“A Romaria da terra faz o povo reunir, reunir, numa luta sem guerra, nós lutaremos por ti”.
(Por Tiago Aragão, CPT Bahia/ Equipe Centro Norte – Diocese de Ruy Barbosa | Imagens: Thomas Bauer)
No amanhecer do sexto Domingo da Páscoa, milhares de romeiros e romeiras de todos os cantos do Brasil chegaram à sede da Diocese de Ruy Barbosa, na Bahia, trazendo alegria e esperança em um contexto de golpe e de repulsa para o cenário político do país. A IX Romaria Diocesana da Terra e das Águas também celebrou os 25 anos da páscoa do bispo Dom Matthias Schmidt.
O bispo, que nasceu em 21 de abril de 1931 em Nortonville, uma pequena cidade do Kansas, nos Estados Unidos, entrou para a ordem dos Monges Beneditinos e foi ordenado ao sacerdócio em 30 de maio de 1957. No dia 23 de fevereiro de 1961 chegou ao Brasil, e após um tempo foi nomeado pelo Vaticano como Bispo Auxiliar na Diocese de Jataí e depois bispo na Diocese de Ruy Barbosa. Dom Matthias faleceu na manhã do dia 24 de maio de 1992 na cidade de Utinga, e da forma como sempre desejou “nos braços do povo, de um povo simples, trabalhadores e lutadores”.
Dona Clarice Maria, moradora de Ipirá, conta que “muitas vezes estive em celebrações onde Dom Matthias presidia, gostava de ouvir o que dizia, era forte, era da nossa vida, não falava difícil e nem de coisas de longe, era do nosso dia a dia, ele estava do nosso lado”, completou emocionada.
Para Vinicius Marcos, morador de Ruy Barbosa, a Romaria foi um momento de alegria e entusiasmo. “Não conheci Dom Matthias, mas ouço muito falar dele. Foi um bispo dos pobres, um pastor irmão e companheiro. Parece que Deus gosta deste povo, pois enviou Dom André, um Bispo que abraçou a causa das comunidades dando continuidade ao trabalho de Dom Matthias”, disse.
Na abertura da 9º Romaria, o bispo Diocesano e vice-presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT) Dom André de Witte fez a acolhida e trouxe a mensagem dos bispos que saudaram a Diocese de Ruy Barbosa. Uma grande multidão de romeiros seguiu em uma caminhada com três momentos: a reflexão à Memória de Dom Matthias, a denúncia sobre a questão da água, e, na Praça Santa Tereza, era proclamada com os sinais de vida a ressurreição da organização do povo.
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Padre Eugênio, natural da Itália, onde reside atualmente, também se lembrou de Dom Matthias: “ele sempre queria estar com o povo, era um bispo humilde, gostava de sentar junto com o povo no chão, queria viver as experiências que o povo vivia na dura realidade do dia a dia. Dom Matthias tinha um olhar de carinho e acolhida pelos agentes que estavam na Diocese, ele era especial”, concluiu.
Na homilia, Dom André de Witte refletiu sobre o tema da romaria, “Profecia, Luta e Esperança”. “Vivemos um momento difícil na história atual do país, e a vivencia de Dom Matthias, que enfrentou dificuldades naquele contexto histórico, sem perder a esperança, sem deixar de acreditar e sem desistir de lutar, é um exemplo. Lutar junto aos trabalhadores e trabalhadoras por terra, teto e trabalho, pão e dignidade. Ele também deixou em nossa memória a profecia do evangelho ‘derruba dos tronos os poderosos e eleva os humildes’”, ressaltou.
Nos momentos conclusivos da Romaria, Zé Vicente, convidou os romeiros e romeiras para juntos celebrarem o encontro musical e proclamar a vida de Dom Matthias. Durante sua fala, defendeu a garantia dos direitos do povo brasileiro e o afastamento dos maus políticos, assim como a continuação da luta por um país onde haja justiça social.
A romaria terminou e os milhares de romeiros e romeiras retornaram para seus destinos levando as sementes e mudas de plantas, para que a esperança e a vida permaneçam em suas comunidades.