Lideranças Yanomami falaram pela primeira vez sobre os ataques sofridos, desde o dia 10 de maio, por garimpeiros. Em coletiva de imprensa realizada no sábado (15), elas denunciaram que duas crianças Yanomami foram encontradas mortas após a investida armada contra a comunidade Palimiú. Os corpos das crianças de 1 e de 5 anos foram encontrados no rio Uraricoera. No dia do primeiro ataque, os indígenas, assustados, se refugiaram na mata. Os dois meninos, segundo as lideranças Yanomami, se perderam e só foram encontrados boiando no rio dois dias depois. Durante o período do desaparecimento, os indígenas realizaram buscas na tentativa de encontrar as crianças. Na manhã de hoje (17) chegaram mais denúncias de ataques aos Yanomamis. De acordo com Dário Kopenawa, na noite desse domingo, por volta de 21h40, cerca de 15 barcos rondaram a região e utilizaram bombas caseiras de gás para atacar os indígenas. Segundo relato de Dário, hoje, por volta das 9h30, um dos indígenas relatou que várias crianças e adultos apresentaram mal-estar decorrente da fumaça das bombas.
(Com informações de Amazônia Real e Mídia Ninja/ Foto: Yolanda Mêne - Amazônia Real)
“No dia 11, eles (Yanomami) começaram a procurar as crianças. Acharam várias, mas sobraram duas. Então no dia 12 as duas crianças começaram a boiar no rio grande (rio Uraricoera)”, disse Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami. Os corpos das crianças estão no mato, no jiral, secando, de acordo com o ritual dos povos Yanomami. O relato das mortes foi feito pelas lideranças ao Ministério Público Federal (MPF), na tarde de sábado (15), em Boa Vista, capital de Roraima. Pouco antes, os indígenas Yanomami da comunidade Palimiú falaram à imprensa pela primeira vez em uma coletiva na sede da Caritas Diocesana de Roraima. Eles foram até a capital para pedir proteção às autoridades e relatar os ataques que estão sofrendo, cada vez mais violentos.
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A própria ida de uma comitiva de oito lideranças de Palimiú (cinco homens e três mulheres) a Boa Vista foi cercada de tensão. Antes de sair da comunidade para pegar o vôo de uma hora com destino a capital, os indígenas relataram que precisaram se esconder quando garimpeiros armados invadiram a comunidade às margens do Uraricoera. Este tipo de ação tem ocorrido todos os dias desde o dia 10. A Polícia Federal investiga a participação de garimpeiros ligados à facção PCC nos dois ataques (do dia 10 contra os Yanomami e no dia 12 contra os agentes da PF).
No relato dos Yanomami, nas primeiras horas da manhã de sábado, um grupo de garimpeiros desembarcou na comunidade Palimiú e os indígenas se refugiaram na mata. Os invasores chegaram a entrar nas casas e depois foram embora. Mas deixaram rastros de sua passagem. “Tinha munição deles caída, tudo assim, o pacote deles, caíram lá, a gente trouxe para cá, para mostrar”, disse Ricardo Palimithëri, uma liderança Yanomami.
De acordo com Dário, “de segunda (dia 10) até sábado a intimidação continuou por lá (em Palimiú), não passou, o clima continua tenso, ameaça, a rotatividade lá do garimpo, chegando todo dia de 40 a 45 barcos chegando”.
O vice-presidente da Hutukara enviou hoje (17) pela manhã um ofício à Elaine Maciel, da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami da FUNAI, a Marcos Ronki, da superintendência da Polícia Federal em Roraima, ao general Frutuoso, da 1ª Brigada de Infantaria da Selva do Exército e a Alisson Marugal, do Ministério Público Federal em Roraima, relatando mais esse ataque aos Yanomami e reiterando pedido de apoio logístico e instalação de posto emergencial na comunidade de Palimiú para a manutenção da segurança na região (confira o ofício em anexo).