Fonte: Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida | Por Roberta Quintino
Foto: Roberta Quintino
Na segunda-feira (29), representantes de movimentos populares, organizações e de comunidades tradicionais participaram de reunião no Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima para denunciar as violações por agrotóxicos no Cerrado e solicitar providências diante da contaminação dos territórios e intoxicação das populações.
Na ocasião, pela secretaria-executiva da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, Mariana Pontes, informou que uma pesquisa realizada, entre 2021 e 2023, de análise de contaminação das águas por agrotóxicos em sete comunidades tradicionais, nos estados da Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Piauí e Tocantins, identificou “graves evidências de contaminação nas águas dos territórios”.
A pesquisa revelou 13 Ingredientes Ativos (IAs), todos com uso autorizado na soja. Cerca de 50% dos agrotóxicos encontrados nas águas dos povos e comunidades tradicionais estão banidos na União Europeia, devido ao alto impacto na saúde e no ambiente. As análises sobre os riscos provocados por esses agentes apontam para doenças irreversíveis, como câncer, males decorrentes de desregulação endócrina, como diabetes e infartos, e para a extinção de espécies fundamentais para a manutenção dos ciclos socioecológicos, como é o caso das abelhas e insetos responsáveis pela polinização das plantas, sejam elas nativas ou cultivadas.
A representante da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e da coordenação executiva da Campanha do Cerrado, Valéria Santos, disse que as comunidades já estão cansadas de fazer denúncias das violações por agrotóxicos. “Se a gente empilhar os boletins de ocorrências com as denúncias a gente constrói um prédio”.
Para ela, é fundamental que o Ministério implemente um canal específico para denúncias sobre contaminação por uso e pulverização dos agrotóxicos e outras violações, construindo e divulgando massivamente um protocolo público para a realização das referidas denúncias. “O que o agronegócio tem feito é a expulsão das populações de seus territórios, e se ainda existe cerrado é porque existem as comunidades tradicionais que resistem”, enfatizou.
Diretora do Departamento de Políticas de Gestão Ambiental Rural do MMA, Fádia Rebouças, recebe denúncias de contaminação e intoxicação por agrotóxicos. Foto: Roberta Quintino
Da comunidade de Santa Helena, em Goiás, o agricultor e integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Wilmar Lacerda, ressaltou que devido ao uso indiscriminado de venenos na região, a produção de alimentos agroecológicos tem sido inviabilizada pela exposição indireta de agrotóxicos.
“A nossa água está contaminada, a gente não consegue avançar na produção de alimentos agroecológicos e orgânicos. Já perdemos plantações inteiras por conta da pulverização aérea, nossos animais já estão nascendo doentes, o câncer está se alastrando na população. O agrotóxico mata e ninguém está vendo”, denunciou o agricultor.
Para Juliana Acosta, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, “nós vivemos uma contradição muito grande”. Ela apontou que muitos dos ingredientes ativos liberados no Brasil são banidos em outros países, além disso, o limite de resíduos de agrotóxicos pode chegar a 5 mil vezes mais do que na União Europeia, por exemplo.
Diante do avanço do agronegócio e do uso avassalador de agrotóxicos, a Campanha do Cerrado protocolou um ofício com uma série de recomendações, dentre elas, o oficiamento às Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde dos Estados da Bahia (município Formosa do Rio Preto), Goiás (município Santa Helena de Goiás), Mato Grosso (município Nossa Senhora do Livramento), Mato Grosso do Sul (município Sidrolândia), Maranhão (município Parnarama), Piauí (município Santa Filomena) e Tocantins (município Campos Lindos), para que seja realizada uma força tarefa de atendimento médico aos integrantes das comunidades, de modo a investigar e identificar intoxicações por agrotóxicos.
Ainda articular a revisão dos parâmetros de presença de resíduos de agrotóxicos na água, no procedimento de avaliação e controle da potabilidade da água para consumo, de modo a ampliar o rol de agrotóxicos analisados na avaliação de potabilidade, adotar os limites máximos definidos na Comunidade Europeia para agrotóxicos em água, conforme recomenda o Parecer Técnico do GT de Agrotóxicos da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz, e garantir que as fontes alternativas de águas, sobretudo as fontes comunitárias, sejam também avaliadas, bem como, articular a proibição da pulverização aérea de agrotóxicos em todo o território nacional.
A diretora substituta do Departamento de Políticas de Gestão Ambiental Rural do MMA, Fádia Rebouças, recebeu o ofício e se colocou à disposição para levar as informações para a ministra Marina Silva.
Por CPT Nacional, com informações da CPT/RS
Nos dias 20 e 21 de maio, mais de quarenta mulheres diocesanas se reuniram para participar do Encontro Estadual do Coletivo de Mulheres da Comissão Pastoral da Terra do Rio Grande do Sul (CPT/RS). O Encontro foi realizado na Escola Alternativa da Juventude Rural - Escajur, em Passo Fundo/RS, e teve como tema central o “Autocuidado e a Organização do Coletivo de Mulheres da CPT”.
Por meio de místicas e rodas de conversa, o evento promoveu reflexões importantes a respeito da memória e do fortalecimento da luta de mulheres que são mártires por sua trajetória na defesa de direitos, como Roseli Nunes, Irmã Dorothy, Marielle Franco e Margarida Alves.
O Encontro contou, ainda, com o momento de estudo bíblico "Mulheres na Bíblia", com reflexões sobre violências e resistências. Além disso, elas também se aprofundaram no debate sobre a atuação feminina no trabalho, na política e em suas lutas históricas e cotidianas.
Por Campanha Nacional em Defesa do Cerrado
Iniciativa da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), a publicação conta com a parceria da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e será disponibilizada em formato digital no dia 30 de maio de 2023
O Brasil não é mais o país do futebol, como convencionou-se dizer. Em realidade, o nosso país pode ser considerado o campeão dos agrotóxicos, do veneno e da morte da sociobiodiversidade. Essa mudança aconteceu não somente pelos recentes fracassos da seleção brasileira nas últimas copas do mundo, mas por fatores como a liberação do estrondoso número de mais de 1.800 agrotóxicos nos últimos quatro anos (entre 2019 e 2022). E não para por aí.
Cerca de metade dos agroquímicos aprovados no Brasil não são autorizados para uso na Europa por oferecerem riscos à saúde humana e ao meio ambiente. Hoje esses produtos, comumente combinados com a utilização de sementes transgênicas, são utilizados ostensivamente nas lavouras do país, via pulverização terrestre e aérea, impactando não somente o ar, as plantações, as águas, a terra e a biodiversidade, mas povos indígenas, camponeses, quilombolas e comunidades tradicionais.
Todos esses povos - que resistem em seus territórios há séculos - lutam para sobreviver em uma verdadeira guerra química promovida pelo agronegócio e pelos grandes latifúndios de monoculturas de produção de commodities para exportação. No Cerrado este cenário é ainda mais violento: mais de 70% dos agrotóxicos utilizados no país são consumidos na região, de acordo com o estudo “Ecocídio nos Cerrados: agronegócio, espoliação das águas e contaminação por agrotóxicos”, publicado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Vivendo em territórios contaminados
É com o olhar voltado para essa conjuntura que a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado lançará hoje, dia 30 de maio, a publicação “Vivendo em territórios contaminados: Um dossiê sobre agrotóxicos nas águas do Cerrado”. O material apresentará os resultados da “pesquisa-ação” implementada em sete territórios do Cerrado e que realizou análises toxicológicas ambientais sobre a qualidade das águas em comunidades dessas localidades.
Mariana Pontes, assessora da Campanha e uma das organizadoras da publicação, explica que o dossiê combina diferentes movimentos metodológicos. “Foram realizadas a revisão de literatura especializada sobre agrotóxicos e as análises laboratoriais, além da contribuição dos conhecimentos tradicionais das comunidades que estão, cotidianamente, enfrentando os impactos dos agrotóxicos que poluem às suas águas e envenenam os seus roçados”, explica.
Na maioria dos casos, as amostras de águas coletadas e analisadas pela pesquisa são oriundas de nascentes, córregos e rios que abastecem as comunidades, sendo utilizadas para a irrigação de plantações, consumo animal e, em algumas situações, também para o consumo humano. As comunidades que fizeram parte da pesquisa situam-se nos estados do Tocantins, Goiás, Maranhão, Piauí, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Bahia, em regiões do Cerrado e de zonas de transição com a Amazônia e o Pantanal.
Os resultados apresentados no dossiê são alarmantes, aponta Mariana. “Mais de 10 tipos de agrotóxicos foram identificados nas análises de coleta de água, um dado que não nos surpreende, mas preocupa muito, uma vez que milhares de pessoas, das sete comunidades que participaram da construção da pesquisa, possuem suas vidas diretamente impactadas por estes produtos que são extremamente tóxicos para a saúde humana”, destaca a assessora.
O material é uma iniciativa da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado e da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A pesquisa em campo contou com o apoio de agentes da CPT de Tocantins, Goiás, Maranhão, Piauí e Mato Grosso do Sul, da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase) no Mato Grosso e da Agência 10envolvimento, na Bahia.
A publicação será disponibilizada gratuitamente, em formato digital, no site da Campanha em Defesa do Cerrado a partir do dia 30 de maio.
Arte da capa do dossiê: Estúdio Massa
Povos e comunidades, notícia/Release
Neste ano de 2023 completa 6 anos do chamado Massacre de Pau D'arco, o maior crime no campo nos últimos 20 anos, desde Eldorado dos Carajás. Diversas organizações pedem justiça. Confira a nota a seguir.
Nesta quarta-feira, 17, em coletiva de imprensa na Cúria da Arquidiocese de Manaus, o Coletivo Pelos Povos do Abacaxis e outras redes de defesa dos povos da Amazônia anunciaram que receberam com “alívio e esperança” a notícia do indiciamento de integrantes da alta cúpula de segurança do Estado do Amazonas como supostos mandantes do chamado "Massacre do Abacaxis", ocorrido em agosto de 2020, quando quatro ribeirinhos e dois indígenas Munduruku foram mortos a tiros durante uma ação policial. A CPT e o CIMI estão entre as 17 organizações que assinam a nota emitida pelo Coletivo.
Fernando era sobrevivente e testemunha do Massacre de Pau D’Arco, ocorrido em 24 de maio de 2017, no mesmo local onde foi assassinado. As investigações, que duraram onze meses, foram encerradas sem as respostas esperadas, como a identificação da causa e dos mandantes.
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Massacres no campo
#TelesPiresResiste | O capital francês está diretamente ligado ao desrespeito ao meio ambiente e à vida dos povos na Amazônia. A Bacia do Rio Teles Pires agoniza por conta da construção e do funcionamento de uma série de Hidrelétricas que passam por cima de leis ambientais brasileiras e dos direitos e da dignidade das comunidades locais.