Atividades incluem caminhada, ato público no centro da capital e celebração eucarística na Catedral Metropolitana
Agentes da CPT de todo o Brasil já estão reunidos e reunidas em formação e preparação das atividades do dia 22. (Foto: Júlia Barbosa | CPT Nacional)
A Comissão Pastoral da Terra (CPT), pastoral social vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), abre, neste sábado, 22, as comemorações de seu ano jubilar. Com caminhada, ato público e celebração eucarística, a organização dá início às atividades de memória e festejo de 50 anos de atuação em defesa dos direitos das populações do campo, das águas e das florestas em todo o Brasil e de presença profética junto a estes povos.
As atividades terão início às 8h30 da manhã, na Praça Universitária, com um momento de memória da caminhada pastoral e homenagem aos mártires que tombaram em defesa da terra e de seus povos, personagens históricas que infelizmente foram vitimados na luta pelos direitos do mais empobrecidos, a exemplo da Irmã Dorothy Stang, Padre Josimo e tantos/as outros/as religiosos/as e lideranças populares.
Ao som do batuque do Grupo Coró de Pau, o grupo sairá em caminhada até a Catedral Metropolitana de Goiânia, onde Dom João Justino, arcebispo de Goiânia, e Dom Ionilton Lisboa, presidente da CPT e bispo da Prelazia de Marajó (PA), conduzirão a celebração eucarística de lançamento do Ano Jubilar da pastoral.
SERVIÇO
Lançamento do ano jubilar da CPT
Início: Ato público às 8h30 da manhã
Local: Praça Universitária
Seguido de Caminhada até a Catedral Metropolitana
Celebração da Eucaristia: às 10h, na Catedral Metropolitana
Com Dom João Justino (Arcebispo de Goiânia) e Dom Ionilton Lisboa (Presidente da CPT e bispo da Prelazia de Marajó/PA)
Atendimento à imprensa:
Júlia Barbosa - CPT Nacional - Telefone/Whatsapp - (62) 99309-6781
Marilia da Silva - CPT Goiás - Telefone/Whatsapp - (62) 99940-4656
Por Heloisa Sousa
Com informações da CPT RS
Foto: Cáritas Brasileira
Na última segunda-feira, 17, o grupo da missão Sementes de Solidariedade deu início à semana de formação para a preparação das equipes que vão a campo visitar os agricultores e agricultoras atingidos pelas enchentes. O encontro ocorreu no Convento Franciscano São Boaventura, localizado no povoado Dantron Filho, município de Imigrante (RS). Após a formação, o grupo elaborou um roteiro de visitas às famílias afetadas. Na terça-feira, a turma visitou comunidades do município de Arroio do Meio, na quarta-feira a visita ficou agendada para Cruzeiro do Sul e, quinta-feira, Venâncio Aires.
“A CPT RS está junto desde o início da missão, essa ação é uma prioridade para nós desde que começou a situação das enchentes, em setembro no ano passado”, conta Maurício Queiroz, coordenador da CPT Diocese de Santa Cruz do Sul. “Nosso objetivo é visitar cada família, dar um abraço solidário e ser presença profética junto às camponesas e camponeses atingidos pelas enchentes. Trazer também o apoio emocional, da mística e da espiritualidade”, completa.
Foto: CPT RS
Segundo Maurício, após a fase das visitas, onde serão realizadas escutas para o levantamento da realidade de cada comunidade, o grupo organizará apoio técnico e doações de sementes e mudas para as pessoas afetadas. A ação é importante para dar suporte às famílias na reconstrução de suas roças e também na garantia de direitos. “Muitas famílias estão desabrigadas ou precisarão ser realocadas e precisamos garantir que isso aconteça”, explica.
A missão Sementes de Solidariedade reúne diversas entidades e movimentos sociais que, em 2023, se organizaram em socorro às populações camponesas atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Você pode fazer parte dessa corrente de solidariedade, basta fazer uma doação através do PIX: 33654419/0010-07(CNPJ) ou através da conta no Banco do Brasil número 55450-2, agência 1258-3, em nome da Cáritas Brasileira.
Foto: CPT RS
Por Carlos Henrique Silva (Comunicação CPT Nacional),
com informações da organização do FOSPA e CPT Regional Acre
Crédito: Divulgação FOSPA
Após três dias de diálogo internacional sobre os problemas da Amazônia e a construção de propostas de ação, encerrou-se no sábado, 15 de junho, o XI Fórum Social Pan-Amazônico (FOSPA) no Coliseu Nacif Velarde, em Rurrenabaque. Os quase 1.200 participantes reuniram-se para a leitura e aprovação em plenário das conclusões do fórum e da cerimônia de encerramento.
O “Mandato do XI Fórum Social Pan-Amazônico”, como foi denominado o documento, é uma síntese das conclusões aprovadas nas assembleias de cada Eixo Temático. Os Eixos estabelecidos para esta edição do fórum foram: 1) Povos Indígenas e Populações Amazônicas, 2) Mãe Terra, 3) Extrativismos e alternativas, 4) Resistência das Mulheres. Cada Eixo abrigou de dois a cinco grupos de trabalho que respondiam a temas mais específicos, como autonomia e justiça indígena, direitos dos defensores, crise climática, água, transição energética, expansão da fronteira agrícola, territórios e participação das mulheres.
A Amazônia boliviana acolheu com satisfação a chegada de delegações de nove países da região, se reunindo para refletir e analisar a complexa realidade amazônica. A partir do evento, e de todo o processo que o antecedeu, espera-se construir uma proposta orientada para um novo modelo de desenvolvimento que preserve a vida.
Créditos: Divulgação FOSPA
Os municípios de Rurrenabaque (Beni) e San Buenaventura (La Paz) receberam participantes da Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela, entre os dias 12 e 15 de junho. Pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), estavam presentes representantes regionais do Acre, Rondônia, Roraima e Araguaia-Tocantins, participando dos diversos eixos temáticos, com o objetivo de discutir, se capacitar e definir estratégias coletivas.
Em diferentes línguas, vestidos com roupas ancestralmente preservadas, com rostos multicoloridos e com expressões emocionadas para o encontro, os delegados e delegadas do FOSPA apontam que as conclusões desse processo devem se tornar mandatos aos governantes de cada país, para avançar em direção a políticas públicas para proteger a bacia e a floresta com maior biodiversidade do planeta.
O encontro reúne análises, opiniões, esperanças, protestos e propostas de povos indígenas, comunidades ribeirinhas e ancestrais, organizações da sociedade civil, redes e alianças do bloco sul-americano. A programação também contou com atividades como visitas in loco às comunidades indígenas bolivianas da região, além da marcha na ponte sobre o rio Beni, que liga os municípios de Rurrenabaque e San Buenaventura.
Imagens: Marcha na ponte sobre o rio Beni - Crédito: Ludimila Carvalho / CPT Araguaia-Tocantins
Para um modelo alternativo
Para Wilma Mendoza, presidente da Confederação Nacional das Mulheres Indígenas da Bolívia (CENAMIB), o FOSPA deveria permitir que as mulheres demonstrassem ações eficazes. “Mas não sozinhas, e sim com todos vocês. Estamos aqui para defender a vida, estamos plantando sementes de esperança, mas é com luta. A natureza chora e grita, sem natureza não teremos uma vida longa, está nas nossas mãos reagir agora”, disse.
Entendendo que a Amazônia é a prioridade para a vida, representantes do Equador, incluindo Leónidas Iza, exigiram que os governos dos países amazônicos trabalhassem com os povos indígenas e protegessem seus territórios.
O Equador decidiu, por referendo popular, deixar os seus recursos de hidrocarbonetos no subsolo na área do parque Yasuní, um ecossistema biodiverso. Sua abordagem é promover a “yasunização” do território amazônico. A partir dessa visão, propuseram proteger não apenas a bacia amazônica, mas também as geleiras das terras altas e outras regiões do território continental.
Crédito: Ludimila Carvalho / CPT Araguaia-Tocantins
“A água e o vento não têm fronteiras”, afirmaram representantes do Peru, destacando que tudo está interligado. Na linha de ação, foi destacada a necessidade de não deixar os governos tomarem sozinhos as decisões que implicam a preservação de todas as formas de vida.
Entre as ameaças à Amazônia, os participantes da FOSPA destacaram a incursão da mineração, a subjugação de terras e desapropriação de territórios, a penetração do tráfico de drogas, a violência contra os defensores da natureza; mas também destacaram experiências alternativas.
Gonzalo Oliver, presidente da Central dos Povos Indígenas de La Paz (CPILAP), pediu que as deliberações sejam orientadas para ações de defesa da Amazônia. “Sabemos que tem ameaças fortes. As conclusões e recomendações devem constituir um mandato aos governantes relativamente às políticas territoriais para a proteção do nosso povo, para a proteção das áreas protegidas.”
Mapeamento de Conflitos e Violência na Pan-Amazônia
Crédito: Arquivo CPT Acre
Na sexta-feira (14), representantes de cinco países (Brasil, Bolívia, Colômbia, Peru e Guiana Francesa), dentre agentes da CPT que atuam na Amazônia brasileira, apresentaram a “Iniciativa para mapear conflitos e violência na Pan-Amazônia”, ou “Iniciativa de mapeo de conflictos y violencia en la Panamazonía.”
O material aborda e analisa os conflitos e a violência que afetam a região Pan-Amazônica, destacando principalmente os assassinatos em conflitos socioterritoriais nos cinco países entre os anos de 2020 e 2024 (30 de maio). Os números são alarmantes e mostram um cenário de 309 pessoas assassinadas na região, sendo 29 mulheres.
No total de mortes, o maior número é na Colômbia (178), seguido do Brasil (100), Peru (25), Bolívia (4), Equador (1) e Guiana Francesa (1). Comunidades indígenas, camponesas e tradicionais são as mais afetadas pela violência e pelos projetos de mineração, petróleo, transporte, energia, agronegócio e desmatamentos, dentre outras violações.
“O FOSPA para nós é um local de articulação, integração das lutas, fortalecimento institucional, espaço de incidência política na defesa do bioma e das populações amazônidas. O FOSPA também é um espaço de alimentar nossos sonhos e esperanças”, afirma Darlene Braga, que integra a coordenação da CPT Regional Acre.
Crédito: Acervo CPT Acre
Com informações da Assessoria de Comunicação Terra de Direitos e
da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida
Crédito: Agência Brasil
O Supremo Tribunal Federal (STF) acolheu de modo unânime, na última quinta-feira (13), o pedido de diversas organizações sociais e do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), pela realização de uma audiência pública para escuta aos diversos setores sobre os benefícios tributários conferidos ao mercado de agrotóxicos. A decisão ocorre no âmbito da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5553, que questiona a isenção fiscal para agrotóxicos.
O pedido foi acolhido pelo ministro e relator da Ação, Edson Fachin, e acompanhado pelos demais ministros. Fachin manifestou que, desde início do julgamento em 2020, surgiram novos estudos na área. Além disso, a Reforma Tributária – em fase de regulamentação – tem impactos diretos para a isenção fiscal dos agrotóxicos. A audiência deve ocorrer em data a ser definida pelo relator.
A ADI 5553 questiona as cláusulas 1ª e 3ª do Convênio nº 100/97 do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) e o Decreto 7.660/2011, que concedem benefícios fiscais aos agrotóxicos, com redução de 60% da base de cálculo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS), além da isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de determinados tipos de agrotóxicos. A medida ficou conhecida em vários setores como “bolsa-agrotóxicos”.
A medida tem impacto direto na arrecadação de impostos. De acordo com levantamento realizado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a estimativa é de que estados e União deixaram de arrecadar R$ 12,9 bilhões, somente considerando a comercialização de agrotóxicos no ano de 2021. O valor representa, por exemplo, cinco vezes o orçamento reservado pela União em 2024 para prevenção e combate a desastres naturais (R$ 2,6 bilhões).
Na avaliação da coordenadora de litigância da Terra de Direitos, Camila Gomes, a realização de audiência pública é uma oportunidade de ampliação e aprofundamento do debate com diversos setores sobre matéria de significativo impacto à saúde, meio ambiente e orçamento público.
“O aceite da realização de uma audiência pública é vitória dos setores que estão mobilizados contra a política fiscal que incentiva e beneficia o mercado de agrotóxicos. Um debate amplo que escute ambientalistas, especialistas da área de saúde, de orçamento público e comunidades afetadas é fundamental para que a Corte possa levar em consideração estas realidades quando analisar e julgar a ação”, enfatiza. A Terra de Direitos participa da ação como amicus curiae (amigos da Corte), conjuntamente com a Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e Pela Vida, a Associação Brasileira de Agroecologia e Fian Brasil.
Essencial: agrotóxicos ou os alimentos?
Durante a sustentação oral no julgamento, a Terra de Direitos refutou argumentos de entidades defensoras da manutenção do benefício tributário. “É preciso afastar o argumento invocado de que o incentivo aos agrotóxicos precisaria ser mantido para garantir a alimentação da população brasileira, para preservar o valor dos produtos da cesta básica e, assim, garantir segurança alimentar da população”, aponta Camila.
Ela destaca que 84% dos agrotóxicos em uso no Brasil são aplicados nos plantios de commodities, produtos voltados para a exportação e não presentes na mesa da população brasileira. Já a agricultura familiar, voltada para produção de arroz, feijão, mandioca, entre outros, utiliza no máximo 6% do custo de produção com agrotóxicos. Assim, a tributação regular de agrotóxicos não impactaria na produção massiva de alimentos no país, na soberania alimentar da população e nem seria repassada ao consumidor.
“Impactará, sim, os grandes proprietários rurais que destinam a produção para exportação e que – é bom lembrar – já são beneficiados por outros incentivos e benefícios no sistema tributário nacional, como é o caso das desonerações para exportações”, enfatiza ela.
“Estamos falando de atos normativos federais datados um de 1997 e o outro de 2011, com sucessivas reedições ao longo dos anos, mas sem mudança substancial de conteúdo. Estas normativas seguem em vigor ou vem sendo reeditadas, à margem do vasto conhecimento científico produzido no Brasil e no mundo”. Estudos na última década apontam a forte presença de agrotóxicos – alguns proibidos na Europa – no leite materno, alimentos e água. Também evidenciam maior impactos de contaminação entre populações mais empobrecidas e comunidades e povos tradicionais.
Relator da ação, o ministro Edson Fachin também evocou o princípio da precaução sobre uso dos agrotóxicos para destacar as evidências de riscos de uso e consumo dos químicos ao meio ambiente e à saúde. “O uso de produtos nocivos ao meio ambiente ameaça não somente animais e plantas, mas com eles também a existência humana e, em especial, a das gerações posteriores, o que reforça a responsabilidade da coletividade e do Estado de proteger a natureza”, apontou Fachin.
Mobilização nacional defende Reforma Tributária 3S e a taxação de agrotóxicos
Crédito: Roberta Quirino
Na quarta-feira, 12, organizações da sociedade civil, especialistas e parlamentares se reuniram em uma mobilização nacional para pautar a reforma tributária 3S, que visa promover um sistema fiscal saudável, solidário e sustentável. A ação, realizada na Câmara dos Deputados, incluiu atividades interativas, distribuição de materiais informativos e um ato público, que culminou no lançamento do “Manifesto por uma Reforma Tributária 3S”, onde foram denunciados os efeitos danosos dos ultraprocessados e dos agrotóxicos para a saúde humana e o meio ambiente.
A coalizão Reforma Tributária 3S, formada por uma rede de mais de 60 organizações, defende a inclusão de produtos nocivos, como álcool, tabaco, ultraprocessados, armas e agrotóxicos, no rol de itens sujeitos ao imposto seletivo. O Imposto Seletivo, criado na reforma tributária, tem como finalidade aumentar a tributação e desestimular o consumo de produtos que causam prejuízos à sociedade. Acompanhe o tema no site: https://contraosagrotoxicos.org/agrotoxico-precisa-pagar-mais-imposto/
O Conselho Nacional dos Direitos Humanos – CNDH publicou uma recomendação ao governo do estado do Mato Grosso e a outras instituições para a adoção de medidas para suspender imediatamente a realização de despejos administrativos e extrajudiciais e para a apuração rigorosa de eventual abuso de autoridade praticado por policiais militares durante despejo sem ordem judicial de juízo competente, ocorrido na Fazenda Cinco Estrelas, na cidade de Novo Mundo, no norte do estado.
Dentre as diversas recomendações, o CNDH orientou:
Ao Governador do Estado de Mato Grosso:
1. Apresentar, no prazo de 10 dias, os documentos que instruíram a ordem para atuação da polícia militar, indicando, especialmente, se houver, a decisão de reintegração de posse emanada pelo Juízo Federal competente para a apreciação do caso;
2. Apresentar, no prazo de 10 dias, toda a cadeia de comando que ordenou, fomentou, tolerou ou possibilitou que fosse praticado o abuso de autoridade;
À Secretaria de Segurança Pública de MT:
1. Apurar a responsabilidade de toda a cadeia de comando que ordenou, fomentou, tolerou ou possibilitou que fosse praticado o abuso de autoridade;
2. Como medida preventiva à ocorrência de novos fatos violadores de direitos humanos, afastar imediatamente todos os policiais militares envolvidos na ação realizada no dia 27/05/2024 que resultou na prisão arbitrária de dez trabalhadores sem terra, uma defensora pública e dois representantes da Comissão Pastoral da Terra (CPT), durante o despejo extrajudicial das 74 famílias que ocupavam parte da área da fazenda Cinco Estrelas, na cidade de Novo Mundo, no norte do estado;
Ao Ministério Público de MT:
1. Exercer sua função constitucional de controlador externo da atividade policial e determinar a instauração de inquérito policial ou procedimento de investigação criminal autônomo para a rigorosa apuração de crime de abuso de autoridade e outros crimes eventualmente praticados por policiais envolvidos na ação realizada no dia 27/05/2024;
2 . Instaurar grupo de trabalho ou força-tarefa para controle externo da atividade policial, especialmente para apurar a prática de outras violações de direitos humanos pela guarnição da Polícia Militar – Patrulha Rural envolvida nos fatos;
O CNDH fez diversas outras recomendações ao governador de Mato Grosso, à Secretaria de Segurança Pública e ao Ministério Público do estado. Ainda, emitiu orientações à Defensoria Pública do estado do Mato Grosso, ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária e à Defensoria Pública da União.
Confira o documento na íntegra, com todas as considerações e recomendações do Conselho Nacional dos Direitos Humanos aqui.
Comunidade São Francisco da Volta Grande - Foto: Redes Sociais
Do portal Tapajós de Fato
Edição: Carlos Henrique Silva (Comunicação CPT Nacional)
Na manhã da última quarta-feira (12 de junho), alunos e funcionários da Escola Municipal Vitalina Mota, localizada na comunidade São Francisco da Volta Grande, km 37 da BR 163, município de Belterra, Oeste do Pará, viveram mais uma vez momentos de agonia com irritações, coceiras nos corpos e dor nos olhos que podem ter sido ocasionadas pelo borrifamento de veneno nos campos de plantações de soja da região.
Servidores da escola, alunas e alunos precisaram ser levados à Unidade Básica de Saúde para atendimento médico, devido aos sintomas, e também para evitar o agravamento dos problemas de saúde. De acordo com informações apuradas pelo Tapajós de Fato, na UBS foram realizados 23 receituários médicos para tratamento de cefaleia (dor de cabeça), para alergias, náuseas e dor nos olhos. Foram feitas também, pelo menos, 14 notificações de contaminação por agrotóxicos, entregues pela UBS para a escola.
Durante a manhã do dia 12, não foi vista nenhuma atividade de borrifamento de agrotóxicos no entorno da comunidade, no entanto, alguns moradores desconfiam que o despejo dos agrotóxicos tenha sido realizado no período da madrugada (por volta das 4h da manhã), na região das comunidades São Francisco da Volta Grande e Amapá, que ficam entre os km 34 e 37 da BR 163, e, por isso, as crianças e as professoras da escola apresentaram os sintomas de contaminação. A desconfiança se reforça também porque várias pessoas (entre contaminadas e não contaminadas) sentiram um mau cheiro na região das duas comunidades mencionadas, que pode ser de agrotóxicos utilizados naquele perímetro.
Essa não é a primeira vez que a escola Vitalina Mota interrompe as atividades escolares em decorrência de problemas de saúde devido à contaminação por agrotóxicos. No dia 27 de janeiro e no dia 6 de fevereiro de 2023, pelo menos 33 pessoas, entre alunos e professores, apresentaram os mesmos sintomas em decorrência do uso de agrotóxicos em uma área ao lado do terreno da escola. As aulas foram suspensas e as vítimas precisaram de atendimento médico.
Ainda em 2023, o Ministério Público do Pará emitiu uma Recomendação para a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), Secretaria Municipal de Gestão de Turismo e Meio Ambiente de Belterra (SEMAT) e para a Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (ADEPARÁ) que fiscalizassem o problema, verificassem se os agrotóxicos estavam sendo utilizados conforme a legislação brasileira e que advertissem com medidas cabíveis o responsável pelos danos causados.
Após tomar conhecimento da situação, constatar práticas nocivas para a saúde das pessoas e enviar, entre os meses de janeiro e fevereiro de 2023, 38 notificações para o produtor de soja responsável pelos crimes ambientais, o Instituto de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) aplicou uma multa de 1 milhão de reais ao produtor e proibiu o uso de agrotóxicos até que as determinações do órgão fossem cumpridas.
Com a desconfiança de um novo episódio de contaminação coletiva pelo uso de agrotóxicos, ainda pela manhã dia 12 de junho de 2024, o MPPA foi acionado. Segundo informações obtidas pela equipe do Tapajós de Fato, o MP acionou órgãos de fiscalização, secretarias e polícias para averiguar a situação. O delegado de Polícia Civil, o Secretário de Meio Ambiente de Belterra, o delegado da Delegacia Especializada em Conflitos Agrários e a Vigilância Sanitária foram até a escola.
Diante do fato de mais de 20 pessoas, entre adultos e crianças, apresentarem problemas de contaminação, parte do corpo docente da escola Vitalina Mota foi notificado para prestar depoimento sobre o caso na Delegacia Especializada em Conflitos Agrários, que fica em Santarém.
Heloise Rocha é professora há nove anos da escola Vitalina Mota e vivenciou todos os episódios de contaminação por agrotóxicos da escola. “Infelizmente, é a terceira vez que isso ocorre na escola. Infelizmente a soja cerca a escola e as comunidades”, relata. A professora pontua que o agronegócio está fazendo as pessoas morrerem aos poucos devido aos agrotóxicos utilizados na região. “O fato é que a soja está matando aquela população”.
Na escola, os danos vão aumentando cada dia mais. Além da contaminação dos agrotóxicos, o rendimento escolar está prejudicado: “essa questão do agrotóxico ela vem causando um baixo rendimento escolar, porque, no dia 12 de junho, estava marcado as avaliações”, afirma a professora. No período da manhã os alunos tiveram as aulas interrompidas, e as aulas do período da tarde foram suspensas, “por causa da borrifação”.
A saída de algumas famílias da comunidade também tem diminuído o número de alunos. “A escola diminuiu duas turmas. Nós temos uma sala vazia pela manhã e uma sala vazia pela tarde”. Segundo a professora, cerca de 34 alunos não renovaram matrícula para o ano de 2024.
A situação envolvendo a escola Vitalina Mota evidencia um problema muito maior causado pelo agronegócio na região do Planalto Santareno (Santarém, Mojuí e Belterra), além da destruição das florestas, o agronegócio, por meio do uso irresponsável de agrotóxicos, envenena as águas e contamina as pessoas.
Belterra é um município em situação crítica: o número de doenças neurológicas causadas pelo uso de agrotóxicos cresceu 600%, como aponta estudo da Universidade Federal do Oeste do Pará. A professora Caroline Braga, pesquisadora do Programa de Pós-Graduação Em Sociedade, Natureza e Desenvolvimento da UFOPA desenvolve a pesquisa “Contaminantes ambientais e riscos de exposição múltipla na Amazônia Oriental”, que tem coordenação tripla com a Universidade de Brasília e a Universidade Federal do Amapá. Ao Tapajós de Fato, ela explicou que a pesquisa está “investigando a exposição por agrotóxicos e metais na saúde ambiental e humana”. Caroline Braga trabalha com a “exposição por agrotóxicos na saúde humana, na região metropolitana de Santarém (incluindo Mojuí dos Campos e Belterra)”.
Com o estudo, Caroline Braga explica que a realidade do Planalto Santareno é uma realidade comum como outras áreas de expansão do monocultivo: “infelizmente, em todo o mundo, áreas de expansão de fronteira agrícola, via monoculturas, possuem seus passivos pela intensa pulverização de agrotóxicos que chegam aos organismos não alvo, como populações que residem no entorno e outros componentes do meio ambiente”, explica.
A pesquisa pode ser utilizada para dar novos rumos para a realidade do Planalto Santareno. “O objetivo é entregar evidências científicas para versar sobre o risco deste tipo de exposição cruzada na região, por isso a escolha das comunidades, já que é sabido que a região tem despontado na produção de grãos como a soja, significativamente utilizadoras de compostos químicos para o plantio e desenvolvimento do grão”.
A destruição do município para a implantação de milhares de hectares de descampados utilizados pelo setor do agro gera profundos danos na vida das pessoas. Há aqueles que preferem largar suas terras em busca de tranquilidade para seguir a vida. A diminuição de alunos na escola coloca em risco também os empregos dos educadores que, em algum momento, podem não ter para quem dar aulas porque aquela escola está deixando de ser um local seguro para ensinar e para aprender devido o uso intensivo de agrotóxicos.
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