Por CPT Regional Acre
Edição: Carlos Henrique Silva (Comunicação CPT Nacional)
Imagem registrada pela comunidade
Na última terça-feira (14 de janeiro), a violência no sul do Amazonas fez mais uma vítima: o trabalhador rural Francisco do Nascimento de Melo, conhecido como Cafu, foi assassinado a tiros por um fazendeiro, na zona rural do município de Boca do Acre (AM), na comunidade Recreio do Santo Antônio, ramal 37.
De acordo com relatos de testemunhas, Francisco seguia em direção à comunidade onde trabalhava, acompanhado de seu filho de 15 anos, quando encontrou o fazendeiro. Após uma discussão, o suposto proprietário de terra, partiu para a violência contra o adolescente. Tentando proteger o filho, Francisco interveio, mas foi alvejado por disparos de arma de fogo. Ele morreu no local.
Moradores da região relatam que o fazendeiro é conhecido por ameaças frequentes e pelo uso de violência em disputas de terra. Segundo a comunidade, ele já havia ameaçado as famílias locais e possuía histórico de conflitos fundiários, com registros na Justiça por comportamentos violentos. Os moradores também afirmam que o fazendeiro vinha tentando tomar a terra de Francisco, localizada na divisa com sua propriedade.
A comunidade informou ter buscado ajuda junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para resolver o conflito, mas nenhuma medida foi adotada. O caso reforça o clima de insegurança e a falta de intervenção efetiva em situações de disputa territorial na região.
Conflito em Lábrea (AM): Comunidade extrativista denuncia violência e ameaças
No vizinho município de Lábrea, também no sul do Amazonas, 35 famílias da Comunidade Dorothy, formada por extrativistas, realizam a coleta de castanha na área conhecida como Fazenda Fusão, localizada na zona rural do sul do município, o único no Brasil que faz divisa com duas capitais: Rio Branco (AC) e Porto Velho (RO). Presentes na localidade desde 2018, as famílias decidiram em 2022 ocupar cerca de 2 mil hectares da região, intensificando os conflitos com o suposto proprietário da terra.
Os moradores relatam que, sempre que tentam coletar castanhas na área, são surpreendidos por jagunços ligados ao fazendeiro. Segundo os relatos, os episódios incluem tiros, ameaças, perseguições e intimidações constantes.
Um dos episódios mais graves ocorreu em 20 de maio de 2024, quando quatro pessoas foram baleadas durante um confronto, porém não há notícias da prisão do mandante e dos executores da violência. Mais recentemente, na última segunda-feira (13 de janeiro), pistoleiros voltaram a ameaçar as famílias que permanecem na ocupação.
O conflito reflete a situação de vulnerabilidade das comunidades extrativistas da região, que dependem da terra para subsistência, e expõe a escalada da violência em disputas fundiárias no sul do Amazonas, no contexto da região de expansão da fronteira agrícola conhecida como Amacro.