COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

O dia 25 de novembro de 2016 marcou os trinta anos de imissão de posse do assentamento Pitanga I, localizado entre os municípios de Igarassu e Abreu e Lima, em Pernambuco. O assentamento é fruto da primeira ocupação de terra do estado e uma das primeiras do país.

 

 (Fonte: Comissão Pastoral da Terra – Regional Nordeste II |Imagem: Acervo CPT NE II)

Para comemorar as três décadas de imissão de posse, um dos momentos de alegria mais marcantes da história das famílias que hoje se encontram assentadas em Pitanga I, será realizada uma grande celebração, na escola do assentamento, às 14hrs deste próximo domingo, dia 27 de novembro.

O Assentamento Pitanga I é fruto da luta de cerca de 160 famílias sem terra que ocuparam as terras do Engenho Pitanga, no dia 8 de fevereiro de 1986. A área de aproximadamente 950 hectares era pertencente ao então poderoso grupo Lundgren. O Engenho, que antes da ocupação encontrava-se repleto somente de capoeira (vegetação composta por gramíneas), passou a ser o novo espaço de vida e produção dessas famílias sem terra.

Em um tempo em que quase não se ouvia, ainda, as palavras sem terra ou ocupação, essas 160 famílias ousaram dar os primeiros passos e protagonizar a primeira experiência de ocupação no estado de Pernambuco. Esses Homens, mulheres, jovens, crianças e idosos, injustiçados e injustiçadas, não abriram o caminho para transformar somente suas próprias vidas, mas também foram exemplos de esperança e luta para tantos outros, centenas e milhares de sem terra que os sucederam e que foram forjados nas ocupações de terras estado a fora.

Padre Tiago Thorlby, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que acompanhava os trabalhadores e trabalhadoras à época, relembra que a repercussão da ocupação foi imediata. “Logo os Lundgren acionaram as autoridades e um oficial de justiça foi enviado à ocupação com uma ordem de despejo. O Batalhão de Choque veio em seguida e o povo foi despejado”, lembra. Esse momento, certamente, foi marcante para as famílias. Padre Tiago relembra que os “homens de preto” do Batalhão de Choque chegaram ao acampamento bravejando que os/as trabalhadores/as eram invasores/as e que deveriam respeitar a propriedade privada. O insulto feito pelo Batalhão de Choque foi respondido por um dos acampados, conhecido como Seu Marinho: “Não somos invasores, somos brasileiros dentro da nossa própria terra. Respeitamos a propriedade privada tanto que decidimos pegar um pedaço para nós também”, relembra Padre Tiago. “Esse foi o dia em as famílias de Pitanga viraram brasileiros de fato. Marinho não falou isso sozinho. Foi o povo de Pitanga quem falou”, ressalta.

Vários meses se passaram sem resolução até que as famílias decidiram ocupar a Praça da República, em frente ao Palácio do Governo, onde permaneceram por mais de cem dias. Durante esse período, a situação dos trabalhadores e trabalhadoras foi de extrema negação de direitos e só não foi pior porque “o povo da cidade e das paróquias colaboraram com os seus irmãos do campo. Houve uma cumplicidade, uma comum união entre o povo da cidade e do campo”, afirma o Padre. A luta para a conquista das Terras no Engenho Pitanga deixou 23 mártires, que morreram em decorrência da condição de extrema negação de direitos e da fome.  

Finalmente, após quase dez meses de muitas dificuldades, mas também de muita resistência e teimosia, no dia 25 de novembro de 1986 saiu a imissão de posse da área reivindicada pelos trabalhadores e trabalhadoras sem terra. Hoje, passados trinta anos desde aquela data, as famílias do atual assentamento Pitanga I buscam agora garantir as condições para que permaneçam na terra de forma digna. Os desafios ainda são grandes e inúmeros. Mas o espírito da luta e a memória dos dias vividos pelas famílias de Pitanga I certamente alimentam e animam as lutas do presente. Mais que isso, são um exemplo: “O povo de Pitanga não somente aprendeu, mas praticou a partilha e a solidariedade”, conclui Padre Tiago.

 

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