O que antes ocupava uma área de mais de um milhão de hectares, hoje não passa de 95.000 km quadrados. A Mata Atlântica brasileira, que já foi considerada a segunda maior floresta tropical da América do Sul, e que ocupa mais de 14 estados brasileiros, hoje luta para manter os 7,3% do que sobrou de sua área original. A riqueza da Mata Atlântica e a vida do povo que dela vivia, foram, em sua quase totalidade, destruídas pelo avanço dos monocultivos na região. A cana de açúcar, há 500 no solo brasileiro, e mais recentemente as plantações de eucalipto e o incentivo aos grandes projetos de desenvolvimento são os grandes responsáveis por esse crime.
Nesse cenário de devastação, as experiências de luta e resistência das camponesas e camponeses renovam as esperanças de perspectiva de mudança de realidade na região. Foi com esse ânimo que cerca de 200 delegados e delegadas do Congresso da CPT, participaram da tenda que apresentou seis experiências emblemáticas que propõem um outro modelo de estar na terra e pela defesa da Mata Atlântica.
Educação e práticas agroecológicas como ferramenta de enfrentamento ao agronegócio na região do Espírito Santo e Rio de Janeiro – a Escolinha de Agroecologia, e o conflito territorial entre comunidade de pescadores nas Ilhas de Sirinhaém (PE) e a Usina Trapiche, foram alguns dos processos de resistência apresentados.
De acordo com João Sávio, do regional RJ/ES, a proposta da criação da Escolinha veio a partir da necessidade que os agricultores e agricultoras - que estavam no processo de luta pela conquista da terra - tinham de fortalecer a produção camponesa e de cuidar da terra, sem o uso de agrotóxicos, pela valorização das sementes crioulas, do saber popular e da cultura camponesa. “A Escolinha já formou mais de 350 agricultores e agricultoras, com uma grande participação de jovens, e esse é o caminho para dar continuidade ao trabalho em defesa da cultura camponesa”, destacou a camponesa Elza, integrante do regional.
A CPT Nordeste II (que engloba os estados de PE, PB, RN, AL) trouxe a experiência de luta e resistência de uma comunidade de pescadores formada por 53 famílias nas Ilhas de Sirinhaém (PE). A comunidade sofreu diversas ameaças e foi vítima de inúmeros casos de violência promovidos pela Usina Trapiche, sendo expulsa de seu território, em 1998. Atualmente, apenas duas moradoras permanecem nas Ilhas resistindo à violência da Usina. A pescadora Nazareh da Silva, umas das que permaneceram nas Ilhas, chegou a ter sua casa destruída 10 vezes pelos capangas da Usina. “Nasci e me criei nas Ilhas, ali é um lugar bom de morar, lugar de barriga cheia. Podem destruir nossas casas, mas não vamos sair de lá, vamos resistir. Porque aquela terra é de Deus. Deus fez a terra para todos morarem”, destaca Nazareh.
No Bioma Pampa, assentados desafiam o monocultivo de eucalipto. O bioma, que só existe no Rio Grande do Sul, chega a ocupar 63% do território estadual, mas atualmente passa por um processo de devastação que compromete a sua existência. O avanço do monocultivo de eucalipto, da soja e a produção de alimentos transgênicos são destacados como os principais protagonistas do processo de devastação do Bioma Pampa e que impedem a produção de alimentos saudáveis, de acordo com Terezinha Ruzzarin, integrante da CPT do Rio Grande do Sul.
Com o objetivo de mostrar alternativas de enfrentamento ao plantio do eucalipto e que valorizem a cultura camponesa, os integrantes da CPT do RS apresentaram a experiência dos assentamentos Cambuchim e São Marcos, no município de São Borja (RS).
“Esses assentamentos sofriam continuamente o assédio das papeleiras em busca de novas áreas de plantio, para a formação de plantel de mão de obra nessas plantações”, descreve a Regional Sul. A partir de diversos espaços de formação e diálogo com os assentados e assentadas, foram identificadas algumas alternativas para potencializar a produção de alimentos saudáveis e garantir a geração de renda para os agricultores e agricultoras. Foram realizados estudos do solo no assentamento, e incentivo à produção agroecológica, a valorização de sementes crioulas e do uso de saberes populares para a solução das questões colocadas pelos próprios trabalhadores. Hoje, os agricultores já participam de feiras agroecológicas, o que fortaleceu ainda mais a organização dos assentamentos, além de possibilitar a autonomia financeira das famílias camponesas.