Mulheres camponesas e quilombolas discutem a importância de se organizar coletivamente para que o acesso à financiamentos promova emancipação das mulheres nas comunidades
Por Marília Silva | Comunicação CPT Goiás
Mulheres das comunidades acompanhadas pela CPT Goiás participaram, entre os dias 5 e 7 de dezembro, do 4º Encontro Estadual de Mulheres do Cerrado, em Hidrolândia (Goiás). Na atividade, as elas puderam olhar para suas realidades pessoais e comunitárias e refletindo sobre os desafios para sua liberdade e segurança, sobre as razões de se organizar coletivamente e sobre os caminhos para ampliar sua autonomia produtiva e renda.
A agrônoma Michela Calaça, que atua hoje no Departamento de Conciliação e Mediação de Conflitos do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), coordenou as formações do encontro, conduzindo um momento de análise de conjuntura, que perpassou a história das lutas e conquistas das mulheres do campo.
As participantes do encontro puderam compartilhar experiências de organização, produção e acesso a financiamentos públicos e conhecer mais sobre como surgiram as políticas públicas do campo e quais podem ser acessadas por elas hoje.
O programa de Quintais Produtivos, de acordo com Michela Calaça, foi todo pensado pelas mulheres camponesas, levando em conta que o quintal é o local de trabalho das mulheres. “Pesquisas mostraram que os quintais são a terra mais fértil das propriedades, devido o manejo feito pelas mulheres”, expôs Michela.
Mulheres de comunidades camponesas relataram também como outras formas de conflitos impactam no sucesso de suas atividades, mesmo quando conseguem acessar algum tipo de financiamento, e como estão enfrentando essas dificuldades. Edna, da Comunidade Quilombola Levantado, contou que as mulheres da comunidade foram contempladas pelo Quintal Produtivo, mas agora estão enfrentando dificuldade com acesso a água para produção. “Perdemos muitas mudas. Com muita dificuldade, conseguimos agora que a prefeitura faça pra gente um poço artesiano”, relatou.
Marta, do Acampamento Che Guevara, em Piranhas, conta como incentiva outras mulheres a partir de seu trabalho produtivo no quintal. “Eu faço feira toda semana. Entrego caixas de jiló, pimenta de cheiro, entrego leite, tudo dos quintais produtivos. Quando alguma amiga tem algo para vender, eu digo que posse me passar que eu vendo na minha banca e passo o dinheiro. A gente precisa se ajudar”, relatou.
Agajoeme, do Assentamento Padre Ilgo, contou que, por meio dos quintais produtivos, as entidades do Campo Unitário conseguiram viabilizar tratoritos voltados para a produção das mulheres em 14 comunidades do estado. “O objetivo é diminuir a carga de trabalho das mulheres e aumentar a produção. As mulheres estão muito animadas”, contou.
A agente pastoral Marta Jacinto conta que há uma dificuldade em relação à assistência técnica. Por vezes, as organizações voltadas para a Agroecologia oferecem formação, mas as empresas de assistência vinculadas ao agronegócio acabam implantando suas ideias nas comunidades. Michela Calaça alertou para a necessidade de organização, por meio de entidades de trabalhadores rurais, acesso aos editais da Ater, para conseguir assistência técnica ligada à Emater, que é uma empresa pública onde é possível encontrar profissionais preparados e comprometidos com a agroecologia.
Por Carlos Henrique Silva (Comunicação CPT Nacional), com informações da CPT Regional Amazonas e Ascom / Procuradoria da República no Amazonas – MPF
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) Regional Amazonas marcou presença nos dias 02 e 03 de dezembro, no 1º Encontro dos Territórios de Uso Comum do Amazonas, junto ao Ministério Público Federal (MPF) e organizações parceiras, como o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), a Coordenação Estadual de Articulação de Quilombos do Amazonas (Conaq-Amazonas) e o Instituto de Educação do Brasil (IEB).
O encontro contou com representantes de territórios de povos e comunidades tradicionais dos municípios de Barreirinha, Urucurituba, Manicoré, Juruá, Carauari, Tefé, Alvarães, Apuí, Maués, Itacoatiara, Tapauá, Canutama e Manaus, que demandam seus direitos territoriais no Fórum Diálogo Amazonas (FDA), trazendo suas realidades e demandas fundiárias.
Em 2021, uma alteração na Lei de Terras do Amazonas (Lei 3.804/2012, com a atualização da Lei 5.536/2021) passou a permitir a concessão de Contrato de Direito Real de Uso Coletiva e por tempo indeterminado, visando a regularização de territórios de povos e comunidades tradicionais. Essa mudança criou condições para o desenvolvimento de uma política pública voltada a proteger e reconhecer esses territórios, denominados TUCs (Territórios de Uso Comum). Contudo, desde a aprovação da lei, apenas foi registrado o reconhecimento e proteção de um território tradicional pelo Estado do Amazonas: o Território de Uso Comum (TUC) do Rio Manicoré, em março de 2022.
De acordo com o pe. Manuel do Carmo, agente pastoral da CPT Amazonas, o momento foi de formação e informação jurídica, geográfica, antropológica, social, debates e trocas de experiências entre os participantes mediante aos desafios, propostas e encaminhamentos de soluções aos Povos da Floresta, criação de TUCs – Terras de Uso Comum, entre as melhores formas de proteção e guardiã das Terras das Florestas para os Povos da Floresta e sua biodiversidade. O primeiro dia do encontro foi reservado apenas para comunidades tradicionais. Já o segundo, aberto ao público.
Além da presença de lideranças comunitárias de territórios tradicionais, o evento teve a presença de representantes do poder público, como o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Secretaria de Patrimônio da União (SPU), Secretaria de Estado das Cidades e Territórios (Sect), Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), Corregedoria Geral da Justiça (CGJ), Procuradoria Geral do Estado do Amazonas (PGE) e Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE). Também estão convidadas organizações não governamentais (ONGs) envolvidas com questões ambientais e territoriais.
Representantes dos povos e comunidades mapearam as principais áreas de Territórios de Uso Comum que necessitam de regularização fundiária
Direitos fundiários
A iniciativa é vinculada ao Fórum Diálogo Amazonas, criado em 2012, com articulação e apoio de instituições como a CPT, CNS, o IEB, o MPF e a PGE. Seu principal objetivo é promover a garantia de direitos fundiários e a regularização das terras ocupadas por povos e comunidades tradicionais no Amazonas. Ao longo destes anos, essa iniciativa possibilitou a regularização fundiária de 22 Unidades de Conservação de Uso Sustentável e, recentemente, de um Território de Uso Comum (TUC), somando quase 14 milhões de hectares de áreas públicas regularizadas destinadas e 8.656 mil famílias agroextrativistas beneficiadas no Amazonas.
Carta do 1º Encontro dos Territórios de Uso Comum do Amazonas
Nós, povos e comunidades tradicionais, cujos territórios estão localizados em áreas sob domínio do Estado do Amazonas, nos municípios de Manicoré, Apuí, Juruá, Carauari, Alvarães, Tefé, Tapauá, Maués e Presidente Figueiredo, somos demandantes de processos de regularização fundiária coletiva na Secretaria de Estado das Cidades e Território. Reunidos no 1º Encontro dos Territórios de Uso Comum, iniciativa vinculada ao Fórum Diálogo Amazonas, apresentamos nesta carta nossas propostas para a construção de uma politica púbica estadual de regularização fundiária voltada dos povos e comunidades tradicionais.
Os povos e comunidades tradicionais são grupos culturalmente diferenciados que possuem formas próprias de organização social, ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica. A recente alteração da lei sobre a destinação das terras situadas em áreas públicas do estado do Amazonas trouxe a possibilidade da Concessão de Direito Real de Uso ser expedida na modalidade coletiva e com prazo indeterminado quando se destinar à regularização fundiária coletiva de povos e comunidades tradicionais.
Em março de 2022, o Estado do Amazonas reconheceu o Território de Uso Comum (TUC) do Rio Manicoré, uma conquista significativa. Contudo, mais de dois anos se passaram desde então, e nenhum avanço foi registrado, mesmo com novos pedidos protocolados junto ao estado e o constante acompanhamento do Grupo de Trabalho do Fórum Diálogo Amazonas. Essa inércia revela a ausência de uma politica pública consolidada para o reconhecimento e proteção de territórios tradicionais, apesar das mudanças legislativas e da experiência inicial com o TUC do Rio Manicoré.
Frente ao agravamento das mudanças climáticas, somado à grilagem de terras e a exploração predatória dos recursos naturais, é urgente que o Estado do Amazonas – detentor da maior cobertura florestal da Amazônia brasileira – elabore, com participação popular, uma política fundiária robusta. Essa política deve não apenas impedir o avanço da grilagem, do desmatamento e da degradação ambiental, mas também posicionar o Estado como um ator-chave no enfrentamento das mudanças climáticas no Brasil.
Recomendações estruturantes para a construção de uma política pública fundiária para povos e comunidades tradicionais do estado do Amazonas
Publicação do Decreto que estabelece o procedimento para a expedição de concessões de Direito Real de Uso Coletivas nos Territórios de Uso Comum por parte do estado do Amazonas. Esta proposta normativa foi debatida em grupo de trabalho com representantes da sociedade civil e encontra-se na Casa Civil identificado pelo número de protocolo 01.01.011103.004343/2022-88.
Criação de uma política pública de destinação de terras publicas estaduais do estado do Amazonas, com prioridade para regularização fundiaria coletiva de povos e comunidades tradicionais.
Transparência sobre os procedimentos administrativos relacionados à emissão do DRU coletivo, com possiblidade de acompanhamento online por parte das associações concessionárias em relação a tramitação dos TUCs pela burocracia da SECT e do estado do Amazonas.
Como parte da política de destinação de terras públicas estaduais do Amazonas, criar uma “Câmara de Técnica de Destinação e Regularização de Terras Públicas Estaduais” com representação paritária entre órgãos governamentais e sociedade civil do Amazonas.
Inscrição dos TUCs na base cartográfica do estado. Colocar os limites geográficos dos TUCs decretados e em tramitação nas bases unificadas da SECT, SEMA e IPAAM e demais órgãos afeitos à temática territorial e ambiental.
Expedição de Recomendação, por parte da Corregedoria Geral de Justiça do Amazonas – CGJ AM, voltada aos tabeliães e oficiais de cartórios de registro de imóveis no estado para que realizem a averbação, de forma gratuita, dos TUCs as matrículas dos imóveis estaduais.
Definição dos papéis de cada uma das partes na gestão do território, mesmo nos casos de cogestão, o protagonismo deve ser das comunidades.
O estado é competente pela fiscalização dos TUCs, ainda que a gestão territorial seja autônoma por parte da associação comunitária concessionária.
Recepção, por parte do estado do Amazonas, de normativas federais que possam dar celeridade aos processos de regularização fundiária como a possibilidade de arrecadação sumária de terras e o uso de marcos geodésicos virtuais para áreas de difícil acesso e que não tenham confrontantes delimitados.
Fortalecimento das associações-mães/concessionárias. Acesso a recursos financeiros para gestão, proteção e consolidação dos TUCs a partir de fundos e editais específicos.
Garantia do direito à consulta prévia, livre e informada aos povos e comunidades tradicionais que vivem nos TUCs sempre que medidas administrativas os afetarem, por meio dos protocolos de consulta.
Inclusão dos TUCs nos Programas de Vigilância e Monitoramento Ambiental do estado e nos programas da reforma agrária.
Emissão da CDRU coletiva e reconhecimento dos Territórios de Uso Comum do Rio Tefé, do Rio Bauana, do Baixo Juruá, do Riozinho, do Médio Juruá (Baixo Carauari), do Atininga, do Urupadi e Parauari, Comunidade da Barra do São Manuel e Comunidade Paiol.
Assinamos:
Conselho Nacional das Populações Extrativistas – CNS
Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) – Amazonas
Comissão Pastoral da Terra – CPT
Central das Associações Extrativistas do Rio Manicoré – CAARIM
Associação de Moradores Agroextrativistas das Comunidades Terra Preta e São José do Lago do Atininga – AMATEPSJ
Associação dos Trabalhadores Rurais do Juruá – ASTRUJ
Associação dos Moradores do Baixo Riozinho – ASMOBRI
Associação dos Moradores Agroextrativistas do Baixo Médio Jurua – AMAB
Associação dos Produtores Agroflorestais da Floresta Nacional de Tefé e Entorno – APAFE
Por Josep Iborra Plans (CPT Rondônia) Edição: Carlos Henrique Silva (Comunicação CPT Nacional)
Prestes a completar 9 anos, a luta por Justiça parece estar longe de solução para as famílias de dois jovens sem terra (sendo um assassinado e outro desaparecido), em uma grave violência sofrida na Fazenda Tucumã, em Cujubim (RO), em janeiro de 2016. Após diversos adiamentos, o julgamento, que estava marcado para este mês de dezembro, foi novamente suspenso, sem previsão de uma nova data.
Ruan Lucas Hildebrandt (na época com 18 anos) e Alysson Henrique Lopes (com 21), além de outros três trabalhadores, faziam parte do acampamento Terra Nossa, que havia sofrido um despejo sem incidentes dois dias antes, e voltaram à sede da fazenda para buscar objetos pessoais que tinham ficado para trás. Ao chegarem ao local, não houve diálogo com os seguranças da fazenda e o grupo foi atacado e perseguido por mais de 14 horas.
Três integrantes do grupo conseguiram escapar dos ataques, mas os dois jovens acabaram sendo alcançados. O corpo de Alysson foi encontrado nas proximidades no dia seguinte carbonizado dentro do próprio carro, também queimado, sendo apenas identificado pelo DNA um ano mais tarde. Já o corpo de Ruan nunca foi encontrado, apesar dos empenhos incansáveis da família pelas buscas do desparecido.
Dois fazendeiros, vários pistoleiros e policiais foram presos e inculpados, por dois homicídios e três tentativas, chegando a ser julgados e a maioria declarados culpados pelo tribunal do júri em Ariquemes. Na fazenda, um arsenal de armas foi achado dentro duma camionete. Porém o julgamento posteriormente foi anulado, passando por sucessivos adiamentos.
PM apreendeu "arsenal" em caminhonete na zona rural de Cujubim - Foto: PM Rondônia / Divulgação
Os atos violentos pretendiam ser uma demonstração de violência, que devia dissuadir novas ocupações do Acampamento Terra Nossa, naquela fazenda de terra pública grilada. Porém, o terror apenas ajudou a revoltar e aproximar de movimentos mais radicais aquele grupo que demandava para reforma agrária a Fazenda Tucumã. Uma série de atentados, inclusive com vítimas fatais, acabou acontecendo ao longo destes últimos anos. Isto sem falar de casos anteriores, como o do acampado Cloves de Souza Palma, assassinado em Cujubim em 01/07/2015.
A acusação e prisão preventiva de fazendeiros, policiais e pistoleiros foi seguida de outra caçada implacável: a perseguição das testemunhas que podiam provar a culpabilidade deles, começando pelos três sobreviventes. Um deles, conhecido por Neguinho, foi baleado em Cujubim em 14 de abril de 2016, porém sobreviveu, ficando sem os movimentos de um braço. Ele já tinha sido ferido de raspão durante a perseguição na Fazenda Tucumã e chegou a prestar depoimento em Porto Velho, na audiência duma Missão do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), que conseguiu a sua inserção no Programa de Proteção às Testemunhas.
Em Cujubim, um moto-taxista que prestava serviços na fazenda foi assassinado, segundo a população, porque “estava falando demais”. Logo depois, dois jornalistas locais sofreram também atentados em abril de 2016. Ivan Pereira da Costa, dono do site “Alerta Rondônia”, que cobriu a história de perto e ajudou os pais na busca do desaparecido Ruan, resultou ferido e teve que fugir da cidade e do estado com a família. Segundo conhecidos, veio a falecer a consequência das feridas, anos mais tarde.
A CPT Rondônia, em nota de 15 de abril de 2016, denunciava esta nova onda de violência, que estava tentando encobrir os crimes da Fazenda Tucumã. Entre 2015 e março de 2016 a Pastoral já tinha registrado 26 mortes no campo de Rondônia. Todas elas sem esclarecimento nem punição a autores nem mandantes.
A pressão pelas mortes da Fazenda Tucumã levou à criação duma Força Tarefa da Polícia Civil, que ajudou na investigação do caso. Porém, a perseguição das testemunhas acelerou em 2017:
» Roberto Santos Araújo, de 35 anos, um dos coordenadores do Acampamento, foi assassinado no dia 01 de fevereiro de 2017. O corpo foi encontrado no Km 52 da RO-257, na zona rural de Ariquemes, outra área onde os acampados se deslocaram após serem expulsos da Fazenda Tucumã.
» Elivelton Castelo do Nascimento, o Ton, testemunha que tinha prestado depoimento sobre as mortes de Ruan e Alysson e acompanhado os pais de Ruan nas buscas, foi assassinado em Ariquemes no dia 15 de fevereiro de 2017.
» Renato de Souza Benevides, conhecido como “Baixinho”, era outro dos três sobreviventes que conseguiu escapar da caçada humana de cinco acampados da Fazenda Tucumã. Foi assassinado em Machadinho d’Oeste o dia 04 de março de 2017.
» Já no dia 07 de julho de 2017, foi assassinado em Porto Velho, onde estava para uma reunião do INCRA, Ademir de Souza Pereira, que era outra das principais lideranças do Acampamento Terra Nossa. A esposa conhecida como Lola, que também liderava o acampamento, e três filhos deles foram ameaçados durante o velório em Ariquemes com uma nota entregue por um mototaxista.
» Poucos dias depois, em 13 de julho de 2017, o acampado Jeferson Nipomuceno, o “Jefinho”, que também tinha participado das buscas de Ruan, foi assassinado em Machadinho d’Oeste.
Uma pedagogia do terror
Sem que possa ser chamado de “massacre”, considerado como tal pela CPT quando há pelo menos três mortes na mesma ocasião, podemos considerar que nos crimes da Fazenda Tucumã houve também uma verdadeira “pedagogia do terror”. Primeiro, para tentar impedir novas ocupações e segundo, para tentar impedir a condenação dos autores e mandantes. Ou uma função do “Massacre como recado”: “… o massacre foi organizado para que um recado fosse dado: “Não incomodem. Não ocupem. Não causem prejuízos ao latifúndio”.
Em Rondônia, isto aconteceu com o Massacre de Corumbiara (1995), citado várias vezes depois como ameaça para os grupos sem-terra. O recado do corpo de Alysson carbonizado, que serviu para amedrontar os demais, também foi direcionado para os pais de Ruan, de que seria inútil buscar o desaparecido. Só não contavam que lá havia uma mãe com a coragem e a teimosia digna das mães da praza de mayo, que nunca desistiram de procurar pelos seus filhos ou netos desaparecidos na ditadura argentina.
No campo de Rondônia, a pedagogia do terror apenas resultou em maior escalada de violência e radicalização do latifúndio e dos conflitos.
Este caso foi exceção nos casos de violência no campo de Rondônia, no sentido que chegou a identificar, prender e processar os supostos autores e mandantes, inclusive fazendeiros, policiais e ex policiais. Mesmo assim, na hora de ir para o julgamento, como em muitos outros casos, houve “manobras da defesa com má-fé, abuso de instrumentos jurídicos para retardar, como para suscitar nulidades processuais que levem à absolvição dos mandantes e executores,” conforme descrito no relatório Massacres no Campo, publicado recentemente pela CPT (p. 274).
O julgamento de 2017 pelos homicídios de Ruan e Alysson e os três intentos de homicídio, já foi cancelado na Comarca de Ariquemes, Rondônia, por desistência e troca de advogados, no dia que estava marcado de 15 a 18 de agosto de 2017. Sendo realizado finalmente em outubro, o julgamento durou cinco dias e foi concluído com a condenação a 30 anos de Rivaldo de Souza (executor); 30 anos de Moisés Ferreira de Souza (executor); 28 anos e perda de farda ao cabo da Polícia Militar Jonas Augusto dos Santos (executor). Quanto aos mandantes, o pecuarista Sérgio Sussuma Suganuma foi condenado a 08 anos e 04 meses de prisão por intermediar a contratação dos executores.
Já o grileiro da Fazenda Tucumã, Paulo Iwakami, conhecido como japonês, foi absolvido. Surpreendeu a absolvição de Paulo que, em seu depoimento em plenário, reconheceu ter contratado três equipes de segurança privada para a fazenda, formada por policiais militares e pistoleiros.
Contudo esta sentença foi anulada, a pedido do próprio Ministério Público e da Defensa. O motivo: O júri condenou os réus apenas pela morte de Alysson, considerando que o desaparecido Ruan ainda poderia estar vivo. Mas o juiz já o tinha declarado oficialmente como vítima fatal, e o júri tinha que julgar também a culpabilidade dos acusados pela morte dele. Mesmo assim, ver fazendeiros, policiais e pistoleiros presos e condenados ajudou para que em 2018 despencaram o número de mortes de camponeses em conflitos no campo no Estado de Rondônia.
Porém, anulada a sentença, já se passaram sete anos, sem que o novo julgamento tenha acontecido. Todos os acusados esperam em liberdade. Quem mais sofre são as testemunhas, que ainda continuam acolhidos no programa de proteção, com a liberdade restringida pelas ameaças, que continuam. Nenhuma das outras 09 mortes de acampados e testemunhas dos fatos da Fazenda Tucumã têm sido apuradas.
Várias vezes adiado o julgamento em Ariquemes, permanece a pedagogia do terror e da violência como modus operandi predominante para os conflitos do campo de Rondônia. Violência é respondida com violência. Sete casos de assassinatos impunes em conflitos no campo foram federalizados a pedido do MPF, após comprovar que não tinham chances de ser esclarecidos a nível estadual. Novos massacres já aconteceram no estado, destacando as mortes no Acampamento Thiago dos Santos, no Distrito de Nova Mutum, em Porto Velho, das quais a maioria de mortes tem autoria de policiais, em suposta retaliação pelas mortes de dois companheiros deles.
Enquanto o desmatamento e a violência no campo avançam na região da Amacro, com a fronteira agrícola para o sul de Amazonas e este do Acre, num processo de “rondonização”, de grilagem de terras acompanhado pela violência e mortes no campo, em Rondônia é a paisagem de Mato Grosso de domínio do agronegócio, que avança no campo e nos poderes do estado, suspeitos de apoiar e favorecer sempre aos mais poderosos grileiros de terras públicas.
Os pequenos que demandavam terras e reforma agrária, foram lançados ao garimpo ilegal e a invadir reservas ambientais e terras indígenas. Dezenas que insistiram na reforma agrária, foram presos e processados. Muitos também foram mortos. Porém mais de cinquenta grupos de pequenos agricultores continuam enfrentando em Rondônia conflitos no campo e disputas por terras. A maioria terras públicas e muitos, conflitos endêmicos, que se alastram por décadas.
Mudanças no executivo começam a dar sinais positivos. A retomada do julgamento da Fazenda Tucumã é uma nova oportunidade para não deixar que a violência e as vias de fatos consumados sempre falem mais alto. Por isso não podemos deixar de exigir do judiciário e do sistema de justiça o cumprimento da lei e do direito, atendendo também o lado das famílias mais desfavorecidas do campo. Começando pelo respeito ao direito à vida, numa perspectiva mais imparcial e equânime para todos os envolvidos nos conflitos do campo no Estado de Rondônia.
Reunido em Brasília, o coletivo refletiu sobre a Comunicação como ferramenta essencial com poder de envolver, sensibilizar e mobilizar a Igreja, comunidades e sociedade
Por Carlos Henrique (CPT), Henrique Cavalheiro (CPP) e Adi Spezia (Cimi)
Nesta quarta-feira (11), comunicadoras e comunicadores de diversas entidades pastorais ligadas à Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (Cepast/CNBB) participaram de um encontro presencial na Casa Dom Luciano, em Brasília (DF). O objetivo do evento é fortalecer a caminhada por meio de pautas em comum e do diálogo junto às instâncias da Igreja, na missão de proclamar e reivindicar direitos e justiça junto aos povos e comunidades.
Estiveram presentes representantes da Cáritas Brasileira, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP), Pastoral Carcerária, Pastoral da Criança, Pastoral do Menor, Pastoral do Povo da Rua e Serviço Pastoral do Migrante (SPM), além da equipe da Cepast, organizadora do encontro.
Comunicadores reunidos em Brasília, vivenciam partilhas para a Comunicação Sociotransformadora. Foto: Cláudia Pereira
O que seria uma Comunicação Sociotransformadora?
“Comunicar é contagiar, envolver mais pessoas para a missão e a profecia da Igreja”
A comunicação sociotransformadora é apresentada como uma ferramenta essencial para as pastorais sociais se conectarem à Igreja e à sociedade com esperança e compromisso. Para o padre Dário Bossi, assessor da Cepast, essa abordagem abre caminhos para uma atuação transformadora. “A comunicação sociotransformadora é o rosto das pastorais sociais que se apresentam à Igreja e à sociedade com esperança e compromisso: estamos abrindo caminhos para o Evangelho da Vida e o sonho de Deus, seu Reino tomando forma no mundo”, afirmou.
Ele destacou ainda que a comunicação vai além de informar, pois tem o poder de envolver, sensibilizar e mobilizar. “Comunicar é contagiar, envolver mais pessoas para a missão e a profecia da Igreja, oferecer uma leitura crítica da sociedade, reafirmar a opção pelos empobrecidos, fortalecer a pastoral de conjunto e dar visibilidade a tantas ações concretas e criativas que as pastorais sociais realizam na sociedade”, disse.
A assessora da Comissão Sociotransformadora da CNBB, Alessandra Miranda, destacou a importância da comunicação como uma ferramenta de diálogo e reflexão sobre os desafios que permeiam as pastorais sociais. “A comunicação sociotransformadora nos possibilita encontrar e conversar sobre os principais assuntos que estão em torno das pastorais sociais, que nos desafiam na perspectiva de compreensão, mas também de atualização das ações, metodologias e espiritualidades”, afirmou Alessandra, enfatizando o papel estratégico da comunicação para renovar as práticas pastorais.
Segundo Alessandra, esse processo exige novas elaborações e construções, e a equipe tem se dedicado com competência e dedicação a essas tarefas. “A médio e longo prazo, a Comissão Sociotransformadora, juntamente com a Comissão de Enfrentamento ao Tráfico Humano e a Comissão de Ecologia Integral e Mineração, ganha muito com a capacidade desses colaboradores e comunicadores em construir coletivamente”, reforçou, apontando para a sinergia entre as comissões na promoção de ações transformadoras.
Foto: Cláudia Pereira
Uma comunicação comprometida com o Bem Viver dos povos
“Este encontro nos inspira a pensar o processo de comunicação de forma diferente, compreendendo que este serviço é instrumento na luta por vida, teto, terra, território”
O encontro entre comunicadores e comunicadoras foi marcado por momentos de troca e reflexão sobre o papel transformador da comunicação na Igreja e na sociedade. Segundo Cláudia Pereira, comunicadora da Cepast, o evento proporcionou um espaço leve e oportuno para pensar estratégias que conectem as realidades locais à construção de uma comunicação comprometida. “Foi um momento de pensar a comunicação inteligente a partir de suas realidades para compartilhar e fortalecer esta comunicação que, a partir de hoje, denominamos de comunicação sociotransformadora na Igreja”, destacou.
Cláudia ressaltou que o objetivo central é a construção de alianças que contribuam para pautas de cidadania e o Bem Viver dos povos. “Refletimos sobre novas estratégias e, sobretudo, sobre a construção de uma aliança forte para contribuir nas pautas de cidadania e para o Bem Viver dos povos. Inspirados na provocação do Papa Francisco, pensamos na comunicação para a educação e a consciência política”, afirmou, destacando a relevância desse compromisso para o contexto atual.
Avaliação dos comunicadores
A relevância do encontro de formação e debate promovido pela Cepast foi ressaltada como um espaço para a construção de uma comunicação com propósito transformador. Henrique Cavalheiro, da assessoria de comunicação do Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP), destacou a importância do evento nesse sentido. “Este encontro nos inspira a pensar o processo de comunicação de forma diferente, compreendendo que este serviço é instrumento na luta por vida, teto, terra, território, trabalho e tantas outras formas de superar opressões e vencer as violências”, afirmou, destacando o papel essencial da comunicação no enfrentamento das desigualdades sociais.
Para Henrique, a comunicação sociotransformadora deve ser guiada pela verdade, ética e libertação. Ele também destacou o impacto desse processo tanto nos profissionais quanto no público alcançado. “Outro ponto é perceber que esta comunicação primeiro nos toca, até enquanto profissionais da área, e depois se torna um instrumento de encantamento para quem recebe nossos produtos e notícias. É uma comunicação que vale a pena ser feita e vivida”, concluiu.
Já para Carlos Henrique, assessor de comunicação da Comissão Pastoral da Terra (CPT), a importância do encontro é por ser um espaço de reflexão e planejamento conjunto entre as pastorais sociais. “Foi um momento em que pudemos nos reunir para pensar tanto nos desafios que temos em comum quanto nas nossas diferenças, além de pautas que podemos trabalhar coletivamente, como a defesa da natureza, dos direitos humanos e das comunidades que acompanhamos. São desafios que exigem que reverberemos as vozes dessas comunidades e estejamos ao lado delas”, afirmou. Ele também ressaltou a necessidade de a Igreja reconhecer e potencializar a comunicação das pastorais sociais, ampliando sua conexão com movimentos sociais, dioceses e paróquias, tanto entre as lideranças religiosas quanto entre os fiéis leigos.
Carlos enfatizou que o encontro foi proveitoso para fortalecer parcerias e planejar ações conjuntas que promovam a visibilidade das comunidades em luta por seus direitos, frequentemente ameaçadas por grandes interesses econômicos. “É preciso garantir visibilidade às causas e aos povos que estão sofrendo ataques aos seus direitos, enfrentando uma verdadeira campanha de extermínio promovida pelo agronegócio e pelo capital. Além disso, aproximar-nos de outras pastorais, como a Pastoral Carcerária, a Pastoral da Criança, a Pastoral do Menor, e incluir pautas como as das juventudes e das pessoas vivendo com HIV e aids, é essencial. Esses temas atravessam tanto o ambiente da Igreja quanto da sociedade e precisam estar no centro do debate”, finalizou.
Maria Ritha Paixão, comunicadora da Pastoral Carcerária, destacou o quanto desafiador tem sido aproximar a juventude do trabalho desenvolvido junto às populações privadas de liberdade. Ao avaliar o encontro ela destacou o quão importante é falar sobre esse papel de comunicador que também é militante, “é desafiador, mas o encontro se revela um espaço de partilha, trocas e de fortalecimento de nós quanto pessoas. É muito importante este momento e novas oportunidades de se encontrar são fundamentais”, destacou.
O encontro também buscou refletir sobre o papel político e estratégico de quem se dedica à comunicação sociotransformadora a que essas organizações se propõem a fazer na convivência com os povos e comunidades tradicionais em seus territórios, suas lutas e vivências. Com isso, um planejamento de ações para 2025 foi listado pelos participantes.
Os comunicadores/as participam nesta quinta-feira (12), do Seminário de Incidência Política Compartilhada, que analisa a conjuntura atual sociopolítica do país. Para além das pautas que envolvem os povos da cidade, do campo, das águas e das florestas, o grupo irá pautar a comunicação nas ações de incidência política.
Por Carlos Henrique Silva (Comunicação CPT Nacional), com informações de Victor Lemos/MPAM Imagens: Heitor Costa
Durante as celebrações do Dia Internacional dos Direitos Humanos, nesta terça-feira (10) em Brasília, foram empossados os novos e novas conselheiras do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) para o biênio 2024-2026.
Representando a Comissão Pastoral da Terra (CPT), tomou posse a integrante do Coletivo de Assessoria Jurídica da CPT, a advogada popular Lara Estevão Lourenço. Ela substitui Andréia Silvério, também da assessoria jurídica e ex-integrante da Coordenação Nacional, que atuou no biênio anterior.
Lara, que é natural de Goiânia/GO, iniciou seu trabalho em assessoria jurídica com movimentos populares ainda durante a graduação em Direito. Além da assessoria jurídica da CPT, ela também contribui na construção da RENAP (Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares).
“A CPT possui uma militância histórica junto aos povos do campo, das águas e das florestas. Enxergamos que o espaço do Conselho é estratégico para levar as demandas dos conflitos nos territórios em que atuamos, bem como auxiliar nos encaminhamentos das demandas de conflitos de outros territórios. Enquanto advogada popular, vejo que o espaço é importante para que os movimentos sociais possam fazer interlocuções para a proteção de seus territórios e lideranças, avançando no projeto de construção de um mundo melhor e livre de opressões,” afirma Lara.
Na ocasião, a presidente do CNDH, Marina Ramos Dermmam, destacou o papel estratégico do Conselho na defesa dos direitos humanos e na articulação entre diversos setores da sociedade civil.
“Nosso conselho atua nas regiões mais distantes do país, onde vozes, força e esperança são fundamentais na luta pelos direitos humanos. Neste Dia Internacional dos Direitos Humanos, quero agradecer aos conselheiros e conselheiras que estiveram ao meu lado durante o biênio, e dar as boas-vindas aos novos membros. A luta é árdua, mas vale a pena; exige empatia, fé e esperança. Mesmo nos momentos difíceis, sabemos que não estamos sozinhos”, afirmou a presidente, emocionada.
Lara Estevão ao centro com o diploma da posse, ao lado da ministra dos Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo, e da presidente do CNDH, Marina Ramos Dermmam, e demais representantes do CNDH.
CNDH - O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) é um importante espaço para a promoção e defesa dos direitos humanos no Brasil. É um colegiado em que as organizações da sociedade civil podem levar denúncias de violações de direitos, bem como requerer avanços nas políticas de prevenção de violações. Instituído inicialmente antes do golpe militar de 1964 como Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), o colegiado foi transformado em Conselho Nacional dos Direitos Humanos pela Lei n° 12.986, de 2 de junho de 2014.
Carlos Henrique Silva (Comunicação CPT Nacional), com informações da CPT Regional Roraima Fotos: Caíque Souza: Ascom/CIR
Povos indígenas waiwai, Yanomami, Wapichana, macuxi, sapará, Ye’kwana, patamona, ingaricó e outras comunidades estão mobilizados há mais de 40 dias às margens da BR 174 na comunidade indígena Sabiá, terra indígena São Marcos, em luta contra a PEC 48, a Lei 14.701 e outras propostas de lei que violam os direitos indígenas. A resistência atende ao chamado das lideranças, tuxauas, mulheres e jovens, reunindo mais de 10 mil pessoas de 320 comunidades, distribuídas em 36 terras indígenas, com envolvimento de diversas regiões do Estado de Roraima.
Na última quinta-feira (05), a mobilização contou com a presença da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Organização das Mulheres Indígenas de Roraima (OMIR), APITSM, Coordenação da Educação Indígena e o Conselho Indígena de Roraima (CIR), que receberam a Carta do Movimento Indígena.
Movimento contra o Marco Temporal fecha trecho da BR-174 em Roraima
A Proposta de Emenda à Constituição PEC 48/2023, que tramita no Senado, tem autoria do senador Hiran Gonçalves (PP/RR) e o apoio de todos os senadores do estado, propõe alterar o parágrafo 1º do artigo 231 da Constituição Federal, para instituir a tese do marco temporal de demarcação das terras tradicionalmente ocupadas pelos povos indígenas.
Mesmo após a retirada da PEC 36, graças à pressão do movimento organizado pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR), a luta continua, exigindo que o senador Hiran Gonçalves compareça à mobilização e retire a proposta de lei que revisa o Marco Temporal. A PEC 36 previa o arrendamento de terras indígenas, permitindo que pessoas não indígenas empresas e fazendeiros usassem o espaço com permissão dos povos indígenas. No dia 2 de dezembro, após a entrega de uma Carta ao autor da proposta, senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR), foi oficializada a retirada da proposta, com a tramitação marcada como “encerrada” pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) do Senado.
Por pressão do movimento indígena, senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR), vai à mobilização e oficializa a retirada da proposta da PEC 36
Segundo a liderança indígena Dejacir, a participação de todos tem sido fundamental. “Os jovens estão aqui cantando, estão na BR cantando e descem cantando. Convidamos escolas, lideranças tradicionais, jovens e adultos a se juntarem a essa luta. Derrubamos a PEC 36, mas ainda temos pela frente a PEC 28, a PEC 48, entre outras.”
Alessandra Korap Munduruku, líder indígena e ativista na região do Médio Tapajós (PA), se deslocou de sua região para somar forças em apoio à mobilização dos parentes: “Os senadores sabem que 50% deste estado são territórios indígenas, mas negam a nossa existência. Esse movimento está mostrando que existem indígenas sim, e que não precisa criar PEC pra entrar nas terras indígenas. Estes projetos não afetam apenas Roraima, mas todo o Brasil.”
A mobilização continua sem data definida para encerrar.