A liderança indígena Ailson dos Santos Truká está internada em estado estável no Hospital Regional de Caruaru, município do agreste de Pernambuco, depois de sofrer atentado a mão armada na manhã do último sábado, 16.
(Fonte/imagem: Cimi)
Yssô Truká, como é conhecido (na foto, ao microfone), foi atingido por três disparos e um dos projeteis se alojou na região pélvica – o indígena deverá passar por um procedimento cirúrgico para a retirada da bala. Yssô está no hospital sob proteção de escolta da Polícia Federal.
O atentado aconteceu por volta das 5 horas da manhã na frente de uma casa mantida por estudantes indígenas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que costumam passar semanas longe das aldeias por conta da atividade acadêmica. A residência fica próxima ao campus da UFPE, no bairro Nova Caruaru, região mais afastada do centro da cidade.
Com outros indígenas Truká, incluindo um de seus filhos, Yssô arrumava bagagens no veículo que os levaria de volta para a aldeia, localizada no município de Cabrobó, quando dois pistoleiros em uma moto abordaram a liderança indígena efetuando os disparos. Yssô buscou se proteger; de quatro tiros desferidos contra o indígena, três o acertaram.
As câmeras de vigilância das casas vizinhas filmaram toda a ação. Antes do ataque ao indígena, os pistoleiros passaram de moto para reconhecer Yssô. Na sequência retornaram e então fizeram os disparos. O filho da liderança indígena interveio, gritando aos homens não identificados: “Vocês mataram meu pai! Assassinos!”. Com isso, os pistoleiros acreditaram que de fato tinham conseguido executar Yssô e fugiram – abortando novos disparos, na medida em que fizeram a movimentação de voltar para conferir.
De acordo com testemunhas, não houve anúncio de assalto e nada foi subtraído de Yssô ou de qualquer outro indígena presente no local dos fatos. As autoridades policiais ainda não se pronunciaram. Yssô é uma destacada liderança do povo Truká que há décadas luta pela demarcação de terras indígenas tradicionais dispersas em ilhas do rio São Francisco.
Dena e Jorge Truká, irmão e sobrinho de Yssô, foram duas das lideranças Truká assassinadas no processo de luta pela terra, em 30 de junho de 2005. O cacique Neguinho Truká (na foto, com o cocar sobre os ombros), também irmão de Yssô, já sofreu inúmeras ameaças de morte, atentados e passou meses fora de Pernambuco - longe de sua família - como medida protetiva. Neguinho, no entanto, afirma não ter nenhuma informação dos possíveis autores do atentado deste sábado contra o irmão.
Yssô passou essa última semana em Caruaru para as aulas da Licenciatura Intercultural Indígena da UFPE, da qual o indígena é aluno. Na quinta-feira e na sexta-feira, dias 14 e 15, o Truká participou ainda do ‘2º Seminário História e Culturas dos Povos Indígenas – Educação e Relações Etnicorraciais: Pedagogias e Epistemologias Outras’, promovida também pela UFPE. Um dos pontos discutidos pelo seminário foi a violência contra os povos indígenas.
João Pereira de Oliveira, conhecido como João Bigode, 56 anos, foi morto por volta das 19 horas do último dia 15 em a frente sua casa, localizada na Comunidade de Santana, no município baiano de Antônio Gonçalves. Comunidade quilombola, do Território de Tijuaçu, que luta há anos pela regularização. Confira a Nota:
O que significa o mandamento “não matarás”?
“Deuteronômio 5;17”
A Comissão pastoral da Terra Centro Norte, Diocese de Bonfim, na Bahia, vem através desta manifestar sua tristeza e indignação pela ocorrência de mais um crime contra trabalhador rural e liderança popular.
Denunciamos o bárbaro assassinato de João Pereira de Oliveira, conhecido como João Bigode, 56 anos, casado, pai de 2 filhos e 1 filha, ocorrido às 19h do dia 15 de abril, na frente de sua casa na Comunidade de Santana, município de Antônio Gonçalves. Trata-se de uma comunidade quilombola, do Território de Tijuaçu-BA, que há anos luta pela regularização.
Segundo familiares, o crime ocorreu quando o mesmo estava jantando com sua família, chegou em sua residência um pálio branco, quando duas pessoas desceram, chamaram João e disparam 6 tiros, enquanto outras pessoas permaneceram dentro do carro, em seguida fugiram sem deixar rastros.
João Pereira de Oliveira era pessoa simples, presidente da associação, animador da comunidade, conselheiro, militante da comissão de água, e lutador dos direitos junto à comunidade. Para seus filhos, João era além de pai, companheiro e amigo, com alegria e diálogo orientava-os para o caminho do bem.
Segundo familiares e vizinhos, o mesmo já não estava tão à frente dos trabalhos da associação, havia se afastado para cuidar do pai de mais de 90 anos. Também ressaltam que João não tinha nenhum queixa ou rixa com ninguém, desconhecem se estava sofrendo ameaças.
“João Bigode” foi enterrado às 18h30 no Cemitério da sua comunidade, acompanhado por uma multidão de amigos e amigas ligados aos movimentos sociais, políticos e toda a comunidade formada basicamente por familiares.
Que o Cristo Ressuscitado abençoe e conforte a família do João Bigode!
O sangue do inocente clama da terra por justiça!!!
Exigimos das autoridades responsáveis medidas urgentes para investigação de mais este crime e punição dos culpados!
Senhor do Bonfim, 16 de abril de 2016
Comissão Pastoral da Terra, Centro Norte, Diocese de Bonfim-BA
A Comissão Pastoral da Terra de Rondônia vem através desta Nota denunciar um novo cenário de perseguição e de violência que se abate nestas últimas semanas na cidade de Cujubim contra as testemunhas dos homicídios cometidos contra dois jovens sem terra do Acampamento Nossa Terra, na Fazenda Tucumã, no município de Cujubim, em Rondônia.
Em 31 de janeiro de 2016, cinco sem terra foram impiedosamente caçados a tiros por mais de quinze capangas e perseguidos por um dia e uma noite inteira. Apenas três conseguiram escapar. Dois jovens não voltaram para casa dos seus pais: Ruan Lucas Hildebrandt, de 18 anos, e Alysson Enrique Lopes, de 23 anos. Um corpo apareceu carbonizado dentro do carro dos rapazes, nas imediações. Dois meses depois dos fatos, o corpo ainda permanece sem ser identificado. O segundo não foi encontrado e, acreditam os familiares, que sequer teria sido procurado de verdade.
Após a caçada aos sem terra, um arsenal de armas foi encontrado na fazenda. Dois pistoleiros foram presos. Após uma rápida conclusão do inquérito por parte da Policia Civil, em 11 de março de 2016, também o dono da fazenda, Paulo Iwakami, e dois PMs foram presos. O sargento da reserva Moises Ferreira De Souza e um irmão do fazendeiro ainda estariam foragidos. Outros quatro PMs foram presos mais tarde. E mais onze PMs pediram habeas corpus preventivo em Cujubim (RO), dentro do Vale do Jamari.
Agora parece ter desencadeado uma caçada às testemunhas e quatro pessoas têm sofrido graves atentados:
- Um dos três camponeses sem terra, sobrevivente do ataque, Raimundo Nonato da Silva, o “Neguim”, de 35 anos, considerado uma das principais testemunhas de acusação do crime, foi gravemente baleado na cidade de Cujubim (RO), no passado dia 04 de abril de 2016, por um suposto capanga da fazenda e corre grave risco de morte.
- Dois jornalistas da cidade: O jornalista Ivan Pereira Costa, de 52 anos, dono do site local www.vejanoticias.com.br, que havia acompanhado todo o caso, foi atingido por dois tiros no braço e na pélvis na mesma noite de 04 de abril de 2016 em frente à casa dele, na cidade de Cujubim. Também o jornalista Lucas Bueno, de 21 anos, do site de notícias local www.rondoniareal.com.br, no dia 11 de abril de 2016, também em Cujubim, teve a casa arrombada na madrugada e atiraram três vezes contra ele, conseguindo fugir sem ser atingido pelos disparos. Os dois relacionaram os atentados ao conflito.
- Uma morte atribuída à queima de arquivo: Vanderlei Soares de Arruda, 53 anos, o “Bigode Moto Taxi“, tido como capanga da Fazenda Tucumã, foi executado a tiros no dia 28 de fevereiro de 2016 em Cujubim, segundo informantes porque “teria falado além da conta”.
- Familiares têm fugido da cidade. Na última semana, familiares das vítimas também têm sido obrigados a abandonar Cujubim em meio a um clima de medo e hostilidade.
Tudo indica que estamos diante de uma operação destinada a eliminar testemunhas comprometedoras dos crimes acontecidos na Fazenda Tucumã, na Linha 114. Por este motivo acreditamos que é urgente de parte das autoridades:
- Medidas de proteção efetivas de todas as testemunhas dos crimes da Fazenda Tucumã;
- A prisão dos fugitivos e a prisão preventiva de todos os suspeitos envolvidos nos homicídios e crimes cometidos no local;
- A identificação do corpo carbonizado e localizar o jovem desaparecido;
Também precisa continuar em todo o estado de Rondônia:
- O desbarate da pistolagem e todas as milícias armadas que continuam atuando nos conflitos no campo;
- Punição da participação de policiais e de agentes penitenciários na vigilância privada de fazendas e na violência contra os sem terras. (Mais PMs tem sido denunciados atacando sem terras em 6 de abril de 2016, na localidade de União Bandeirantes, em Porto Velho).
- Identificação e prisão de todos os envolvidos nos ataques, agressões e incêndio nos dias 02, 03 e 04 de maio de 2016n do Acampamento Hugo Chávez, em Ariquemes;
- Punição dos autores e mandantes das 24 mortes no campo registradas pela CPT Rondônia entre janeiro de 2015 e março de 2016 em Vilhena, Costa Marques, Machadinho, Porto Velho, Buritis, Alto Paraíso, Monte Negro, Jaru e Cujubim, no Estado de Rondônia.
Comissão Pastoral da Terra Regional de Rondônia
Porto Velho, 15 de abril de 2016
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) tornam públicos os dados de conflitos ocorridos no campo no Brasil, no ano de 2015. Confira abaixo as informações:
- ESPAÇO PARA A IMPRENSA (releases e tabelas comparativas)
- Tabelas com os dados ano a ano
- O relatório Conflitos no Campo Brasil 2015, na íntegra.
Mais informações:
Cristiane Passos (62) 4008-6406 / 9268-6837
Elvis Marques – (62) 4008-6414 / 9413-0298
Antônio Canuto (62) 4008-6412
Edione Pessoa da Silva, 26, suspeito do assassinato da militante do MAB, Nicinha (Nilce de Souza Magalhães) fugiu da Penitenciária Estadual Edvan Mariano Rosendo (Urso Panda), em Porto Velho, na última madrugada (11/04). Era o único dos três réus apontados pelo primeiro inquérito da Polícia Civil que estava preso. Depois de três meses nem mesmo o corpo de Nicinha ainda foi encontrado.
(Fonte: MAB/Imagem: Joka Madruga)
Nilce de Souza Magalhães, mais conhecida como ‘Nicinha’, mãe de três filhas, vó de sete netos, pescadora e militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) em Rondônia, lutava em defesa da vida, do rio e da floresta, era ribeirinha da beira do rio Madeira, de onde lutava para jamais sair.
Ela “desapareceu” no dia 7 de janeiro de 2016, depois de ser vista pela última vez na barraca de lona onde mora com seu companheiro, Nei, em um acampamento com outras famílias de pescadores atingidos pela Hidrelétrica de Jirau, na localidade chamada de “Velha Mutum Paraná”, na altura do km 871 da BR 364, sentido Porto Velho-Rio Branco.
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Em Rondônia, manifestantes cobram justiça no caso de Nicinha
NOTA PÚBLICA: O campo em Rondônia, um barril de pólvora
Nicinha foi vista pela última vez por uma companheira de acampamento, quando estava cozinhando e lavando roupa em seu barraco, por volta do horário de 12 horas do dia 7 de janeiro. Algum tempo depois, a mesma vizinha sentiu um cheiro de queimado e foi até o barraco dela, a comida estava queimando, a máquina batendo e Nilce já não se encontrava no local.
Durante audiência de custódia na tarde desta segunda-feira, 11, o juiz Lincoln Pinheiro da Costa, da Justiça Federal de Ilhéus, substituiu as prisões preventivas de cacique Babau e Teity Tupinambá, decretadas na última sexta-feira, 8, por prisões domiciliares. Dessa forma, os indígenas deverão responder ao processo judicial em liberdade assistida.
(Por Renato Santana, do Cimi)
A audiência de custódia foi presidida pelo juiz Lincoln. Acompanhados pelos advogados de defesa e de um procurador do Ministério Público Federal (MPF), os irmãos Tupinambá foram ouvidos e deram a sua versão dos fatos. A decisão do juiz permite que cacique Babau e Teity Tupinambá voltem para a aldeia Serra do Padeiro, porém os Tupinambá terão de informar ao juiz toda vez que saírem dela.
Os advogados dos indígenas e o MPF argumentaram que ambos são lideranças do povo Tupinambá, sendo cacique Babau um Defensor de Direitos Humanos protegido pelo programa da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. Mesmo assim, o juiz determinou que o cacique informe previamente a ele cada reunião que for participar, entre uma série de outras condições exigidas por ele para que a liberdade de Babau e seu irmão fosse concedida.
Mesmo com tais condicionantes, a volta de cacique Babau e Teity Tupinambá para a Serra do Padeiro é comemorada pelo próprio povo e por entidades de direitos humanos que acompanham o caso. Na penitenciária de Ilhéus, onde estavam desde sexta-feira, 8, os indígenas corriam risco de morte devido à presença de indivíduos hostis aos Tupinambá e ligados aos grupos não-indígenas que disputam a posse do território tradicional com os indígenas.
Os indígenas Tupinambá foram presos, no final da manhã da última quinta-feira, 7, sob a acusação em flagrante de posse ilegal de duas armas, uma delas de uso exclusivo da polícia. Babau e Teity Tupinambá haviam ido até a aldeia Gravatá, na Terra Indígena (TI) Tupinambá de Olivença, para conferir a situação da comunidade indígena local após a execução de uma violenta reintegração de posse. A autuação em flagrante ocorreu no município de Olivença, a 10 km da aldeia Gravatá, o que dá indícios de que Babau e o irmão caíram em uma arapuca.
SAIBA MAIS: Com acusações contraditórias, PM prende cacique Babau Tupinambá e o irmão, na Bahia
Além da acusação inicial de porte ilegal de duas armas – as quais, segundo os indígenas, foram plantadas em um flagrante forjado – pesam agora sobre as lideranças Tupinambá outras quatro acusações: de lesão corporal contra um dos trabalhadores do areal; de ameaça de agressão contra trabalhadores e policiais; de resistência à prisão e, por fim, de desacato à autoridade.
Extração de areia e demarcação parada
A trama envolvendo a prisão de cacique Babau e Teity se relaciona diretamente com a demarcação da Terra Indígena Tupinambá de Olivença, cuja publicação aguarda a vontade política do governo federal desde 2012. A aldeia Gravatá, cenário do desenlace da recente criminalização e prisões, é uma das áreas exaustivamente exploradas por mineradoras da região de Ilhéus e que se encontra dentro dos limites da demarcação.
Os Tupinambá inúmeras vezes alertaram o governo brasileiro para o crime ambiental em curso, e avisaram que não tolerariam a continuidade da retirada de toneladas de areia da terra indígena. Razão essa que motivou a decisão dos indígenas pela retomada da área degradada pelas mineradoras, a aldeia Gravatá, reintegrada por decisão do juiz Lincoln na última quarta-feira, 6.
“Tivemos reuniões em Brasília onde sempre frisamos que apenas a demarcação pode colocar um fim a esses conflitos, e os Tupinambá acabam sempre criminalizados, ameaçados de morte e assassinados”, declarou Ramon Tupinambá à Victoria Tauli-Corpuz, durante a visita da relatora da ONU para direitos indígenas à terra Tupinambá de Olivença no final de março deste ano.
Nas sucessivas reintegrações de posse ocorridas contra as aldeias Tupinambá, desde 2008, se constata a ocorrência de boa parte das criminalizações contra as lideranças. As autoridades parecem enxergar em tais reintegrações oportunidades para acuar os Tupinambá. Ocasiões onde também as forças policiais buscaram garantir a entrada na terra indígena de interesses privados; seja pelo cacau, seja pelo gado, seja pela retirada de minérios.
Desta vez não foi diferente: o comando da PM celebra um acordo pela suspensão da execução da reintegração da aldeia Gravatá no mesmo dia em que despeja os Tupinambá e cumpre ordem do mesmo juiz Lincoln para escoltar os caçambeiros no fluxo de idas e vindas para a retirada de areia do interior da terra indígena. Mais uma vez, a trama acaba com a prisão de lideranças indígenas acusadas de terem cometido inúmeros crimes.
Não sem efeito, o juiz Lincoln – que determinou o despejo dos Tupinambá e a escolta aos caçambeiros – manda cacique Babau e Teity para um presídio em Ilhéus, mesmo alertado para os riscos de morte que os indígenas corriam, e agora os coloca sob liberdade assistida tendo que até mesmo dizer ao juiz o teor das reuniões ou encontros fora da aldeia Serra do Padeiro.