Temperatura média global ultrapassou 1ºC em relação à era pré-industrial, de acordo com cinco bases de dados globais independentes. (Ao lado, o mapa de temperaturas de dezembro de 2018 compilado pela NASA - Agência Espacial Americana)
(Fonte/Imagens: Observatório do Clima)
O ministro do Meio Ambiente do Brasil disse na segunda-feira que tem coisas mais tangíveis com que se preocupar do que a mudança climática, que segundo ele é uma discussão “acadêmica” sobre como estará a Terra “daqui a 500 anos”. Dois dias depois, na quarta-feira (6), quatro organizações independentes publicaram dados mostrando que o aquecimento global já é bastante tangível: o ano de 2018 foi o quarto mais quente da história desde o início das medições, em 1880.
Segundo a Nasa (Agência Espacial Americana), a Noaa (Agência Nacional de Oceano e Atmosfera dos EUA), o Met Office britânico e a OMM (Organização Meteorológica Mundial), o ano passado perde apenas de 2016, 2015 e 2017 no ranking dos anos mais quentes. Os cinco recordes globais de calor foram batidos todos nos últimos cinco anos. Recuando um pouco mais no tempo, nove dos dez anos mais quentes aconteceram desde 2005.
“Nós não estamos mais falando de uma situação na qual o aquecimento global é algo no futuro. Ele está aqui, agora”, disse à imprensa o climatólogo neozelandês Gavin Schmidt, diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais, da Nasa, que analisa mês a mês as temperaturas da superfície da terra e dos oceanos coletadas em 6.300 pontos ao redor do mundo.
O calor excepcional de 2018 e a tendência de longo prazo de aquecimento da Terra são confirmados por cinco bases de dados distintas, que usam metodologias diversas para produzir um compilado das médias globais. Todas mostram que a temperatura global em 2018 ultrapassou 1oC em relação à era pré-industrial. Em 2016, o ano mais quente da história, um El Niño excepcionalmente forte fez com que a temperatura atingisse 1,2oC acima da era pré-industrial.
Gráfico da Nasa mostra como cinco séries de dados concordam em relação à temperatura. Crédito: Reprodução/Observatório do Clima
O Acordo de Paris, de 2015, estabeleceu como sua meta mais ambiciosa que o mundo faria esforços para limitar o aquecimento global a 1,5oC. Em outubro do ano passado, o IPCC, o painel de climatologistas das Nações Unidas, publicou um relatório indicando que esse meio grau que falta poderia ser atingido já em 2040. Para evitar que isso ocorra, será preciso cortar 45% das emissões de gases de efeito estufa do mundo até 2030 – e a chance de que isso ocorra hoje é praticamente nula.
Segundo a Nasa, a temperatura média global em 2018 foi 0,83oC superior à média registrada entre 1951 e 1980, que por sua vez já é maior que a pré-industrial. A Noaa põe o aquecimento médio em 0,79oC acima da média do século 20. Esta agência, porém, não contabiliza o Ártico, região que esquenta duas vezes mais rápido que o resto do mundo.
Segundo os dados da Noaa, 2018 é o 42o ano consecutivo em que as temperaturas médias globais ultrapassam a média do século 20. Ou seja, na última vez que o clima da Terra teve temperaturas na média, o ministro do Meio Ambiente – aquele que diz que aquecimento global é uma preocupação para daqui a cinco séculos – ainda usava fraldas.
“A tendência de longo prazo das temperaturas é muito mais importante do que o ranking de anos individuais, e a tendência é de alta”, disse o secretário-geral da OMM, o finlandês Petteri Taalas em comunicado da organização.
As temperaturas, prosseguiu, contam apenas parte da história. “Eventos meteorológicos extremos e de alto impacto afetaram muitos países e milhões de pessoas, com repercussões devastadoras sobre economias e ecossistemas em 2018”.
Que o digam os EUA, cujo presidente, Donald Trump, nega o aquecimento global. Segundo a Noaa, uma agência do próprio governo, o país teme 14 desastres climáticos que causaram prejuízos na escala dos bilhões de dólares em 2018. A conta total foi de US$ 91 bilhões e 247 mortes.