Maria das Dores dos Santos Salvador, de 52 anos, conhecida como Dora, enfermeira e líder rural da comunidade Portelinha, no município de Iranduba, a 27 quilômetros de Manaus (AM), foi assassinada e jogada em um ramal no km 40 da rodovia estadual Manoel Urbando, a AM-070.
Sob o olhar atento do governo equatoriano, a marcha que começou no dia 2 de agosto, na província de Zamora Chinchipe, está prevista para chegar hoje, 10, a capital Quito. Participam dela indígenas, camponeses, sindicatos, grupos de jovens e outros.
(Servindi / foto: Gudynas)
A Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE) lançou em meados de julho a chamada para a mobilização, os principais pontos levantados por aqueles que sentiram a necessidade de tomar as ruas em uma viagem de centenas de quilômetros destinados para o Palácio Carondelet.
Exigindo que o governo revogue o controverso decreto de 2013, que subordina a sociedade civil ao controle do governo, através de uma série de alterações no Sistema Único de Informação para Organizações Sociais (SUIOS). Contudo, há poucos dias, faltando pouco para a greve nacional convocada pelos sindicatos para 13 de agosto, o presidente Rafael Correa deu um passo atrás e, com um decreto executivo modificou a disposição controversa. Tal atitude não o fez ganhar a aprovação de organizações, que reafirmaram a realização da mobilização que estão chamando de "Levante Indígena e Greve Nacional".
Outra forte crítica contra o governo tem a ver com um pacote de 17 emendas propostas para averiguação da Assembleia Nacional. Entre elas figura uma sobre reeleição indefinida para cargos de mandato popular, o que inclui o cargo de presidente da República.
Em outros lugares, a marcha procura uma mudança nas políticas relacionadas ao meio ambiente. De acordo com relatos da Confederação de Nacionalidades Indígenas da Amazônia Equatoriana (CONFENIAE), que participa da marcha, um ponto central é a rejeição de mineração em grande escala e, especialmente, da empresa chinesa ECSA, responsável pelo projeto Mirador.
Este projeto é visto como aquele que abriu a mineração em grande escala no país.
A Marcha
A mobilização que começou no dia 2 de agosto tem a previsão de chegar a Quito ainda hoje, dia 10, e partiu de Tundayme, no coração de Zamora Chinchipe, sul do Equador, em plena floresta amazônica.
A fim de cumprir os prazos estabelecidos, os marchantes têm se deslocado a pé e, também, em alguns trechos, de ônibus. De acordo com reportagens de meios de comunicação equatorianos, no caminho para a capital, vão ter que percorrer um total de oito municípios e, dependendo do local, podem encontrar mais ou menos apoio para a marcha. Não faltaram incidentes com a polícia, como bloqueio dos veículos que transladavam os marchantes.
De acordo com o jornal A República do Equador, em seu caminho por Saraguro (município de Loja), Carlos Pérez, presidente da ECUARUNARI, disse que "enquanto (Rafael Correa) faz declarações de guerra, nós fazemos a declaração de paz. Não temos medo de Correa e vamos chegar a Quito ". Cabe recordar, como diz o próprio jornal, que, por ocasião da marcha, Correa chamou esta semana as forças armadas e policiais para "lutar por seu país sem esperar recompensa" e confrontar os esforços de desestabilização "com as armas do direito e da Constituição ".
Divisão
Ao que parece, não há um consenso ou acordo sobre a efetiva participação das organizações indígenas na mobilização. Enquanto a CONAIE salienta que a mobilização tem o apoio da maioria dos indígenas, pronunciamentos de várias frentes, inclusive de suas próprias bases, põem em dúvida que seja realmente assim.
Já foi possível visualizar isso na última sexta-feira na chegada do grupo à província de Guamote, Chimborazo, a cerca de 250 quilômetros de Quito. Lá, um grupo de partidários do governo acusou os manifestantes de "golpistas".
Este não é um incidente isolado. Muito antes, ex-dirigentes da CONAIE, como Antonio Vargas, Miguel e Gilberto Lluco Talahua, afirmaram o seu apoio ao Governo. Em Chimborazo, a Confederação de Organizações Camponesas e Indígenas de Licto (Coical), através de um de seus representantes, disse que não apoiam a marcha e nem a Greve Geral convocada para o dia 13.
Perante esta situação, conforme relato da Ecuavisa, a CONAIE se defendeu, salientando que "o movimento indígena reconhece como únicos aliados históricos, todos os setores das classes populares: trabalhadores, estudantes, professores e outros grupos que compõem a grande base social popular do Equador ".
Por enquanto, não estão ausentes incidentes com a imprensa, que já relataram agressões sofridas durante a marcha.
No último final de semana, em Cacoal (RO) e em Rondolândia (MT) vários romeiros e devotos pediram a beatificação do Padre Ezequiel Ramin, missionário comboniano assassinado no dia 24 de Julho de 1985, pela sua atuação na mediação de conflitos agrários da região. Assista aqui o vídeo sobre sua vida e atuação.
(Josep Iborra - CPT Rondônia e Articulação CPT's da Amazônia)
No local onde Ramin foi assassinado, foi celebrada uma missa, presidida pelo bispo Diocesano de Ji Paraná, Dom Bruno Pedron, e pelos responsáveis no Brasil da Congregação dos Missionários Combonianos, congregação à qual pertencia o Padre Ezequiel. Um numeroso grupo de sua região natal de Pádua, na Itália, estava presente, junto com o irmão do mártir, Antônio Ramin. Todos participaram da bênção de um cruzeiro e da capela comemorativa feita em sua homenagem.
Trinta anos depois do martírio do Padre Ezequiel, a violência do campo continua acirrada em Rondônia. Na própria Rondolândia, já dentro do Mato Grosso, a maioria dos pequenos agricultores são posseiros sem título de terra e a prefeita da cidade tem recebido ameaças por causa da defesa dos mesmos, sem que o INCRA e o Terra Legal consigam regularizar a situação dos mesmos.
Dez mortes de camponeses, lideranças e pessoas envolvidas em conflitos no campo foram registradas este ano no estado. Esse número já é o dobro do total de assassinatos registrados durante todo o ano passado (5).
No contexto mundial de crise financeira e exploração de recursos naturais a qualquer custo, não é somente a Criação que estamos degradando, pois a disputa pela Amazônia está levando junto com a destruição da natureza a perda de muitas vidas humanas.
Mais de 550 famílias da comunidade ribeirinha de Tabajara podem ser expulsas de suas terras pela construção da Usina de Tabajara, atingindo também seringueiros, indígenas isolados e os povos Tenharim, Gavião e Arara, no Rio Machado.
Foi em Machadinho do Oeste, onde Fábio Carlos da Silva Teixeira, sem terra do Acampamento Fortaleza, foi assassinado a pauladas no dia 12 de abril deste ano. Em Machadinho será justamente o local onde será realizada, no próximo dia 23 de agosto, a 10ª Romaria da Terra e das Águas de Rondônia, organizada pela Paróquia Santa Marta, pela Arquidiocese de Porto Velho, a Diocese de Ji Paraná, a Diocese de Guajará Mirim, o Sínodo da Amazônia da Igreja Luterana no Brasil (IECLB), a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Projeto Padre Ezequiel e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI).
A 10ª Romaria da Terra e das Águas têm como tema: "Terra, floresta e água dádivas de Deus para viver e conviver" e como lema: "Somos testemunhas (At.3) de um novo céu e uma nova terra (Ap. 21)", e propõe uma reflexão sobre o uso e partilha dos dons da nossa Amazônia abençoada pela Criação: A terra, as águas e a riqueza de vida das florestas, dádivas que Deus criou para todos, um desafio para cuidar e administrar conforme a vontade divina de fraternidade, com a missão de colaboradores de sua obra e construindo o "novo céu e a nova terra" que Cristo inaugurou no meio de nós.
"Agronegócio, grandes hidrelétricas, asfalto, exploração de minérios para venda como commodities, desencadeiam processos de destruição da natureza, de saberes acumulados durante milênios e incalculáveis fontes de pesquisa". O comentário é de Egydio Schwade em artigo publicado pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI).
Egydio Schwade é um dos fundadores do Conselho Indigenista Missionário - Cimi e primeiro secretário executivo da entidade, em 1972. Hoje é colaborador do Cimi, residindo em Presidente Figueiredo-AM. Eis o artigo:
Cada gesto que fazemos em direção à mãe-terra desencadeia um processo de conseqüências boas ou más sobre a vida no Planeta. Quando este gesto ou investimento é correto desencadeia um processo de consequências a favor da vida, alcançando o objetivo da ação e outros no seu caminho.
Em uma estrada com declive a água das chuvas prejudica não apenas a estrada, mas causa erosão e assoreamento em todo o seu caminho rumo ao mar. O que se faz costumeiramente, à frente o poder público, é levar essas águas o mais depressa possível para dentro do igarapé, rio ou mar, acumulando um problema atrás do outro. A água abre sulcos cada vez mais profundos nas laterais da estrada, causa frequentes avalanches, transporta toneladas de terra que vão assorear igarapés e rios, prejudicando a flora e a fauna aquáticas... Ou seja, se desencadeia um processo de destruição que futuramente exigirá fortunas para ser reparado.
Acolhendo esta água no sítio ao lado resolvemos o problema dos usuários da estrada: a erosão. Economizamos o dinheiro para a manutenção da estrada. No sítio a água canalizada irriga as plantas. E, abrindo buracos ao longo do canal, de espaço em espaço e enchendo-os com matéria orgânica resultante de poda ou lixo orgânico, estes formarão “ilhas de fertilidade”, onde poderão ser cultivados frutos, hortaliças ou plantas medicinais. Os canais ainda absorverão e filtrarão parte da água que abastecerá o lençol freático... Assim a simples canalização da água para dentro de um sítio pode desencadear ações a favor da vida e do planeta.
Semelhantemente, repetimos, a cada hora do dia que passa ações de consequências positivas ou negativas. A existência de sauveiros ou formigueiros de saúvas tem a sua finalidade positiva. São amaciadores e adubadores da terra árida e mediante os canais que criam no solo abastecem as águas os lençóis freáticos. Mantidos sob controle mediante água e serragem, protegem-se as flores e fruteiras e mantém-se a terra adubada e úmida... Combatidos com veneno desencadeamos processo inverso, de malefícios para a vida na terra. Destruímos a finalidade de sua existência, envenenamos a terra e os alimentos que ela produz. E os processos nefastos se prolongam ao infinito. O governo ainda não avaliou e talvez nunca vá avaliar os prejuízos que causou à Amazônia, ao mundo e continua causando com a entrega do chapadão dos Parecis e do estado de Tocantins ao agronegócio, que destruiu milhões de sauveiros que regulavam as águas rumo ao rio Amazonas e ao mar.
Visite-se Santarém, considerada uma das concentrações humanas mais antigas das Américas. Vejam o que a Prefeitura e a população vêm fazendo com a “terra preta”, a melhor terra de toda a região amazônica. O que gerações e gerações de humanos acumularam com sua sabedoria para o cultivo da terra está sendo diariamente “enxotado” às toneladas, como lixo, para o Rio Tapajós, para o rio Amazonas, para o mar... para ser substituída por asfalto e cimento.
Agronegócio, grandes hidrelétricas, asfalto, exploração de minérios para venda como commodities, desencadeiam processos de destruição da natureza, de saberes acumulados durante milênios e incalculáveis fontes de pesquisa.
Todas as metrópoles são arsenais ou fábricas de burrice porque se estruturam todas sobre processos iníquos. É asfalto e cimento cobrindo a mãe-terra. São arranha-céus que exigem milhões de toneladas de seixo ou brita que vão aniquilando o alimento e os refúgios da fauna dos rios ou desmontam com potentes dinamites milhões de toneladas de rochas, abalando a estrutura do solo e do subsolo...
A exploração da floresta para transformar sua madeira em mercadoria não é sustentável, pois também desencadeia processos nefastos para a humanidade. O madeireiro não reconhece e não vê valor nos cipós e na variedade imensa de plantas valiosas não-madeireiras, nem os animais silvestres e nem o abrigo das águas.
O sustento e o incentivo cego às fábricas de carros e de plásticos descontrola a humanidade com relação ao destino do lixo inorgânico...
O “cidadão” se transforma em um “urbanagem”, em “urbanoide”. Viciado por milhares de leis escritas acaba estruturando sobre elas toda a sua “sabedoria” e ”ciência”. A ciência congênita, ou consciência, fica em segundo plano ou até totalmente esquecida, tornando o cidadão um “paraplégico” entregue aos “cuidados” de um Estado cego, sempre descontrolado pelas forças ou interesses que o comandam. Assim em meio a toda esta crematística, como Aristóteles denomina este tipo de “economia” que vem sendo praticada pelos Estados, é salutar pensar na transformação do sistema político e social vigente e não apenas em paliativos.
Vários indígenas foram espancados e um adolescente de 15 anos mantido algemado sob o sol durante várias horas. Esse foi o saldo de uma ação policial que ocorreu no último dia 13, na aldeia Vista Alegre, da Terra Indígena (TI) Torá/Munduruku do Rio Marmelos, localizada no município de Manicoré, distante cerca de 350 quilômetros de Manaus.
Uma decisão liminar suspendeu o despejo de cerca de 80 famílias em área rural de Machadinho D'Oeste. A liminar foi do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília, e atendeu a um recurso do Ministério Público Federal (MPF) e da Defensoria Pública da União (DPU) contra uma decisão da Justiça local.