COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Por Carlos Henrique Silva (Comunicação CPT Nacional) e equipe CPT Marajó/PA
Legenda: Uma das famílias de moradores teve sua casa derrubada pela segunda vez / Foto: Comunidade local

 

Moradoras e moradores da comunidade tradicional Kaloal, localizada na ilha Caviana, zona rural do município de Chaves (PA), denunciam que vêm tendo sua permanência de quase cem anos na terra e território ameaçada, através dos ataques de um fazendeiro que chegou à comunidade. Desde que se estabeleceu no território, ele vem jogando veneno sobre a comunidade, alegando a “limpeza de pasto”, além fazer escavações e cercas com máquinas pesadas, tomando todo o perímetro ocupado pela comunidade para suas atividades coletivas.

 

A notícia mais recente é da semana passada, no dia 30 de janeiro, quando a família de um dos moradores teve sua casa derrubada pela segunda vez, deixando a comunidade amedrontada, e o morador temendo pela sua vida e de sua família. O crime é fruto de ameaças feitas dias antes, pela insistência do fazendeiro em comprar as propriedades e expandir sua exploração pelo território.

 

Em 25 de janeiro, duas pessoas que se dizem policiais lotados em Afuá, junto com um homem que se diz encarregado da fazenda (que é, na verdade, a terra da comunidade), chegaram armados na casa do trabalhador, que ele fez depois de ter tido a primeira derrubada, humilharam e ameaçaram a família, exigindo que ele saísse da casa, ou, nas palavras deles, “iriam fazer desgraça por lá”.

 

Diante das ameaças, a família fez denúncias e registrou boletim de ocorrência na delegacia local, além de abrir um procedimento perante o Ministério Público Estadual (MPE). Segundo a comunidade e o que consta no boletim de ocorrência, um dos suspeitos de praticar a violência é o fazendeiro Rosiris Gianini Moreira Farias, que inclusive responde a processos em outros estados, como o Amapá, sobre o qual falamos em reportagem anterior.

 

Histórico de conflitos

 

Tudo começou há cerca de 20 anos, quando um fazendeiro local comprou a posse de um morador, e com o passar do tempo começou a cercar a terra e a impedir os moradores de acessarem os locais de pesca e roça. A comunidade então acionou as autoridades locais, e foi feito um acordo no qual o fazendeiro se comprometeu de não mais cercar, nem impedir o acesso aos locais citados. Há dois anos, o ciclo de violações iniciou novamente, com a chegada deste empresário e fazendeiro.

 

“A comunidade ainda convive com a presença constante de jagunços armados, vigiando a sua movimentação. Também há drones sobrevoando e por mais de uma vez vieram policiais, inclusive usando a lancha da PM/PA de Afuá, sem ordem judicial. Entraram nas casas do povo e ameaçando com armas em punho. O senhor Jorge e a sua esposa têm sido os mais visados. Esta família inclusive foi atingida por uma baforada de veneno sobre os seus corpos, quando andavam de rabeta no rio. Registros de filmagem mostram os jagunços do fazendeiro passando de avião, soltando veneno em cima deles”, afirmam os moradores. Os danos dos agrotóxicos já fizeram diversas pessoas da comunidade adoecerem e serem socorridas para a cidade de Macapá/AP, a capital mais próxima da região.

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