Confira Declaração Final da IV Assembleia de Mulheres da CLOC - Via Campesina, realizada nos dias 10 e 11 de outubro, em Quito, Equador.
Ao ritmo das lutas históricas dos povos e movimentos sociais, a América Latina iniciou um caminho de mudanças sem precedentes, de desenvolvimento do pensamento crítico, reforçando o projeto socialista, a construção do Bom Viver / Viver Bem, cristalizado em processos de transição que estão comprometidos com a descolonização e por profundas transformações, que levem a sociedades de igualdade, justiça e soberania, bem como a harmonia entre os seres humanos e a natureza.
Para as mulheres rurais de nossa América, reunidas na metade do mundo, o reconhecimento dos direitos da Pachamama (Mãe Terra) e de nossos deveres para com ela, a afirmação da diversidade da economia como produtiva, a prioridade da reprodução da vida e não do capital, é uma realização significativa das reivindicações históricas das campesinas rurais, indígenas e afrodescendentes.
Mas, enquanto estamos satisfeitos com esta evolução, que resultam de nossas lutas e resistências, reafirmamos nossa determinação de continuar lutando para que a proposta feminista continue ajudando a definir as mudanças socialistas que desejamos, para aqueles que lutaram incessantemente até que as forças combinadas do capitalismo e do patriarcado sejam parte do passado.
Da mesma forma, nós nos comprometemos a continuar a luta pela soberania alimentar, por nossas formas de vida, pela agricultura camponesa e por modos de distribuição de reciprocidade, que são desenvolvidos em harmonia com a natureza, dentro da qual temos implantado o exercício criativo da agricultura, a hibridização de semente, a pordução de alimentos que atendam a toda a humanidade, e outros conhecimentos, através dos quais se alimentou o mundo.
Nós rejeitamos as visões capitalistas que predominam na agricultura, que privatizaram a terra e a água e que impõem a dinâmica das empresas que destroem a vida rural.
Nós nos opomos a transnacionalização da produção de alimentos e à lógica da acumulação de ganhos do capital, que continuam a servir como objetivo a humanidade e nossas vidas, para as subordinar aos seus interesses.
Queremos passar de uma visão de distribuição regida pelo "livre comércio" para uma de complementaridade, reciprocidade e cooperação, como as nossas organizações têm vindo a propor em seus países, mas também no processo de integração regional, como da ALBA e da Unasul, que é um eixo-chave para o encaminhamento de nossas aspirações socialistas e anti-patriarcais.
A América Latina que queremos construir é uma que se construa de um relacionamento harmonioso e de interdependência entre os seres humanos, constituídos como iguais, que orientem sua ação tendo em conta a sustentabilidade da vida.
A América Latina a que aspiramos é uma compilação de convivência e solidariedade entre povos e culturas diversas, descolonizada, sem machismo ou racismo.
Queremos uma América Latina comunicada, que reconheça e se reconheça na diversidade de formas de expressão e comunicação de nossos povos, com meios de comunicação nos quais se expressem as iniciativas dos nossos movimentos sociais e das propostas políticas de mudança. Rejeitamos o ataque da ideologia capitalista e machista imposta pela mídia corporativa, que se tornou porta-voz dos interesses do capital e da direita.
Queremos uma região e um mundo livre de todas as formas de violência, seja machista, patriarcal, capitalista ou imperialista.
A América Latina e o Caribe que nós queremos é um território pacífico, desmilitarizado, sem bases militares estrangeiras, livre de práticas imperialistas de controle, sem criminalização ou perseguição política de organizações, do protesto e da pobreza.
Rejeitamos e condenamos as ameaças imperialistas e tentativas de golpe contra os processos de mudança, como na República Bolivariana da Venezuela, no Estado da Bolívia, Equador, e como foi imposta em Honduras. Rejeitamos qualquer tentativa de interferência e ingerência em nossos países e nas decisões de nossos povos, tal como se expressa no bloqueio imposto a Cuba há mais de 50 anos, pelo governo dos Estados Unidos.
Nós, mulheres rurais de 19 países, levantamos nossas vozes em uníssono em defesa da Mãe Terra como um todo e por uma reforma agrária integral, que garanta o acesso das mulheres à terra. Nós levantamos nossas vozes em defesa da soberania alimentar, produção e distribuição baseadas em economias solidárias e comunitárias, e não nos esquemas desleais e predatórios do capitalismo.
Vamos estar atentas até que nossa América Latina e o mundo sejam livres da opressão do capital e do patriarcado.
Sem feminismo não há socialismo
Contra o saqueio do capital e do império, América luta!
Pela terra e a soberania de nossos povos, América luta!
Mulheres do Campo lutando pela soberania popular,
pela justiça, a vida e a igualdade!