Setor de comunicação da CPT NE2
Imagem: Plácido Junior
Entre os dias 28 e 30 de janeiro, na comunidade Padre Tiago, localizada no antigo Engenho Una, em Moreno (PE), aconteceu o encontro de mais de cinquenta jovens camponeses e camponesas de assentamentos da Reforma Agrária e de territórios em luta pelo direito à terra na Zona da Mata de Pernambuco. No entorno da Escola comunitária e da sede da Associação de Moradores/as, situada num casarão centenário que outrora fora Casa de Senhores de Engenho, os/as jovens montaram barracas e organizaram-se para participar do “Acampamento da Juventude Camponesa da Zona da Mata de Pernambuco.
Com uma programação repleta de debates, mutirões, trocas de experiências e muita mão na terra, o encontro reforçou a agroecologia como caminho para a permanência da juventude no campo e como prática urgente e necessária para o cuidado com a vida e com a Casa Comum. Durante os três dias de atividades, os/as jovens tiveram a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos sobre os princípios ecológicos que servem de inspiração e base para os sistemas agroflorestais e agroecológicos. Caminharam pela floresta para observar a sucessão ecológica, aprenderam a manusear o tratorito e a roçadeira costal e implementaram uma horta agroecológica enquanto debatiam e aprendiam sobre o valor da agricultura camponesa e dos saberes da natureza e dos povos do campo. No último dia do encontro, o grupo refletiu sobre os aprendizados adquiridos, reafirmou compromissos e enfatizou a importância da organização da juventude camponesa na defesa da terra e da agroecologia.
Como símbolo desse compromisso, os/as jovens plantaram mudas nativas ao redor da Escola Comunitária e da sede da Associação. Cada comunidade participante ainda levou consigo sementes nativas cultivadas pelos agricultores e agricultoras da comunidade Padre Tiago a partir da “Escola da Terra”, espaço de aprendizado de Sistemas Agroflorestais e Agricultura Sintrópica. Esse gesto representou não apenas a continuidade da produção agroecológica, mas também o fortalecimento da aliança entre diferentes as comunidades na luta por terra, território e soberania alimentar.
Agroecologia e resistência: o campo na mão da juventude - Para Carlos Felix, jovem e agente pastoral da CPT, a iniciativa foi fundamental para fortalecer o vínculo dos/as jovens com a terra e ampliar a troca de experiências entre as comunidades da Zona da Mata. “O encontro foi algo que já estávamos planejando há muito tempo - um espaço para os/as jovens se reunirem, colocarem as mãos na terra, conhecerem outras realidades e trocarem experiências. O foco foi a agroecologia, que representa o nosso futuro, se quisermos garantir qualidade de vida para as novas gerações. Além disso, a realização do acampamento na Comunidade Padre Tiago teve um significado especial. O local é marcado por uma história de luta e resistência, além de ser referência na produção agroecológica e na organização comunitária. Toda a comunidade se envolveu, com os agricultores e agricultoras compartilhando seus conhecimentos com os/as jovens. Todo mundo saiu motivado a aumentar as práticas agroecológicas em suas áreas. Além disso, eles/elas também pediram novos encontros como esse, para continuar aprendendo e disseminando a agroecologia”, afirmou.
Joyce Kelly, jovem da comunidade Nova Canaã, em Tracunhaém, destacou como o acampamento a inspirou a levar os aprendizados para sua família. "Pudemos aprender muitas coisas e vivenciar diversas experiências. Isso me incentivou a colocar em prática no meu sítio, junto com minha avó, tudo o que aprendi. Espero que possamos ter mais encontros como esse para continuarmos aprendendo", destacou.
Já o jovem camponês Pedro Gomes Lopes da Silva reforçou que o encontro foi importante porque “aprendi que dá para fazer uma horta agroecológica de forma prática, gastando pouco tempo e trabalho e ainda cuidando muito da natureza. Nossa expectativa para o futuro é que possamos realizar outros encontros como esse e envolver ainda mais jovens", disse.
Misael José também concorda. "Foi um momento de muito aprendizado, principalmente na parte prática. Muitos jovens pensam em desistir da vida no campo e ir para a cidade, e esse tipo de encontro nos faz enxergar a importância de permanecer na terra e valorizar a agricultura”, destaca.