COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Com grande coragem a Pax Christi Internacional realizou a Assembleia de Celebração dos 70 anos de sua história em uma das regiões mais difíceis do mundo, em Belém, território sob a Autoridade da Palestina, em Israel. Confira relato de padre Hermínio Canova, da CPT Nordeste II, que representou a CPT no Encontro, juntamente com o presidente da Pastoral, Dom Enemésio Lazzaris.

 

(Padre Hermínio Canova)

Por cinco dias, de 13 a 17 de maio, os 160 delegados dos núcleos nacionais de Pax Christi e das entidades afilhadas, promoveram várias atividades, reunidos lá onde nasceu o “Príncipe da Paz”, Jesus. A pouca distância do impressionante Muro que divide o Estado de Israel dos Territórios Palestinos, convivemos este tempo dentro daquela extrema tensão muito visível entre os dois povos.

 

Completando 70 anos de vida e enfocando o futuro, a Pax Christi pretende continuar o compromisso de acreditar na paz alicerçada na justiça e na verdade: “seguiremos valorizando e apreendendo do trabalho de cada organização membro. Em um mundo cada vez mais interconectado, onde os desafios para a paz são tanto mundiais quanto locais, buscaremos formas de aprofundamento das nossas conexões... Enfrentaremos unidos algumas das ameaças mais urgentes e alimentaremos juntos algumas das maiores possibilidades para a paz” (documento final “O Compromisso de Belém”).

 

Dom Enemésio Lazzaris (presidente da CPT) e eu [Padre hermínio Canova – CPT Nordeste II], representando a CPT do Brasil, nos inserimos em diferentes atividades onde procuramos contribuir a partir da nossa experiência e conhecimento. Num mundo cheio de conflitos e ameaças, nós também assumimos a condição de “Peregrinos no caminho da Paz”, pois este foi o título e a perspectiva do encontro internacional. Contribuir nos difíceis e longos processos de paz, restaurar a verdade e a justiça para populações afetadas por graves conflitos e traumas provocados por massacres, guerras, ditaduras, migrações forçadas, trabalho escravo, conflitos com a mineração, esta é a grande vocação da Pax Christi e dos seus militantes presentes em mais de 50 países.

 

A dinâmica do evento foi bem interessante e criativa, favorecendo uma ampla participação de todos. Não houve grandes conferências, mas a partir de experiências e testemunhos dos participantes olhamos para os problemas mais atuais e globais. Foram seis as “peregrinações” simultâneas ou temáticas, tratadas com mesas redondas, painéis e sessões plenárias: direitos humanos e dignidade, justiça ecológica, justiça restaurativa, desmilitarização, educação para a paz com os jovens, as mulheres artesãs da paz ´vozes essenciais´.  Dom Enemésio foi convidado a compor um painel sobre “justiça transformadora”: abordou, no tempo disponível, o processo na sociedade brasileira da Comissão da Verdade, a Campanha da CPT de combate e erradicação do Trabalho escravo e o nosso problema agrário.

 

Fomos convidados a fazer uma celebração eucarística em português: foi o assunto do dia e um sucesso (!), pelo jeito criativo e espontâneo próprio do nosso país, pelo envolvimento e participação de todos.

 

Participamos do ato comemorativo da “Catástrofe” (Dabka, em árabe) na praça de Belém, quando o povo palestino lembra, todo ano no dia 15 de Maio, a retirada violenta dele dos territórios ocupados por Israel; na ocasião apresentei uma mensagem de solidariedade ao povo palestino, a seus líderes e militantes, desejando a paz e a liberdade política para este povo.

 

No dia seguinte, a peregrinação que fizemos ao longo do Muro da divisão nos deixou silenciosos, perplexos e revoltados; tocamos o Muro com as mãos no mesmo local onde o papa Francisco fez questão de parar e rezar, contrariando a programação e o cerimonial (!).

 

Num momento especial de festa e compromisso, como faz todo ano, a Pax Christi concedeu o Prêmio da Paz 2015 ao “Coletivo de Pensamento e Ação, grupo de Mulheres da Colômbia Paz e Segurança”; mulheres corajosas que dedicam sua militância à busca da justiça restaurativa e da paz junto às comunidades afetadas pelo conflito. Lembramos que o primeiro prêmio, em 1988, foi concedido a Margarida Maria Alves, da Paraíba (Brasil), pela doação de sua vida em defesa dos direitos dos trabalhadores rurais. Ela foi assassinada em 1983.

 

O precioso e extenso documento final aprovado pela Assembleia termina olhando o futuro com esperança:

 

                        “Mentre avançamos rumo ao futuro, afirmamos uma vez mais nossa

                          visão de que a Paz é possível e que os círculos viciosos de violência

                          e injustiça podem romper-se. Buscamos um mundo onde as pessoas

                          possam viver em paz e sem medo, e seguiremos a Jesus o Construtor

                          da Paz, confiando na presença do Espírito para ‘guiar nossos passos

                          pelo caminho da Paz’”. (Zacarias)

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