COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) estão desde a manhã de terça-feira, 2, no tekoha Kurusu Ambá, onde indígenas Guarani e Kaiowá sofreram um ataque violento no último domingo, 31 de janeiro. Eles confirmam as informações de que um acampamento inteiro foi incendiado por pistoleiros, e temem a explosão de um conflito grave no local.

 

(Fonte/Imagem: Cimi)

“Nós estamos vendo agora. Ainda tem casas sendo queimadas. Todas as casas que estavam na fazenda Bom Retiro foram queimadas”, relata o coordenador regional da Funai de Ponta Porã, Elder Ribas. Ele explica que os fazendeiros tomaram posse parcial da fazenda, embora os indígenas não tenham deixado o local. Não há previsão da chegada da polícia no local.

“Um grupo de indígenas ouviu os pistoleiros dizerem que iria aguardar a Funai sair do local pra atacar a [fazenda] Barra Bonita também”, explica o servidor da Funai Jorge Pereira. “Por isso nós permanecemos [na área de conflito], aguardando que a PF ou a Força Nacional venham para a área”.

“Nós chegamos e vimos as casas sendo queimadas, pessoas correndo, gritando. A gente tá ligando desesperadamente para as autoridades. A gente tem medo de sair daqui e a coisa piorar. Eles vão atacar”, conta Jorge. “Os indígenas nos mostraram as cápsulas de balas. A gente vê o movimento de caminhonetes, cavalos”.

Ataque

Os indígenas foram atacados no dia 31 de janeiro, após a tentativa de retomada da fazenda Madama. Em represália, pistoleiros atacaram os três acampamentos que compõem Kurusu Ambá. Por volta das 10 horas da manhã do domingo, um grupo de homens armados e não identificados em ao menos três caminhonetes atacaram a tiros a nova área retomada pelos indígenas, na fazenda Madama, expulsando os Kaiowá do local.

Pouco depois, o grupo de caminhonetes se aproximou do segundo acampamento de Kurusu Ambá, onde incide a fazenda Barra Bonita, local do ataque de hoje, e incendiaram todos os barracos dos indígenas. Os indígenas procuraram abrigo no terceiro acampamento do tekoha, que foi atacado na sequência pelo grupo armado na caminhonete.

Em nota, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) denuncia a ausência das forças policiais na contenção do conflito. “É inadmissível o descaso das forças de segurança, que até o momento sequer estiveram no local para garantir a mínima integridade dos indígenas e impedir que novos ataques ocorram”, diz a entidade, acusando a polícia de fazer um “jogo de empurra-empurra entre Polícia Militar, Polícia Federal, Departamento de Operações da Fronteira (DOF) e Força Nacional”.

"Enquanto novos crimes e atentados premeditados podem estar prestes a ocorrer, as forças policiais, o Ministério da Justiça e o governo do estado do Mato Grosso do Sul assistem a tudo calados, garantindo assim aos jagunços porteira aberta para a possibilidade de novos assassinatos”, conclui a nota.

Demarcação

Há quase uma década, o tekoha Kurusu Ambá está em processo de identificação e delimitação. Com os prazos estourados, o relatório de identificação sobre a área deveria ter sido publicado pela Funai em 2010, segundo Termo de Ajustamento de Conduta estabelecido pelo Ministério Público Federal em 2008. No entanto, o relatório foi entregue pelo grupo técnico somente em dezembro de 2012, e ainda aguarda aprovação da Funai de Brasília.

Em junho de 2015, os indígenas haviam tentado ocupar a mesma fazenda, sendo violentamente expulsos pelos fazendeiros. O saldo do ataque foi de duas crianças desaparecidas, casas incendiadas e dezenas de feridos. Em 2007, ano em que os Kaiowá iniciaram a retomada de Kurusu Ambá, duas lideranças foram assassinadas - uma delas, na mesma fazenda Madama. Entre 2009 e 2015, mais dois indígenas foram mortos em Kurusu, no contexto da luta pela terra.

 

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