O martírio de Tito, para Frei Xavier (CPT), para além da importância de divulgar ao mundo os horrores cometidos pelo governo ditatorial brasileiro, forçou uma mudança de postura dentro da Igreja. Confira a entrevista na íntegra:
(Adital)
Neste ano de 2016, a Ordem dos Pregadores (dominicana) completa 800 anos de serviço no mundo, tendo como tema do seu ano jubilar "Enviados a pregar o Evangelho”. No Brasil, entre os dominicanos mais ilustres, podem ser citados o escritor e articulista da Adital, Frei Betto, e Frei Tito de Alencar Lima, ambos religiosos que foram presos e torturados lutando contra os abusos da ditadura civil-militar no pós [1964-1985]. Tito morreu anos depois, em exílio na França, atormentado pelas feridas que as torturas lhe imprimiram na alma.
Frei Xavier Plassat, que se tornou amigo intimo de Frei Tito, quando este se encontrava no exílio, é um dominicano francês, reconhecido por sua luta pela justiça social no Brasil. País que, apesar de ter vencido o período obscuro e violento da ditadura, ainda não conseguiu livrar-se totalmente das estruturas de dominação e exclusão social. Residente no Brasil desde 1989, Frei Xavier trabalha a serviço da Comissão Pastoral da Terra (CPT), na qual destaca-se na luta contra o trabalho escravo. O dominicano foi agraciado com a Medalha Chico Mendes de Resistência, em 2006, e com o Prêmio Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, em 2008.
O martírio de Tito, para Frei Xavier, para além da importância de divulgar ao mundo os horrores cometidos pelo governo ditatorial brasileiro, forçou uma mudança de postura dentro da Igreja. "A bomba [a revelação, no exterior, das torturas sofridas por Tito] teria efeitos decisivos e duradouros na determinação da Igreja, inclusive a institucional, de operar a dramática conversão, passando do apoio prestado aos golpistas de 1964 ao testemunho de uma igreja martirial (...). A Igreja que encontrei, ao trazer de volta [para o Brasil] o corpo de Frei Tito, no início de 1983, já era outra (...), e uma Ordem Dominicana, em parte exangue de tanta perseguição, mas firme no seu propósito de testemunho evangélico na linha da opção preferencial pelos pobres”.
Nesta entrevista exclusiva concedida à Adital, Frei Xavier Plassat reflete sobre o papel dos dominicanos no Brasil e no mundo, sobre as inspirações e provocações ("O profetismo é resposta a um chamado, à determinada ‘pro-vocação’, que tira do comodismo”), direitos humanos, secularismo, e sobre o papel fundamental da mulher na Ordem. Confira a seguir.
Adital: Qual é a importância de Frei Tito para a experiência dominicana no Brasil e na América Latina?
Frei Xavier: Quando, em 1970, a revista estadunidense Look e a revista italiana L´Europeo publicaram o relato – em primeira pessoa – das torturas sofridas, em São Paulo, por Frei Tito, na prisão da Operação Bandeirantes, na chamada "sucursal do inferno", o efeito foi bombástico: estava ali a revelação, em âmbito internacional, de uma verdade até então mantida debaixo dos tapetes: a tortura foi aplicada aos presos da ditadura, de forma brutal, contra todo e qualquer suspeito, seja qual fosse sua cor, convicção, qualidade. A bomba iria ter efeitos decisivos e duradouros na determinação da Igreja, inclusive a institucional, de operar uma dramática conversão, passando do apoio prestado aos golpistas de 1964 ao testemunho de uma igreja martirial. Não sem dores e resistências, a começar pela teimosa negação do próprio arcebispo de São Paulo e então presidente da CNBB [Conferência Nacional dos Bispos do Brasil], Dom Agnelo Rossi, que, reagindo à transparente declaração do Papa Paulo VI, ao receber o Frei Domingos Maia Leite, à época provincial dos frades dominicanos do Brasil ("Estamos solidários com todos e a todos enviamos nossa bênção apostólica, especialmente aos que sofrem nas prisões"), afirmou: "Não existe perseguição religiosa no país e sim uma campanha de difamação dirigida do exterior contra o governo brasileiro”. A Igreja das comunidades de base, daqueles sofredores do campo e da cidade, já bem sabia de que lado estava o evangélico e onde estava o diabólico. Pessoalmente, eu não conheci o Brasil neste período da opressão mais violenta. A Igreja que encontrei, ao trazer de volta o corpo de Frei Tito, no início de 1983, já era outra: comunidades da periferia de São Paulo engajadas na luta social e política, comunidades camponesas de Goiás e do hoje Tocantins, resistindo à grilagem e à mercantilização da terra, e uma Ordem Dominicana em parte exangue de tanta perseguição, mas firme no seu propósito de testemunho evangélico na linha da opção preferencial pelos pobres, uma marca registrada da chamada Teologia da Libertação e das CEBs [Comunidades Eclesiais de Base]. Algumas viagens posteriores até a América Central, México, Bolívia, Peru, me confirmaram que semelhante postura – encorajada pelas orientações definidas nas Conferências do Episcopado Latino-Americano (Celam), aclimatando a este continente a abertura do Concílio Vaticano II: Medellín (libertação), Puebla (comunhão, participação), Santo Domingo (inculturação) e Aparecida (missão) - existia nos respectivos contextos onde atuavam nossos irmãos e nossas irmãs da família dominicana.
Adital: Quais foram os maiores desafios para a Igreja e a vida religiosa durante a ditadura militar? E que desafios são enfrentados hoje?
Frei Xavier: Acho que podemos resumir o desafio constante que se coloca à vida religiosa, tanto hoje como nos tempos da ditadura, pela palavra "profetismo”. Aquela ‘peteca’ que Dom Pedro Casaldáliga nos insta a não deixar cair. O profetismo é a atitude que deveria identificar, caracterizar, qualificar todos os que se reivindicam no seguimento de Jesus Cristo. Nossa fé nasce da experiência de um profeta assassinado e do testemunho dos seus amigos e seguidores. Ser profeta não é coisa que se decreta: vou ser profeta! O profetismo é a resposta a um chamado, à determinada pro-vocação que tira do comodismo. Requer vigilância e escuta aos sinais do tempo. Como resposta, o profetismo é a coerência levada até a raiz. "Ser o que se é. Falar o que se crê. Crer no que se prega. Viver o que se proclama até as últimas consequências” (Pedro Casaldáliga). Ser profeta começa pela convivência com um povo: assumir suas dores e suas alegrias, sentir suas limitações e seus sonhos, respeitar suas diferenças, comungar com seus sofrimentos, suas indignações e seus anseios de libertação, justiça e dignidade, viver a misericórdia, uma atitude que nada mais é do que a pura humanidade, a "com-paixão”: não posso ficar em paz enquanto um semelhante meu apanha, carece, sofre. O profeta abre o olho, o ouvido, as mãos e a boca. O que seria de um pregador se ficasse calado (os dominicanos levam o nome de ordem dos pregadores)? Temos este lema sugestivo, cunhado por São Tomás de Aquino para resumir o projeto da vida, segundo São Domingos: "contemplar et contemplata aliis tradere”. Literalmente: "contemplar e levar aos outros o contemplado”. Contemplar: isto é, abrir o olho e ver e apreciar e amar – não somente Deus vivo, que falou pelos profetas e continua falando, mas os homens e as mulheres com quem partilhamos uma história preciosa aos olhos de Deus; ver a terra e a criação que herdamos e cuidar; ver o que não se vê a olho nu; ver como se vislumbrasse o invisível; ver, estudar e buscar compreender; ver à luz daquilo que vale, segundo o Evangelho da vida verdadeira, plena e abundante; ver e falar o que se vê e o que não se vê; denunciar o que não dá; e anunciar o que deveria ser. A vida religiosa, dentro da Igreja, é chamada de vida consagrada: uma vida, em princípio, dedicada, despojada e livre para as coisas do Reino (de Deus), alimentada na vida comum, na partilha, no estudo, na oração e na celebração. O projeto dominicano já foi descrito como um "projeto de vida radical” (Frei Mateus Rocha). Temos dominicanos e dominicanas engajados em atividades variadas: de monja a jornalista, de professor a ativista de direitos humanos, de pároco a advogada - entre outras – e, às vezes, disso tudo um pouco e ao mesmo tempo. Entendo que é o mesmo ímpeto que levou Frei Tito e seus companheiros de jaula a resistirem à opressão, naquele tempo, e que está nos animando hoje a denunciar o trabalho escravo, a terra concentrada, a matança dos jovens, o incessante extermínio do índio, a violência homicida do preconceito, a política desvirtuada. E a anunciar, contra toda esperança que sim, tem jeito de mudar essa história. Na vida dominicana, esse projeto tem como espaço, primeiro, a própria comunidade, espaço para uma vida acordada ao ideal evangélico e, como tal, casa de pregação, ‘verbo e exemplo’ (pela palavra e pela prática). Ao celebrar 800 anos de vida em missão, a Ordem Dominicana tem consciência do quão distante e ao mesmo tempo necessário continua sendo este ideal...
Adital: Como se trabalha a formação política e de direitos humanos dentro da Ordem dominicana?
Frei Xavier: Não se pode pensar numa formação dominicana, aqui, na América Latina, sem se referir, necessariamente, a algumas testemunhas, mestres da fé, que ilustraram a história da Ordem, aqui, no continente, pela sua coragem político-evangélica. Como, por exemplo, Antônio de Montesinos e Bartolomeu de las Casas, no século 16! Ou Joseph Lebret, Mateus Rocha, Samuel Ruiz, Celso Pereira, Tomas Balduíno, Henri des Roziers, nos séculos 20 e 21. Trabalhar os direitos humanos é beber na própria história desta Ordem. (Sem dela, claro, ocultar algumas manchas de triste recordação: afinal, como em qualquer instituição e qualquer grupo social, as contradições fazem parte...). Até hoje é lembrado o nome de Francisco de Vitória, um eminente jurista da Universidade de Salamanca, na Espanha, tido como fundador do Direito Internacional dos povos. Ele que, naquele século 16, alimentou, com argumentos sólidos, a contestação do sistema colonial mortífero, genocida, uma empreitada tocada nas Américas pelo incansável confrade Bartolomeu. E segue para todos nós um modelo de atitude profética e missionária o sermão proferido pelo Frei Antônio de Montesinos, no 4º Domingo do Advento, 21 de dezembro de 1511. O texto havia sido preparado e redigido em equipe. Antônio recebeu do seu prior o preceito formal de pregá-lo aos colonizadores, em nome da comunidade. Uma mensagem de tremenda indignação, "de fogo”, como gosta de dizer nosso Frei Carlos Josaphat, e uma mensagem que não perdeu a sua atualidade até aos dias de hoje: "Vocês estão todos em pecado mortal”, em virtude dos crimes que cometiam contra os índios. "Com que direito” vocês conquistam este país, escravizam, oprimem seus habitantes? "Estes não são seres humanos” a serem respeitados em seus direitos e a serem amados por vocês, cristãos? Essa memória insurgente é a coisa mais preciosa no DNA da Ordem. Nossa família dominicana, no Brasil, se orgulha de manter uma Comissão de Justiça e Paz dedicada a tornar atual esse grito dos primeiros tempos, oferecendo meios concretos de formação, estudo e engajamento. Isso tudo traz necessárias consequências para a missão, que a família dominicana pretende assumir, e para a teologia que verbaliza, em termos atuais, a nossa compreensão do Evangelho. Uma questão de coerência entre vida e princípios, prática e teoria.
Adital: Como avalia o protagonismo da mulher dentro da Ordem dominicana?
Frei Xavier: A origem primeira da Ordem de São Domingos não foi uma comunidade de homens, mas, sim, de mulheres: as irmãs de Prouilhe (perto de Tolouse, na França) constituíram a primeira comunidade conventual, imaginada por Domingos de Gusmão, a partir da qual, na sequência, foram se enxertando e se multiplicando comunidades de pregadores itinerantes, radicados em conventos. Portanto, o protagonismo foi das mulheres, em primeira hora. Hoje mesmo, a família dominicana comporta muito mais mulheres (existe, mundo afora, cerca de 45 mil dominicanas) do que homens (em torno de 7 mil dominicanos). E, por sinal, comporta ainda muito mais leigos e leigas (cerca de 100 mil). 800 anos após a caminhada iniciada no sul da França por são Domingos, no século 13 (um momento histórico por sinal não menos perturbador do que o nosso), todos eles se reconhecem neste chamado para caminhar, defender o direito, anunciar a boa notícia da libertação, viver a alegria do Evangelho, e seguir caminhando. Desta missão, os jovens têm toda a possibilidade de participarem, em pé de igualdade. No Brasil, o movimento juvenil dominicano, o MJD (laico), é um dos espaços dessa missão comum.
Adital: Como você avalia a sociedade atual, quando se trata da busca por espiritualidade, fé e contato com o ambiente religioso?
Frei Xavier: Nossa sociedade experimenta, de forma contraditória, a tal secularização, um movimento que vem de longe e no qual a humanidade faz a experiência da sua crescente capacidade de entender a si mesma e o seu mundo, e do seu crescente poder de criar a si mesma e o seu mundo (ou destruir). Um movimento que parece destronar, irremediavelmente, o que de explicação e de poder se colocava até então no divino, no sagrado, no religioso. Para colocar no seu lugar uma razão triunfante, um desejo narcísico ou um desespero abismal? Trata-se de um movimento complexo, às vezes, exaltante, às vezes, angustiante, que obriga a depurar constantemente o que investimos na fé, e no chamado espaço religioso, deslocando valores, crenças, papéis. Da nossa capacidade de assumir e entender essa mudança de longo prazo, marcada hoje por uma aceleração inédita, depende nossa capacidade de inventar o espaço religioso, que corresponde a este momento de nossa história, sem crispação nem saudosismo, sem (novo) iluminismo nem (novo) triunfalismo. Para essa imensa conversão, esse parto, as palavras do profeta assassinado, Jesus, continuam oferecendo um norte (um sul!) precioso. Continuam sendo exigências basilares para esse trabalho a afirmação da dignidade e da liberdade do ser humano, e a fé na sua qualidade de imagem e semelhança àquele que chamamos ‘Deus’. Dito isto, é fácil verificar que não faltam, mundo afora e igualmente aqui, no Brasil, crispações e saudosismos, resistências, oportunismos, fanatismos. Propõe-se ersatze [plural da palavra alemã ersatz, que significa ‘substituto’] de religião, espiritualidades de mercado, religiosidades baratas; oferecem-se profetas de si mesmo, usurpadores do divino, novos mercadores do templo. Vale o conselho de Jesus: reconhecerei a árvore pelas suas frutas. Não adianta gritar, nem que seja ‘Senhor, senhor!’, para que venha o Reino da Justiça. Precisamos trabalhar, transformar, denunciar, anunciar, caminhar, contemplar, celebrar, acolher o inédito da promessa. Fazer, segundo outro lema da Ordem Dominicana (Veritas, domina mea), obra de verdade.
Entre os dias 07 e 22 de março de 2016 acontece, em Goiânia (GO), o terceiro módulo do Curso de Especialização em Direito Agrário, parceria entre a Universidade Federal de Goiás (UFG) e as Pastorais do Campo. Participam da formação agentes da Comissão Pastoral da Terra – CPT, do Conselho Pastoral dos Pescadores – CPP, do Serviço Pastoral do Migrante – SPM, do Conselho Indigenista Missionário – CIMI e da Cáritas Brasileira.
(Por Teresa Hollanda*)
Como atividade do curso, foi realizado, nos dias 16 e 17 de março, na Faculdade de Direito da UFG, um seminário sobre a “Questão Agrária no Brasil”, que reuniu os professores convidados Ariovaldo Umbelino, geógrafo da Universidade de São Paulo (USP), Carlos Marés, advogado e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), e Jeronimo Trecanni, advogado e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA). Além deles, o seminário reuniu professores da UFG, alunos do curso de especialização e agentes da CPT, alunos do Mestrado em Direito Agrário da UFG, entre outros interessados.
O seminário teve início na quarta-feira (16) de manhã com o professor Trecanni, que expôs o tema “Regularização Fundiária: propriedade e a questão fundiária na atualidade”. À noite, o professor Ariovaldo discorreu sobre o tema “Questão Agrária no Brasil”.
No dia 17 de manhã o professor Marés falou sobre a “Função social da propriedade e constitucionalização”. À tarde houve uma roda de conversa com a presença de todos os participantes, além de membros do Movimento Terra Livre, do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Fórum Estadual da Reforma Agrária de Goiás.
O seminário com a presença desses professores, especialistas na questão agrária, foi bastante significativo para os debates e pesquisas que vêm sendo desenvolvidas durante o curso de especialização, que busca aliar o estudo do Direito Agrário e seus fundamentos teóricos com as práticas dos agentes pastorais em suas situações de trabalho, que se dá em diferentes municípios de quinze estados.
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Tem início o curso de especialização em Direito das Pastorais do Campo
As discussões ocorridas no seminário envolveram temas como os conflitos e a luta de classes pela terra e dos povos pelo território; a formação da propriedade privada no Brasil; a grilagem e os programas de regularização de terras; a dicotomia entre a terra como provedora da vida e a particularidade da terra como mercadoria; a atual estrutura agrária brasileira, os impasses da reforma agrária, a contra-reforma e os reconhecimentos de territórios tradicionais; os conflitos recentes no campo, a reiterada violência, a função social da propriedade, entre outros. Esses temas foram permeados pela discussão das leis regulamentadoras do Direito Constitucional, Civil, Agrário e Ambiental, e pelas jurisprudências afins no Judiciário.
Relacionados a estes, outros temas mais específicos com os quais os agentes pastorais estão lidando: territórios pesqueiros, parques de energia eólica no Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia; territórios indígenas e quilombolas em sobreposição com unidades de conservação; assassinatos e outras injustiças contra camponeses, entre outras questões que abrangem o direito das populações envolvidas em conflitos procedentes de disputas fundiárias, defesa do meio-ambiente e defesa de Direitos Humanos.
Apreensivos, vivemos os tempos atuais em que, por um lado, o Direito se diversifica e se entrecruza, entre as antigas e novas situações de nossa sociedade, nos campos e florestas e nas cidades. E, por outro lado, o Direito é afrontado entre gabinetes e ruas da jovem e sofrida República. Neste contexto, o curso e o seminário de Direito Agrário oportunamente vieram lançar luzes sobre os processos populares de luta, no cotidiano e nos grandes embates, lutas estas a única esperança de que vença o Direito sobre a barbárie.
*Aluna do Curso de Especialização em Direito Agrário e agente do Serviço Pastoral do Migrante – SPM.
*Crédito imagem: Mariana Vidal
O Jejum da Solidariedade, realizado pela Comissão Pastoral da Terra em Alagoas (CPT-AL), teve início às 09 horas desta sexta-feira (18) e segue até às 18 horas, em frente a sede do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) do estado. Sob o tema da campanha da fraternidade de 2016, “Casa comum, nossa responsabilidade”, camponeses, agentes pastorais e religiosos realizam vigília em solidariedade às pessoas que passam fome e outras necessidades no mundo.
(Fonte: CPT Alagoas)
O coordenador da Pastoral da Terra, Carlos Lima, defendeu a importância do tema da campanha da fraternidade em convidar a sociedade para discutir sobre a situação do planeta. “Precisamos repensar a forma que o homem convive com o meio ambiente e com os outros homens. É um sistema desumano que existe em nome da concentração de renda, de terra e de poder”, disse Lima.
O momento de oração e reflexão acontece todos os anos na sexta-feira que antecede a Semana Santa, tendo sua motivação na passagem bíblica deIsaías (Is 58,6): “O jejum que eu quero é este: acabar com as prisões injustas, desfazer as correntes do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e despedaçar qualquer jugo; repartir a comida com quem passa fome, hospedar em sua casa os pobres sem abrigo, vestir aquele que se encontra nu, e não se fechar à sua própria gente”.
Serviço:
Jejum da Solidariedade
Dia 18 de março de 2016
Local: INCRA – Praça Sinimbu, Maceió – Alagoas
Horário: 9h às 18h
Em Carta, Pastorais do Campo e Organismos ligados à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) manifestam preocupação com a grave crise e ameaça à democracia brasileira. “Não podemos permitir que as conquistas democráticas e que os direitos civis, políticos e sociais sejam mais uma vez afrontados pela forca da intolerância, do conservadorismo e da violência, física e/ou institucional”. Confira o documento na íntegra:
“Assim também vós: por fora pareceis justos aos olhos dos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade” (Mt, 23-28)
Neste momento em que vivenciamos a ameaça de golpe sobre a democracia brasileira, não podemos permitir que as conquistas democráticas e que os direitos civis, políticos e sociais sejam mais uma vez afrontados pela forca da intolerância, do conservadorismo e da violência, física e/ou institucional.
O golpe militar de 1964 imprimiu na sociedade brasileira um quadro de pavor e sofrimento àqueles que lutavam por direitos e liberdades e a todo povo brasileiro. Prisões arbitrárias, tortura e morte de lideranças populares, estudantes, sindicalistas, intelectuais, artistas e religiosos davam a tônica do estado de exceção que então se instalava.
Na nossa ainda jovem democracia, estamos presenciando o mesmo discurso de combate à corrupção propagado pelos meios de comunicação às vésperas do golpe de 1964. Mais uma vez a sociedade brasileira corre o risco de vivenciar o mesmo cenário de horror e pânico. As últimas ações de setores conservadores, incluindo os meios de comunicação, repercutem nas ruas e geram um clima de instabilidade, violência e medo.
Diante do risco de aprofundamento dessa situação e da quebra da ordem constitucional e social, a Cáritas Brasileira, a Comissão Pastoral da Terra – CPT, O Conselho Indigenista Missionário – CIMI, o Conselho Pastoral dos Pescadores – CPP e o Serviço Pastoral dos Migrantes – SPM vêm a público manifestar preocupação com a grave crise. Queremos que todos os fatos sejam apurados e que seja garantida a equidade de tratamento a todos os denunciados nas investigações em curso no país, respeitando-se o ordenamento jurídico brasileiro.
Tememos que os direitos constitucionais dos jovens, das mulheres, dos sem-teto, das comunidades tradicionais, dos povos indígenas, dos quilombolas e dos camponeses, especialmente aos seus territórios, sejam ainda mais violentamente negados.
Reafirmamos nosso compromisso com o combate à corrupção, resguardando que esse processo não represente retrocessos nas conquistas e na garantia dos direitos historicamente conquistados pelo povo brasileiro.
Brasília, 17 de março de 2016
Cáritas Brasileira
Comissão Pastoral da Terra – CPT
Conselho Indigenista Missionário – CIMI
Conselho Pastoral dos Pescadores – CPP
Serviço Pastoral dos Migrantes – SPM
Com representantes de organizações e movimentos sociais, representações sindicais e pesquisadores, o Relatório Final da Comissão Camponesa da Verdade - Violação de Direitos no Campo 1946-1988 - foi lançado hoje (17) pela manhã, durante audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado.
(Cristiane Passos – CPT Nacional)
Cleia Porto, representante da Contag, retomou o processo de formação da equipe responsável pela elaboração do relatório e pela retomada da memória de camponeses e camponesas, vítimas de violações durante a ditadura militar. A ideia da criação de uma comissão que demandasse à Comissão Nacional da Verdade a inserção desses grupos no relatório veio após a realização do Encontro Unitário dos Povos das Águas, do Campo e da Floresta, em 2012. “Mesmo com as limitações foi um esforço necessário, pois fez com que na Comissão da Verdade fossem levados em conta os camponeses assassinados nesse período. Os camponeses e camponesas, junto com os indígenas, foram os mais invisibilizados nesse processo de reparação da memória da luta. E o nosso trabalho não acabou, ainda temos muito o que fazer para garantir uma reparação”.
Regina Coelly, pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB), ressaltou a participação de pesquisadores, cerca de 40 de todo o país, mas também a participação fundamental dos movimentos sociais no processo de elaboração desse relatório. Segundo ela, foi debatida sempre no coletivo a ideia da memória camponesa, tentando identificar o que seria essa memória e qual o tratamento seria dado a ela. “A gente concebe a memória como instrumento de reconstrução do passado, mas também no sentido de reparação dos camponeses e camponesas pelas violações que sofreram”, disse.
Conforme Coelly, a Comissão se preocupou, ainda, em identificar a ação do Estado junto ao braço privado nas violações cometidas. Ela destacou que “foram levantados os casos de assassinatos, de tortura, ocultação de cadáveres, ameaças, despejos, entre outros”. Além disso, a pesquisadora frisou que nem todos os estados foram apresentados no relatório, o que não significa que nos estados que não estão presentes no texto, não houve repressão e / ou violações.
A CPT na Comissão Camponesa da Verdade
Antônio Canuto, membro fundador da Comissão Pastoral da Terra (CPT), representou a entidade nesse processo. Ele ressaltou no lançamento que essa Comissão
Camponesa se formou no contexto da Comissão Nacional da Verdade, que acabou dando um espaço pequeno em seu relatório para os casos envolvendo camponeses. Dessa forma, a Comissão Camponesa continuou seus trabalhos, que resultaram em um relatório próprio. “A realidade é ainda muito maior do que aqui foi registrado”, destacou ele. “A CPT desde o seu princípio se preocupou com as violações contra esses povos, fazendo o registro delas. Com isso, ela foi fonte primordial na elaboração desse relatório”, completou.
Canuto relatou casos envolvendo uma grande fazenda no Mato Grosso, na região do Araguaia, em que o latifundiário e os órgãos de repressão do governo ditatorial estavam em plena sintonia. Ele vivenciou essa situação enquanto foi padre na prelazia de São Félix do Araguaia. “Eu não escrevi esses casos através de pesquisas, eu escrevi como participante”, ressaltou.
Rosângela Piovezani, do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), destacou que esse trabalho foi um dever dos movimentos sociais e dos militantes destes para mostrar à sociedade um momento histórico de nosso país, que se tenta apagar. “Esse é um dever nosso. A academia mostra muito pouco dessa realidade aos nossos jovens, e eles precisam saber”. Rosângela levantou os problemas que os povos do campo ainda enfrentam nos dias de hoje e as dificuldades do momento político atual. “A gente continua na luta e na resistência, até que de fato construamos um Brasil nação, que garanta os nossos direitos”, concluiu.
Gilney Viana, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), ressaltou que esse material foi produzido por militantes, principalmente. “É muito difícil colocar a memória dos camponeses e camponesas, bem como dos indígenas, na história oficial do Brasil”. Para ele, os órgãos oficiais do Estado fizeram questão não só de mata-los, mas também de matar a sua história. E é isso que o relatório tenta trazer à tona.
O senador João Capiberibe (PSB-AP) foi autor do requerimento para a audiência pública em que foi lançado o relatório e também presidiu a mesma. Ele ressaltou que a Comissão Camponesa revelou as brutalidades que sofreram as pessoas que viviam no campo no período da ditadura, e como a elaboração desse relatório é importante para garantir essa memória à história nacional.
Entre os dias 10 a 12 de março, a Praça da Faculdade, em Maceió, Alagoas, estará ocupada de alimentos saudáveis. A Feira de produtos da reforma agrária acontece, desta vez, em solidariedade à Comissão Pastoral da Terra (CPT) e busca angariar recursos para o trabalho de acompanhamento e formação nas áreas assistidas pela Pastoral.
(Fonte: CPT Regional Alagoas)
O evento contará com casa de farinha, shows noturnos, restaurante e bar, comida da roça e uma grande diversidade de alimentos vindos do Litoral, Sertão e Região da Mata. Todos os produtos são frutos de doações de camponeses e camponesas e amigos da CPT. E a comercialização será realizada por agentes pastorais e voluntários.
“Os camponeses doaram banana, macaxeira, inhame, hortaliças, batata-doce e muitos outros alimentos para contribuir com a presença da Pastoral junto aos povos da terra e das águas”, conta Heloísa Amaral, coordenadora da Pastora da Terra. Heloísa explica ainda que a Feira só é possível graças aos agricultores e agricultoras que reconhecem a importância do trabalho pastoral e ofereceram alimentos de suas roças para que se converta em recursos financeiros para a CPT.
Apoiando a luta pela democratização da terra e por justiça social, os artistas Guilla Gomes, Pinóquio do Acordeon e Anderson Fidellis, assim como a ‘Confraria: Nós, Poetas’, decidiram se apresentar nesse evento solidário. As apresentações noturnas ocorrerão na quinta-feira e na sexta-feira, a partir das 19 horas.
O bar e restaurante da feira funcionará com cardápio para o almoço e o jantar, oferecendo comida da roça. Carneiro, rabada, buchada, galinha de capoeira e pato, acompanhados de fava e feijão verde, são as opções durante o dia. Pela noite, caldinho de mocotó, macaxeira com carne de sol, caldinho de macaxeira e de massunim, cuscuz de massa puba e de milho, batata, inhame, entre outros.
Sobre a CPT
Com a missão de “Ser uma presença solidária, profética, ecumênica, fraterna e afetiva, que presta um serviço educativo e transformador junto aos povos da terra e das águas”, a CPT acompanha hoje 663 famílias em 15 comunidades na Região da Mata, 335 famílias em 10 comunidades no Litoral Norte e 364 famílias em 11 comunidades no Sertão – em Alagoas.
Saiba mais sobre a Comissão Pastoral da Terra – CPT
Entre suas principais ações está a realização de Feiras Camponesas ao longo do ano, promovendo a comercialização dos produtos da reforma agrária; é parceira do Movimento de Educação de Base no projeto de alfabetização de 1200 camponeses em Alagoas; organiza o Jejum da Solidariedade na véspera da Semana Santa; convoca as Romarias da Terra e das Águas; e atua na luta pela democratização das terras e por justiça social.
Em 2016, dois eventos serão realizados para dar apoio a esse trabalho, essa Feira da Solidariedade e, em agosto, o Jantar Italiano promovido pela Associação Pachamama de Torino, Itália.
SERVIÇO
Feira solidária à Comissão Pastoral da Terra – CPT
Dias: 10 a 12 de março de 2016
Local: Praça da Faculdade (Afrânio Jorge) – Prado, Maceió/Alagoas
Horário: das 6 horas às 22 horas (sábado encerra às 12 horas)
Mais informações: (82) 3221-8600
PROGRAMAÇÃO MUSICAL:
Quinta (10/03)
19h00 - Confraria: Nós, Poetas
21h00 - Guilla Gomes
Sexta (11/03)
19h00 - Pinóquio do Acordeon
21h00 - Anderson Fidellis e cabroeira