Camponeses e trabalhadores do agronegócio são intoxicados por pulverização aérea de agrotóxicos nos estados de Goiás e Maranhão, suspeita-se de uma estratégia para expulsão das comunidades do campo
Por Amanda Costa e Andressa Zumpano
Foto: Acampamento Leonir Orback, Santa Helena (GO)
Imagem de drone: Andressa Zumpano
Por Mariana Franco Ramos | De Olho Nos Ruralistas
Um grupo de aproximadamente vinte homens encapuzados e armados causou terror na tarde desta quarta-feira (03) no Acampamento São Vinícius, em Nova Ipixuna, no sudeste do Pará. Segundo relato de moradores, os pistoleiros atearam fogo nas barracas e espancaram homens e mulheres. Um menino de 11 anos chegou a correr para a mata e só foi encontrado horas depois. Outros camponeses conseguiram fugir e buscar apoio e atendimento médico na cidade.
“Atiraram no cadeado, entraram e não deram trégua”, conta um dos atingidos, cuja identidade foi preservada, por questões de segurança. “Fui um dos primeiros; me deram porrada, jogaram no chão e mandaram calar a boca”. Na sequência, ele conta que foi jogado num carro com mais nove companheiros. “Colocaram a gente de bruços e largaram numa área desconhecida. Foi tipo um sequestro, cárcere privado”.
As oitenta famílias que vivem às margens da Fazenda Tinelli se dedicam ao extrativismo de açaí e castanha e plantam mandioca para subsistência. No momento do ataque, havia em torno de quarenta pessoas, já que muitas saem para trabalhar, num esquema de rodízio. “Tudo foi destruído; nem nos deram chance”, afirma o camponês.
— Não houve óbito, mas muitos ficaram feridos. A gente está esperando o resultado dos exames. Um rapaz quebrou os dentes e teve lesão no lábio. Eu levei porrada nas costelas. Uma moça apanhou nas costas. Foi uma barbárie.
Como os pistoleiros estavam encapuzados, não se sabe quem de fato promoveu o ataque. Os sem-terra desconfiam se tratar de uma ação a mando de fazendeiros de Nova Ipixuna.
De acordo com a advogada popular Andréia Silvério, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Marabá, os camponeses não conseguiram registrar o boletim de ocorrência em Nova Ipixuna, pois não havia sequer escrivão na delegacia. “As famílias entraram em contato conosco e procuramos a Delegacia Especializada em Conflitos Agrários (Deca) de Marabá”, conta.
O órgão encaminhou ofícios com cópias do registro ao Ministério Público e à Secretaria de Estado da Segurança Pública e, após uma série de solicitações, recebeu a notícia de que uma equipe da Deca foi designada para ir ao local e apurar o ocorrido. Integrantes da CPT acompanharam as diligências nesta quinta-feira e continuavam na região, para averiguar também o estado de saúde dos moradores.
O observatório entrou em contato com o governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado da Comunicação (Secom), entretanto, não recebeu retorno até a publicação da reportagem. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) informou que “a situação do referido imóvel rural será analisada pela Superintendência Regional no Sul do Pará para pronunciamento sobre o assunto e a adoção de medidas cabíveis”. Conforme o órgão, o conflito relatado deve ser investigado pela Polícia Civil.
A chamada Fazenda Tinelli, nas proximidades do acampamento, está sobreposta a um imóvel arrecadado e matriculado em nome da União. Há duas semanas, o Ministério Público Federal (MPF) recomendou ao Incra a destinação da área à reforma agrária, porém, o instituto respondeu que aguardava a entrega de documentos para se manifestar.
Em 2002, o Incra publicou uma portaria para criação do assentamento São Vinícius. Na época, a CPT demonstrou que, além de ocupar ilegalmente a terra pública, Carlos Abílio Tinelli vendeu, de forma ilícita, 810 hectares do terreno, cometendo outros crimes. O MPF argumenta que, apesar disso, o instituto não tomou medida prática para implementar o projeto. “O assentamento foi criado no papel, mas na prática o Incra não fez nada para materializar”, resume a advogada Andréia Silvério.
“Por 11 anos (2002 a 2013), o Incra se manteve inerte, sem adotar qualquer iniciativa para efetivar a retomada da área e promover o assentamento de famílias sem terras”, diz trecho da recomendação, assinada pelos procuradores Sadi Flores Machado e Adriano Augusto Lanna de Oliveira. “O fazendeiro ocupante se utilizou da terra pública para fins especulativos, pois nas duas vezes que técnicos do Incra estiveram na área constataram que o imóvel estava sendo mal utilizado, improdutivo e não cumprindo com sua função social”.
O pretenso proprietário conseguiu na Justiça Estadual uma decisão liminar (urgente e provisória) para despejar os camponeses. Eles chegaram a sair do local e, um tempo depois, voltaram a se instalar, mas às margens, e não mais no interior da fazenda. A CPT fez várias solicitações ao Incra para que a autarquia interviesse no processo. O órgão admitiu à Justiça que o pedido de regularização em nome de Tinelli não deve ser concedido, em virtude da existência de conflito e da sobreposição de parte do imóvel sobre terras indígenas. Ainda assim, não requereu a retomada do imóvel ao patrimônio público.
“O fazendeiro se sente respaldado pelo Poder Judiciário para ocupar uma terra ilegalmente”, lamenta Andréia Silvério.
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Andressa Zumpano - Setor de Comunicação CPT Nacional
Relatório anual do Cimi retrata continuidade da alta violência contra povos indígenas no Brasil, mesmo em ano marcado pela pandemia da Covid-19.
Por Assessoria de Comunicação do Cimi
A Comissão Pastoral da Terra – CPT Alto Xingu divulga nesta última terça-feira (26), nota pública em que denuncia as ameaças que famílias da Ocupação do Complexo Divino Pai Eterno, na Gleba Pública Federal Misteriosa, vem sofrendo desde 2008, mas têm se intensificado nos últimos anos e meses. Na última sexta-feira (24), um grupo composto por 05 (cinco) homens não identificados foram vistos descarregando caixas de duas caminhonetes que estavam estacionadas na entrada de uma reserva de mata.
A CPT denuncia que homens acampam nas matas ao redor da ocupação e fazem visitas aos ocupantes anunciando que o pretenso dono da área iria expulsar as famílias e retomar a área. O Complexo Divino Pai Eterno é patrimônio da União, e o pedido de regularização fundiária solicitada pelos supostos donos foi negada pelo INCRA. Em 2020, as famílias receberam visita e ameaça de um dos fazendeiros que disputa ações judiciais pela posse da área. O histórico do conflito na região é de violência: já resultou no assassinato de 05 (cinco) trabalhadores.
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