O jovem Neri Guarani Kaiowá foi morto a tiros nesta quarta-feira (18) durante ataque à retomada dos indígenas na Fazenda Barra, sobreposta à Terra Indígena
Por assessoria de comunicação do Cimi
Indígena Guarani Kaiowá morto na TI Nhanderu Marangatu em ação policial realizada na manhã desta quarta-feira (18). Foto: povo Guarani Kaiowá
O jovem Neri Guarani Kaiowá foi morto a tiros nesta quarta-feira (18) na Terra Indígena (TI) Nhanderu Marangatu durante ataque à retomada dos indígenas na Fazenda Barra. Conforme apuração junto ao povo, uma mulher também teria sido atingida na perna por disparos de arma de fogo e os barracos da retomada foram destruídos. A Força Nacional não estava em área.
A violência contra os Guarani e Kaiowá começou na madrugada e seguiu pela manhã. A Polícia Militar arrastou o corpo de Neri para um pedaço de mata. A ação dos policiais gerou revolta entre os indígenas, que passaram a avançar para o local em que o corpo foi levado. Novos confrontos se estabeleceram, mas os policiais seguiram com a decisão de afastar o corpo dos Guarani e Kaiowá. Na noite desta terça (17), vídeos feitos em Antônio João anunciavam a iminência da agressão.
Os ataques contra a retomada Guarani e Kaiowá ocorreram no mesmo local em que os indígenas receberam na sexta-feira (13) a Missão de Direitos Humanos organizada pelo Coletivo de Solidariedade e Compromisso aos Povos Guarani, que na semana passada percorreu o oeste do Paraná e no Mato Grosso do Sul visitou a TI Nhanderu Marangatu, atacada um dia antes, além das retomadas da TI Panambi – Lagoa Rica, em Douradina.
Conforme os indígenas, atiradores “mercenários” estavam junto à PM durante o ataque realizado contra a comunidade. “Foi a PM. Já estão nos atacando desde antes da vinda da Missão de Direitos Humanos”, denuncia uma indígena ouvida. Na quinta-feira (12), três indígenas já haviam sido baleados pela PM na TI Nhanderu Marangatu: Juliana Gomes segue hospitalizada em Ponta Porã depois de levar um tiro de arma letal no joelho; a irmã e um jovem levaram tiros de bala de borracha.
PM mata e altera local da perícia
A tática é a mesma: um indígena é morto a tiros e policiais militares alteram a cena do crime para alterar, dificultar ou inviabilizar a perícia. Conforme apuração, a equipe jurídica que assessora a Aty Guasu, a Grande Assembleia Guarani e Kaiowá, solicitou à Polícia Federal ir ao local retirar o corpo do Neri.
Na última terça-feira (10), noticiou o jornal Campo Grande News, o corpo de Vitor Fernandes Guarani e Kaiowá, de 42 anos, precisou ser exumado para nova perícia. O indígena morreu em 2022 sob ataque de policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar. O caso aconteceu em Amambai, distante 351 quilômetros de Campo Grande, e ficou conhecido como Massacre de Guapoy.
Matéria em atualização.
"Quando alguém fala de vender a terra, eu vejo o meu corpo ser negociado.
Eu sou a terra. Terra é para cuidar. A terra é a nossa vida e é preciso ter respeito por ela".
É com profunda tristeza e reverência que recebemos a notícia da passagem de Anacleta Pires da Silva, mulher preta liderança quilombola no território de Santa Rosa dos Pretos, município de Itapecuru-Mirim, Maranhão.
Presente conosco em momentos de formação e encontros da CPT Nacional e Regional Maranhão, Anacleta tocou nossos corações com inspiração e resistência, com gritos contra o agronegócio, contra o assédio e a destruição promovida pelos grandes empreendimentos nos territórios, chão sagrado das comunidades tradicionais.
O momento é de dor, mas também de gratidão pelo tempo de existência entre nós. Anacleta, a tua luta, o teu canto e a tua força na retomada ficarão sempre ecoando nas nossas mentes e corações.
À família e comunidade enlutadas, o nosso abraço solidário.
Anacleta ancestralizou, mas continua presente, presente, semente!!!
Confira algumas participações de Anacleta conosco:
15.10.2014 - “Estamos sendo exterminados”, denunciam populações tradicionais à imprensa maranhense
20.10.2023 - Carta do Encontro Nacional de Formação da CPT 2023
26.10.2023 - Com o tema “Questão agrária e os desafios nos 50 anos”, CPT realiza Semana Nacional de Formação
Do site do frei Gilvander Moreira - CPT/MG
No dia 11 de setembro de 2024, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, sancionou o Decreto Nº 48.893/2024, que ataca diretamente os direitos dos Povos e Comunidades Tradicionais. O decreto viola o direito à Consulta Livre, Prévia e Informada, garantido pela Convenção 169 da OIT, e favorece grandes projetos de destruição nos territórios tradicionais.
Este ato desconsidera a voz de milhares de comunidades e favorece interesses econômicos que colocam em risco a biodiversidade e a vida das pessoas. A história e a cultura dos Povos Tradicionais não podem ser tratadas com tamanho descaso. É urgente a revogação deste decreto! Vamos lutar por justiça e pela preservação da nossa terra e de quem nela vive!
Acesse a carta em: https://gilvander.org.br/site/wp-content/uploads/2024/09/CARTA-DE-REPUDIO-AO-DECRETO-No-48.pdf
CARTA DE REPÚDIO AO DECRETO Nº 48.893/2024 E EM DEFESA DOS DIREITOS DOS POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Belo Horizonte, 15 de setembro de 2024.
Em meio à seca histórica e às fumaças que cobrem os céus do Brasil, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, em mais um ato perverso de ataque aos direitos dos Povos e Comunidades Tradicionais e da Natureza, publicou, no dia 11 de setembro de 2024, o Decreto nº 48.893/2024, que viola o direito dos Povos e Comunidades Tradicionais à Consulta Livre, Prévia, Informada e de Boa-fé, e, favorece o avanço dos grandes projetos do capital que causam morte e devastação nos territórios tradicionais e compromete as condições de vida de toda a sociedade e da biodiversidade. O Decreto em si já é uma aberração jurídica, uma vez que a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) não precisa de regulamentação para ser plenamente aplicada. Um Decreto semelhante a este editado pelo Governador do Pará já foi anulado.
Desde 2003, quando entrou em vigor no Brasil o Tratado Internacional da Convenção 169 da OIT, suas disposições são obrigatórias e nenhum órgão governamental pode descumpri-la ou limitar os direitos nela abarcados. Além disso, não houve nenhuma participação ou consulta às Comunidades, violando o artigo 6° da mencionada Convenção. O teor deste decreto é praticamente o mesmo da Resolução Conjunta SEDESE/SEMAD Nº 1, de 4 de abril de 2022, que foi revogada, após muita pressão dos Movimentos Sociais, Povos e Comunidades Tradicionais. Este Decreto eivado de ilegalidades e de inconstitucionalidades busca amordaçar e aniquilar os direitos dos Povos e Comunidades Tradicionais protegidos pela Convenção 169 da OIT.
Destacamos outros pontos críticos e inaceitáveis do Decreto:
Não se pode ignorar a relação do Decreto com o contexto atual da política do Governo Zema, no qual o Governo apoia o avanço da mineração predatória, que tem por alvo, em grande medida, explorar áreas de Territórios Tradicionais, em diversas regiões do estado. Este Decreto é para “passar a boiada”.
Diante de tantas violações, reafirmamos nosso compromisso em garantir que os Povos e Comunidades Tradicionais tenham acesso à informação e possam participar ativamente dos processos que impactam seus modos de vida e exigimos a imediata revogação do Decreto Nº 48.893/2024, garantindo de forma plena o Direito das Comunidades e Povos Tradicionais à sua autodeterminação. Neste momento, em que a “terra geme em dores de parto” (Cf. Rm 8,22), é urgente avançarmos nas lutas concretas nos territórios, em defesa dos Povos e Comunidades Tradicionais e de todos os seres vivos que formam a comunidade que nutre nossa mãe Terra. Portanto, é absurdo um Decreto como este em tempos de Emergência Climática. As sirenes dos eventos extremos estão gritando de forma estridente. Revogação e Anulação do Decreto 48.893/2024, JÁ! Apelamos a todas as autoridades compromisso com a derrubada deste brutal Decreto.
Assinam esta carta:
Obs.: Outras organizações, entidades e Movimentos Sociais que quiserem assinar esta Carta Aberta de Repúdio, favor enviar nome e e-mail para frei Gilvander: gilvanderlm@gmail.com
por Vívian Marler (Comunicação do Regional Norte 2),
com informações de Laíse Carmo (ASCOM da Arquidiocese de Palmas) e Ludimila Carvalho (CPT Regional Araguaia-Tocantins)
Entre os dias 5 e 6 de setembro, aconteceu em Palmas/TO o ‘V Encontro de Ecoteologia’. Estiveram presentes cerca de 50 pessoas representando os estados do Tocantins, Pará, Amazonas e Mato Grosso.
O evento, realizado pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) em parceria com o Regional Norte 3 e Arquidiocese de Palmas, foi um convite para conversão ecológica proposta pela Encíclica Laudato Si, do Papa Francisco, levando os presentes a refletirem sobre a atual realidade da natureza e as ações práticas que cada ser humano pode desenvolver para ajudar na resistência e sobrevivência da sociobiodiversidade, ameaçada pelas queimadas, desmatamento e violências. O encontro foi a oportunidade de fazer com que os presentes tivessem a oportunidade de compreender melhor a realidade atual do país.
A CPT Regional Araguaia-Tocantins apresentou a oficina “Olhares de ecopolítica e ecoprofecia no Cerrado Amazônico”, com o frei Xavier Plassat (da coordenação colegiada da Campanha De Olho Aberto para Não Virar Escravo) e Ludimila Carvalho (da Coordenação regional), destacando as realidades que as famílias no campo enfrentam e uma reflexão crítica sobre a situação da nossa casa comum.
A equipe compartilhou as realidades de três comunidades, dentre as dezenas acompanhadas no dia a dia do regional, nos municípios de Barra do Ouro, Filadélfia e Nova Olinda, comunidades marcadas pelos danos do avanço e a constante e violenta pressão do agronegócio, intensificado pelo o alinhamento do Estado, tanto através da truculência da Patrulha Rural quanto de forma institucional, como o PL 1199/23 que pretende transferir as terras da União para o Estado do Tocantins, bem como a tendenciosa Lei de Terras do Tocantins, ambos promovem o sucateamento da reforma agrária e a grilagem institucionalizada.
Há também a evasão das juventudes, pela carência de alternativas de vida, vulnerabilidades e migrações de risco propícias ao aliciamento e ao trabalho escravo. Mesmo nestes contextos, a Ecoprofecia são as formas de resistência que essas populações tradicionais opõem ao avanço da soja sobre elas, como a Articulação Camponesa, a força das mulheres construindo alternativas de vida digna e a permanência nos territórios.
Comunidade Tauá / Município de Barra do Ouro
As 20 famílias posseiras e 130 famílias acampadas têm a tradicionalidade comprovada através de Laudo antropológico elaborado do MPF. Ocupam parte de uma área da União, há décadas. Dos 20.000 ha, 30% foi indevidamente regularizada pelo GETAT. A comunidade sofre com os impactos do desmatamento, envenenamento, isolamento, destruição da cultura e insegurança na terra causada pelas insistentes tentativas de grilagem e avanço do agronegócio através dos monocultivos e pecuária, comandadas pelo grupo empresarial Binotto, usando inclusive a violência: pistolagem, ameaças contra as pessoas, agressões, destruição de roças, destruição de casas. Mas há uma força matriarcal presente na comunidade, personificada na emblemática dona Raimunda, que inspira e impulsiona as mulheres da comunidade na resistência e permanência no território, produzindo, denunciando as violências. A comunidade enfrenta o racismo estrutural e ambiental e firma sua identidade tradicional ligada às raízes afro-brasileiras no modo de vida, nas celebrações e ritos ancestrais.
Comunidade Grotão / município de Filadélfia
Com 21 famílias, a Comunidade Quilombola ocupa 40% do território reivindicado (830 ha dos 2.096 ha do território identificado e delimitado). Com a recente desapropriação de um dos lotes, houve um avanço na conquista da terra. A comunidade possui um sistema de produção bem consolidado e tradicional e vem resistindo às investidas do capital.
Assentamento Remansão / município de Nova Olinda
Criado em 2001, o assentamento hoje conta com cerca de 50 famílias, mas com alta rotatividade e migração para o trabalho fora da região. Pesquisa da CPT/RAICE identificou os problemas principais que elevam a migração temporária ou permanente das famílias, e a partir daí foi um trabalho de construção de alternativas de vida digna junto à comunidade, como o projeto "A esperança que vem do Cajueiro". Existe participação efetiva das mulheres, de forma organizada: pequenos projetos são realizados com apoio do fundo Casa para reforçar a renda a partir do corte e costura. No entanto, todos esses projetos foram interrompidos pela crescente violência no campo tocantinense, que vitimou o presidente da associação do assentamento (Cícero Rodrigues de Lima), assassinado no mês de junho, um crime até o momento sem respostas das investigações da Polícia Civil.
Durante o Encontro, também aconteceram outras mesas redondas com a participação de representantes da Amazônia como Mariana Melo (Pró-reitora da UniCatólica), Elisângela Soares (representante da Faculdade Católica do Amazonas) e Dom Pedro Brito Guimarães (vice-presidente da REPAM/Brasil), que ressaltaram a importância de debater sobre as mudanças climáticas e o desenvolvimento de atitudes que contribuam com o cuidado com da Casa Comum.
Nas temáticas Ecoprofecia e Ecopolítica, ministradas pelos professores Luís Cláudio, da CPT Mato Grosso, e Ricardo Castro, da Faculdade Católica do Amazonas, foi destacada a importância da dignidade da população que sofre, das problemáticas entre a agricultura familiar e agronegócio, e a necessidade de um futuro melhor para o nosso país, principalmente às comunidades que vivem e dependem do campo.
Ao final do encontro aconteceram as partilhas das oficinas, avaliação geral do encontro e a benção de envio dada por Dom Pedro Brito Guimarães, vice-presidente da REPAM- Brasil.
A parceria entre as Pastorais do Campo e a Universidade Federal de Goiânia (UFG), realiza intercâmbio entre os conhecimentos acadêmicos e as realidades dos territórios enriquecendo a luta por direitos
Por Cláudia Pereira | APC
O Curso de Especialização em Direito Agrário, fruto da parceria entre a Articulação das Pastorais do Campo e a Universidade Federal de Goiás (UFG), tem sido um importante instrumento na luta pela reforma agrária e na defesa dos direitos dos povos do campo, florestas e das águas. O convênio firmado pela Faculdade de Direito e com o Programa de Pós-Graduação em Direito Agrário (PPGDA) da UFG e as Pastorais, iniciou em 2016 e já formou aproximadamente 100 agentes de pastorais.
A especialização, que é divida em módulos, está em sua terceira turma, formada por 40 agentes de pastorais, de várias regiões do país. Neste semestre os agentes estarão reunidos de 11 a 25 de setembro em Luziânia (GO), no Centro de Formação Vicente Cañas. É um momento de intercâmbio de conhecimentos acadêmicos e temáticas relacionadas às realidades dos territórios. Uma equipe pedagógica composta por representação da coordenação de cada pastoral acompanha a turma e colabora com as avaliações e diálogos entre a Universidade, professores e alunos.
Marline Dassoler, missionária do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), conta que desde a primeira turma o curso foi aperfeiçoando e fortalecendo os processos de formação. No primeiro intercâmbio a academia conheceu os enfrentamentos das bases e as necessidades de ferramentas para embasar a luta dos povos. “Na primeira e na segunda turma, não tínhamos muitos operadores do direito, não tinha muita assessoria, havia mais pessoas militantes e agentes da atuação. Nessa terceira turma, percebemos uma mudança de perfil, com mais jovens, mulheres com formação específica na área de direito”, analisa Marline que compõe a equipe pedagógica.
A especialização direciona os conhecimentos da base jurídica e os alunos apontam as realidades dos territórios. O intercâmbio amplia os conhecimentos sobre a Regularização Fundiária e as pautas transversais que envolvem temas da Amazônia legal, do Cerrado e as violações dos territórios indígenas e quilombolas. O cenário atual dos agentes desta terceira turma lidam com temas específicos, a exemplo dos campos de energia eólica, o assédio para o mercado de crédito de carbono, territórios pesqueiros enfrentando a especulação imobiliária e o agronegócio.
“O direito agrário é uma busca por ferramentas jurídicas que nos permite achar instrumentos de permanência, de instrumentos para viabilizar a permanência dos povos nas comunidades e nos territórios. O camponês tradicional é intrinsecamente ligado ao território, tem o sentimento de pertença daquele chão, por isso a importância dos instrumentos jurídicos”, enfatizou Dina da Silva Rodrigues, da Comissão Pastoral da Terra (CPT-TO) e aluna do curso de especialização.
A formação dos agentes das pastorais do campo reflete nas comunidades e territórios de forma positiva no campo do conhecimento e política. O processo seletivo, a metodologia e as disciplinas do curso são construídas com a equipe pedagógica e os professores da UFG. As pastorais e a universidade pensam juntos no desenvolvimento das habilidades dos alunos. O professor de Direito, Eduardo Rocha destaca que ao longo desse tempo de parceria da universidade e as pastorais, formaram dezenas de pessoas que atuam na luta por direitos e garantia de acesso à terra e para além da experiência político-pedagógica.
“Percebemos que a formação para os agentes é fundamental para empoderar as comunidades e os coletivos de luta. Cada um e cada uma que passa por esse processo se torna uma força política. Este é um projeto muito gratificante para Universidade Federal de Goiás e reconhece o significado e relevância desta parceria entre a academia e as pastorais do campo”, afirmou o professor Eduardo.
Documentário sobre o curso de Direito Agrário
Para marcar o processo deste caminho de parceria, a Articulação das Pastorais do Campo produziu um documentário que narra o processo e desafios para a formação das turmas até o momento. Com entrevistas de coordenadores, professores e alunos, o vídeo destaca a importância do curso de Especialização em Direito Agrário para fortalecer a luta pelos direitos e acesso à terra e territórios dos povos do campo, da floresta e das águas.
O Curso que está em sua terceira edição e formará mais uma turma no primeiro semestre de 2025, destaca maior participação, interação e proximidade dos territórios no campo do Direito. Com disciplinas que contemplam de forma mais abrangente as pautas das pastorais do campo, a exemplo das demandas que envolvem o campo das águas, gênero e a violência no campo.
A organização do curso é realizada pela Articulação das Pastorais do Campo (APC) que integram a Comissão Pastoral da Terra (CPT), Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), Serviço Pastoral do Migrante (SPM), Pastoral da Juventude Rural (PJR), Cáritas Brasileira e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Pastorais e organismos da igreja católica que mantém um vínculo estruturado e convivem com a mesma fé e compromisso, mantendo a luta junto aos povos para o cuidado com a casa comum.
O vídeo tem estreia nesta quinta-feira (12) às 20h no Youtube, através deste link.
Produção e reportagem: Cláudia Pereira | APC
Imagens: Cláudia Pereira
Edição e finalização: Lucas Braga
Reportagem de Nádia Pontes | Deutsche Welle*
Apesar da queda em mortes de defensores da natureza em 2023, país segue na vice-liderança mundial. América Latina é a região mais perigosa do planeta para ativistas ambientais, aponta Global Witness.
Foto: Mário Manzi / Arquivo CPT
Em 2023, pelo menos 196 ativistas foram assassinadas em todo o globo por defenderem o direito à terra e ao meio ambiente saudável. A Colômbia foi o país que registrou mais violência do tipo, com 79 mortes; e o Brasil aparece na sequência, com 25. O levantamento divulgado nesta terça-feira (10/09) é da ONG Global Witness, sediada no Reino Unido.
"O número real de assassinatos é provavelmente maior", afirma a organização. Desde que o acompanhamento começou a ser feito, em 2012, foram contabilizadas 2.106 mortes de ativistas defensores do meio ambiente e do uso coletivo dos recursos naturais.
A América Latina ainda é o lugar com mais assassinatos, com 85% de todos os casos documentados em 2023. Depois de Colômbia e Brasil, Honduras e México empataram na terceira colocação do ranking, com 18 crimes do tipo cada. "O assassinato continua sendo uma estratégia comum para silenciar defensores e é, sem dúvidas, a mais brutal", diz o relatório.
"Ataques letais geralmente ocorrem junto com retaliações mais amplas contra defensores que estão sendo alvos de governo, empresas e outros atores com violência, intimidação, campanhas de difamação e criminalização", aponta a ONG.
Em relação ao ano anterior, o número de assassinatos de ambientalistas no Brasil teve uma queda, de 34 para 25 vítimas em 2023. A principal fonte de dados usada para o levantamento da Global Witness é a Comissão Pastoral da Terra (CPT), que há décadas mapeia a violência no campo.
"Já faz anos que o Brasil se configura como uma das regiões mais perigosas para aqueles que fazem a defesa do meio ambiente e da luta pela terra. Não são apenas números, são nomes de pessoas que passaram por longo processo de difamação por fazerem a luta por seus direitos, por seus povos", afirma à DW Ronilson Costa, coordenador nacional da CPT.
Uma das causas para o cenário, avalia Costa, é a concentração fundiária no Brasil e a demora do reconhecimento dos territórios indígenas e quilombolas. "Essas terras estão em disputa seja pela expansão do agronegócio, da exploração madeireira, minérios, ou projetos de infraestrutura", justifica.
Dentre os casos emblemáticos que mais refletem essa situação, opina o representante da CPT, está o assassinato de Mãe Bernadete, liderança quilombola e religiosa na Bahia. Ela foi morta com 12 tiros em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador, e estava Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH) do governo federal por já sofrer ameaças.
As mortes de indígenas do povo Guarani Kaiowá, em Mato Grosso do Sul, também foram contabilizadas pela Global Witness. Em 2023, os corpos Sebastiana Galton e Rufino Velasque foram encontrados carbonizados na casa onde viviam, na Terra Indígena Guasuti, em Aral Moreira.
"Quando o Estado não atende à demanda urgente, ele coloca uma comunidade inteira numa situação de vulnerabilidade", diz Costa.
O total de assassinatos registrados na Colômbia no ano passado, 79, foi o maior já contabilizado em um único país desde que a Global Witness começou a fazer esse levantamento em 2012. Na última década, pelo menos 461 defensores colombianos do meio ambiente foram silenciados
"Muitas famílias foram afetadas de forma desproporcional por disputas territoriais e violações dos direitos humanos exacerbadas por mais de meio século de conflito armado", pontua o relatório, que aponta o plantio de coca e o narcotráfico como catalisadores da violência.
No México, confrontos em torno da indústria da mineração aparecem como pano de fundo da maioria das mortes. Dos 18 assassinatos, 70% foram de indígenas que eram contrários à expansão de atividades mineradoras, afirma a Global Witness.
Empatada no terceiro lugar, Honduras, que tem 10 milhões de habitantes, é o país com a maior taxa per capita de assassinatos de ambientalistas. Segundo o levantamento, a pressão sobre a floresta tropical causada principalmente pela expansão de atividades que vão do agronegócio ao narcotráfico tem agravado a situação.
"Por pouco mais de uma década, os defensores desta região sofreram mais ataques per capita do que em qualquer outro lugar do mundo, com 97% deles registrados nos mesmos três países: Honduras, Guatemala e Nicarágua", avalia o relatório.
Uma das recomendações para reverter o quadro violento é a documentação dos ataques e represálias sofridas pelos defensores do meio ambiente. Para especialistas, os governos só conseguirão aprimorar os programas de proteção de direitos humanos e das vítimas quando forem capazes de identificar as causas por trás dos ataques.
Uma tentativa foi feita pelo Acordo de Escazú, o primeiro tratado ambiental da América Latina e do Caribe, assinado em 2018 para promover os direitos de acesso à informação, à participação e à justiça em questões ambientais. Embora o Brasil tenha assinado o acordo no ano de sua criação, o país ainda não o ratificou.
Na avaliação da Global Witness, a falha do tratado não deve apenas à lentidão dos governos. "Empresas que atuam na região também precisam ser responsabilizadas pela violência e criminalização que os defensores ambientais enfrentam", afirma no relatório.
Para a CPT, as denúncias feitas à comunidade internacional são importantes para expor o perigo que ativistas dos direitos humanos e da terra vivenciam no país. "Temos expectativa que cobranças para o Brasil sejam feitas no sentido de garantir maior monitoramento para empresas que financiam negócios no país que atuam em áreas de conflito e que promovem violência no campo", diz Ronilson Costa.
Um bom exemplo recente citado por Costa vem da Europa. No início de setembro, o conselho de ética do Fundo Global do Governo da Noruega (GPFG) recomendou que o fundo exclua os investimentos na Prosegur, empresa espanhola que atua na área de segurança. No Brasil, a empresa mantém a subsidiária Segurpro, que presta serviços para a Vale e Agropalma, e está envolvida em casos de agressões e mortes contra indígenas no Pará.
Em nota, a Prosegur negou as acusações e afirmou que não recebeu nenhuma comunicação do Fundo de Pensões Global da Noruega sobre qualquer decisão de desinvestimento relacionada a essas questões.
"Após o incidente, a SegurPro, empresa do Grupo Prosegur especializada em vigilância patrimonial e prestadora de serviços da empresa citada no Brasil, reforçou os seus protocolos e programas de formação, garantindo que os seus colaboradores estivessem mais bem preparados para lidar com situações complexas", afirmou a empresa.
*Reportagem produzida por Nádia Pontes, publicada originalmente na Deutsche Welle
**A reportagem foi alterada para incluir a posição da Prosegur.
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