COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Foto: João Zinclar.Envolto em um cenário místico e tendo o céu do semiárido como testemunha, camponeses, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, agentes pastorais e religiosos de todas as partes do país, iluminaram a noite de Montes Claros (MG), com as chamas de velas e tochas. Empunhavam estandartes com imagens daqueles que nos últimos anos morreram na luta por uma “terra sem males”, em defesa da vida, da terra, da água e dos direitos humanos. A noite desta quarta-feira, dia 19, relembrou os mártires da terra, e levou mais de mil pessoas às ruas da cidade mineira.

A celebração dos mártires foi um dos momentos mais emocionantes do III Congresso Nacional da CPT. Teve início na tenda dos Mártires, no interior do colégio São José Marista, onde os participantes fizeram suas orações, cantaram músicas da luta camponesa, além de destacar a esperança dos mais diversos povos e culturas, que carregam a cruz dos trabalhadores em prol da resistência.

Foto: João Zinclar.Durante a caminhada, as pessoas percorreram 2 km, passando pelos bairros de Roxo Verde, Santa Rita e Morrinhos e, por onde passavam, chamavam a atenção da população local. Ao todo foram seis paradas: cada uma refletiu as ações de resistência e defesa dos biomas da Mata Atlântica, Cerrado, Pampa, Amazônia, Pantanal e Caatinga, discutidos durante o Congresso, além de rememorar os mártires que tombaram na luta contra o latifúndio e o agronegócio em cada bioma.

Segurando um cartaz “Sei que vivo no coração dos que lutam pela liberdade”, a agricultora Maria Senhora, de 69 anos, moradora do assentamento Nova Conquista no Espírito Santo, se emocionou ao relembrar a história do assassinato do líder sindicalista rural Verino Sossai, morto em 1989, na luta contra o latifúndio no estado. A camponesa, que lutou junto com Verino pela conquista do assentamento, onde vive há 23 anos, afirma não desanimar com tanta violência no campo. “Lutamos muito para conquistar nossa terra. Enquanto eu estiver viva, vou lutar no meio do povo”, ressaltou.

Assim como Verino, foram relembrados e homenageados, ao longo da caminhada: Irmã Dorothy, Pe. Josimo, Gregório Bezerra, Zé de Antero, Vilmar, Ribamar, Sebastião Lan, João Canuto de Oliveira, Paulo Fontelles, Chico Mendes, Margarida Alves, Frei Tito, Joaquim das Neves, Saturnino, Dom Matias, Jussara Rodrigues, Luiza Ferreira, Zumbi dos Palmares, além de tantos outros, inúmeros lutadores e lutadoras do povo, de cada parte do Brasil.

Foto: João Zinclar.Para a engenheira agrônoma Heloísa Amaral, integrante da CPT Alagoas, a caminhada foi muito produtiva para conhecer ainda mais os sinais de morte do atual modelo de produção e as ações de resistência dos povos do campo. “Confesso que achei a caminhada lindíssima porque foi muito significativa, além de ter sido bem estruturada, trabalhando realmente cada bioma. E foi feito o resgate da luta dos mártires, além de dizer o que está acontecendo de errado e o que está sendo construído para melhorar”, ressaltou.

A cerimônia também foi marcada pela leitura da Nota Pública e de repúdio, assinada pelos participantes do Congresso, sobre a notícia de que Taradão, um dos acusados de ser o mandante do assassinato da irmã Dorothy Stang, foi solto após 18 dias depois de ter sido condenado a 30 anos de prisão pelo crime. O encerramento do ato político-religioso ocorreu em frente à Igreja Nosso Senhor do Bonfim, na Praça dos Morrinhos, com muita música e a partilha do licor de pequi, fruto típico do cerrado.

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