Nos dias 20 a 22 de agosto, organizações sociais do campo realizam Encontro Nacional Unitário dos Trabalhadores (as), Povos do Campo, da Águas e das Florestas, no Parque da cidade em Brasília. Mais de 5 mil delegados de todo o Brasil participarão do encontro que relembra o primeiro Congresso Camponês, realizado em 1961.
Do Movimento dos Pequenos Agricultores
O encontro inicia um conjunto de mobilizações articuladas pelos movimentos do campo, como a Via Campesina, o Movimento Camponês Popular (MCP), a Cáritas Brasileira, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf), Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), além movimentos indígenas e de pescadores. O intuito é afirmar a luta dos povos e grupos sociais reunidos no encontro pelo direito à terra e iniciar um processo de unidade dos respectivos movimentos para o próximo período.
“A defesa da construção do encontro unitário perpassa por um denominador comum, o agronegócio. Esse é um modelo excludente que promove não somente a degradação do meio ambiente, como não respeita as relações de trabalho familiar. Essa faceta de que o agronegócio produz alimento não é verdade, 70% do alimento consumido no país vêm da agricultura familiar. O resultado do agronegócio é a degradação produtiva e econômica”, afirma Willian Clementino, secretário de políticas agrárias da Contag.
De acordo Alexandre Conceição, da Coordenação Nacional do MST e Via Campesina, a realização do encontro unitário permite o debate da atual conjuntura agrária no Brasil e a partir disso desenvolver ações estratégicas conjuntas com outros movimentos para se enfrentar o Capital.
“A Reforma Agrária segue sendo ignorada pelo governo. Enquanto as empresas transnacionais avançam na agricultura brasileira, sem limites de regras democráticas. As lutas e mobilizações dos movimentos sociais do campo devem ser maiores e de forma unificada para pressionar o Estado brasileiro em uma maior dimensão, e garantir o desenvolvimento de políticas publicas agrárias para o campo”, comenta Conceição.
O encontro retrata a unificação das distintas organizações sociais, étnicas e agrárias do Brasil. Povos indígenas, comunidades tradicionais, assentados e acampados de reforma agrária, agricultores familiares, camponeses contemporâneos, extrativistas, povos da floresta, pescadores artesanais, quilombolas e ainda trabalhadores assalariados se encontrarão em uma perspectiva de defesa da soberania popular.
Coordenador Nacional da Conaq, Denildo Rodrigues, ressalta que a unificação das organizações sociais que compõem o campo brasileiro é um momento histórico para garantia da defesa dos direitos dos povos indígenas e quilombola.
“Trata-se da questão do campo brasileiro unido em uma proposta vinda de várias organizações sociais que antes lutavam para conquistar direitos, e que hoje lutam para defender os direitos conquistados. O Estado brasileiro adentra nas comunidades com as forças armadas violando esses direitos”, disse Denildo.
É nessa conjuntura de ameaças concretas contra a vida e contra a terra que o campesinato brasileiro tem a necessidade de compreender na prática o processo de luta nacional articulado do movimentos sociais e povos do campo.
“Nós estamos vivenciando uma conjuntura hostil, principalmente para a Reforma Agrária. Desde o governo Lula criou-se o discurso de que a solução para a agricultura familiar e camponesa era sua união com as grandes empresas transnacionais. Com a unidade dos movimentos do campo, das águas e das florestas, estamos dando um passo para quebrar a lógica de que a Reforma Agrária no Brasil não é necessária”, enfatiza Francisco Lucena, da coordenação nacional da Fetraf.
Lucena ainda ressalta a necessidade de políticas que promovam a igualdade, “já identificamos nosso inimigo comum, o agronegócio. Agora precisamos de políticas de distribuição de terra para uma verdadeira democratização da sociedade”, disse.
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