Pistoleiros matam militante do MST um dia após tentativa, no Pará. Movimento aponta clima de impunidade e cobra investigação rigorosa.
(Fonte/Imagem: De Olho nos Ruralistas)
Em 17 de abril de 1996, no município de Eldorado do Carajás, sul do Pará, 19 trabalhadores rurais sem-terra foram assassinados pela Polícia Militar do Estado. Waldomiro Costa Pereira, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), sobreviveu. Na madrugada de segunda-feira (20/03), a 70 quilômetros dali, ele foi assassinado, às 2h50, por cinco homens encapuzados, em plena UTI do Hospital Geral de Parauapebas.
Quase 21 anos se passaram entre o massacre e a execução, da curva do S em Eldorado aos leitos da UTI em Parauapebas. As imagens do circuito de segurança, às quais o portal G1 teve acesso, mostram que os jagunços renderam os vigilantes e foram direto à ala da Unidade de Tratamento Intensivo. Executaram o agricultor e atual servidor público do município com dez tiros.
Waldomiro estava no hospital porque dias antes, no sábado (18/03), tinha sido baleado numa primeira tentativa de assassinato. Segundo a família, três homens armados invadiram seu sítio, na área rural de Eldorado dos Carajás. Ele foi enterrado na terça-feira (21/03) em Curionópolis, no sudeste do estado.
Em Nota, o MST se solidarizou com o agricultor, que estava afastado das atividades recentes do movimento. Lembrou que Waldomiro entrou na organização em 1996 e se dedicava à agricultura no Assentamento 17 de Abril, onde militou desde a ocupação. Em nota, o MST cobra esclarecimento do caso pelos investigadores e afirma que o clima de “recorrente impunidade” contra assassinatos de trabalhadores no Pará é o maior culpado pela violência no campo:
– Este é mais um assassinato de trabalhadores no estado do Pará, em que o governo é culpado pela sua incompetência em cuidar da segurança da população e praticado em função da negligência do estado em apurar e punir os crimes desta natureza. Há alto índice de impunidade que se tornou corriqueiro, bem como a ação de grupos de milícias criminosas.
Em fevereiro, De Olho nos Ruralistas publicou uma reportagem no jornal Extra Classe sobre as quase 2 mil mortes no campo registradas no último período democrático. Durante essas três décadas o latifúndio cresceu 375%. No ano passado o país registrou 60 assassinatos no campo, um aumento de 20% em relação a 2015. Foi o ano mais violento no campo desde 2003, quando 71 camponeses e lideranças pela reforma agrária morreram por conta da disputa de terra.
Cacique assassinado no RS
O jornal gaúcho Zero Hora conta que o cacique Antônio Mig, de 57 anos, foi assassinado na noite de ontem em Ronda Alta, no norte do Rio Grande Sul. Ele estava na casa de um amigo e levou cinco tiros, disparados por duas pessoas que estavam em um veículo. Mig chegou a ser vereador pelo PT, entre 2012 e 2016. Ninguém foi preso ainda pelo crime.
Com base em informações da polícia, o jornal diz que Mig seria desafeto de um grupo indígena contrário à sua liderança. “No fim do ano passado, dois opositores do cacique foram presos em ação da Polícia Federal (PF) contra invasões na aldeia”, relata o Zero Hora. A PF pode reivindicar o inquérito, por enquanto sob a responsabilidade da Polícia Civil.