Em São José do Rio Preto (SP), o Núcleo de Ação Pela Reforma Agrária (NARA) juntamente com a equipe da CPT de Promissão e o Observatório dos Conflitos Rurais em São Paulo farão o lançamento dessa publicação, no dia 22 de junho, a partir das 19h00, na Câmara Municipal da cidade.
O Conflitos no Campo Brasil 2014 é a 30ª edição deste relatório que tem se tornado referência nacional e internacional para os que procuram conhecer os conflitos e a violência que acontecem no campo brasileiro. Esta é, por isso, uma edição histórica, que marca os 30 anos ininterruptos deste serviço que a CPT presta aos homens e mulheres da terra e à sociedade brasileira.
A publicação Conflitos no Campo Brasil 2014, organizada pela CPT, foi lançada em debate sobre os desafios atuais da reforma agrária e dos direitos trabalhistas, que ocorreu na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), durante o III Seminário Internacional Ruralidades, no dia 10 de junho último.
Pe. Antônio Naves (CPT-SP), Waldemir (advogado da ocupação Capão das Antas), Ana Pagu (CSP-Conlutas) e o Observatório dos Conflitos Rurais em São Paulo, representado por Leonardo Reis e Gabriel Pereira, compuseram a mesa.
Padre Naves destacou a quantidade de assassinatos no campo e o número de ocupações e famílias desalojadas. Waldemir apresentou um pouco das problemáticas da luta pela terra na região de São Carlos (SP). Já Ana Pagu apresentou a visão da CSP sobre as lutas do campo e pautas populares, como a reforma agrária. Segundo Gabriel, um dos problemas que também foram discutidos, “foi o impacto da reformulação da lei de falência, que garante liberdade para acionistas em detrimento dos trabalhadores, que deixam de ter o pagamento do salário priorizado pela nova legislação. Foi o caso de uma ocupação em Araraquara (SP), numa usina que faliu e não quitou suas dívidas trabalhistas, a Usina Maringá”.
O público deste evento foi majoritariamente de universitários, entre professores e alunos, uma vez que o evento foi realizado no campus da UFSCar, local este que não foi escolhido por acaso. Para Leonardo, “a aproximação entre acadêmicos, principalmente pesquisadores das temáticas sociais, e dos próprios movimentos é uma necessidade cada vez mais latente, o que ficou claro nas falas dos convidados e nas questões levantadas pelos presentes. Essa integração deve se dar não só na discussão teórica - produzida por ambos, universidade e movimentos - mas também na prática de luta pelas demandas da classe trabalhadora”.
Para padre Naves, o tema ruralidade, trabalho e meio ambiente é extremamente relevante para a nossa sociedade e, também, para a Universidade. “As forças sociais opressoras estão se refazendo e isso é consequência do processo de avanço e restruturação do capitalismo em todas as frentes do meio rural do estado de São Paulo, por exemplo. A exploração da força de trabalho e o abuso no uso da terra e das águas chegam ao absurdo total. Creio que seria interessante a continuidade desse debate para aprofundar o tema e as ações de espaços de reflexão como o Observatório dos Conflitos Rurais de São Paulo, ampliando sua grande contribuição na transformação desse modelo predador do trabalho humano, da terra e do meio ambiente”.
Conflitos no Campo Brasil 2014
Padre Naves apresentou no debate, em nome da CPT São Paulo, o relatório anual da CPT "Conflitos no Campo Brasil 2014”. Segundo ele, a apresentação foi feita “para um auditório atento. Eram estudantes e professores aguardando uma reflexão sobre as grandes áreas de análise do livro, como conflitos no campo, terra, água, trabalho, violência contra a pessoa e manifestações. Acentuei, dessa forma, a força profética dos trabalhadores e trabalhadoras envolvidos (as) nestes conflitos. No final houve várias manifestações de desejo em firmar parcerias com a CPT, além de distribuição de livros e troca de contatos para futuras conversas com a Pastoral”.
Para Padre Naves, no estado de São Paulo há uma enorme variedade de serviços e, com isso, uma migração intensa de trabalhadores de outros estados para a região. Muitos deles mudam de função ou atividade em busca de uma ocupação remunerada. “Por exemplo, há trabalhadores que vem do Maranhão para trabalhar no corte da cana e com o tempo, e com o peso forçado deste trabalho, migra para a laranja, ou vai para a extração no seringal (trabalho relativamente novo em São Paulo)”, analisou ele.
A questão agrária não é posta pelos governos, nem estadual e nem municipal, completou o padre. “Muito menos a mídia e tudo o que ela representa”, enfatizou.
O Seminário
O III Seminário Internacional “Ruralidades, Trabalho e Meio Ambiente” debateu, entre os dias 9 e 11 de junho, temas como as políticas relacionadas à agricultura e à posse da terra, a problemática da produção de alimentos, as mudanças demográficas no campo, as novas formas de emprego e de geração de renda, a degradação dos ecossistemas rurais e suas consequências para a saúde da população. A proposta foi dar sequência ao esforço de interlocução empreendido nos dois eventos anteriores: o primeiro seminário ocorrido em maio de 2011 e o segundo, em junho de 2013.
Nesses dois encontros, foram reunidos especialistas em torno de discussões sobre as transformações recentes nos territórios rurais, problematizando os temas ruralidades e meio ambiente, trabalho rural, migrações, estratégias de reprodução de populações que vivem e/ou trabalham no campo, reprodução e reestruturação do capitalismo no campo, políticas públicas para o campo.
Entre os participantes desse ano estavam o professor doutor Enrique Leff (UNAM/México), Prof. Dr. Alberto Riella (Universidad de la República/Uruguay), Prof. Dr.Marcelo Domingos Sampaio Carneiro (UFMA), Profa. Dra. Maria Aparecida de Moraes Silva (UFSCar), Profa. Dra. Leonilde Servolo de Medeiros (UFRRJ), entre outros.
A diretoria e a coordenação executiva nacional da CPT divulgam Nota de Solidariedade aos e as quilombolas em greve de fome há sete dias no Maranhão, exigindo a titularização de seus territórios. Veja a Nota:
Caros companheiros e companheiras,
A Diretoria e a Coordenação Executiva Nacional da CPT, no dia que vocês entram no sétimo dia de sua greve de fome, querem expressar a vocês sua mais inteira e irrestrita solidariedade. Vocês arriscam a própria saúde e até a vida para a conquista do direito aos territórios que historicamente lhes pertenceram e dos quais foram esbulhados no decorrer dos anos, pelos que se consideram senhores e donos da terra, da riqueza e do poder.
Este gesto extremo mostra a firmeza das suas convicções e é um forte chamado de atenção a toda a sociedade diante do descaso dos poderes constituídos em relação ao reconhecimento dos direitos das comunidades quilombolas, dos povos indígenas e de outras comunidades tradicionais. Para além do descaso, a cada dia surgem no Congresso Nacional novas ameaças de desconstrução dos poucos direitos duramente conquistados e que foram incorporados à Constituição da República Federativa do Brasil.
Companheiras e companheiros, vocês contam, há muito, com a CPT do Maranhão que está ao seu lado no dia a de suas lutas. Mas queremos que vocês saibam que a CPT de todo o Brasil os acompanha com atenção e preocupação. Estamos buscando formas para que as autoridades ouçam as reivindicações de vocês.
Permaneçam firmes, pois da fragilidade de vocês é que nasce a força que pode transformar a injusta realidade.
Com um grande e apertado abraço em cada uma e em cada um de vocês.
Goiânia, 16 de junho de 2015.
A Diretoria e a Coordenação Executiva Nacional da CPT
Mais Informações:
Cristiane Passos (assessoria de comunicação da CPT Nacional): (62) 4008-6406 / 8111-2890
Antônio Canuto (assessoria de comunicação da CPT Nacional): (62) 4008-6412
Entre os dias 10 e 13 de junho, a 22ª Feira Camponesa transformará a Praça da Faculdade em “um pedaço do campo no coração de Maceió” (AL). Alimentos saudáveis, casa de farinha, restaurante camponês e muito forró fazem parte da feira junina organizada pela Comissão Pastoral da Terra – CPT. A abertura oficial está marcada para as 9 horas de amanhã com um café da manhã compartilhado entre os feirantes, os apoiadores do evento e a imprensa.
O Observatório dos Conflitos Rurais em São Paulo realiza amanhã, 10 de junho, o debate “Desafios atuais da reforma agrária e dos direitos trabalhistas em áreas de Agronegócio”, a partir das 18h00 no Anfiteatro Bento Prado Jr., na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Na ocasião, a CPT São Paulo fará o lançamento do "Conflitos no Campo Brasil 2014".
A atividade faz parte do Seminário Internacional Ruralidades. Entre os convidados para o debate estão a Feraesp, a CPT São Paulo, Conlutas, representantes da ocupação Maringá / Capão das Antas, além do Observatório dos Conflitos e da professora Rosemeire Scopinho.
Com grande coragem a Pax Christi Internacional realizou a Assembleia de Celebração dos 70 anos de sua história em uma das regiões mais difíceis do mundo, em Belém, território sob a Autoridade da Palestina, em Israel. Confira relato de padre Hermínio Canova, da CPT Nordeste II, que representou a CPT no Encontro, juntamente com o presidente da Pastoral, Dom Enemésio Lazzaris.
(Padre Hermínio Canova)
Por cinco dias, de 13 a 17 de maio, os 160 delegados dos núcleos nacionais de Pax Christi e das entidades afilhadas, promoveram várias atividades, reunidos lá onde nasceu o “Príncipe da Paz”, Jesus. A pouca distância do impressionante Muro que divide o Estado de Israel dos Territórios Palestinos, convivemos este tempo dentro daquela extrema tensão muito visível entre os dois povos.
Completando 70 anos de vida e enfocando o futuro, a Pax Christi pretende continuar o compromisso de acreditar na paz alicerçada na justiça e na verdade: “seguiremos valorizando e apreendendo do trabalho de cada organização membro. Em um mundo cada vez mais interconectado, onde os desafios para a paz são tanto mundiais quanto locais, buscaremos formas de aprofundamento das nossas conexões... Enfrentaremos unidos algumas das ameaças mais urgentes e alimentaremos juntos algumas das maiores possibilidades para a paz” (documento final “O Compromisso de Belém”).
Dom Enemésio Lazzaris (presidente da CPT) e eu [Padre hermínio Canova – CPT Nordeste II], representando a CPT do Brasil, nos inserimos em diferentes atividades onde procuramos contribuir a partir da nossa experiência e conhecimento. Num mundo cheio de conflitos e ameaças, nós também assumimos a condição de “Peregrinos no caminho da Paz”, pois este foi o título e a perspectiva do encontro internacional. Contribuir nos difíceis e longos processos de paz, restaurar a verdade e a justiça para populações afetadas por graves conflitos e traumas provocados por massacres, guerras, ditaduras, migrações forçadas, trabalho escravo, conflitos com a mineração, esta é a grande vocação da Pax Christi e dos seus militantes presentes em mais de 50 países.
A dinâmica do evento foi bem interessante e criativa, favorecendo uma ampla participação de todos. Não houve grandes conferências, mas a partir de experiências e testemunhos dos participantes olhamos para os problemas mais atuais e globais. Foram seis as “peregrinações” simultâneas ou temáticas, tratadas com mesas redondas, painéis e sessões plenárias: direitos humanos e dignidade, justiça ecológica, justiça restaurativa, desmilitarização, educação para a paz com os jovens, as mulheres artesãs da paz ´vozes essenciais´. Dom Enemésio foi convidado a compor um painel sobre “justiça transformadora”: abordou, no tempo disponível, o processo na sociedade brasileira da Comissão da Verdade, a Campanha da CPT de combate e erradicação do Trabalho escravo e o nosso problema agrário.
Fomos convidados a fazer uma celebração eucarística em português: foi o assunto do dia e um sucesso (!), pelo jeito criativo e espontâneo próprio do nosso país, pelo envolvimento e participação de todos.
Participamos do ato comemorativo da “Catástrofe” (Dabka, em árabe) na praça de Belém, quando o povo palestino lembra, todo ano no dia 15 de Maio, a retirada violenta dele dos territórios ocupados por Israel; na ocasião apresentei uma mensagem de solidariedade ao povo palestino, a seus líderes e militantes, desejando a paz e a liberdade política para este povo.
No dia seguinte, a peregrinação que fizemos ao longo do Muro da divisão nos deixou silenciosos, perplexos e revoltados; tocamos o Muro com as mãos no mesmo local onde o papa Francisco fez questão de parar e rezar, contrariando a programação e o cerimonial (!).
Num momento especial de festa e compromisso, como faz todo ano, a Pax Christi concedeu o Prêmio da Paz 2015 ao “Coletivo de Pensamento e Ação, grupo de Mulheres da Colômbia Paz e Segurança”; mulheres corajosas que dedicam sua militância à busca da justiça restaurativa e da paz junto às comunidades afetadas pelo conflito. Lembramos que o primeiro prêmio, em 1988, foi concedido a Margarida Maria Alves, da Paraíba (Brasil), pela doação de sua vida em defesa dos direitos dos trabalhadores rurais. Ela foi assassinada em 1983.
O precioso e extenso documento final aprovado pela Assembleia termina olhando o futuro com esperança:
“Mentre avançamos rumo ao futuro, afirmamos uma vez mais nossa
visão de que a Paz é possível e que os círculos viciosos de violência
e injustiça podem romper-se. Buscamos um mundo onde as pessoas
possam viver em paz e sem medo, e seguiremos a Jesus o Construtor
da Paz, confiando na presença do Espírito para ‘guiar nossos passos
pelo caminho da Paz’”. (Zacarias)