COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

A mostra teve início no Teatro da Cerca de S. Bernardo e Casa das Caldeiras, hoje, 4 de dezembro, a partir das 19 horas, com a pesquisadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES) e coordenadora do projeto Entitle, Stefania Barca, seguida pela apresentação do filme "Chico Mendes: eu quero viver", do documentarista britânico Adrian Cowell, com debate com o câmera, co-produtor e co-diretor do filme, Vicente Rios, membro do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia, da PUC de Goiás. A mostra continua amanhã, dia 5.

 

Na sequência, será apresentado o filme "Delta Force", de Glenn Ellis, outro documentarista britânico, sobre a disputa entre o povo Ogoni e a petroleira Shell na Nigéria, que culminou com a execução do líder Ogoni Ken Saro Wiwa e outros oito ativistas, em 1995.

 

No segundo dia, a partir das 14 horas, na Casa das Caldeiras, serão apresentadas e debatidas outras lutas ecológicas ao redor do mundo. A premiada documentarista canadense Amy Miller irá apresentar e debate o recém concluído No Land, No Food, No Life, sobre a grande grilagem de terras na África. Está será uma apresentação excepcional do filme em Portugal, cuja World Première aconteceu recentemente no Vancouver International Film Festival. Informações sobre o filme estão disponíveis nesse website: http://nolandnofoodnolife.com/ Amy Miller, que também dirigiu Carbon Rush, debatera com o público os conflitos ambientais que registra em seus trabalhos ao redor do mundo e a técnica que utiliza para cruzar histórias em diferentes países.

História

 

Na noite de 22 de dezembro de 1988, uma semana após completar 44 anos de idade, Chico Mendes foi alvejado na porta de sua casa por um tiro de espingarda no peito. A tocaia foi armada pelo fazendeiro Darly Alves e executada por seu filho, Darcy. O motivo da morte por encomenda foi a disputa pelo Seringal Cachoeira, que Darly queria transformar em fazenda, expulsar os seringueiros e desmatar a floresta. Porém, o que estava por trás do crime era a destruição da Amazônia. Chico Mendes representava a resistência dos povos da floresta, as lutas sociais e a defesa ecológica das populações que ele, como poucos, soube organizar e liderar.

O assassinato de Chico Mendes a mando do fazendeiro Darly Alves, representante da então União Democrática Ruralista (UDR), entidade de classe dos grandes latifundiários (hoje representada pela Confederação Nacional da Agricultura, CNA), provocou uma imensa repercussão internacional. Ambos, pai e filho, foram condenados a 19 anos de prisão, cujas penas, hoje, já foram cumpridas.

 

Chico Mendes foi um dos mais influentes ambientalistas de sua época, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores e o ideólogo das "reservas extrativistas", na qual a população local que habitava a floresta teria o direito de manter seu modo de vida de coleta sustentável dos produtos florestais. "A reserva extrativista é a reforma agrária do seringueiro", ele dizia. Suas ideias giraram o mundo e inspiraram diversas lutas sociais. Chico Mendes havia conseguido interromper o financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a Ditadura, no Brasil, construir estradas na Amazônia, mostrando que o benefício dos empréstimos atingia apenas a uma pequena elite, provocando violência e destruição ambiental.

 

O líder seringueiro teve uma brilhante trajetória política, que havia iniciado com a alfabetização pelo militante comunista Euclides Távora, militante da Coluna Prestes refugiado na Amazônia, culminando com a organização do sindicato dos seringueiros, o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS). Nos últimos dois anos de vida, Chico Mendes foi acompanhado pelo documentarista inglês Adrian Cowell e o câmera Vicente Rios, que registraram sua vida em Xapuri, as viagens internacionais, e a sua militância até o dia do seu trágico assassinato. O resultado foi o filme "Chico Mendes: eu quero viver", que abre a mostra cinematográfica no Teatro da Cerca de São Bernardo (TCSB), e será apresentado e debatido por Rios.

 

Chico Mendes era um ecologista em defesa da Amazônia assim como Ken Saro Wiwa foi na Nigéria, como Wangari Maathai é ainda hoje no Quênia, ou como anônimos produtores familiares o são no interior da África ou do estado do Pará, na Amazônia brasileira. Na mostra Ecologia e Lutas Sociais serão apresentadas conexões dessas histórias de lutas, as trajetórias de vida de "outros Chico Mendes", do ecologismo popular e da luta social por justiça ecológica.


Violências contra ecologistas

Hoje, 25 anos após a morte de Chico Mendes, a América Latina continua a ser região mais violenta do mundo no que toca aos assassinatos de ecologistas, de acordo com a Global Witness. Segundo dados divulgados pela organização em um estudo recente, entre 2002 e 2012 ocorreram 711 mortes em 34 países. De todas essas mortes, 592 ocorreram apenas na América Latina, sendo 365 desses assassinatos cometidos no Brasil.

 

O objetivo da mostra não se restringe, no entanto, a abordar o tema da violência física contra ecologistas, mas também apresentar filmes que provoquem um debate sobre a dinâmica das lutas ecológicas na atualidade, com temas como por exemplo o acesso a recursos naturais e a participação das populações locais no debate sobre projetos que impactem seus modos de vida.


História da Amazônia

Ecologia e Lutas Sociais inclui uma parceira do Centro de Estudos Sociais com o Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA), da PUC de Goiás, onde estão arquivados os filmes e fotografias de Adrian Cowell, documentação realizada ao longo de mais de 50 anos de trabalho na Amazônia. Informações sobre o arquivo "História da Amazônia: 50 Anos de Memória Audiovisual" podem ser acessadas no website: http://imagensamazonia.pucgoias.edu.br/

 

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