Via Carta Maior
Por Alessandra Monterastelli
Lideranças Yanomami falaram pela primeira vez sobre os ataques sofridos, desde o dia 10 de maio, por garimpeiros. Em coletiva de imprensa realizada no sábado (15), elas denunciaram que duas crianças Yanomami foram encontradas mortas após a investida armada contra a comunidade Palimiú. Os corpos das crianças de 1 e de 5 anos foram encontrados no rio Uraricoera. No dia do primeiro ataque, os indígenas, assustados, se refugiaram na mata. Os dois meninos, segundo as lideranças Yanomami, se perderam e só foram encontrados boiando no rio dois dias depois. Durante o período do desaparecimento, os indígenas realizaram buscas na tentativa de encontrar as crianças. Na manhã de hoje (17) chegaram mais denúncias de ataques aos Yanomamis. De acordo com Dário Kopenawa, na noite desse domingo, por volta de 21h40, cerca de 15 barcos rondaram a região e utilizaram bombas caseiras de gás para atacar os indígenas. Segundo relato de Dário, hoje, por volta das 9h30, um dos indígenas relatou que várias crianças e adultos apresentaram mal-estar decorrente da fumaça das bombas.
Sete barcos com garimpeiros invadiram a Terra Indígena (TI) Yanomami e atiraram contra os indígenas. O conflito aconteceu na segunda-feira (10) na comunidade Palimiú, em Roraima. A Hutukara Associação Yanomami enviou ofício de urgência aos órgãos federais. A Polícia Federal esteve no local na terça-feira (11) e foi recebida a tiros. No dia 12, quarta-feira, o Exército foi até o território e, segundo os indígenas, ficou somente cerca de duas horas. Conforme relato de Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara, lhe foi informado que às 23h00 horas ainda do dia 12, 40 barcos de garimpeiros chegaram no local em que aconteceram os tiroteios, e novamente atacaram com tiros os Yanomami. De acordo com os indígenas, todos os dias os garimpeiros percorrem o trecho do rio Uraricoera, que passa por Palimiú, e mostram estarem com muitas armas. A tensão permanece na região.
Registros do Centro de Documentação da CPT - Dom Tomás Balduino, mostram que os Yanomamis resistem à invasão de seu território por garimpeiros, entre outros, desde 1.700. Os mesmo registros mostram que de 1987 a 2013, houve 4 massacres contra indígenas Yanomamis em Roraima, vitimando 30 indígenas nos casos. Além desses episódios bárbaros de violência, a linha histórica mostra todo o processo de invasão do território tradicional yanomami, a resistência desse povo, a vulnerabilidade a doenças e males levados pelos brancos, a fragilidade do Estado brasileiro em proteger os yanomamis e, também, o grupo indígena isolado que vive no território, os Moxihatëtëma, e as artimanhas do Legislativo brasileiro ao longo dos anos para garantir a exploração dessa área ancestral. Confira:
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e organizações indígenas regionais divulgaram Nota Pública, na noite de ontem (13), sobre a situação tensa e violenta que permanece na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, após ataques durante toda a semana por garimpeiros invasores do território tradicional. De acordo com o documento, "Estamos diante do risco de mais um massacre... Infelizmente, a situação na Terra Indígena Yanomami não é novidade. O relatório “Massacres no campo”, da Comissão Pastoral da Terra, registra ataques de garimpeiros contra yanomamis desde a década de 1980. Em 1987, 7 indígenas foram assassinados e 47 feridos após invasão de 150 garimpeiros na serra de Couto Magalhães. Em abril do ano seguinte, 1988, 8 yanomamis foram mortos após confronto na região do Paapiú. No de 1993, a aldeia Haximu, na fronteira com a Venezuela, foi surpreendida com ataque de garimpeiros fortemente armados, resultando num massacre sangrento que matou 5 crianças e 5 adultos, entre mulheres e idosos. A novidade desta onda de ataques são os indícios da participação de organizações criminosas ligadas ao tráfico de drogas na atividade garimpeira, em especial nas regiões de maior extração de ouro". Confira:
Em Bela Vista de Goiás (GO), região metropolitana de Goiânia (GO), em plena pandemia, profissionais de saúde do Hospital Antônio Batista da Silva foram surpreendidos às 8h30, de sexta-feira (7), por dois ônibus que traziam 60 trabalhadores rurais com sintomas de intoxicação por agrotóxicos, após um avião pulverizador de agrotóxicos sobrevoar a plantação onde eles trabalhavam. Ao todo, 47 pessoas precisaram de atendimento. Uns estavam desmaiados, outros vomitavam, e a maioria relatavam dores de cabeça e tontura.
O conflito armado de garimpeiros contra indígenas deixou ao menos cinco pessoas feridas na comunidade de Palimiú, em Roraima, onde fica o território Yanomami. A informação é da Hutukara Associação Yanomami.
Via Apib