Em Nota, a coordenação do Acampamento Boa Esperança, no Pará, relata as violências policiais sofridas por trabalhadores sem terra que estavam acampados às margens de fazenda, na região de Parauapebas. Com a ação violenta por parte da polícia, várias pessoas ficaram feridas, sete acampados estão presos, e três pessoas estão desaparecidas. Confira o documento:
No dia 03 de fevereiro, quarta-feira, um comando de operações policiais, composto por homens da PM, GTO e Polícia Rodoviária, sem mandato judicial, realizou ato de extrema violência contra trabalhadores rurais sem terra, acampados as margens da Fazenda Santa Clara, localizada entre a região conhecida como Santa Cruz que faz divisa com o Garimpo das Pedras.
A ação truculenta das forças policiais se deu quando trabalhadores da região da APA, ligados a associação APPGA, do assentamento Paulo Fonteles e integrantes do acampamento de trabalhadores sem terras, protestavam contra a Companhia Vale denunciando os problemas ambientais causadas pela companhia no Rio Gelado, principal Rio da região e que sofre com as consequências de ter em sua cabeceira uma das maiores barragens de rejeito do País.
Ainda pelas 10 horas da manhã, quando o movimento já se desarticulava, trabalhadores rurais resolveram fazer uma marcha no entorno da sede da fazenda, na verdade área grilada do patrimônio público sob domínio do Instituto de Terras do Pará (ITERPA), por um pretenso proprietário de prenome Damião Macedo, elemento que é tido na região como truculento e de ter se apossado de terras de pequenos agricultores, de dano ao meio ambiente, destruição de floresta, prática de trabalho escravo, e utilização de mão de obra infantil em serrarias clandestinas, além de outros crimes denunciados por trabalhadores das comunidades vizinhas.
Logo ao chegarem às proximidades da fazenda, os trabalhadores foram recebidos a bala, bombas de gás, que atingiram crianças, mulheres e idosos. Até o momento três pessoas estão consideradas desaparecidas. Mas de 120 pessoas foram transportados em caminhões escoltados pelas viaturas da polícia até a Delegacia de Parauapebas.
Sete integrantes do acampamento estão presos, sendo um deles uma mulher. Dezesseis pessoas já registram queixas e fizeram exame de corpo delito. Durante o processo violento de despejo dos trabalhadores, 35 pessoas foram feridas ou sofreram escoriações pelo corpo, incluindo 10 crianças, mulheres e idosos que tiveram que ser tratados as pressas, visto a gravidade da saúde dos mesmos.
Os movimentos sociais da região, entidades civis e a sociedade de Parauapebas, vêm a público pedir imediata intervenção da Ouvidoria Agrária Nacional, do INCRA, do ITERPA, assim como dos organismos de Direitos Humanos para que esse tipo de ataque aos direitos à cidadania, não transforme – pela aliança explícita entre capital mineral, latifúndio e estado – a luta pela Reforma Agrária num anuncio de um novo Massacre de Eldorado dos Carajás, que este ano completa o infame aniversário de 20 anos de impunidade.
- Pela libertação dos sete presos na operação policial;
- Prisão para agressores dos trabalhadores;
- Desapropriação imediata da Fazenda Santa Clara
Parauapebas, 04 de fevereiro de 2016
Coordenação do Acampamento Boa Esperança