“A disputa pelos territórios indígenas, de negros – despois seus remanescentes –, comunidades tradicionais, uma multidão de sem-terra num pais de 8,5 milhões de k², atingidos por barragens, por mineração, além de pequenos agricultores sempre agredidos por latifundiários – agora pelo agronegócio -, fazem com que a CPT permaneça há mais de 40 anos no cenário brasileiro”. No contexto dos 41 anos da Comissão Pastoral da Terra (CPT), confira Artigo de Roberto Malvezzi.
(Por Roberto Malvezzi, Gogó)
Por que um país que diz ter mais de 500 anos ainda arrasta ao longo da história seu pecado original, sem redenção?
O traço fundamental da história brasileira é o trato com a natureza e os povos originários, depois também os negros. Para controlar as riquezas e esses povos sempre foi preciso controlar seus territórios. A Lei de Terras de 1850 apenas consolidou o que estava gestado desde o princípio.
A disputa pelos territórios indígenas, de negros – despois seus remanescentes –, comunidades tradicionais, uma multidão de sem-terra num pais de 8,5 milhões de k², atingidos por barragens, por mineração, além de pequenos agricultores sempre agredidos por latifundiários – agora pelo agronegócio -, fazem com que a CPT permaneça há mais de 40 anos no cenário brasileiro. Não é só o passado, é o presente que se projeta para o futuro.
Num país civilizado a CPT não teria razão de existir, pelo menos na configuração que tem. Sua existência é a prova dos nove do atraso, do genocídio, da injustiça estrutural da terra que amarra o Brasil.
Em tempos de golpe a realidade se torna ainda mais obscura. O sonho senhorial de Brasil é extinguir essas populações. Quase conseguiram, mas a resiliência tem sido mais poderosa que os poderes da morte, embora as mortes ainda sejam tantas.
Papa Francisco nos pede que sejamos capazes de ver e celebrar também as pequenas conquistas. Muitas vezes precisamos de lupa para visualizá-las. Mas, a agroecologia, a organização de tantos movimentos pela terra, a resistência dos pequenos agricultores, a insurgência atual dos indígenas – aqui o CIMI tem a palavra por excelência -, dos pescadores – onde o CPP tem também a excelência -, a conquista da água no Nordeste, a conquista de tantos territórios, ainda que não tenham mudado as estruturas, ao menos ajudam tanta gente a viver melhor. A CPT, de alguma forma, está presente nessas conquistas.
O melhor seria que a CPT tivesse vida curta e desaparecesse, tendo cumprido sua missão, desde que as razões que provocam sua existência desaparecessem do Brasil. Nem olhando o horizonte conseguimos vislumbrar essa possibilidade.
Que as Igrejas – particularmente a Católica -, a sociedade civil organizada, os que têm fome e sede de justiça – inclusive a Cooperação Internacional – consigam ter visão histórica e ajudem a Pastoral a cumprir sua missão enquanto for necessário.
“Se eu me calar, quem os defenderá?” Com essa reflexão, a partir do testemunho de Padre Josimo, a CPT Araguaia Tocantins iniciou, ontem (22), o Dia Nacional de Formação, em sintonia com os demais regionais que também celebraram os 41 anos da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
(Por Evandro Rodrigues, agente da CPT Araguaia Tocantins | Imagens: CPT)
No Dia Nacional de Formação, agentes, camponeses, camponesas e alguns alunos da Universidade Federal do Tocantins (UFT) celebraram os 41 anos da CPT e participaram da oficina de formação sobre registro de conflitos no campo, facilitada por Cássia Regina, coordenadora do Centro de Documentação Dom Tomás Balduino da CPT.
A celebração teve inicio com uma mística que nos fez refletir sobre a missão da CPT a partir da atuação de Padre Josimo, mártir da terra assassinado em 1986 por causa de sua atuação com os pobres da terra. Também foi um momento de reafirmarmos nosso compromisso com a missão profética e pastoral da CPT.
Cássia iniciou a formação questionando sobre o objetivo de estarmos discutindo esse tema. Para Valéria Pereira, o objetivo é fortalecer a dinâmica de documentação dos conflitos no campo no estado e conhecer melhor as ferramentas e metodologias utilizadas. Reforça também a importância de integrar outros atores da sociedade nesse trabalho de registro, pois a publicação Conflitos no Campo Brasil é utilizada como ferramenta de luta pelas comunidades.
Foi apresentada a metodologia utilizada pelo Centro de Documentação, exposta a história do registro e, paralelamente, retomando a história da publicação. Ao resgatar alguns antigos relatos de conflitos da década de 90, Cássia propôs que os agentes experimentassem a ferramenta, partilhassem as dificuldades encontradas e orientou os passos ideais para que o relato contenha todos os elementos necessários.
Reginaldo Viana, coordenador da Articulação Camponesa de Luta Pela Terra e Defesa dos Territórios, ressaltou que o encontro foi importante, pois possibilitou compreender como registrar os conflitos na comunidade e como a publicação pode se tornar um instrumento político para embasar a luta das comunidades.
Pitágoras Carvalho, integrante do Núcleo de Estudos Agrários e Direitos Humanos da UFT, afirma que este espaço de formação é importante para fortalecer a documentação dos diversos conflitos na região e também de levar esse debate à universidade.
No embalo da comemoração dos 41 anos de histórias da Comissão Pastoral da Terra, a CPT quer celebrar esse período importante conhecendo a sua história de envolvimento com a Pastoral. A gente sabe que você tem história para contar.
O pedido é simples: todos temos histórias para contar, portanto, queremos que você nos conte, através de uma publicação no seu facebook, alguma história ou causo que marcou a sua vida. Publique usando as hashtags #CPT40Anos e #HistóriasdaCPT, de preferência com uma foto.
Vamos monitorar as publicações através das hashtags até o dia 3 de julho. Depois dessa data, será formada uma exposição virtual com as histórias das pessoas que dão vida para a missão da CPT.
Acesse aqui a página da CPT no facebook.
Depoimento do ator Osmar Prado, gravado para a Campanha #CPT40Anos, que celebra 40 anos de atuação da Pastoral da Terra na defesa dos povos do campo, da terra e das águas.
A Comissão Pastoral da Terra agradece imensamente o apoio do ator Osmar Prado, que gravou voluntariamente o vídeo, abrindo mão de qualquer tipo de pagamento.
Agradecemos também o apoio e parceria do cinegrafista Igor Ferraz e do Núcleo Piratininga de Comunicação, que contribuíram tornaram possível a gravação acontecer.
FICHA TÉCNICA:
Produção e edição: Thomas Bauer
Imagens: Igor Ferraz
Colaboração: Paulo César Moreira, Cristiane Passos e Bruno Santiago.
Amanhã, 22 de junho, a Comissão Pastoral da Terra completa 41 anos de atuação em defesa da terra, das águas e dos povos do campo no Brasil. A data marca também o início da segunda fase da campanha ‘CPT 40 Anos’, que contará com a participação e o apoio da atriz Letícia Sabatella, do teólogo Leonardo Boff e do ator Osmar Prado em uma série de vídeos que serão publicados ao longo da semana.
Lançada oficialmente no dia 1º de junho durante o Encontro Brasileiro de Movimentos Populares em diálogo com o Papa Francisco, ocorrido em Mariana (MG), a Campanha ‘CPT 40 Anos’ pretende combinar ações de comunicação com atividades nas regiões onde a CPT atua, difundindo e resgatando as histórias de lutas que envolvem a Pastoral da Terra no passado e no presente. A sustentabilidade financeira da entidade é um dos temas centrais da campanha, que visa mostrar ao público diferentes maneiras de apoiar o trabalho da CPT.
Desde maio de 2016 a Pastoral da Terra realiza publicações temáticas em seu site e redes sociais para mobilizar as pessoas durante esse importante período que a entidade vive, difundindo acontecimentos e testemunhos de vidas que constituem a memória que inspira, de maneira mística e concreta, a atuação da CPT hoje. Passada a fase de se fazer memória, o segundo momento da campanha pretende dar luz para as atividades e projetos que são realizados atualmente pela entidade.
As articulações das CPT’s em defesa dos biomas do Cerrado e da Amazônia, a Campanha Nacional de Prevenção e Combate ao Trabalho Escravo, as Romarias das Terras e das Águas, a publicação Conflitos no Campo Brasil e o Centro de Documentação Dom Tomás Balduino são algumas das ações que estarão em pauta nos canais de comunicação da CPT, a partir do dia 22, com o objetivo de ganhar espaço na agenda social e política da sociedade.
Portal de cara nova
A CPT está trabalhando para lançar um novo portal online. O site atual, por enquanto, ainda está em fase de testes e melhorias. O objetivo é que a plataforma, hoje referência internacional na busca de dados relacionados à conflitos no campo brasileiro, possua uma navegação mais simples e acessível para todos os públicos, aprimorando, também, o armazenamento de materiais que registraram 40 anos de histórias e aprendizados da organização. Em breve serão divulgadas mais informações sobre o novo site.
Já conhece a Lojinha Virtual da CPT?
Integrando o período de celebração, é lançada a primeira Lojinha Virtual da CPT. O espaço será usado para a exposição e venda de materiais, publicações e produtos da Pastoral da Terra – como camisetas temáticas, canecas e bottons. Sem fins lucrativos e visando exclusivamente a sustentabilidade financeira das atividades da CPT, a Lojinha oferece ao público a possibilidade de apoiar as lutas em defesa da terra, das águas e dos povos camponeses contribuindo institucionalmente com a entidade.
As compras podem ser feitas através do cartão de crédito por meio do sistema PagSeguro, recebendo comprovante após sua transação. O valor do frete de deslocamento será calculado pelo sistema com base no peso do produto e do local de destino. Dúvidas? Entre em contato conosco através do e-mail administracao@cptnacional.org.br.
Na noite de ontem, 1 de junho, a CPT lançou oficialmente a Campanha “CPT 40 anos” e sua publicação anual “Conflitos no Campo Brasil 2015”, que traz como tema principal a tragédia do rompimento da barragem da Samarco em Mariana. A atividade antecedeu o início do Encontro Brasileiro dos Movimentos Populares em diálogo com o Papa Francisco, que segue de 2 a 4 de junho, também na cidade histórica de Mariana (MG).
(Cristiane Passos - CPT Nacional / fotos: Bruno Alface)
A Campanha CPT 40 anos irá celebrar os 40 anos de caminhada da Pastoral e, também, desenvolver ações voltadas à captação de recursos financeiros para garantir a continuidade de suas ações. Toda a sociedade pode contribuir com o trabalho e as lutas defendidas pela CPT através de doações, ou mesmo com a compra de materiais que serão disponibilizados pela Pastoral em uma loja virtual no site www.cptnacional.org.br.
Thiago Valentim, da coordenação nacional da CPT, abriu a mesa lendo os nomes das 19 pessoas mortas pela lama proveniente do rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), no ano passado. “É na memória desses homens e mulheres que foram vítimas fatais nessa tragédia do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), que lançamos aqui hoje a publicação anual da CPT, Conflitos no Campo Brasil 2015”, destacou Thiago.
Dom Geraldo Lyrio, bispo da arquidiocese de Mariana, saudou a todos, e lembrou da participação da Igreja nas discussões da questão da terra, como quando do lançamento do documento da CNBB, “A Igreja e os problemas da terra”, em 1980 e, em 2014, o lançamento de outro documento que atualizou as análises sobre esse tema, no documento “A Igreja e a Questão Agrária no início do século XXI”.
“As decisões governamentais têm sido quase sempre tomadas para favorecer o latifúndio e o agronegócio. Se por um lado houve avanço na afirmação de direitos, por outro lado sente-se que os conflitos aumentam”, enfatizou Dom Geraldo.
“O lançamento da Campanha da CPT 40 anos no marco de seu aniversário e do relatório Conflitos no Campo Brasil 2015 aqui hoje mostra a realidade dos conflitos acompanhados pela CPT. Infelizmente, nada indica que venha a diminuir a enorme violência praticada contra os que vivem essa dura realidade. A Igreja não pode recuar em sua presença pastoral em todos os recantos desse país, ela precisa estar atenta à realidade dos povos do campo, das águas e das florestas”, disse o bispo.
Sobre o desastre ocorrido em Mariana, o bispo lamentou os enormes prejuízos ambientais e, principalmente, as vidas e as famílias que foram destruídas pela lama da Samarco. “A realidade que estamos vivendo em Mariana com o rompimento da barragem, nos faz tocar com as próprias mãos as tristes consequências do maior desastre ambiental já ocorrido no Brasil, e um dos maiores do mundo. Agradeço a CPT por marcar esse evento aqui em Mariana, por sua solidariedade, como agradeço aos irmãos e irmãs que vieram para o Encontro pelo mesmo motivo. Esse desastre tem proporções incalculáveis e há prejuízos que são irreparáveis”.
Os conflitos que todos registram em seu dia a dia de luta
A pastora e assessora da CPT, Nancy Cardoso, analisou os dados compilados pela CPT em sua publicação Conflitos no Campo Brasil 2015. Para ela, todo e toda militante escreve seu próprio relatório de conflitos. Em suas agendas, cadernos de anotações, com as histórias que acompanham em seu cotidiano de lutas, estão os registros e os conflitos que encontramos no relatório da CPT.
“A publicação dos conflitos feita pela CPT é isso, é a junção de todos os dados que os agentes da CPT e os parceiros, foram registrando ao longo dos anos. Nós temos uma grande tarefa diante de nós, esses grandes conflitos e o enfrentamento a eles, que estão cada vez mais claros à nossa frente, como foi essa tragédia de Mariana”, destacou ela. “A gente faz um esforço de juntar todas essas lutas, para que nenhuma delas caia no esquecimento. Esse é um ato de espiritualidade!”, finalizou a pastora.
Maria do Carmo, coordenadora da CPT em Minas Gerais, destacou os conflitos que são mais recorrentes no estado. “Precisamos lembrar aqui que os conflitos envolvendo barragens não param por aqui nesse desastre de Mariana. 8% das estruturas de contenção de rejeitos não estão preparadas e nem seguras para o seu funcionamento. Os projetos são executados em detrimento da segurança das pessoas”. Maria enfatizou que os conflitos por terra no estado atingem principalmente os quilombolas e a classe trabalhadora.
A CPT na formação de lutadores e lutadoras
Rosângela Piovezani, do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), destacou a importância da CPT na sua formação como militante. “Fazer essa fala aqui me remete à minha história. Eu sou fruto dessa caminhada, de uma formação que a CPT fez. Eu ajudei no processo de construção do regional da CPT em Roraima. Sempre é muito gratificante para mim enquanto pessoa falar sobre a CPT. Gostaria de dizer que os movimentos de luta no campo, quase todos, quase todos mesmo, são frutos dos processos de formação da CPT. E os dirigentes que tiveram essa formação, seguem na luta até hoje, o que mostra que o trabalho da CPT é muito ético e de compromisso com quem ele forma e acompanha. O papel da CPT para mim sempre foi e sempre é a questão da missão, de acompanhar, de registrar as denúncias também. Os registros da CPT são registros para ficar na história, na memória, que o Estado nega e até mesmo é conivente com esses conflitos. Quero agradecer todo esse trabalho, quero agradecer à CPT por ter-se mantido fiel à sua missão”.
Rômulo Campos, da FETAEMG, da mesma forma destacou o início de sua militância por intermédio dos processos de formação promovidos pela CPT. “O que me fez ir para a FETAEMG, onde estou há 33 anos, foi a CPT. Eu estou aqui como se estivesse voltando para a minha casa. Tenho muito respeito mesmo pela CPT e pela luta dela. A maioria das pessoas que eu conheço, que defende o povo mais pobre, começou nas pastorais sociais, assim como eu”.
Frei Olavo Dotto, das pastorais sociais da CNBB, levou aos participantes da atividade a saudação de Dom Guilherme Werlang, que preside a Comissão das Pastorais Sociais, na Conferência dos Bispos. “Nesses 40 anos de caminhada, de abrir o olhar para o futuro, a CPT sempre se mostrou atual, atenta à profecia a que ela se comprometeu a seguir. Eu espero que ela continue com essa presença, profética e solidária, à serviço, e que ela continue a denunciar essa face malvada do capitalismo. Celebrar esses 40 anos é celebrar essa ação de graças e de esperança na continuidade de seu trabalho de presença e denúncia”.
Para assistir o vídeo com a transmissão online que foi feita do lançamento: https://www.youtube.com/watch?v=ZslegFlfQjM
Saiba mais sobre a Campanha CPT 40 anos: http://www.cptnacional.org.br/index.php/40anos
(Cristiane Passos - CPT Nacional / fotos: Bruno Alface)