Cerca de 400 pessoas de diversos municípios da região de Caetité participaram no último domingo (29) da III Romaria Diocesana na comunidade de Cachoeira, distrito de Guirapá – Paróquia de Pindaí, no sudoeste da Bahia. A Romaria é organizada pela Cáritas Diocesana de Caetité, integrada pelas Pastorais Sociais da Diocese, e este ano teve como tema: “Nossa Vocação é lutar pela vida”, e o lema: “Mostrai-nos, ó senhor, vossos caminhos” (Sl 25,4).
Texto: Beni Carvalho / CPT Bahia
Imagem: Gilmar Santos / CPT Bahia
Em plena caatinga, com sinais de um período marcado pela seca, mas devastada pelo capital eólico e especulada pela mineração, a Romaria veio com o propósito de renovar a fé e fortalecer a luta em defesa da vida, para romper com as injustiças, as desigualdades e reafirmar o projeto em defesa da vida. A programação do evento teve início já na noite do sábado (28), com a realização de duas vigílias, sendo uma na cidade de Guanambi e outra no Distrito de Guirapá, proporcionando um momento de partilha e sintonia com a temática da romaria.
No domingo (29), após a celebração de acolhida, os romeiros e as romeiras seguiram em caminhada até a comunidade de Cachoeira, acompanhados de espiritualidade, animação e reflexão que contagiou a todos presentes. Com três paradas, a Via Sacra convidou a todos/as a refletirem quais os problemas que afetam a vida do povo, dentre eles, os que estão ligados a conjuntura política atual com as reformas, cortes orçamentários dos programas e projetos sociais, além das políticas públicas para o semiárido que afetam a vida do povo empobrecido em nome do lucro de alguns.
Os/as participantes reafirmaram também o projeto de libertação a partir das experiências de organização, lutas e resistências que fazem com que o povo se mantenha no campo vivendo com produção saudável, convivendo com o bioma, gerando qualidade de vida. A Romaria entoou o grito de milhares de pessoas, que mesmo ausentes fisicamente, têm denunciado e lutado contra a instalação da Barragem de rejeitos da Bahia Mineração (BAMIM), no leito do Riacho Pedra de Ferro, que tem o objetivo de armazenar um volume de rejeitos 15 vezes maior que a de Brumadinho (MG).
Segundo José Pereira, presidente da Associação de Cachoeira, a importância da Romaria está na capacidade de unir pessoas em prol da luta e da resistência. “Trazer diversas pessoas de vários municípios e chamar atenção para ver de perto os problemas e gravidade deste projeto. E ainda anima a comunidade para seguir resistindo”, afirmou.
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Já para o Padre Waldeck Brito Gondim, a Romaria reuniu essas pessoas enquanto caminhada do povo de Deus. “Aqui podemos ver onde será construída (a barragem) e chamar as pessoas para a reflexão crítica a respeito dos impactos deste projeto. E por isso, ela cumpriu o objetivo de reflexão e oração e principalmente manifestar o sentido de esperança”, disse.
Reflexão semelhante fez a Suzane Ladeia, representante da Cáritas Diocesana de Caetité, a qual destacou a romaria como um processo importante para a comunidade pelo intercâmbio das pessoas e reflexão sobre os danos que o projeto da BAMIM pode causar. “Nos surpreendeu a participação das pessoas, principalmente do município de Pindai. E neste aspecto a romaria deu esse passo de despertar as pessoas para o problema da barragem de rejeitos”, concluiu.
Ao fim, a fé e a esperança no Deus da vida foram renovadas, construindo um compromisso permanente de mobilização da Diocese em defesa da vida, sendo expressa pelas comunidades presentes e resistentes aos projetos de morte, em especial, contra a Barragem de Rejeitos da BAMIM que não respeita os direitos das comunidades e de irresponsabilidade social e ambiental. O desafio dessas comunidades é celebrar a vida com amor, solidariedade e partilha na luta.