O estudo aponta a importância de manter os territórios tradicionais em nome das comunidades e reafirma a necessidade de articulação para resistir e exigir do Estado a demarcação dos territórios.
(Texto e imagens por Equipe de Comunicação da CPT Bahia)
Representantes de dez comunidades de Fundo e Fecho de Pasto, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), da Associação de Advogados/as dos Trabalhadores/as Rurais da Bahia (AATR), do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA) e do Serviços de Assessoria a Organizações Populares Rurais (SASOP), se reuniram nos dias 30 e 31 de agosto em Salvador (BA), no Encontro de socialização e complementação do relatório do estudo de Fundo e Fecho de Pasto.
O objetivo desse estudo, proposto pela MISEREOR – instituição alemã que financia projetos que auxilia os membros mais fracos da sociedade –, é o de pesquisar a realidade socioeconômica das dez comunidades selecionadas, com o intuito de encontrar parâmetros de viabilidade destes modos tradicionais de vida. Entre as comunidades estudadas estão a de Areia Grande, em Casa Nova; Brejos em Barra, João Barroca em Caetité e Brejo Verde em Correntina.
As comunidades de Fundo e Fecho de Pasto encontradas somente no estado da Bahia, existem há mais de 100 anos, e são caracterizadas, principalmente, pelo seu modo de vida e ao uso coletivo e tradicional da terra, seja para a criação de animais a solta, para o extrativismo de frutos nativos ou coleta de plantas medicinais, como fonte de água e, têm o Cerrado e a Caatinga como patrimônio desta e das futuras gerações, guardiãs destes biomas e seus ecossistemas.
Segundo Carlos Walter, professor, geógrafo e assessor da Secretaria Nacional da CPT, que também é um dos consultores da MISEREOR nesse estudo, as comunidades de Fundo e Fecho de Pasto são complexas. “Você não consegue fazer uma pesquisa com uma única comunidade, sem entender a complexidade de um conjunto de conexões que ela tem, um nível de relações sociais e econômicas. A avaliação é que várias comunidades, que não vivem em situações iguais, mostram uma capacidade de se reproduzir e continuar vivendo por mais 150 anos”, afirmou.
Entre os resultados do estudo, ainda em construção, estão: a tendência para um “piqueteamento”, ou seja, dividir o território usado de forma coletiva em pequenas áreas, o que tem resultado em um aumento dos custos da produção; as formas de interlocução com o mercado e o próprio mercado interno das comunidades, sobretudo, baseado na troca; e as formas de gestão dos territórios adotadas pelas comunidades que possibilitam a manutenção das mesmas a longo prazo.
LEIA TAMBÉM: Compromissos dos Plenarinhos da 41ª Romaria da Terra e das Águas de Bom Jesus da Lapa (BA)
“Ainda estamos sistematizando, quantificando, mas é surpreendente. Eles estão enfrentando dificuldades imensas, como as grilagens de terras e as ameaças de mineradoras, empresas de energia eólica e energia solar. A pesquisa vai mostrando um potencial enorme que essas comunidades tem de produção e de convivência com o Semiárido, com as Caatingas e os Cerrados, e ao mesmo tempo capacidade enorme de resistência política, e foi nessa resistência que eles construíram uma identidade e um movimento do que eles têm em comum apesar das diferenças que existem entre eles, do uso de conhecimentos que preservam a natureza”, reforçou Carlos Walter.
Para Luiz Carlos de Andrade, da Comunidade de Fundo de Pasto Bom Jardim, em Canudos (BA), esse é um estudo diferente dos demais que já foram feitos, pois a partir das informações colhidas, a comunidade vai construir uma reflexão para ter um entendimento de como esse modo de vida, que é ancestral e economicamente sustentável, que respeita o meio ambiente, é importante e traz benefícios também para toda a sociedade.
“Nós afirmamos a continuidade de nosso modo de vida através do autorreconhecimento de pertencimento de se viver em uma comunidade tradicional, que os elementos que estão inseridos nas comunidades não é algo que veio de fora, mas que no dia a dia foi construído e definido pelos próprios moradores. Diante desse modo de vida, a gente sentiu necessidade de construir nossas próprias organizações: a nossa luta nasce, é entendida, refletida e feita pela comunidade”, concluiu.
O estudo, em sentido mais amplo, aponta a importância de manter estes territórios tradicionais em nome das comunidades e reafirma a necessidade de articulação para resistir e exigir do Estado a demarcação dos seus territórios.