COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Nos dias 23 e 24 de novembro acontecerá a 32ª Romaria da Terra e das Águas, com o tema "Terra e água: elementos sagrados, fontes de direitos e liberdade", no município de Joaquim Gomes, zona da mata de Alagoas. O evento atrai centenas de peregrinos e peregrinas que caminham pela fé.

Por Lara Tapety, assessoria de comunicação da CPT em Alagoas

A escolha de Joaquim Gomes para a realização desta edição não foi à toa. Situado na zona da mata de Alagoas e marcado pela concentração de terra, Joaquim Gomes tem aparecido nos jornais do estado devido à frequente falta de água. Além da poluição dos rios, a população sofre com a ausência de água nas torneiras. Assim, o tema da romaria está relacionado com a situação da maioria dos juruquenses.

Diferente das romarias tradicionais, as romarias da terra e das águas não costumam ter santos e promessas, mas, sim, uma causa coletiva que está explícita em seu nome: o direito à terra e à água. O que as romarias têm em comum? A fé cristã em busca de uma vida melhor.

As romarias da terra e das águas têm a ver com liberdade, como aquela narrada no livro Êxodo, realizada por Moisés, que se tornou uma “marcha” para a terra prometida por Deus ao povo, para longe do Egito, onde vivia escravizado pelo faraó. A humanidade ainda carece de liberdade. E esta 32ª edição vem para motivar a luta por terra e água como fontes de direitos e liberdade.

Apesar do declínio da indústria açucareira em Alagoas, o monocultivo da cana ainda é forte em Joaquim Gomes, como se não houvesse outra alternativa econômica na região. Centenas de canavieiros foram libertados do trabalho escravo, porém, sem terra e água não há vida digna.

Para a Irmã Rizomar Macedo Costa, da Congregação de São José de Pinerolo, que participa da organização do evento, “esta romaria é um momento de refletirmos juntos sobre o direito à terra e a água, que são elementos sagrados que Deus deixou para a gente viver com dignidade”.

Na carta aos romeiros e romeiras, documento assinado pelo arcebispo de Maceió, Dom Antônio Muniz Fernandes - que conclama a participação na romaria –, é apontada a plena consonância desta 32ª edição com a posição da Igreja ao destacar a orientação do Papa Francisco de que a Igreja seja firme na defesa da vida.

“Vivenciamos uma jornada mundial em defesa da terra, dos rios, das florestas e dos povos. É necessária uma compreensão de que tudo é criação e se encontra interligado em nossa casa comum”, diz o texto.

A 32ª Romaria da Terra e das Águas é realizada pela Arquidiocese de Maceió, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Paróquia São José Operário, Pachamama Onlus e Amici di Joaquim Gomes.

Preparação

Desde o mês de setembro, a Cruz Sem Males, símbolo da romaria, percorre as comunidades da paróquia urbanas e rurais e o território indígena Wassu Cocal, onde serão rezados o tríduo em preparação para a 32ª edição da peregrinação religiosa.

 A cruz, feita artesanalmente pelos monges da Catita no ano de 2002 e associada à luta pela terra, chegou a Joaquim Gomes no dia da Exaltação da Santa Cruz, 14 de setembro. Na chegada à Usina Agrisa houve a explicação sobre o sentido da Cruz Sem Males e da 32ª romaria.

A cruz possui setas que indicam a direção da “Terra sem males” (Jo 14,6), sem perder a visão do alto (Cl 3,1) e do que está na frente (Fl 3,13-14). Em seus braços, são talhados elementos decorativos que representam as raças que se juntam em Jesus Cristo que disse: “Quando for elevado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12,32). É com Ele que as três raças partem para conquistar a Terra Sem Males. Na parte inferior da haste são representadas as quinze romarias em um motivo agrícola: um ramo que vai ser levado na cruz com folhas, cada uma significando uma romaria passada e a atual. Isso foi retratado no cartaz da 32ª Romaria.

Além da chegada da cruz, diversas ações vêm ocorrendo como parte do processo de preparação para a chegada da romaria, a exemplo de reuniões com as comunidades e até uma caminhada, no dia 23 de outubro, que se tornou um importante ato público em defesa da água para os moradores do Conjunto Novo. Eles enfrentam uma exaustiva rotina diária carregando baldes dos chafarizes para suas casas.

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A caminhada “Água: elemento sagrado, direito de todos” motivou o protagonismo ali. Como resultado, o horário dos chafarizes foi aumentado e está sendo avaliada a possibilidade de levar para as residências a água encanada a partir de uma caixa d'água dos poços artesianos.

Programação

A 32ª Romaria da Terra e das Águas começa a partir de 20h do dia 23, em frente à Igreja Nossa Senhora da Conceição, com momento cultural, explanação sobre o tema, reflexões bíblicas e a celebração da Santa Missa, presidida pelo arcebispo, Dom Antônio Muniz.

Por volta das 00h começa a caminhada de 9km até a falida Usina Agrisa, onde a romaria vai ser encerrada. Durante o trajeto de aproximadamente 5h, animado com músicas que retratam a fé e a luta dos empobrecidos, haverão paradas para reflexões que dizem respeito ao tema. O latifúndio e escravidão, a terra enquanto elemento sagrado e fonte de liberdade e a água como direito de todos serão alguns dos assuntos abordados no percurso.

Homenagem

A missionária italiana Irmã Daniela é homenageada nesta 32ª Romaria pela sua atuação a serviço de Deus e aos irmãos tendo os empobrecidos como centro do serviço pastoral e alimento da fé.

A religiosa trabalhou com os esquecidos, drogados e prostitutas, na região de Torino, na Itália; passou pela Argentina e; no Brasil, sua missão foi em Joaquim Gomes, onde dedicava-se a atender o povo e cuidar da saúde do corpo e do espírito.

Maria Albina Elia, nascida em Piossasco na Itália o dia 30 junho de 1940, adotou o nome Irmã Daniela em 28 de agosto de 1961, após três anos de ingresso na Congregação São José de Pinerolo.

Ir. Daniela enxergava o rosto de Cristo nas pessoas sofridas. Junto com outras religiosas realizou – com doações generosas da população italiana de Piossasco e Pinerelo – várias obras: ambulatório, centro comunitário, escolas, etc. Além disso, esteve ao lado da Pastoral da Terra nos acampamentos, especialmente naquele que hoje é o assentamento Flor do Bosque.

Depois 54 anos de missão, Ir. Daniela faleceu no dia 27 de junho de 2012. Seu trabalho continua sendo motivo de inspiração aos que seguem os valores cristãos e lutam por direitos para todos.

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