COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Expressão popular, sabedoria camponesa, criatividade com as palavras, versos, estrofes, refrões... Na manhã desta terça-feira (14), trabalhadores e trabalhadoras, agentes pastorais e integrantes de movimentos sociais utilizaram das poesias para apresentarem os relatos reais da luta camponesa que agitaram o dia de ontem no IV Congresso Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que acontece entre os dias 12 e 17 de julho, em Porto Velho, Rondônia.

(Equipe de Comunicação João Zinclar - IV Congresso Nacional da CPT

Imagens: Joka Madruga)

Nas vozes de homens e mulheres, jovens e adultos, as cerca de mil pessoas presentes assistiram e ouviram atentamente cada palavra, cada movimento de expressão vindos do palco. “Convocados e convocadas pela memória subversiva do evangelho, a manhã desta terça foi marcada pela forte emoção que tomou conta de todos os congressistas. Foi a história de Jesus crucificado e reencarnado contada pelas diversas comunidades camponesas através de diferentes expressões populares, do nosso jeito de ser CPT: músicas, poesias, parábolas, metáforas”, destacou Nancy Cardoso, agente da CPT Bahia e pastora metodista.

Uma apresentação de teatro emocionou os congressistas. A peça fazia memória ao martírio de Sebastião Rosa da Paz, o Tião da Paz, camponês e sindicalista da região de Uruaçu, Goiás, assassinado a mando do latifúndio por conta de seu comprometimento com a luta pela terra. “Isso conta a história antes de nós, retrata a história que hoje somos nós e mostra a história que vai continuar”, complementou.

Logo abaixo, leia todas as poesias que foram recitadas durante as apresentações desta terça:

Tenda Rio Mamoré

História de resistência

Conto a vocês três histórias de resistência
Gleba Cascata; caldeirão contestado
E pra ninguém dizer que estou enganado
Apresento agora três beatos

João Maria, Ibiapina e Dionízio
Que na luta pela terra prometida
Organizaram em procissão
Todo um povo descalço no chão

Pela pedagogia do exemplo
Enfrentaram bala, ferro e fogo
Na defesa de um mundo novo
Com igualdade, fartura e pão

A aliança operária-camponesa é o caminho
Revolução, camaradas, não se faz sozinho
De indignação é nossa memória
É com rebeldia, radicalizando
Que construímos a história

Os senhores do estado logo se apresentaram
Com massacres, tomadas de terras e expulsão
E com toda perversão, miséria e destruição
Pra Cascata Mato Grosso, Contestado Paraná e Ceará do Caldeirão

A vida em comunidade quase desapareceu
Até Padre Cicero do Agreste percebeu
Mas a utopia na vida não terminou
Caldeirão sobrevive, Cascata ainda resiste
E Contestado ninguém esqueceu

O Estado mostrou para que veio
Assim cumpriu sua missão
Para os senhores do latifúndio
E pro povo nem um metro de chão

A aliança operária-camponesa é o caminho
Revolução, camaradas, não se faz sozinho
De indignação é nossa memória
É com rebeldia, radicalizando
Que construímos a história

Da tenda Rio Mamoré
Uma conclusão por aqui surgiu
Opressão, violência e injustiça
Do Estado sempre partiu
O conluio no tempo se fez
E pra dizer que não é embriaguez
Nossa lei é do modo burguês

A democracia no Brasil já faliu
Modelo que o camponês não se incluiu
Mas o povo quer mesmo exercer o poder
Para participação um dia fazer

A aliança operária-camponesa é o caminho
Revolução, camaradas, não se faz sozinho
De indignação é nossa memória
É com rebeldia, radicalizando
Que construímos a história

Escrito durante o IV Congresso da CPT, por autor não identificado


Tenda Rio Guaporé

Memória, confiança e esperança

Recordamos nossas lutas, numa roda em mutirão
Vimos três experiências de lutas na contramão
Eram lutas coletivas envolvendo muita gente e várias instituições
Cochichamos sobre as lutas, refletimos a situação
Demos passos importantes no processo em construção
Elegemos o Governo prá mudar a situação, mas isso não aconteceu
Apesar de coisas boas, o povo quer muito mais.
Vive meio insatisfeito querendo outros avanços, o Bem Viver para todos os cidadãos e cidadãs.

Sabemos que a coisa anda meio complicada
Se o povo não acordar e nas ruas se juntar
Pode ser que, o que conquistamos vem a se esfarelar.
Mas a luta nos provoca a nunca desanimar
Por isso, rememoramos para recomeçar

Olhamos o retrovisor, recordamos nossas lutas, nossa gente que acreditaram e acreditam que esse mundo pode muito melhorar. Não vamos desanimar, trabalho de base já.
Memorizando, rebeldiando, com esperança e confiança para o mundo melhorar.

Reinaldo Barberine, agente da CPT Minas Gerais

Só a luta faz valer
Quem tá cansado dê licença do caminho
Quem acredita dê as mãos e vamos embora
Pois quem tropeça no primeiro desatino
É pouca força na construção dessa história.

Não adianta inventar outros caminhos
Porque jamais vão conseguir nos convencer
Capitalismo nunca foi de quem trabalha
Nossos direitos só a luta faz valer
Capitalismo nunca foi de quem trabalha
Nossos direitos só a luta faz valer.

Canção de Zé Pinto, recitada e interpretada por Edileia Oliveira, agente da CPT Espírito Santo

 

Save
Cookies user preferences
We use cookies to ensure you to get the best experience on our website. If you decline the use of cookies, this website may not function as expected.
Accept all
Decline all
Read more
Analytics
Tools used to analyze the data to measure the effectiveness of a website and to understand how it works.
Google Analytics
Accept
Decline
Unknown
Unknown
Accept
Decline