Com objetivo de refletir sobre os problemas criados pelas matrizes energéticas utilizadas, mais de 20 organizações da sociedade civil se encontram em Brasília, no Fórum Social Temático de Energia.
(CIMI)
O impacto dos empreendimentos energéticos sobre os territórios e povos indígenas foi um dos motes de discussão do evento nesta sexta-feira (8). O indígena Jorge Pankara relatou durante o Fórum, os riscos sobre a construção de uma usina nuclear prevista para o sertão pernambucano, assim como os impactos gerados pelo empreendimento. “Os prefeitos da nossa região estão todos aliciados. Como podemos construir diálogo? O governo só sabe falar de dinheiro e circulação de capital sobre a construção da usina nuclear, mas não vê como as comunidades tradicionais serão afetadas”.
Com a construção da usina hidrelétrica de Itaparica em 1989 nos estados da Bahia e Pernambuco, de propriedade da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), muitos indígenas foram removidos de seus territórios tradicionais. “A Chesf não reconheceu a gente como povo indígena e hoje o governo vem apresentar esse grande empreendimento, o projeto Central Nuclear do Nordeste”, contou Jorge Pankara.
Os projetos anti-indígenas em tramitação no Congresso Nacional também foram debatidos no Fórum. “Nossa batalha é para arquivar todas as medidas que infringem nossos direitos. Essa bancada parlamentar só representa seus interesses econômicos e não as minorias. Nosso Congresso está hoje muito longe de ser uma casa do povo. Hoje lutamos pela descriminalização dos indígenas no Brasil, pois são muitos os casos de prisão política de indígenas que organizam movimentos, são inúmeros os motivos forjados para criminalizar, geralmente são depredação de patrimônio público e roubo”, comentou Sonia Guajajara, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
O Brasil passa hoje por uma reprimarização da economia, baseada na exportação de commodities, isso reflete a política desenvolvimentista do governo federal focada no agronegócio, onde os principais prejudicados são os povos indígenas e outros povos tradicionais, vistos como obstáculos para o dito progresso, por isso se necessita de uma infraestrutura que facilite o escoamento de toda produção.
“Hoje temos um modelo capitalista que visa o consumo desenfreado. Outra questão é o financiamento disso tudo, um banco público como BNDES financia hidrelétricas, ferrovia e hidrovia. No Mato Grosso do Sul, as usinas de produção de álcool estão invadindo os territórios do povo Guarani Kaiowá e todo esse processo é financiado com recurso público. O estado advoga e age em benefício de um modelo cujo os atores principais são anti-indígenas, anti-quilombolas e anti-pescadores. Considerando agora, em período eleitoral, os mais bem colocados nas pesquisas reforçam os projetos políticos de setores antagônicos aos nossos”, afirmou o secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário, Cleber César Buzatto.