Evento reuniu carca de 500 lideranças indígenas e quilombolas. Durante os dias 26 e 27 de janeiro os participantes discutiram a temática “Hidrelétrica e Mineração na Amazônia: Impactos sobre os territórios indígenas e quilombolas de Oriximiná”. O encontro histórico aconteceu no município de Oriximiná, região Oeste do Pará. Encontro foi organizado pela Diocese de Óbidos, através da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e Pastoral Social, e contou com o apoio da Defensoria Pública do Pará. Confira:
(Por Ítalo Souza, CPT – Diocese de Óbidos/Imagens: Juliana Pereira)
O município de Oriximiná, localizado na região Oeste do Pará, tem sido pauta de muitas discussões relacionadas aos grandes empreendimentos do Governo Federal. Com isso, muitas denúncias têm surgido nos últimos anos, principalmente por parte das lideranças indígenas e quilombolas do município, que representam 19 aldeias de 13 etnias e 36 comunidades remanescentes de quilombos.
Essas lideranças contam com apoio de algumas instituições, dentre elas, o Ministério Público Estadual (MPE), Ministério Público Federal (MPF) e a Igreja Católica através das ações da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e Pastoral Social.
Oriximiná tem cerca de 70 mil habitantes e é conhecido mundialmente por suas riquezas naturais e há mais de 30 anos tem um Projeto de Extração de Bauxita implementado pela Mineração Rio do Norte (MRN), a qual já causou, segundo as lideranças, muitos danos ambientais, sociais e culturais – o que causa indignação das populações tradicionais. Um dos exemplos é a contaminação do “Lago do Batata”, localizado na margem direita do Rio Trombetas, próximo ao empreendimento, onde a mineradora despejou por vários anos o rejeito da Bauxita, e até hoje a empresa não foi responsabilizada e não houve nenhuma compensação pelo dano.
Em suas declarações, os quilombolas afirmam que sofrem repressão desde o período do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), depois Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e atualmente com o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Estes órgãos sempre faltaram com respeito aos quilombolas e com os indígenas também. Segundo as comunidades, esses órgãos apreendem seus materiais utilizados para a caça, pesca e até mesmo alimentos.
Para agravar a situação, o governo criou em 2006 duas unidades de conservação florestal sobrepostas aos territórios quilombolas, isso tem dificultado ainda mais o diálogo entre o governo e a comunidade, pois o ICMBio diz que as comunidades estão dentro das unidades de conservação, por outro lado, os quilombolas se defendem com o argumento de que já moravam há muitos anos no local, com isso se distancia o desejo maior dos quilombolas de terem suas terras tituladas. A não titulação implica na falta de acesso a políticas públicas, como saúde e educação, prejudicando mais de dez mil pessoas das comunidades quilombolas.
O sofrimento do povo está expresso até mesmo em suas canções que retratam o histórico cinzento de um relacionamento nada amigável com a mineradora desde o período de sua implantação, nos anos 70, até os dias atuais. Mesmo diante de tanto sofrimento ainda preservam grande parte de sua cultura através da música, dança, artesanato e outros.
Nesse território, segundo a Promotora de Justiça do MPE-PA, Ione Nakamura, existem os povos quilombolas e indígenas que estão requerendo a posse de suas terras. E hoje se apresenta uma situação não tão nova, que é a construção da hidrelétrica de Cachoeira Porteira, projeto este pensado desde a ditadura militar e que nos anos 80 foi barrado pelo movimento organizado. A promotora diz ainda que existem 34 projetos energéticos para a região e que quando o governo pensa nesses projetos, ele nem sabe se tem pessoas morando nessas áreas. Esse tipo de projeto não visualiza os povos existentes, apenas a questão financeira. Na região, o rio seis meses está cheio e seis meses está seco. Construindo a barragem, o que será que vai acontecer? Diante disso, alguns problemas virão, como prostituição, falta de políticas públicas e diversos outros. Para evitar isso, ela recomenda o fortalecimento da organizacional dos povos com estratégias e articulação para lutar pelos direitos de titulação dos territórios.
Em meio as discussões, a Diocese de Óbidos, através da CPT e Pastoral Social em parceria com a Defensoria Pública do estado do Pará, realizou, nos dias 26 e 27 de janeiro, um encontro histórico na sede do município que reuniu carca de 500 lideranças indígenas e quilombolas, além de várias autoridades, dentre elas, Dom Bernardo, bispo da Diocese de Óbidos e presidente Regional da CNBB. Estavam presentes também representantes do MPE, MPF, ICMBIO, CIMI e outros. O evento discutiu a temática “Hidrelétrica e Mineração na Amazônia: Impactos sobre os territórios indígenas e quilombolas de Oriximiná”.
Durante o encontro foram apresentadas várias denúncias, dentre elas, a não realização da consulta prévia por parte da mineradora MRN, conforme o acordo para a realização do Estudo Técnico no processo de abertura de novas áreas de exploração de minério; foi denunciada ainda a falta de legitimidade de um Grupo de Trabalho criado pela mineradora com representantes de associações que não representam de fato a comunidade, pois segundo grande parte dos comunitários eles não participam das decisões e não se sentem representados; na área da saúde foi denunciado mais uma vez o caso da situação caótica da Casa de Saúde Indígena (Casai), de responsabilidade da Secretaria Estadual de Saúde Indígena (Sesai), onde a infraestrutura não atende as necessidades da demanda e boa parte dos indígenas moram debaixo de coberturas de lona onde os ratos dividem o mesmo espaço com os indígenas. Segundo os caciques que se manifestaram, o problema já dura há anos e não dá mais para esperar.
O prefeito do município, Luiz Gonzaga, afirmou que o recurso recebido para a saúde indígena é pouco e que a infraestrutura depende também da Secretaria Estadual de Saúde Indígena; outra denúncia foi sobre o alcolismo nas aldeias o que tem preocupado as lideranças.
O padre Patrício Brenan, do Conselho indigenista Missionário (Cimi), diz que a distribuição de cestas básicas nas aldeias como práticas assistencialistas tem contribuído no processo da perda da cultura da população indígena, que antes se alimentava basicamente dos produtos das florestas e que não tinham doenças, ao contrário do que ocorre quando avança o consumo de produtos industrializados.
Um momento marcante no encontro de Oriximiná foi a troca de experiências com os representantes dos indígenas do povo Munduruku, da região do Tapajós, e do povo Kuruaya, de Altamira, quando os líderes Rozeninho Munduruku e Claudio Kuruaya falaram sobre os grandes problemas que enfrentam em sua regiões em decorrência dos projetos da Hidrelétrica de Belo Monte e São Luiz do Tapajós. Conforme Claudio Kuruaya, em sua região está acontecendo brigas internas entre as lideranças e todos estão impactados por causa do empreendimento. Os impactos negativos já estão sendo sentidos pelos índios, como o aumento da violência, prostituição e muitas outras coisas ruins. Com a manifestação favorável de uma etnia ao empreendimento, as outras se dividiram, com isso o movimento enfraqueceu. A liderança pediu ao povo de Oriximiná que se una para não sofrer como tem sofrido o povo de Altamira.
Outro aspecto marcante no evento foi a comunicação dos indígenas nas línguas do povo Wai Wai e Kaxuyana, além da língua portuguesa. Foi uma experiência que nunca havia acontecido e que deixou os participantes satisfeitos com a dinâmica.
As lideranças pretendem continuar com as denúncias e avaliaram como muito positivo o encontro de Oriximiná, pois serviu como motivação para as comunidades que estavam em dúvida devido à falta de esclarecimentos. A articulação entre indígenas e quilombolas em Oriximiná tem fortalecido a luta em prol da defesa de seus territórios, o que já levou a firmarem acordos perante o MPF para que não haja discórdia entre os povos.
Para que o evento não fique só na memória, foi autorizada a divulgação do conteúdo do evento, para isso a organização registrou integralmente através de um relatório detalhado para as autoridades, para as comunidades, universidades, imprensa e a quem mais demonstrar interesse, além do material audiovisual. A intensão dos organizadores é continuar o debate e fortalecer o movimento mantendo o diálogo coma alguns órgãos estratégicos que favoreçam a luta pela titulação das Terras Indígenas e Territórios Quilombolas, assim como a busca de parceria com outros movimentos na luta pelos direitos e em defesa da vida. Já as denúncias estão sendo encaminhadas ao Ministério Público Federal (MPF).
Luiz Antônio Bonfim era presidente do PCdoB e militante pela reforma agrária. Motoqueiros abordaram a vítima, que estava a caminho de padaria, e a matou. Luiz acompanhava uma ocupação de terra na região do 'Tabocão', em Brejo Grande do Araguaia.
(Com informações do G1 Pará/Imagem: Reprodução/Portal Vermelho)
Mais uma liderança pelos direitos à terra foi assassinada no Pará. Luiz Antônio Bonfim, de 45 anos, era presidente do PCdoB e também estava à frente de uma ocupação de sem terra na comunidade de Brejo Grande do Araguaia. Ele foi assassinado na sexta-feira (12), em São Domingos do Araguaia, sudeste do estado.
Luiz defendia a desapropriação de áreas para reforma agrária na região. Ele foi morto a tiros na cabeça enquanto comprava pão em um estabelecimento da cidade. Mas a polícia, por enquanto, afirma que não há evidências de crime ligado à questão agrária.
Segundo as investigações, dois motoqueiros chegaram ao local e dispararam vários tiros contra Luiz. Os motoqueiros fugiram logo depois do crime. O caso foi registrado na Delegacia de São Domingos do Araguaia. Em nota, a liderança do partido no Pará cobrou uma apuração rigorosa e a prisão dos criminosos.
No Facebook, Paulo Fonteles Filho, Membro da Comissão Estadual da Verdade do Pará e dirigente do PCdoB no Pará escreveu:
Hoje [12/02], às seis da manhã, a pistolagem executou o protético Luiz Antônio Bonfim, presidente do Partido Comunista do Brasil em São Domingos do Araguaia, sudeste do Pará e região onde ocorreu a guerrilha do Araguaia, entre 1972/1975.
O ódio dos assassinos se revela na medida em que todos os seis tiros do tambor na arma acertaram a cabeça do dirigente comunista, morto quando ia comprar pão.
Na atualidade Luiz Antônio liderava uma ocupação na região do 'Tabocão', em Brejo Grande do Araguaia (PA).
Até quando os crimes de encomenda darão o tom na vida política dos paraenses?
Justiça!
Leia na íntegra a Nota de Repúdio do PCdoB-PA:
O Partido Comunista do Brasil - Pará vem a público repudiar o crime violento que ceifou, no dia 12 de fevereiro de 2016, a vida do Presidente do PCdoB de São Domingos do Araguaia Luiz Antônio Bonfim.
O camarada Luiz Bonfim foi mais uma das inúmeras vítimas da violência que há muito campeia nosso Estado, colocando em descrédito a política de segurança pública do Estado.
Exigimos ao Governo do Estado do Pará para que envide, por meio da Secretaria Estadual de Segurança Pública, todos os esforços necessários à apuração dos fatos que resultaram na morte de Luiz Bonfim, visando à prisão dos respectivos criminosos.
Por fim, expressamos profundos sentimentos de pesar e nos solidarizamos com a família enlutada.
Secretariado do Comitê Estadual do PCdoB – Pará.
Em Nota, a Comissão Pastoral da Terra em Rondônia (CPT-RO) manifesta grande preocupação diante do aumento da violência no campo no estado. Em 2015 foram 21 pessoas assassinadas em Rondônia. O mais grave, porém, é que essa intensa onda de violência continua. Apenas no primeiro mês de 2016 outras quatro pessoas já foram mortas. Confira o documento:
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Rondônia vem manifestar sua grande preocupação diante do aumento da violência em conflitos por terra no estado. Os sem terra, ao buscarem o sagrado direito a terra, sofrem despejos, agressões, ameaças, roubos, culminando com o assassinato.
No ano de 2015, Rondônia despontou no cenário nacional como o estado com o maior número de mortes em conflitos no campo no país. Foram 21 trabalhadores assassinados, muitos com características de execução. É o número mais elevado de assassinatos de camponeses e sem terra já registrado no estado desde 1985, quando a CPT começou a divulgar os registros destes fatos.
O mais grave, porém, é que essa onda de violência continua. Só nos primeiros dias deste ano, outras quatro pessoas foram assassinadas.
- A militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Nilce de Souza Magalhães, conhecida como Nicinha, foi assassinada com três tiros, num acampamento de pescadores atingidos pela Hidrelétrica de Jirau, na localidade chamada de “Velha Mutum Paraná”, no dia 7 de janeiro. Seu corpo, até o momento, não foi encontrado.
- Enilson Ribeiro dos Santos e Valdiro Chagas de Moura, lideranças do acampamento Paulo Justino, foram assassinados no município de Jaru, no dia 23 de janeiro. Eles foram perseguidos e mortos por um motoqueiro.
- Em Cujubim, cinco jovens sem terra foram atacados por pistoleiros no final de janeiro. Dias antes, eles e outros acampados haviam sido despejados da Fazenda Tucumã. Após o despejo, os jovens retornaram a área para buscar alguns objetos que haviam ficado no local. Mas eles foram surpreendidos pelos pistoleiros. Três conseguiram fugir. Dois estão desparecidos e um corpo foi encontrado no carro dos jovens, que os acampados acreditam ser de um dos desaparecidos.
A recente violência é a filha adulta do latifúndio, amasiado com a pistolagem patrocinada e a repressão estatal, acobertada pela impunidade dos pretensos proprietários de terras, especuladores imobiliários e grileiros.
Esta violência está espalhada por todas as regiões do estado, mas os maiores conflitos estão nos municípios de Monte Negro, Ariquemes, Cujubim, Buritis, Alto do Paraíso, a maioria no Vale do Jamari (15 mortes em 2015 e 2 em 2016).
A situação agrária de Rondônia pode-se dizer que é um autêntico barril de pólvora prestes a estourar a qualquer momento, já que os fazendeiros estão se organizando em associações de produtores rurais para defenderem seus interesses, muitos com áreas em terras públicas da União. Por outro lado há centenas de famílias acampadas em terras da União, jogadas à beira de estradas, decididas a conquistar um pedaço de terra, incentivadas pelo chicote da pobreza. Esperam por reforma agrária que está engessada há anos.
O mais preocupante é o fato de que toda esta violência está sendo debitada por autoridades policiais e outras autoridades públicas e por veículos da imprensa na conta dos movimentos dos trabalhadores do campo. O comandante geral da polícia militar, Ênedy Dias, que foi ao Vale do Jamari, ontem, dia 9, “para coordenar ações para diminuir a violência”, afirmou à imprensa: “Estamos mandando um recado: não vamos descansar enquanto não prendermos todos esses criminosos, que considero, na verdade, terroristas. Esses ditos sem-terras agem como terroristas. Vamos colocá-los no devido lugar. Por isso, vim aqui até hoje para definir as novas estratégias de combate a esses criminosos”.
O comandante e a imprensa se esquecem, porém, da prisão, no dia 3, de pistoleiros fortemente armados, inclusive com armas de uso restrito das forças armadas que atacaram um carro da polícia que investigava o desaparecimento de jovens sem terra (citados acima), no mesmo Vale do Jamari. Fazia parte do grupo de pistoleiros um sargento da polícia que conseguiu fugir. O comandante também não se refere, como registrou o portal Diário da Amazônia, no dia 6 de fevereiro, que “durante o ano de 2015, em uma operação especial da Polícia Militar na região de Buritis, armamentos pesados, como fuzis AR-15, estavam em poder de homens que, ao serem presos, argumentaram que o material era utilizado para proteção pessoal e de familiares de um fazendeiro da região”.
A Comissão Pastoral da Terra pede socorro. São imprescindíveis providências imediatas que freiem de uma vez o caos que vem se instalando nas áreas rurais de Rondônia, com execuções sumárias de trabalhadores. Exige-se também investigação imparcial dos assassinatos com punição exemplar de seus autores.
Se nenhuma medida séria e eficaz for tomada pelas autoridades competentes, a situação poderá ser calamitosa, beirando a catástrofe social.
Nosso país necessita de Justiça social à altura dos problemas que sua falta acarreta, que garanta a dignidade da pessoa humana e os seus direitos fundamentais, como o direito à terra, à vida e à sua manutenção.
A Reforma Agrária é urgente e necessária para que se rompam as fronteiras da intolerância e se ofereça dignidade para todos.
Porto Velho, 10 de fevereiro de 2016.
A Comissão Pastoral da Terra Rondônia (CPT-RO)
Marcus Vinicius de Oliveira, docente aposentado da Universidade Federal da Bahia (UFBA), mais conhecido como Marcus Matraga, foi alvo de emboscada na noite da última quinta-feira (4), no município de Jaguaripe, região do Recôncavo baiano. Professor atuava na luta antimanicomial e na mediação de conflitos de terras na região.
(Com informações do Jornal Brasil de Fato/Imagem: Reprodução-Correio 24 Hrs)
De acordo com informações da Polícia Militar, ele foi levado de casa por volta das 19 horas por dois homens que se diziam ser parentes de uma amiga sua, que estava passando mal. Ao sair de casa, Marcus foi rendido e levado de carro até uma estrada de terra da região. Lá, ele foi executado. Os criminosos fugiram em seguida.
Militante da luta antimanicomial e da democratização da psicologia no país, o professor tinha um histórico de lutas no setor da saúde. Diversas entidades lamentaram a sua morte nas redes sociais. O Conselho Regional de Psicologia da Bahia (CRP-BA) soltou nota dizendo que o professor mostrou “a necessidade de não se calar diante das injustiças e de lutar para a construção de uma sociedade mais justa”.
Já o Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP-SP) reforçou que o professor “foi uma grande liderança na construção de uma profissão comprometida com a Justiça e a igualdade e da sua democratização. Inquieto, nos instigou a problematizar a ciência e a profissão, apontando para sua necessária descolonização”.
Suspeita
Marcus Vinicius vinha atuando na mediação de conflitos fundiários entre a comunidade local e fazendeiros. Sua morte tem sido associada a tais atividades. “Ao que parece, [foi vítima] em função de sua atividade política na mediação de conflitos de terra, em circunstâncias a ser apuradas pelas autoridades competentes”, afirma o site da UFBA em sua nota de pesar.
Confira a Nota da UFBA na íntegra:
A Universidade Federal da Bahia recebeu, consternada, a notícia do falecimento, em circunstâncias trágicas, há poucas horas, do professor aposentado do Instituto de Psicologia Marcus Vinicius de Oliveira. O professor era, nas palavras da diretora do IPSUFBA, Ilka Bichara, “um grande combatente das causas sociais, principalmente na luta antimanicomial”. Em nota o Conselho Federal de Psicologia destacou a sua participação na consolidação da Psicologia no Brasil, tendo integrado diversas gestões do CFP e dos conselhos regionais de Minas Gerais e Bahia.
Marcos Vinícius foi vítima de homicídio, no município de Salinas das Margaridas, onde morava, ao que parece, em função de sua atividade política na mediação de conflitos de terra, em circunstâncias a ser apuradas pelas autoridades competentes. Assim que o corpo for liberado, seguirá para Belo Horizonte onde ocorrerá o sepultamento.
Na semana passada um grupo de sem terra sofreu uma ação de reintegração de posse da fazenda Tucumã, conhecida como fazenda do Japonês, localizada na Linha 114, no município de Cujubim, distante cerca de 159 quilômetros de Porto velho, Rondônia.
Já neste último domingo (31), cinco jovens sem terra desse grupo retornaram ao local da ocupação com objetivo de buscar alguns objetos que haviam ficado na área após o despejo. Quando chegavam ao local, eles foram atacados por jagunços que estavam em um veículo. Esses pistoleiros seriam da fazenda em questão. Contudo, os jovens precisaram fugir e se esconderem em uma mata.
Depois, ao voltarem para o local onde haviam abandonado o carro em que estavam, os camponeses foram atacados novamente pelos jagunços, que dessa vez já contavam com reforço de mais outro carro. Três jovens conseguiram fugir do local.
No início da tarde de segunda-feira (1º), segundo o portal de notícias Alerta Rondônia, uma ligação anônima informou a Polícia Militar da região sobre um veículo Santana, de cor cinza, queimado na Linha 114, zona rural de Cujubim. Ao chegar no local, foi constatado que havia um corpo carbonizado no banco traseiro do carro.
A Polícia Civil e a Perícia também foram acionadas e estiveram no local do crime. O site Alerta Rondônia, em reportagem divulgada no dia 1º de fevereiro, levanta a hipótese – com base em relatos de outros acampados – de que o corpo encontrado no veículo pode ser de um dos jovens sem terra, Allysson Henrique Lopes, conhecido como Bá. Todavia, o corpo ainda não foi identificado pelo órgão responsável. Outro jovem sem terra que continua desaparecido é Ruan Hildebran Aguiar, de 18 anos.
A polícia realizou buscas pelos desaparecidos nesta terça e quarta-feira, mas os camponeses ainda não foram localizados.
Já na quarta-feira, 3, durante a patrulha, a equipe policial encontrou com um grupo de homens em uma caminhonete. Eles estavam fortemente armados e, de acordo com o portal G1 Rondônia, houve troca de tiros entre polícia e o grupo. Após isso, os três homens foram detidos e várias armas apreendidas, inclusive uma metralhadora 9 mm, de uso restrito das Forças Armadas.
Em Nota, a coordenação do Acampamento Boa Esperança, no Pará, relata as violências policiais sofridas por trabalhadores sem terra que estavam acampados às margens de fazenda, na região de Parauapebas. Com a ação violenta por parte da polícia, várias pessoas ficaram feridas, sete acampados estão presos, e três pessoas estão desaparecidas. Confira o documento:
No dia 03 de fevereiro, quarta-feira, um comando de operações policiais, composto por homens da PM, GTO e Polícia Rodoviária, sem mandato judicial, realizou ato de extrema violência contra trabalhadores rurais sem terra, acampados as margens da Fazenda Santa Clara, localizada entre a região conhecida como Santa Cruz que faz divisa com o Garimpo das Pedras.
A ação truculenta das forças policiais se deu quando trabalhadores da região da APA, ligados a associação APPGA, do assentamento Paulo Fonteles e integrantes do acampamento de trabalhadores sem terras, protestavam contra a Companhia Vale denunciando os problemas ambientais causadas pela companhia no Rio Gelado, principal Rio da região e que sofre com as consequências de ter em sua cabeceira uma das maiores barragens de rejeito do País.
Ainda pelas 10 horas da manhã, quando o movimento já se desarticulava, trabalhadores rurais resolveram fazer uma marcha no entorno da sede da fazenda, na verdade área grilada do patrimônio público sob domínio do Instituto de Terras do Pará (ITERPA), por um pretenso proprietário de prenome Damião Macedo, elemento que é tido na região como truculento e de ter se apossado de terras de pequenos agricultores, de dano ao meio ambiente, destruição de floresta, prática de trabalho escravo, e utilização de mão de obra infantil em serrarias clandestinas, além de outros crimes denunciados por trabalhadores das comunidades vizinhas.
Logo ao chegarem às proximidades da fazenda, os trabalhadores foram recebidos a bala, bombas de gás, que atingiram crianças, mulheres e idosos. Até o momento três pessoas estão consideradas desaparecidas. Mas de 120 pessoas foram transportados em caminhões escoltados pelas viaturas da polícia até a Delegacia de Parauapebas.
Sete integrantes do acampamento estão presos, sendo um deles uma mulher. Dezesseis pessoas já registram queixas e fizeram exame de corpo delito. Durante o processo violento de despejo dos trabalhadores, 35 pessoas foram feridas ou sofreram escoriações pelo corpo, incluindo 10 crianças, mulheres e idosos que tiveram que ser tratados as pressas, visto a gravidade da saúde dos mesmos.
Os movimentos sociais da região, entidades civis e a sociedade de Parauapebas, vêm a público pedir imediata intervenção da Ouvidoria Agrária Nacional, do INCRA, do ITERPA, assim como dos organismos de Direitos Humanos para que esse tipo de ataque aos direitos à cidadania, não transforme – pela aliança explícita entre capital mineral, latifúndio e estado – a luta pela Reforma Agrária num anuncio de um novo Massacre de Eldorado dos Carajás, que este ano completa o infame aniversário de 20 anos de impunidade.
- Pela libertação dos sete presos na operação policial;
- Prisão para agressores dos trabalhadores;
- Desapropriação imediata da Fazenda Santa Clara
Parauapebas, 04 de fevereiro de 2016
Coordenação do Acampamento Boa Esperança