e agricultoras do sul do Estado, os quais relataram as violências e perseguições que tem sofrido em seus territórios.
Em seguida, à noite, foram apresentados os dados da 39ª edição do relatório Conflitos no Campo Brasil 2023, com números alarmantes de 2.203 conflitos em todo o Brasil, o maior índice desde os primeiros levantamentos de 1985.
Os conflitos no campo em Roraima, registrados pela CPT em 2023, totalizaram o número de 60 conflitos no campo, onde 49 foram por terra, 09 relacionados ao trabalho escravo e 02 conflitos por águas.
Desses 49 conflitos por terra, 03 foram com pequenos agricultores e trabalhadores sem terra (2 disputas pela terra e 1 por contaminação por agrotóxicos); 46 conflitos em áreas indígenas.
Dos 9 registros de trabalho escravo rural, foram resgatadas 24 pessoas em Amajari, 07 pessoas em Boa Vista e 06 pessoas entre Caracaraí e Rorainópolis. Os conflitos por águas (02) foram registrados em territórios indígenas.
Após a apresentação do relatório da CPT, foi feita a apresentação dos dados do Relatório de Violências contra os Povos Indígenas 2023, do Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Este, conforme os dados apresentados, demonstrou o quanto a violência contra os povos Indígenas em Roraima e no Brasil é cada vez mais truculenta e devastadora, tendo como gerador principal o não reconhecimento, demarcação e proteção dos territórios indígenas pelo Estado brasileiro.
Os dois eventos aconteceram no auditório do programa de pós-graduação em sociedade e fronteira (PPGSOF), da universidade Federal de Roraima, com o apoio do Laboratório de Pesquisa e Extensão Sobre o Rural-RR (LABORR), e fizeram parte da programação da Caravana de Direitos Humanos, organizada pelo Comitê Xapiri, que articula instituições, organizações e movimentos sociais de direitos humanos em Roraima.
Após a realização da Caravana de Direitos Humanos, foi divulgada uma Carta de Repúdio assinada por 38 organizações, na qual denunciaram as graves violações ocorridas contra os povos do campo, da cidade, migrantes, mulheres, crianças, adolescentes, juventudes, povo negro, do terreiro e indígenas de Roraima.
“Com a grave situação de violação de direitos humanos em Roraima, os mais afetados e impactados com a invasão massiva pelo garimpo ilegal são os povos indígenas”, foi destaque na carta. Outra realidade avaliada foi que a prática do garimpo ilegal favoreceu a criação e o fortalecimento de organizações criminosas a exemplo de facções.
A violência no campo se agravou ainda mais nos últimos anos com ocorrência de conflitos gerados a partir da grilagem de terras. Segundo dados do Caderno de Conflitos da CPT, em 2023, “Roraima destaca-se no aumento da concentração de renda da elite. É o maior número de conflitos registrados no estado nos últimos 10 anos, com 60 casos”.
Além de abordar os dados alarmantes, as organizações repudiam a complacência da “classe política do estado de Roraima que tem assistido, de forma pacífica, essas diversas formas de violência”. Ao mesmo tempo, fazem um chamado a toda sociedade: “para lutarmos a favor de nossos povos, da nossa biodiversidade e das nossas liberdades de ser e de existir”.
Confira a Carta completa, clique aqui.
Texto e imagens: CPT Regional Pará, com edição da Comunicação do CPP Nacional
A comunidade Aricuru, território de pescadores/as, agricultores/as no município de Maracanã/PA, se reuniu nesta sexta-feira (23) no Centro Comunitário São Benedito, para fazer a apresentação do seu Protocolo de Consulta Prévia. Todo o processo de construção teve a participação das famílias e apoio da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP) e consultoria jurídica do escritório Machado Brito, Will, Macedo e Pimentel. Estiveram presentes as comunidades convidadas de Vista Alegre e Curuçacinho.
Na oportunidade, as lideranças fizeram um resgate de como todo esse processo foi feito. Valmir Furtado, liderança da comunidade e membro do CPP, fez um resgate de como se deu a construção do protocolo. Segundo ele a iniciativa se deu devido a entrada de pesquisadores na comunidade, que vinham fazer pesquisa, mas não comunicavam nada para as lideranças. Outro fator que favoreceu a construção desse instrumento foi a presença de empresas de comércio de créditos de carbono, que vêm aliciando as comunidades.
"O protocolo vai nos ajudar a garantir os direitos de nós, pescadores/as. Ele vai ser um instrumento para ajudar a combater essas ameaças que já rondam nosso território pesqueiro”, comemorou Valmir.
Ângela Silva, presidente da Associação de Moradores/as, Pescadores/as e Agricultores /as de Aricuru (APEAGA), ressalta que “diante de tantas coisas ruins, de empresas que vem entrando nas comunidades ribeirinhas, esse documento vem ajudar a gente para lutar pela defesa do nosso território e dos nossos direitos".
Sandra Costa, coordenadora da comunidade, concluiu: "Deus deixou a natureza para nosso bem. Infelizmente, temos um congresso que quer sempre privatizar os bens comuns. precisamos ficar atentos com essa proposta de privatizar as praias. Precisamos lutar. Aqui chega muita gente querendo comprar nossa terra, mas as coisas não são assim. Eu defendo sempre o Aricuru. O protocolo é uma ajuda pra nós.”
Sobre a Cartilha e o Protocolo de Consultas
A Cartilha do Protocolo de Consulta Prévia, Livre, Informada e Consentida da Comunidade de Aricuru traz informações sobre a história da comunidade, as ameaças ao território onde vivem os pescadores e pescadoras artesanais e todo o processo de organização que viria a culminar na criação do Protocolo de Consulta lançado hoje. Os Protocolos de Consulta estabelecem o regramento da maneira como a comunidade quer ser consultada quando há a ameaça de instalação de um empreendimento.
Os Protocolos de Consulta são construídos a partir das normas estabelecidas na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que trata de Povos indígenas e tribais e da qual o Brasil é signatário. Ela estabelece que os governos devem consultar os povos interessados, mediante procedimentos apropriados e, particularmente, através de suas instituições representativas, cada vez que sejam previstas medidas legislativas ou administrativas suscetíveis de afetá-Ios diretamente. Desde então, populações tradicionais têm construído protocolos estabelecendo como essas consultas devem ser feitas e os Protocolos de Consulta têm se transformado num importante recurso em defesa dos Territórios.
Por Paulo Martins, da Comissão Episcopal para a Amazônia
Com a publicação de uma carta com compromissos comuns, bispos da Igreja da Amazônia legal finalizam encontro.
Realizado em Manaus, no Centro de Formação Maromba, entre os dias 19 e 22 de agosto, o V Encontro da Igreja na Amazônia Legal também contou com a participação de religiosos, leigas e leigos e lideranças convidadas da REPAM e CEAMA. Juntos, eles avaliaram a caminhada da Igreja pós-Sínodo para a Amazônia e encontro de Santarém, em que caminhos foram pensados para a evangelização no território.
A região da Amazônia Legal compreende quase 60% do território brasileiro, abrangendo os sete estados da região Norte, além do Mato Grosso e parte do Maranhão e do Tocantins.
“A memória da caminhada sinodal da Igreja na Amazônia nos iluminou e nos impulsionou. Sem esta perene consciência do agir de Deus, que nos precede, e da atuação dos primeiros evangelizadores, perderíamos a capacidade de uma fé histórica, encarnada, e do comprometimento profético diante dos desafios de hoje”, afirma o texto da carta situando a necessidade de se olhar para o caminho realizado até aqui.
Na carta, os participantes do encontro pontuam caminhos a serem percorridos a partir de 6 eixos: formação, ministerialidade, participação das mulheres, Casa Comum, sustentabilidade e caridade e profecia. Para cada um dos caminhos, são apresentados passos a serem dados, pistas de ações e responsáveis pela execução. E os bispos reforçam, ainda, “a necessidade de ferramentas que nos permitam um acompanhamento sistemático de nossa ação evangelizadora por meio de planejamento participado, estratégias de atuação e avaliação de processos. Meios que nos ajudem a bem ler os sinais dos tempos, que nos abram a novos horizontes e que nos permitam identificar a presença do Reino”
Atentos aos sinais dos tempos e do Espírito, na carta, eles afirmam que a “Amazônia não precisa de pastores indiferentes ao seu povo, que andam longe do rebanho, indiferentes às suas dores e aos seus sofrimentos, mas homens e mulheres sensíveis e comprometidos capazes de dar a vida até o fim”. E sobre a presença das mulheres na Igreja, reforçam que sentem “o forte apelo para que a ministerialidade que é exercida de fato tenha reconhecimento oficial.”
Com olhar de esperança, eles concluem a carta falando da necessidade de se alargar a tenda e os horizontes. “As interpelações que brotam incessantemente desse chão amazônico nos colocam em comunhão com a realidade de toda terra. Nossa disponibilidade de resposta aos desafios locais nos faz dispostos, também, aos desafios que ecoam nos lugares mais distantes: da Igreja Local aos confins do mundo”, afirmam os bispos e todos os presentes no encontro.
CONFIRA AQUI A CARTA COMPLETA: Carta Compromisso:
Foto: Ana Paula, Assessora Arquidiocese de Manaus (AM)
Memória do Encontro
O V Encontro da Igreja na Amazônia teve início na última segunda-feira, à noite, com uma celebração seguida de uma mesa em que as lideranças do encontro apresentaram a proposta da atividade e acolheram os participantes. Na ocasião, a Secretaria Nacional de Diálogos Sociais e Articulação de Políticas Públicas esteve presente e entregou um caderno de respostas do Governo Federal às demandas da Igreja, como retorno às ações de incidência realizadas no final do ano passado pela REPAM-Brasil e CEA junto a uma série de ministérios e órgãos do governo.
O primeiro dia de encontro foi dedicado a um olhar para a realidade da Igreja na Amazônia. Na primeira parte do dia, os regionais apresentaram uma síntese do que vem sendo realizado nas Igrejas particulares à luz do Sínodo para a Amazônia e indicativos do Santarém 2022, apontando as conquistas e entraves. À tarde, foi feita uma análise conjuntura, quando foram destacados alguns pontos de alerta para a realidade contemporânea na Amazônia, que tocam diretamente os povos, a natureza e a Igreja. O dia foi concluído com uma apresentação da REPAM e CEAMA. O Cardeal Pedro Barreto, presidente da CEAMA, e Irmão João Gutemberg, secretário executivo da REPAM destacaram a caminhada dos organismos na trajetória após o Sínodo.
Retomar as linhas prioritárias afirmadas em Santarém 2022 e pensar compromissos comuns foi o trabalho realizado na manhã do segundo dia do encontro. Em pequenos grupos, os participantes fizeram sugestões de atividades concretas para serem implementadas. O material foi acolhido pela equipe de metodologia que sistematizou as contribuições e submeteu à plenária no final do dia. No período da tarde, foram discutidos alguns desdobramentos do caminho pós-Sínodo. Pe. Agenor Brighenti apresentou o caminho que vem sendo construído, desde 2020, na elaboração do Rito Amazônico. Ir. Sônia Matos partilhou sobre a experiência do regional Norte 1 em relação ao desdobramento da Ministerialidade. Ao final do dia, o grupo aprovou uma carta do encontro que será encaminhada ao Papa Francisco.
No terceiro e último dia de encontro, os participantes do encontro dialogaram sobre a presença da Igreja da Amazônia na Conferência do Clima (COP30). Dom Paulo Andreolli e Melillo Dinis apresentaram o que vem sendo construído e motivaram as lideranças eclesiais na articulação em vista da construção de ações de conscientização e mobilização para a COP30.
Dom Antônio de Assis, bispo auxiliar de Belém, apresentou a proposta para a celebração do Jubileu da Igreja da Amazônia. De acordo com ele, a ideia é que seja realizada concomitante ao processo da COP30, com um grande pavilhão e uma série de atividades que consigam atender a multiplicidade de participantes que estarão em Belém ao logo da Conferência. Para tanto, pretende-se envolver parceiros na realização da proposta, tais como escolas católicas, mídia, Conferência Nacional dos Religiosos e Religiosas do Brasil, entre outros. Foi destacado pela plenária, também, a necessidade de se pensar em estratégias locais para celebrações mais próximas das Igrejas particulares.
Avaliação dos Participantes
De acordo com Dom José Altevir da Silva, bispo prelado de Tefé, o encontro foi muito bom porque viemos fazendo memória do que foi proposto desde 1972, no primeiro encontro em Santarém, do que foi retomado 50 anos depois de Santarém, em 2022, e, principalmente, as expectativas do Sínodo para Amazônia. Para ele a retomada da caminhada, “vindo à tona esses momentos fortes para não cair no esquecimento, nos faz começar a colocar em prática dentro da nossa querida Amazônia todo essa novidade que o Evangelho de Jesus Cristo nos traz, principalmente através do Papa Francisco”, concluiu.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) participou ativamente do encontro, por meio da presença de Dom Ricardo Hoepers, secretário geral. “Como presidência da CNBB, queremos dar todo o apoio, todo o suporte necessário, não só para que essa região possa se articular mais, mas para que todo o Brasil conheça essa realidade, e o grande momento que teremos é o tema da Campanha da Fraternidade ano que vem, que vai tratar da Ecologia Integral”, destacou Dom Ricardo. Para ele, a CF 2025 pode ser um momento significativo para sensibilizar o Brasil para a o cuidado com a nossa querida Amazônia.
Ir. Sônia Matos participou do encontro e afirma que “foi muito importante, no sentido de um espaço de escuta recíproca, de aprofundamento, de coragem de enfrentar alguns temas, de levar adiante algumas reflexões, como a questão ministerialidade e do Rito Amazônico”. Ela destacou, ainda, a necessidade de se envolver mais pessoas no encontro para que não seja “só um encontro dos bispos da Amazônia, seja o encontro realmente eclesial, que se abra mais na sua eclesialalidade para que outros agentes de pastoral possam participar, sobretudo, aqueles que estão nas bases”, afirmou.
“Foram dias muitos fraternos de estudo e é uma oportunidade que o episcopado tem de se encontrar”, observou Dom João Muniz Alves, bispo do Xingu. Para ele, o tema da participação das mulheres na Igreja chamou bastante a atenção. “A mulher tem uma ação muito bonita no nosso território da Amazônia. O que seria da ação da Igreja sem a presença ativa e efetiva da mulher na Amazônia, questionou o bispo.
“Só o fato de a gente se encontrar já é importante”, afirmou Dom José Ionilton Lisboa, bispo prelado do Marajó. “Depois essa integração entre os diversos regionais, que a gente acaba acompanhando somente pelas redes sociais, nas notícias, até mesmo internamente do nosso próprio regional, é a oportunidade que a gente tem aqui de conhecer mais de perto alguns irmãos” destacou. Ele avaliou ser de fundamental importância a avaliação desses 2 anos após o lançamento do documento de Santarém 2022, revendo o que foi possível avançar desde lá.
Martha Bispo, secretária do regional Nordeste 5, afirmou que o gostou do encontro, “sobretudo das propostas que saem a partir das prioridades assumidas no encontro de 2022, em Santarém.” Para ela também foram importantes as cartas para o Papa Francisco e sobre as eleições. “Eu vou levando muita riqueza, muita coisa boa para o nosso regional”, finalizou.
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Massacres no campo
#TelesPiresResiste | O capital francês está diretamente ligado ao desrespeito ao meio ambiente e à vida dos povos na Amazônia. A Bacia do Rio Teles Pires agoniza por conta da construção e do funcionamento de uma série de Hidrelétricas que passam por cima de leis ambientais brasileiras e dos direitos e da dignidade das comunidades locais.