A Comissão Pastoral da Terra no Rio de Janeiro (CPT-RJ) vem, através desta Nota Pública, mostrar sua indignação e repudiar as afirmações do atual superintendente de agricultura e pecuária do município de Campos dos Goytacazes, RJ, Nildo Cardoso, realizadas durante Audiência Pública na Escola Técnica Agrícola, no dia 09 de março de 2017.
(Imagem: Joka Madruga)
Na ocasião, ele afirmou que o agronegócio será incentivado no atual governo, através de iniciativas de plantação de eucalipto e da soja na região. Tal posicionamento expressa muito a visão de desenvolvimento equivocada e lamentável, pois essa opção tende a privilegiar um modelo de agricultura altamente degradante em termos sociais e ambientais, que historicamente tem subalternizado e violado o modo de vida das camponesas e camponeses na região.
O monocultivo do eucalipto e da soja tem resultado na desertificação, na destruição dos biomas e na expulsão de milhares de camponeses do campo, os chamados “desertos verdes”. Os movimentos sociais campesinos e outras organizações já demonstraram que o agronegócio, além de não produzir alimentos saudáveis que resulta em insegurança alimentar e não garante a soberania alimentar, se baseia num sistema de exploração e reprodução da desigualdade no campo.
Nesse sentido, contrário a este modelo desigual, a Campanha da Fraternidade 2017: “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”, com o lema “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2.15), aponta caminhos para o respeito e defesa da natureza, da terra de Deus, dos povos da terra, uma mensagem que nos provoca a construir novas relações de reconciliação com a criação.
Fazemos das palavras do papa Francisco a nossa, em relação à posição soberba da humanidade em achar que somos “donos e senhores da natureza” e com o direito de saqueá-la. Para os povos do campo (acampados (as), assentados (as), assalariados (as) do corte da cana, pequenos agricultores (as), pescadores (as), quilombolas), a terra tem importância fundamental não só para suprir as necessidades de sustento, mas também de dar sentido aos seus modos de vida; assim, o campo não pode ser reduzido a um espaço de produção agrícola, pois é, principalmente, lugar da reprodução da vida e de direitos.
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A CPT se solidariza com os povos do campo e reafirma seu compromisso com a missão profética em defesa da vida e dos territórios camponeses. Defendemos a agroecologia na perspectiva da ecologia integral como modo de equilíbrio entre os seres humanos e a natureza, ou seja, o resgate do convívio pleno de toda a criação. Compartilhamos ainda as ricas tradições ancestrais, que valoriza o cuidado com a natureza que possui a espiritualidade enraizada na Mãe-Terra, na construção de sociedades do bem viver.
Reafirmamos nosso apoio às demandas dos (as) camponeses (as) inscritos na Carta Política da XV Romaria da Terra e das Águas, que ocorreu às margens do rio Paraíba, em julho de 2016, sendo expressão de fé, da confiança em nossa gente e na Justiça de nossas causas. Acreditamos que superaremos as desigualdades e injustiças sociais se não alterarmos nossas posturas pessoais, ecológicas e políticas. Sob a bênção Divina esperamos que as ações estruturais a essa transformação seja assumida urgentemente pelo governo municipal de Campos e por todos (as) aqueles (as) comprometidos com a construção de uma sociedade mais Justiça, fraterna, sustentável social e ambientalmente.
Campos dos Goytacazes, RJ, 29 de março de 2017.