Onze moradores de Barra Longa (MG) apresentam altos índices de arsênio e níquel no sangue. Nesta terça-feira (27) será realizada coletiva de imprensa, em Belo Horizonte (MG), para analisar os dados dos exames realizados pelo Instituto Saúde e Sustentabilidade.
(Fonte: MAB | Imagem: Guilherme Weimann/MAB)
No primeiro semestre de 2017, um exame de sangue realizado pelo Instituto Saúde e Sustentabilidade em onze moradores de Barra Longa, município atingido pelo rompimento da barragem de Fundão, comprovou níveis acima do normal de níquel e arsênio, além de baixa concentração de zinco, que é inibido pelo níquel.
Entre os moradores da cidade que se fizeram o exame, está Sofya Marques (imagem ao lado), de três anos, que desde a chegada da lama há mais de dois anos vem sofrendo com alergias, manchas na pele, dificuldades respiratórias e dores nas pernas. No dia 12 de março de 2018, a criança passou por novos exames, realizados pelo Hospital das Clínicas de São Paulo.
Os resultados dos novos exames, que foram informados por meio de ligação telefônica pela Dr. Evangelina – médica responsável pela pesquisa – apresentaram níveis ainda maiores de concentração de arsênio no sangue de Sofya. O metal tóxico é de alta densidade e a presença no corpo humano dificulta o metabolismo de proteínas e afeta o sistema nervoso central, medula, os rins e o processo hepático.
A situação da família de Sofya e de toda a população de Barra Longa é de pânico, a partir da constatação da presença de arsênio na urina e no sangue da criança. Ou seja, do primeiro exame para o segundo, a contaminação pelo metal aumentou.
“Nossa família está desesperada. Já não sabemos o que fazer. A gente espera que com esses resultados minha filha receba o tratamento. Pois há dois anos e quatro meses estou denunciando a presença de alergias e manchas na pele da minha filha por causa da lama, mas ninguém deu importância. Chegou ao ponto de funcionários da Samarco e da Fundação Renova me chamarem de doida. Mas a prova está aí e temos mais de um exame que comprovam as consequências da lama no corpo de minha filha”, relata Simone Silva, a mãe de Sofya.
As famílias querem saber quem arcará com os tratamentos. Além disso, exigem informações sobre possíveis contaminações ocasionadas pelos rejeitos da Samarco na água, nos alimentos, no leite e no ar e sobre os possíveis riscos de continuarem expostas à lama.
“Minha filha merece ser reconhecida e receber todos os tratamentos que precisa, para ter uma vida tranquila. A médica disse que enquanto a Sofya viver precisará de tratamento, pois uma vez contaminada, está contaminada para sempre”, enfatiza Simone.
O caso de Sofya não é um fato isolado na cidade de Barra Longa, nem em toda a bacia do Rio Doce. Atingidos na bacia também apresentam os sintomas da criança. “Muitas pessoas que estão consumindo a água estão tendo coceiras, feridas, dores no estômago, machas na pele e queda de cabelo. Vemos que é um problema grave e a longo prazo. Precisamos de realizar exames e responsabilizar os culpados por este surto de doenças ocasionadas pela lama”, denuncia o Movimento os Atingidos por Barragens (MAB).
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Os atingidos cobram respostas dos governos, Ministério Público e empresas responsáveis (Samarco, Vale e BHP Billiton) para resolver mais essa violação de direito provocada pelo crime do rompimento da barragem de Fundão.
Médicos e a Fundação Renova
Em Barra Longa, os médicos que atuam no plantão das Unidades de Pronto Atendimento (UPA) são contratados pela Fundação Renova. Segundo relatos dos atingidos, os médicos possuem uma relação muito próxima aos funcionários da Fundação. “Sabemos da constante proximidade dos médicos e da Fundação Renova e que são passadas informações confidenciais, o que na profissão é ilegal”, declara os atingidos.
“A Fundação Renova, criada como instrumento de diálogo e reparação do crime na bacia do Rio Doce, se recusa a reconhecer que a lama possa ter causados problemas graves de saúde na população atingida. A instituição se esquiva de viabilizar transporte para os atingidos realizarem os exames e, de certa forma, orienta os médicos a ocultarem informações. Isso reafirma a farsa desta Fundação, que nada mais é que o braço publicitário da Samarco, Vale e BHPBilliton para maquiar o maior crime socioambiental”, ressalta o Movimento.
Coletiva de Imprensa
Nesta terça-feira (27), representantes de diversos setores da sociedade civil se reúnem, a partir das 15 horas, na Sala de Imprensa da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), para apresentar dados e relatos sobre exames realizados pelo Instituto Saúde e Sustentabilidade, que constatou a contaminação em onze moradores de Barra Longa.