COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Crédito: Gilmar Ferreira“Faz escuro mas eu canto – Memória, Rebeldia, e Esperança dos pobres da terra” foi o tema celebrado durante o IV Congresso Nacional da CPT, em julho de 2015, e relembrado no Conselho da CPT Bahia, no mês passado, no município de Senhor do Bonfim. Agentes da CPT Bahia, representantes de comunidades e dos movimentos sociais fizeram memória aos 40 anos de atuação da CPT. Confira alguns relatos:

 

(Fonte: CPT Bahia)

“A terra é de quem trabalha / E a história não falha, nós vamos ganhar / (…) Já chega de tanto sofrer / Já chega de tanto esperar / A luta vai ser tão difícil / Na lei ou na marra nós vamos ganhar…”.

A canção “A história não falha” foi relembrada na noite do dia 9 de dezembro do ano que passou, junto com várias histórias comoventes de pessoas que atuaram na Comissão Pastoral da Terra (CPT) e vivenciaram momentos importantes da luta no campo da Bahia. Confira algumas dessas histórias logo abaixo:

Djanete
“Cheguei na Bahia em 1978. Em 79 fui convidada para trabalhar na CPT de Santa Maria da Vitória. Era um momento tenso. Fazia três anos que Eugênio Lyra havia sido assassinado. Todos nós morávamos na mesma casa para termos mais segurança. Foi um momento de muito conflito. A comunidade de Cana Brava estava sendo expulsa pelo INCRA. Quem fazia isso era a Polícia Federal. Esse povo tinha que sair de lá para a PEC Serra do Ramalho. Tinham que sair para dar lugar ao povo que estava sendo expulso de Sobradinho. Para dar lugar ao povo que estava sendo expulso de sua terra, queriam expulsar o povo da região.

A PF vinha e derrubava as casas. Foi feita toda uma luta para fundar o sindicato. Mais de mil pessoas presentes. A comunidade começou a se organizar e dizer: “Daqui a gente não sai!”. Botaram os tratores para derrubar as casas do povo.

Como forma de resistência, as crianças sugeriram que a professora desse aula para elas em cima da ponte por onde as máquinas passariam. Quando as máquinas chegaram, soltaram fogos para avisar todo mundo que estavam chegando. Os motoristas desistiram, disseram que não passariam por cima das crianças. Essa comunidade, depois de 3 anos de muita luta, conseguiu 70 ha para cada família. Quando conseguiram as terras, conquistaram mais tarde escolas e energia.”

Luis Eduardo Terrin
“A CPT, diferente das outras pastorais, não está voltada para dentro, ela está voltada para fora. Ela quer se caracterizar como serviço. Para que os trabalhadores enfrentem juntos os problemas do latifúndio. Para que sejam sujeitos e atores da própria libertação. Estávamos em plena ditadura, mas tínhamos essas frestas. Em 1977 surge Juazeiro, 1978, a Lapa. Acho que celebrando 40 anos, temos que olhar o nacional como inspiração. Se atualiza e só faz isso porque está com o pé na realidade. Cheguei aqui no momento da barragem de Sobradinho, em 78. Conheci o antigo cais do rio recentemente, quando fui em Remanso e me veio a memória todos os relatos do povo e seu sofrimento. A pressão em cima dos órgãos fez o estado da Bahia dar uma pequena quantia ao povo”.

Roberto Malvezzi (Gogó)
“Nunca tinha visto nada parecido com o que eu vi em Campo Alegre de Lurdes  [BA]. Eu vim em 1980 e ouvir o povo era uma grande diferença metodológica. Usávamos slides e o povo adorava. Depois veio a seca de 1982 com a grande mortandade de gente. Quando veio a seca veio a necessidade”.

Padre Luis Tonetto
“Eu sou filho de camponeses. Nasci no campo. Me tornei padre na época de João XXII. Em 1966 cheguei aqui. A história na CPT é misturada com a minha história de padre. No contato com o povo, fui pegando gosto com esse trabalho com as comunidades. A CHESF [Companhia Hidro-Elétrica do São Francisco] abriu uma pista para colocar uma rede elétrica. Eu era padre em Jaguarari e vi um monte de gente perder as terras. E começamos reivindicando pelo menos uma indenização. Dom Jairo lutou para criar sindicatos em várias cidades. Dom Jairo teve logo a ideia de implantar a CPT aqui em Bonfim. Hélio foi o primeiro a pagar com a vida em 1978. O fazendeiro convidou Hélio para ir no carro dele e eu o acompanhei. O fazendeiro disse: ‘Você sabe que eu posso te matar’. Quinze dias depois Hélio apareceu morto. Nós, padres, assumimos a causa e os bispos também. Se os pobres daqui são os trabalhadores, então vamos trabalhar com eles”.

 

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