Mais de 50 barracos no Acampamento Padre Josimo, em Carrasco Bonito, na região do Bico do Papagaio (TO), onde viviam 80 famílias, foram destruídos na tarde desta segunda-feira (14). Trabalhadores denunciam tensão na região há mais de dois anos.
(Fonte/Fotos: MST).
Na tarde da última segunda-feira (14), o Acampamento Padre Josimo, em Carrasco Bonito, na região do Bico do Papagaio, estado Tocantins, foi incendiando. As 80 famílias acampadas foram surpreendidas com o incêndio de grandes proporções que queimou mais de 50 barracos.
“Eles estavam no acampamento quando o fogo começou. Adultos e crianças tentaram controlar as chamas, mas como estamos no período seco e o lugar é extenso, o fogo foi pulando de barraco para barraco”, relatou o coordenador do MST no Tocantins, Antônio Bandeira.
Os trabalhadores da região denunciam que já vinham sofrendo ameaças, o que desperta suspeitas sobre a autoria do crime. “Há cerca de dez dias uma figura política, um fazendeiro e empresário da região [...] andou dizendo que em breve os acampados poderiam receber uma surpresa”, disse Messias Barbosa, da coordenação do MST.
A ação não deixou vítimas fatais, mas algumas famílias perderam todos os seus pertences, além de uma grande quantidade de alimentos que foi queimada. O MST no Tocantins denuncia a negligência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária no estado (INCRA-TO), frente os inúmeros alertas do movimento sobre a situação de assédio que os trabalhadores acampados vinham sofrendo.
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“Diante dessa situação, esperamos que o Incra, que tem sido extremamente inoperante e tem se colocado totalmente contra os Sem Terra, inclusive criminalizando o movimento e dando total apoio aos grileiros que há mais de dois anos aterrorizam os acampados. Relembramos ainda que já é a segunda vez que isso ocorre só neste acampamento”, afirmou Bandeira.
Histórico
O acampamento está situado em um assentamento do Incra, criado na década de 90, numa região de forte disputa entre trabalhadores rurais Sem Terra e fazendeiros, políticos e empresários, que tentam de toda forma se apropriar da área pública.
Em 2015, diversos movimentos sociais do estado do Tocantins denunciaram o agravamento da violência na região do Bico do Papagaio através de uma 'Carta dos movimentos sociais contra a violência no campo'. No documento, manifestam “preocupação e indignação [...] frente ao acelerado aumento da brutal violência que atinge profundamente os trabalhadores e trabalhadoras rurais Sem Terra e as comunidades camponesas da região do Bico do Papagaio e de outras regiões do estado, ações que tendem a intensificar e tomar proporções maiores de conflitos agrários pela disputa da terra e território”.
O texto ainda tece fortes críticas à atuação das autoridades locais frente ao grave aumento da violência na região. “Somente no ano de 2014 a Comissão Pastoral da Terra registrou no Tocantins 21 conflitos por terra envolvendo 1456 famílias, sendo que 332 famílias foram despejadas, outras 655 foram ameaçadas de despejos, uma tentativa de assassinato e seis pessoas foram ameaçadas de morte. Os órgãos de segurança pública, bem como o poder judiciário, são inoperantes frente às atrocidades do latifúndio ocorridas contra os camponeses. Os agentes públicos de segurança agem como suporte de apoio ao latifúndio e a pistolagem contra os camponeses”, diz.
Por fim, os movimentos alertavam para a intensificação dos conflitos como resultado da inoperância do poder público. “Sabemos que a sanha criminosa do latifúndio e do agronegócio vem promovendo e tende a se intensificar uma verdadeira guerra junto aos trabalhadores rurais Sem Terra, posseiros, atingidos por barragens e comunidades quilombolas do Tocantins”.