COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

dorothyA Polícia Civil do Pará abriu duas investigações para apurar o suposto envolvimento de um delegado na morte da missionária Dorothy Stang, em 2005.O objetivo é descobrir se Marcelo Luz, á época delegado de Anapu (766 km de Belém), município onde a religiosa foi morta, forneceu a arma que foi usada no crime.

 

da Folha de S. Paulo

A polícia quer saber também se Luz cobrava propina dos fazendeiros para expulsar agricultores que invadiam propriedades da região. Em entrevista à Folha, publicada ontem, o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, condenado como mandante da morte, afirmou que o delegado lhe pediu R$ 10 mil em troca da proteção de sua propriedade contra invasores ligados à Dorothy.

As informações sobre o suposto envolvimento do delegado só vieram a público neste ano e, por isso, no fim de agosto, a polícia abriu as investigações. Ambas tiveram seus prazos prorrogados.

Uma das investigações corre no âmbito administrativo, que pode acarretar punições na corporação. Outra investigação é policial, que pode resultar em denúncia contra o delegado na Justiça.

Marcelo Luz atualmente está lotado na delegacia de Viseu (307 km de Belém). A assessoria da Polícia Civil diz que o delegado não se pronuncia sobre o caso. Anteriormente, ele já havia negado essas acusações.

A origem da arma que matou Dorothy, um revólver calibre 38, é uma das lacunas do caso. A PF descobriu que ela foi comprada em uma loja de armas em Alagoas, mas não conseguiu rastrear como a arma chegou até Anapu.

A arma foi usada por Rayfran das Neves Sales para dar seis tiros à queima-roupa na missionária. Ele confessou o crime, em coautoria com Clodoaldo Batista. Ambos foram condenados.

Rayfran trabalhava para o fazendeiro Amair Feijoli, conhecido como Tato. As terras de Tato eram visadas por Dorothy para serem transformadas em assentamento rural. Tato confessou ter dado a arma usada por Rayfran.

O que faltou descobrir foi como essa arma chegou a Tato. Em março, ele disse à revista "Época" que o delegado Marcelo Luz lhe deu a arma para que se protegesse de invasões em sua terra.

Após a entrevista, o policial federal Fernando Raiol, que participou das investigações sobre o caso, registrou em cartório depoimento confirmando a história. Raiol disse ainda que Bida é inocente. A defesa do fazendeiro tenta anular sua condenação.

 

Ativistas descartam chance de anulação

O Comitê Dorothy Stang, grupo de ativistas que acompanha o caso da morte da missionária, diz não ver possibilidade de anulação do julgamento do fazendeiro Vitalmiro de Moura, o Bida.

Em entrevista publicada ontem na Folha, Bida disse esperar que o Supremo Tribunal Federal (STF) reverta sua condenação, já que as provas contra ele foram "forjadas".

Uma das bases desse pedido é o depoimento do policial federal Fernando Raiol, dado no mês passado à Justiça, dizendo que Bida é inocente.

"Não conseguimos entender por que esse policial federal veio falar isso só agora, passados quase oito anos do crime. Há uma incoerência", afirmou Luiza Virginia Moraes, representante do comitê.

Moraes afirma não ter dúvida de que Bida e Regivaldo Galvão, o Taradão, ordenaram o crime: "Dorothy sempre representou para eles uma ameaça".

Sobre a polêmica envolvendo a origem da arma, ela diz que isso pode mostrar que havia também outras pessoas envolvidas.

O advogado Arnaldo Lopes, que defende Bida, pediu ao STF que julgue ainda neste ano um habeas corpus a favor de seu cliente. Ainda não há uma resposta ao pedido.

O habeas corpus diz que Bida teve a defesa cerceada no júri de sua condenação.

Como seu advogado da época, Eduardo Imbiriba, desistiu de defendê-lo no julgamento, o juiz deu dez dias para que defensores públicos tomassem conhecimento do processo e defendessem Bida. Os defensores afirmaram que não tiveram tempo de ler os 26 volumes do processo.

ENTENDA O CASO

Quem são os 5 condenados pela morte da missionária Dorothy Stang em 12 de fevereiro de 2005, no Pará.

A MORTE

Norte-americana naturalizada brasileira, Dorothy liderava projeto de agricultura familiar em Anapu (PA). Aos 73 anos, a missionária foi morta com seis tiros. Ela pertencia à Congregação das Irmãs de Notre Dame de Namur, da Igreja Católica, e estava no Brasil desde os anos 60.

OS CONDENADOS

- Rayfran das Neves Sales (Fogoió), autor do crime
Pena: 27 anos
Condenado em dezembro de 2005. Cumpre pena em regime semiaberto desde 2010

- Clodoaldo Carlos Batista, coautor do crime
Pena: 17 anos
Condenado em dezembro de 2005. Foragido desde fevereiro de 2011

- Amair Feijoli da Cunha (Tato), intermediário
Pena: 18 anos
Condenado em dezembro de 2006. Beneficiado com prisão domiciliar em 2010

- Vitalmiro Bastos de Moura (Bida), mandante
Pena: 30 anos
Condenado em 2007, absolvido em 2008 e condenado novamente em 2010. Foi para o regime semiaberto em 2011

- Regivaldo Pereira Galvão (Taradão), mandante
Pena: 30 anos
Condenado em 2010. Recorre da condenação em liberdade, graças a habeas corpus

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