A publicação Conflitos no Campo Brasil 2014, organizada pela CPT, foi lançada em debate sobre os desafios atuais da reforma agrária e dos direitos trabalhistas, que ocorreu na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), durante o III Seminário Internacional Ruralidades, no dia 10 de junho último.
Pe. Antônio Naves (CPT-SP), Waldemir (advogado da ocupação Capão das Antas), Ana Pagu (CSP-Conlutas) e o Observatório dos Conflitos Rurais em São Paulo, representado por Leonardo Reis e Gabriel Pereira, compuseram a mesa.
Padre Naves destacou a quantidade de assassinatos no campo e o número de ocupações e famílias desalojadas. Waldemir apresentou um pouco das problemáticas da luta pela terra na região de São Carlos (SP). Já Ana Pagu apresentou a visão da CSP sobre as lutas do campo e pautas populares, como a reforma agrária. Segundo Gabriel, um dos problemas que também foram discutidos, “foi o impacto da reformulação da lei de falência, que garante liberdade para acionistas em detrimento dos trabalhadores, que deixam de ter o pagamento do salário priorizado pela nova legislação. Foi o caso de uma ocupação em Araraquara (SP), numa usina que faliu e não quitou suas dívidas trabalhistas, a Usina Maringá”.
O público deste evento foi majoritariamente de universitários, entre professores e alunos, uma vez que o evento foi realizado no campus da UFSCar, local este que não foi escolhido por acaso. Para Leonardo, “a aproximação entre acadêmicos, principalmente pesquisadores das temáticas sociais, e dos próprios movimentos é uma necessidade cada vez mais latente, o que ficou claro nas falas dos convidados e nas questões levantadas pelos presentes. Essa integração deve se dar não só na discussão teórica - produzida por ambos, universidade e movimentos - mas também na prática de luta pelas demandas da classe trabalhadora”.
Para padre Naves, o tema ruralidade, trabalho e meio ambiente é extremamente relevante para a nossa sociedade e, também, para a Universidade. “As forças sociais opressoras estão se refazendo e isso é consequência do processo de avanço e restruturação do capitalismo em todas as frentes do meio rural do estado de São Paulo, por exemplo. A exploração da força de trabalho e o abuso no uso da terra e das águas chegam ao absurdo total. Creio que seria interessante a continuidade desse debate para aprofundar o tema e as ações de espaços de reflexão como o Observatório dos Conflitos Rurais de São Paulo, ampliando sua grande contribuição na transformação desse modelo predador do trabalho humano, da terra e do meio ambiente”.
Conflitos no Campo Brasil 2014
Padre Naves apresentou no debate, em nome da CPT São Paulo, o relatório anual da CPT "Conflitos no Campo Brasil 2014”. Segundo ele, a apresentação foi feita “para um auditório atento. Eram estudantes e professores aguardando uma reflexão sobre as grandes áreas de análise do livro, como conflitos no campo, terra, água, trabalho, violência contra a pessoa e manifestações. Acentuei, dessa forma, a força profética dos trabalhadores e trabalhadoras envolvidos (as) nestes conflitos. No final houve várias manifestações de desejo em firmar parcerias com a CPT, além de distribuição de livros e troca de contatos para futuras conversas com a Pastoral”.
Para Padre Naves, no estado de São Paulo há uma enorme variedade de serviços e, com isso, uma migração intensa de trabalhadores de outros estados para a região. Muitos deles mudam de função ou atividade em busca de uma ocupação remunerada. “Por exemplo, há trabalhadores que vem do Maranhão para trabalhar no corte da cana e com o tempo, e com o peso forçado deste trabalho, migra para a laranja, ou vai para a extração no seringal (trabalho relativamente novo em São Paulo)”, analisou ele.
A questão agrária não é posta pelos governos, nem estadual e nem municipal, completou o padre. “Muito menos a mídia e tudo o que ela representa”, enfatizou.
O Seminário
O III Seminário Internacional “Ruralidades, Trabalho e Meio Ambiente” debateu, entre os dias 9 e 11 de junho, temas como as políticas relacionadas à agricultura e à posse da terra, a problemática da produção de alimentos, as mudanças demográficas no campo, as novas formas de emprego e de geração de renda, a degradação dos ecossistemas rurais e suas consequências para a saúde da população. A proposta foi dar sequência ao esforço de interlocução empreendido nos dois eventos anteriores: o primeiro seminário ocorrido em maio de 2011 e o segundo, em junho de 2013.
Nesses dois encontros, foram reunidos especialistas em torno de discussões sobre as transformações recentes nos territórios rurais, problematizando os temas ruralidades e meio ambiente, trabalho rural, migrações, estratégias de reprodução de populações que vivem e/ou trabalham no campo, reprodução e reestruturação do capitalismo no campo, políticas públicas para o campo.
Entre os participantes desse ano estavam o professor doutor Enrique Leff (UNAM/México), Prof. Dr. Alberto Riella (Universidad de la República/Uruguay), Prof. Dr.Marcelo Domingos Sampaio Carneiro (UFMA), Profa. Dra. Maria Aparecida de Moraes Silva (UFSCar), Profa. Dra. Leonilde Servolo de Medeiros (UFRRJ), entre outros.